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1 INTRODUÇÃO

1.4 CONCLUSÃO

A curiosidade pela pesquisa sobre o tema teve inicio ainda no final da década de 90, quando a pesquisadora graduava-se em publicidade e propaganda. Nas disciplinas de produção em radio, TV e cinema, notou-se que muitas das produções audiovisuais, principalmente na TV, até então utilizadas, estavam em transição para o que se poderia chamar de estética de videoclipe. A partir de então, foi realizado um estudo sobre as características peculiares dos videoclipes que também eram observadas nos anúncios publicitários audiovisuais. Confrontou-se então com a escassez de material acadêmico sobre

o assunto. As obras encontradas abordavam a questão da videomusica simplesmente como um artefato da cultura pós-moderna, de forma superficial e genérica, mais voltados à condição cultural do que a seus recursos estéticos. Dando seqüência aos estudos, buscou-se no mestrado um aprofundamento teórico, o que resultou em um levantamento sobre o modo como a literatura especializada no tema analisa e discute tal fenômeno. A partir de estudos encontrados entre o final da década de 80 até a década de 90, inclusive, fez-se uma revisão das pesquisas pioneiras sobre o videoclipe e de suas diferentes abordagens.

De posse de tal bagagem teórica, a falta de um recorte acadêmico sobre a estética do videoclipe impulsionou a investigação por recursos que amenizassem esta lacuna. Assim, a busca por um olhar mais detalhado em relação aos recursos estéticos iniciou-se pelo levantamento histórico dos precedentes dos videoclipes, como está documentado no capítulo denominado “A era proto-videocliptica: origens e desenvolvimento da estética da videomusica”, onde são elencados os antecedentes possuidores de características posteriormente observadas nos clipes, como as seqüências dos famosos musicais hollywoodianos, as primeiras animações, a vídeo-arte, os filmes promocionais e outras experiências como soundies, scoopitones e promos.

Paralelamente, à medida em que se dava a observação e escolha da amostra, procurou-se um embasamento conceitual que abrangesse a gama de constituintes vistos na evolução histórica do videoclipe, no que tange seu aspecto estético, enquanto linguagem audiovisual. Neste momento, foram encontradas mais dificuldades, pois muitas das obras especializadas observadas discutem relações dos videoclipes com a audiência, questões de discurso ou ainda, especulações sobre o futuro da produção, distribuição e recepção do formato. Assim, a escolha do aporte teórico, em primeira instância se deu em função do interesse estético do estudo, como já foi comentado. Nesse sentido, apresentaremos um capitulo abordando três principais teóricos/obras que serão o norte de nossa pesquisa, para

um inicial debate conceitual sobre a videomusica. De tal modo, nossa inicial referência traz as colocações de Kaplan (1987), uma vez que se trata da primeira autora que debate especificamente do tema. Para discutir os videoclipes, a pesquisadora comenta a questão da singularidade dos videoclipes como uma forma

na qual o som da canção e a letra são condição prévia para a criação de imagens que acompanham a música e as palavras. Enquanto existem analogias a ópera e ao musical clássico de Hollywood, nenhuma dessas formas aponta para o videoclipe, onde a relação música-imagem é bastante única (KAPLAN, 1987, p.123).

Catalogando os tipos específicos de ideologia que se encontram na MTV, Kaplan (1987) identifica cinco tipos ideológicos diferentes de videoclipes e oferece um esquema em que, aproximadamente, todos os vídeos podem ser relatados, mas a autora esclarece que esses mais se aproximam das categorias do que realmente as incorporam.

Já Goodwin (1992), próximo contribuinte, trata da videomusica, propondo uma interdisciplinaridade em uma análise institucional histórico/econômica, em uma análise textual baseada em estudos sobre filme e televisão e em uma análise do que ele chama de musicologia (no que se refere às formas populares musicais contemporâneas). Goodwin (1992) se concentra em três temas relatados na literatura, que parecem precisar de uma revisão. Em primeiro lugar, existe a abordagem das teorias do cinema e da TV sobre o tópico, que tende a enfatizar o visual; em segundo lugar, está o paradigma do pós- modernismo; e em terceiro, existe o problema da análise textual, que perdeu suas conexões necessárias com as esferas da produção e/ou consumo. A partir da idéia do conceito de sinestesia, o autor tenta compreender como o conteúdo lírico é visualizado, identifica três tipos de relação entre as músicas e seus vídeos.

Por fim, damos lugar a uma das poucas obras brasileiras inteiramente dedicada ao tema do videoclipe. Soares (2004) busca, em uma coletânea de artigos, demonstrar variados aspectos sobre a videomusica, contando um pouco sobre os constituintes de sua linguagem,

primeiras experiências na associação entre música e imagem, não procurando datas ou limites históricos. Passando por abordagens mais estruturais, notando que o clipe abarca em sua estrutura noções de conflito na montagem, categoriza o videoclipe a partir de três concepções: o hibridismo, a transtemporalidade e o neobarroco. O autor também tenta atualizar os conceitos propostos por Kaplan (e que muitos consideram “caducos”), com base no estilo de direção dos realizadores Michel Gondry e Spike Jonze. Arrisca-se a relativizar as correntes teóricas que enxergam o videoclipe apenas como artefato irmanado da vídeo- arte, propondo a união do “artístico” e do “comercial” no clipe como fundamental na manifestação da linguagem videoclíptica na MTV.

O conhecimento dos fenômenos antecedentes que contribuíram para a criação e desenvolvimento dos videoclipes, bem como as abordagens conceituais acerca do tema, são indispensáveis para uma análise sobre a linguagem da videomusica durante a era MTV. Assim, o terceiro capitulo, chamado “A era videocliptica – MTV, o altar”, traz um breve histórico da emissora, comentando a evolução de sua programação, o evento de premiação Video Music Awards, e suas principais contribuições estéticas para a consolidação da linguagem de videoclipe, visando a contextualização do objeto de estudo.

A próxima fase da pesquisa trata de expor a trajetória metodológica, construída à luz da perspectiva Weberiana sobre o tipo ideal. O tipo ideal surge como forma de compreender a realidade, mas sem de fato corresponder a ela, já que a realidade, não seria possível de ser alcançada em sua totalidade. Igualmente não seria alcançada a neutralidade total e objetiva do cientista, pois este é guiado pelos seus sentimentos, por suas escolhas subjetivas e seus valores. Em razão deste fato, o cientista deve escolher de acordo com sua significância subjetiva, isolando da “imensidade absoluta, um fragmento ínfimo” (Weber apud COHN, 1982). Dessa maneira, levando em consideração o largo universo do videoclipe, bem como a falta de uma data de início, ou uma definição única e especifica estipulada e compartilhada

pela maioria dos teóricos, optou-se por escolher os videoclipes posicionados dentro da era MTV, uma vez que existe concordância total de que o formato já está constituído e nomeado de videoclipe. A partir de uma eleição de critérios de observação, tomando como base subsídios encontrados na literatura especializada, foi proposta uma configuração de análise da amostra. Descobriu-se que existem três tipos dominantes que representam a estética de videoclipe, durante a era MTV (1984 à 2009).

Indo além da análise dos videoclipes, dentro da Era MTV, proposta por esta tese, que parte da sua classificação tipológica, em termos formais e descritivos (na consideração da bibliografia especializada sobre o tema), busca-se discutir até que ponto o kitsch domina a estética do videoclipe e se, por ventura, e em que aspectos, os exemplos analisados nesta pesquisa, podem subverter o kitsch, propondo algo original.

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