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O decreto-lei nº 911 de 1969 foi criado em razão da necessidade das instituições financeiras em garantir os seus empréstimos diante do crescimento disparado da economia.

As disposições deste Decreto começaram a confrontar com a Constituição da República do ano de 1988 que fez surgir novos patamares ao direito e as relações negociais entre as partes pois prezavam por uma igualdade na relação processual em razão do devido processo legal e as suas garantias frente ao ser humano e o dever de zelo pelo Estado.

A natureza desta legislação se vale de uma garantia real de um bem móvel indivisível que é delimitado neste trabalho de pesquisa por se tratar especialmente de ação de busca e apreensão de veículos pois tem como garantia do contrato realizado entre a instituição financeira e o contratado o bem.

O veículo é dado como garantia contudo a sua propriedade só é concedida com o término do pagamento das parcelas convencionadas no contrato, que caso fique inadimplente a contratante poderá retirar o bem de sua posse.

A ação de busca e apreensão fundada no Decreto-lei nº 911/69 tem um rito especial e a tendência desse procedimento é o encerramento com o julgamento do mérito de forma mais rápida que os convencionais.

Para que a ação possa prosseguir, deverá conter no ajuizamento da ação com a petição inicial alguns pressupostos processuais dos quais se estiverem ausentes ensejarão a extinção do processo.

Nesta seara, um dos pressupostos processuais de extrema importância é a notificação para a comprovação a mora conforme prevê o §2º do art. 2º do Decreto-lei. Na redação original do dispositivo, a notificação desde que enviada no endereço do contrato seria capaz de comprovar a mora do devedor e portanto mesmo com o não retorno do aviso de recebimento assinado poderia ser pressuposto para o ajuizamento da ação.

Com a alteração trazida pela Lei nº 10.931/2004 a notificação passou a ser exigida com a assinatura do devedor ou de terceiro para ser admitida como pressuposto processual da ação e assim possibilitar o deferimento da tutela provisória.

A tutela provisória é o meio em que os credores requerem ao juiz com base no fumus

bonis iuris e no periculum in mora denominados pelo art. 300 do Código de Processo Civil como probabilidade do direito e o perigo de dano o deferimento no limiar do processo uma

medida que possibilitam retomar o bem que é de sua propriedade frente ao inadimplemento das parcelas do contrato.

O juiz com base na probabilidade do direito e do perigo de dano poderá deferir ou indeferir a tutela provisória, no entanto, nesta ação em especialmente conforme dispõe o caput do art. 3º do Decreto-lei, a liminar poderá ser deferida desde que comprovada a mora, ou seja, comprovado a inadimplência por meio da notificação com aviso de recebimento assinado pelo devedor ou por terceiro, a liminar poderá ser deferida.

Não obstante, quando a tutela provisória for inferida, será passível de interposição de recurso de agravo de instrumento nos termos do inciso I do art. 1.015 do Código de Processo Civil. Ainda, haverá na hipótese de saneamento de vicio, poderá o juiz conceder o prazo de 15 dias para que o autor regularize o vício para que a tutela provisória possa ser deferida.

Em relação aos aspectos práticos desta ação, em preliminar a apreensão do veículo após o deferimento da liminar segue um rito em que deve ser realizado por Oficial de Justiça competente para a comarca e que seguirá com as diligências nos endereços informado pelo autor.

Com a apreensão do veículo faz-se necessário juntar o auto de apreensão e a certidão do Oficial de Justiça nos autos para ciência do juízo. Após a apreensão do veículo e com o decurso do prazo de 5 dias sem o pagamento do réu, o veículo consolidará a posse a propriedade em nome da autora que poderá realizar a venda do bem para terceiros para abater o valor da venda com o valor do saldo em aberto do contrato, nos termos do §1º do artigo 3º do Decreto-lei.

A purgação da mora prevista no §2º do art. 3º teve como discussões desde a alteração dada pela Lei nº 10.931/2004 pois o dispositivo prevê o pagamento da integralidade da divida em 5 dias da apreensão para que o veículo restituído, no entanto, por anos havia-se o entendimento que corresponderia ao pagamento apenas das parcelas vencidas e não todo o valor do contrato.

A discussão quanto aos valores permaneceram por anos até a recente decisão do Superior Tribunal de Justiça no julgamento do REsp: 1418593 MS 2013/0381036-4 proferido pelo Relator Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO em 14/05/2014 que pôs fiz a discussão determinando que o valor da purgação da mora seria no valor correspondente ao que informado na inicial, ou seja, das parcelas vencidas e vincendas.

Embora essa discussão tenha se firmado por anos, o próprio Decreto-lei no §3º do art. 2º apontava que com o vencimento de uma parcela por inadimplência do contratante, estaria considerada as demais vencidas.

Por outro lado, realizada a purgação da mora como uma forma de reconhecimento do pedido, o veículo deve ser restituído para o réu livre de ônus. Para a devolução do veículo não há prazo expresso na lei, contudo deve o juiz se valer da razoabilidade e da proporcionalidade para fixar o prazo, embora mesmo que fixado prazo, poderá o juiz se valer de multa pecuniária pelo descumprimento da obrigação em atenção aos artigos 536 e 537 do Código de Processo Civil.

Nos aspectos de defesa do réu, o Decreto prevê a possibilidade de apresentação da contestação somente após o cumprimento da tutela provisória que apreendeu o bem, do qual poderá o réu realizar a purgação da mora ou apresentar a contestação. Todavia, a discussão neste tema está paralelamente atrelado ao princípio da ampla defesa e do contraditório pois estes asseguram que o réu poderá comparecer no processo em qualquer momento quando tiver conhecimento.

O Decreto dispõe de forma contraria ao Código de Processo Civil de 2.015 e por isso surge os efeitos práticos da apresentação da contestação.

Como é sabido, a Constituição da Republica assegura por meio do devido processo legal que as partes terão o direito a defesa, contudo o Decreto que é de 1969 prevê que somente poderá apresentar após cumprida a liminar e caso fosse apresentada antes do momento correto, não poderia ser analisada pelo juízo.

Destarte, este é o entendimento até os dias atuais de diversos juízos mesmo diante da Constituição da Republica de 1988.

A jurisprudência majoritária entende que a contestação poderá ser analisada antes do cumprimento da tutela provisória ou até mesmo antes da citação conforme os julgamentos do AREsp n. 927.121/PR, Relator Ministro MARCO BUZZI, Dje 19/10/2016, AREsp n. 241.960/DF, Relatora Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, DJe 05/08/2016. Corroborando nesse mesmo entendimento, o Código de Processo Civil no §1º do artigo 329 prêve a possibilidade do comparecimento espontâneo do réu na ação independente de ser citado.

No tocante ao julgamento, a ação de busca e apreensão segue o rito especial com a subsidiariedade do Código de Processo Civil, por isso quando o processo está em ordem, o julgamento dessas ações não prolonga como as ações convencionais. Essa análise pode ser vista tanto nas resoluções do mérito como nas sem resolução do mérito, como por exemplo a ausência da notificação que é um requisito para o ajuizamento da ação e por isso poderá haver extinção do processo nos termos do inciso IV do art. 485 do Código de Processo Civil que poderá ser alegado a qualquer tempo pelo réu ou ser conhecido de oficio pelo juízo.

Atentos ainda que quando o veículo foi apreendido mas o réu não tenha sido citado, o Código de Processo Civil visando o prosseguimento da ação admite as citações fictas que são as citação por hora certa quando o réu está se ocultando e o Oficial de Justiça consegue perceber está ação ou no caso do réu ser desconhecido ou estar em lugar incerto que poderá ser realizado a citação por edital. Nestas hipóteses de citação ficta, será nomeado curador especial exercido pela Defensoria Pública na defesa do réu.

A Defensoria Pública segundo o inciso I do art. 44 da Lei Complementar nº 80/94 assegura aos seus exercícios o prazo em dobro. Embora a prerrogativa fosse em todos os casos conforme a lei complementar, o Supremo Tribunal Federal posicionou contrário a esta Lei dizendo que a prerrogativa do prazo em dobro quando exercentes como curadores especiais não são aplicáveis, conforme precedentes Pet. 932-SP (DJU de 14.09.1994) e AG 166.716-RS (DJU de 25.05.1995).

Esta ação visa por meio de tutela provisória a retomada do veículo, com a confirmação na sentença acolhendo os pedidos iniciais para que o credor possa vender o bem a terceiro a fim de realizar o abatimento do valor da venda com o valor das parcelas em aberto do contrato.

Nesse tramite, o réu tem o direito de ter realizado a prestação de contas em relação ao valor do veículo e o valor que mantém de saldo remanescente para pagar do contrato conforme o art. 2º do Decreto-lei.

Embora seja a intenção do autor a sentença procedente, o juízo pode decidir ao contrário e declarar como improcedente os pedidos iniciais fazendo com o que o autor tenha que restituir o veículo e condene-o em honorários advocatícios de sucumbência.

Não obstante, da sentença improcedente o autor deve restituir o veículo para o réu, todavia quando esse comando não é respeitado, é aplicado multa de 50% do valor originalmente financiado e mais o dever de pagamento das perdas e danos referente ao valor do veículo conforme os §6º e 7º do art. 3º do Decreto-lei.

O Decreto é expresso a hipótese de aplicabilidade da multa de 50% do valor originalmente financiado que são nos casos de improcedência dos pedidos iniciais do autor quando o veículo apreendido na tutela provisória tenha sido vendido antes da sentença final, contudo mitigando a previsão do dispositivo o Superior Tribunal de Justiça vem entendendo conforme o julgamento proferido pela Ministra Nancy Andrighi no julgamento do REsp nº 1.715.749 – SC que nos caso de extinção do processo sem resolução do mérito é também aplicada a multa.

Diante de todo o exposto, a ação e busca e apreensão visa por meio de um rito especial a retomada de veículos dados em garantia de um contrato de alienação fiduciária com a instituição financeira, modelo este criado em razão do crescimento econômico da época que persegue até os dias atuais. No entanto, vejamos que está ação favorece em regra a instituição financeira pelas formas de prosseguimento do rito e pelas análises superficiais feitas pelos juízes na análise das matérias da contestação. Essa é a razão de um país onde o desenvolvimento é pequeno a cada ano e assim fazem com que as pessoas tenham que aderir este modelo de contrato para que possam adquirir os seus bens e que no momento de fragilidade econômica perde o direito do contrato e ainda ficam com valores em abeto com a proprietária do bem. Este modelo de relação negocial por mais que vicioso e desfavorável, não há indícios de mudanças, por isso, as pessoas manterão neste seguimento para adquirir seus bens mesmo diante do desfavorecimento.

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