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Anos 70 até à criação da ANEFA

2.7 Conclusão

Considero que o formador que sou hoje em dia é resultado de vários factores:

(i) Formação académica-Considero que ter o curso de Psicologia me dotou de algumas ferramentas teóricas que me permitem regular a minha actuação, nomeadamente o conhecimento das teorias da motivação, da noção do papel do lócus de controlo (interno e externo) do comportamento humano, do condicionamento operante, nomeadamente as técnicas de reforço social (potencializadoras de comportamentos desejáveis). Tenho também a noção do poder dos estereótipos na profissão de formador e do impacto das “profecias auto-confirmatórias” (Robert K. Merton) e do efeito de Pigmalião (Robert Rosenthal) (Lenore Jacobson). A nível de relacionamento interpessoal, sendo eu da área de Psicoterapia e Aconselhamento, beneficiei da apropriação das técnicas terapêuticas usadas em psicoterapia, tais como a escuta activa, empatia, reestruturação cognitiva.

(ii) Aprendizagem social, observação de modelos, como referi no início da narrativa auto-biográfica.

(iii)Formação de cariz humanitário, considero que a minha experiência de vários anos enquanto membro de uma Escola Dominical (Igreja Evangélica) me permitiu integrar valores judaico-cristãos que regulam a minha relação com os adultos: solidariedade, amor ao próximo, respeito pelas circunstâncias de cada indivíduo, prazer em ajudar.

{Poderia quase dizer que ao fazer este trabalho de reflexão sobre a profissional que sou, estou a demonstrar uma competência de nível secundário da área de Cultura, Língua e Comunicação, núcleo gerador “Saberes Fundamentais” na dimensão cultural. “Intervenho tendo em conta que os percursos individuais são afectados pela posse de diversos recursos, incluindo competências a nível da cultura, da língua e da comunicação”.}

(iv) Utilização do método experimental ao longo da minha vida profissional, no sentido de adoptar um paradigma mais eficaz e desenvolvido que o anterior. Considero que nunca cristalizei numa forma de actuação, estou constantemente em “desassossego”, a tentar evoluir e a melhorar a minha prestação. As mudanças ocorreram devido a estratégias de “tentativa, erro”, à colocação de hipóteses e verificação da pertinência das mesmas na prática. Utilizo ainda um mecanismo de auto-regulação, integrando o que resulta melhor e rejeitando as práticas que não tiveram sucesso, no exercício da minha actividade profissional.

Rui Canário (2006) apresenta informação, baseada em estudos, sobre a formação de professores, sustentando que os professores aprendem a sua profissão no terreno. Tal conclusão é semelhante à que retirei aquando da elaboração desta narração biográfica. De facto, embora reconhecendo o mérito da minha formação académica, posso considerar que “aprendi, fazendo”. Sinto de igual modo o que foi postulado em relação à formação dos profissionais de saúde, que tem de haver sempre um processo de ajustamento entre a orientação da formação inicial e a prática profissional em contexto. Entre aquilo que é a teoria, sustentada pelo um corpo científico e por vezes a “customização” que é necessário realizar em função de determinados indivíduos e organizações.

No que concerne especificamente à minha experiência enquanto Profissional de RVC, ao longo destes 3 anos, já adoptei vários paradigmas de actuação e de conceptualização do meu papel. Por vezes tenho “momentos de crise”, em que coloco a minha actuação em causa e a própria pertinência do processo para alguns adultos. Nessas alturas introduzo alterações, tento mudar a minha forma de pensar, discuto questões com colegas, de forma a obter novamente um equilíbrio no meu sistema. No geral considero que estou aberta à mudança.

{“Recorro a processos e métodos científicos para actuação em diferentes domínios da vida social. Procuro encontrar soluções técnicas que melhorem processos e procedimentos (experimentar e melhorar a eficiência)54

Considero essencial este “modus operandis”, porque apesar do organismo que tutela os CNO ser comum, percebe-se que existem procedimentos díspares e que cada um adopta os que julga serem os mais pertinentes. Não esquecendo ainda um outro factor que considero que pode levar a uma subversão do que considero ser o papel dos “Centros de Novas Oportunidades” e dos seus profissionais que é o imperativo dos números e das metas em relação ao número de adultos certificados.

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Portanto, acho essencial que um profissional de RVC se mantenha ligado às orientações conceptuais fornecidas pela Agência Nacional de Qualificação e não “perca o Norte” em relação ao que é um processo de reconhecimento, validação e certificação de

competências. Este não pode ser encarado como uma panaceia passível de resolver os problemas de subqualificação da população portuguesa.

O facto de ter ingressado num mestrado que me permitiu compreender movimentos históricos em educação e formação de adultos e a ênfase (relativamente recente) dada à experiência de vida dos sujeitos nos processos de aprendizagem e auto-construção é também uma grande mais-valia para entender melhor a natureza do trabalho que realizo.

Um dos objectivos que considerei na candidatura foi: “Nesta altura da minha carreira sinto a necessidade de uma base teórica sólida neste âmbito, que me permita consolidar a experiência que adquiri. Reconheço a importância de conhecer diferentes intervenções e práticas de educação e formação de adultos e tenho como objectivo desenvolver projectos neste âmbito, individual ou colectivamente, que contribuam para o meu enriquecimento pessoal e profissional.” (in carta de motivação, 2009).

Ao longo do 1º semestre retirei vários ensinamentos do mestrado que serviram sobretudo para me ajudar no processo de questionamento contínuo que regula a minha actividade. Assinalo uma expressão usada pela Professora Sónia Rummert “certificados vazios”, e devo dizer que na altura estremeci, é o meu maior receio enquanto profissional e simboliza tudo o que não quero ser responsável de fazer.

Em cima referi que o processo de reconhecimento de adquiridos via experiência não é um “remédio para todos os males” e estando nesta área não posso ceder a pressões institucionais, e individuais. Procuro que o meu quadro de referências conceptuais e a deontologia profissional sejam a bússola da minha actividade.

Por último, não posso deixar de referir que o que contribuiu significativamente para o meu desenvolvimento enquanto Profissional de RVC é o facto de estar inserida num CNO em que a Coordenadora incentiva a autonomia dos Técnicos, valoriza o espírito empreendedor, reforçando novas iniciativas e demonstrando um interesse genuíno pelas preocupações dos elementos da equipa. Se tivesse que encontrar uma metáfora diria que a Coordenação “é um solo rico em nutrientes que permite uma germinação e crescimento harmoniosos”.