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2 DA PRISÃO CAUTELAR E MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO

2.2 DAS MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO

As medidas cautelares diversas da prisão atualmente previstas no Livro I, Título IX, do Código de Processo Penal, possuem redação dada pela Lei n. 12.403/2011, que alterou dispositivos relativos à prisão processual, fiança, liberdade provisória, demais medidas cautelares, além de outras providências. (BRASIL, 1941; BRASIL, 2011).

Acerca da introdução da Lei n. 12.403/2011 e considerando suas alterações processuais, Capez (2019, p. 306) define que “[...] teve como escopo evitar o encarceramento provisório do indiciado ou acusado quando não houver necessidade da prisão.”

Assim como as prisões cautelares, as medidas cautelares diversas da prisão também possuem caráter excepcional e em decorrência desse caráter, define Mougenot (2019, p. 551) que “[...] as medidas devem estar taxativamente previstas em lei, não se aplicando no âmbito processual penal a possibilidade de concessão de ‘medidas cautelares inominadas’ [...]”

O rol de medidas cautelares diversas da prisão está definido no artigo 319 do Código de Processo Penal, do inciso I ao IX, conforme o disposto:

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:

I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades;

II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações;

III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante;

IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução;

V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos;

VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais;

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VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi- imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração;

VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial;

IX - monitoração eletrônica. [...]

§ 4o A fiança será aplicada de acordo com as disposições do Capítulo VI deste Título, podendo ser cumulada com outras medidas cautelares. (BRASIL, 1941).

Para a aplicação das medidas cautelares é imperioso observar seus requisitos legais, uma vez que segundo Nucci (2020a, p. 617) “embora constitua instrumento mais favorável ao acusado, se comparada com a prisão provisória, não deixa de representar um constrangimento à liberdade individual”, portanto determina o artigo 282, I e II, do Código de Processo Penal:

Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a:

I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais; II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado.

[...] (BRASIL, 1941).

Dos requisitos que devem ser observados, primeiramente quanto ao da necessidade da aplicação da medida cautelar, previsto no inciso I, do artigo 282 do Código de Processo Penal, Capez (2019, p. 355) define que “qualquer providência de natureza cautelar precisa estar sempre fundada no periculum in mora. Não pode ser imposta exclusivamente com base na gravidade da acusação. Maior gravidade não pode significar menor exigência de provas.”

Quanto ao requisito da adequação da medida cautelar, previsto no inciso II, do artigo 282 do Código de Processo Penal, define Capez (2019, p. 355) que “a medida deve ser a mais idônea a produzir seus efeitos garantidores do processo. [...] se exceder o que era suficiente para a garantia da persecução penal eficiente, haverá violação ao princípio da proporcionalidade.”

Outra questão a ser observada é que a aplicação de medidas cautelares não se restringe à apenas uma delas, uma vez que, que de acordo com o § 1º do artigo 282 do Código de Processo Penal “as medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente.” (BRASIL, 1941).

Como forma de exemplificar a cumulação de duas medidas cautelares diversas da prisão Avena (2020, p. 974) destaca que “o recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga (art. 319, V) apresenta-se logicamente compatível com o monitoramento eletrônico (art. 319, IX), caso aplicados conjuntamente.”

O artigo 282 do Código de Processo Penal, assim como outros dispositivos referentes às prisões cautelares, teve alterações decorrentes da Lei n. 13.964/2019, com a inclusão do § 2º

31 ao § 5º. Primeiramente, cabe salientar a inclusão do § 2º, em que se destaca a necessidade de requerimento ou representação para a decretação de medidas cautelares, ao dispor que “as medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a requerimento das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial ou mediante requerimento do Ministério Público.” (BRASIL, 1941; BRASIL, 2019b).

De acordo com Nucci (2020a, p. 619), excepcionalmente, existe a possibilidade da decretação de medidas cautelares diversas da prisão sem que ocorra requerimento ou representação, na hipótese em que “[...] o investigado está preso em flagrante, depois convertida a prisão em preventiva. Ingressando habeas corpus, o tribunal entende conceder parcialmente a ordem para o fim de afastar a preventiva, impondo em seu lugar medidas alternativas.”

O § 3º, do artigo 282 do Código de Processo Penal, que versa acerca da necessidade de intimação anterior à decretação de medidas cautelares, ressalvadas as situações excepcionais dispõe:

Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a:

[...]

§ 3º Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar, determinará a intimação da parte contrária, para se manifestar no prazo de 5 (cinco) dias, acompanhada de cópia do requerimento e das peças necessárias, permanecendo os autos em juízo, e os casos de urgência ou de perigo deverão ser justificados e fundamentados em decisão que contenha elementos do caso concreto que justifiquem essa medida excepcional. (BRASIL, 1941; BRASIL, 2019b).

Acerca da ressalva de que nos casos de urgência ou perigo de ineficácia da medida, não é exigida a intimação da parte contrária, ressalta Avena (2020, p. 968) que “evidentemente, a exigência desse contraditório requer compatibilidade com a medida, não sendo razoável, por exemplo, cogitá-lo diante da decretação de uma prisão preventiva ou temporária.” (AVENA, 2020, p. 968).

O § 4º, do artigo 282 do Código de Processo Penal, prevê, caso haja requerimento, a possibilidade da substituição, ou inclusão de outras medidas cautelares, além da possibilidade de decretação da prisão preventiva, de forma excepcional, conforme segue:

Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a:

[...]

§ 4º No caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, o juiz, mediante requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preventiva, nos termos do parágrafo único do art. 312 deste Código. (BRASIL, 1941; BRASIL, 2019b).

Destaca-se, que a atuação de ofício pelo juiz, para revogação e substituição de uma medida cautelar por outra é permitida, no entanto, desde que verifique-se a ineficácia da medida

32 anteriormente decretada, conforme disposto no § 5º do artigo 282 do Código de Processo Penal, “o juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a medida cautelar ou substituí-la quando verificar a falta de motivo para que subsista, bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.” (BRASIL, 1941; BRASIL, 2019b).

Por fim, cabe salientar, quanto às medidas cautelares, o § 6º do artigo 282 do Código de Processo Penal, acerca da hipótese de decretação da prisão preventiva em razão da impossibilidade de substituição das medidas cautelares impostas:

Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a:

[...]

§ 6º A prisão preventiva somente será determinada quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar, observado o art. 319 deste Código, e o não cabimento da substituição por outra medida cautelar deverá ser justificado de forma fundamentada nos elementos presentes do caso concreto, de forma individualizada. (BRASIL, 1941; BRASIL, 2019b).

De acordo com Avena (2020, p. 991) cabe ressaltar o caráter substitutivo da prisão preventiva, uma vez que “sob pena de constrangimento ilegal, impugnável por meio de habeas corpus, o não cabimento das cautelares diversas da prisão deve ser justificado, circunstancialmente, a partir das peculiaridades do caso concreto, que deverão ser expostas na decisão segregatória.”

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