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Caducidade dificilmente deixará de ser assunto controvertido. Trazendo ainda mais complexidade à matéria, agregam-se as idiossincrasias das contribuições sociais previdenciárias.

Como espécie tributária afetadas que são, as contribuições sociais previdenciárias sujeitam-se ao lançamento por homologação previsto no CTN, tanto quanto os demais tipos tributários. O contribuinte apura, declara e recolhe os valores de contribuição devidos, sob possibilidade de posterior reanálise pelo Fisco.

A edição da Súmula Vinculante nº 08, pelo STF, calcinou extenso e controvertido debate acerca do então prazo decenal para regência da decadência das contribuições, previsto nos arts. 45 e 46 da Lei nº 8.212/91, pacificando que o lustro do CTN também deve ser observado pelas contribuições sociais previdenciárias.

A antecipação ou não do pagamento do tributo há de ser apreciada para definir qual matriz decadencial deve ser aplicada ao caso concreto de um dado lançamento de ofício, se a contida no art. 150, § 4º, ou aquela do art. 173, I, ambos do CTN. Essa posição está pacificada pelo STJ desde o julgamento REsp Nº 973.733/SC, julgado em sede de recurso repetitivo no ano de 2009. A PGFN editou o PGFN/CAT nº 1.617/08, no mesmo sentido, e também o CARF abona essa interpretação, afora inúmeros doutrinadores pátrios, conquanto remanescentes insulares opiniões divergentes.

No que tange aos grupos econômicos, sejam de direito ou meramente de fato, para o caso do tributo em comento, a solidariedade tributária pode ser calcada tanto na aplicação do inciso I, do art. 124, do CTN, dado o interesse comum no fato gerador, quanto na combinação do inciso II, do art. 124, do CTN, com o art. 30, inciso IX, da Lei nº 8.212/91, o que agrega hígido embasamento jurídico para a atribuição solidária.

Situação intrigante surge quando da constituição do crédito previdenciário por solidariedade legal, na hipótese de grupo econômico, na qual há diversos e significativos ínterins na ciência do lançamento por parte do devedor principal e dos solidários.

Poder-se-ia adotar o entendimento de que o prazo decadencial foi fincado pela ciência do devedor principal, estendendo-se este aos solidários; ou mesmo que cada devedor deveria responder considerando a própria ciência, malgrado já ter havido regular lançamento anterior a outro solidário ou ao devedor principal; por fim, há quem defenda a ideia de que o

lançamento só se perfectibilizaria quando da ciência do último solidário, adotando tal data para fins de contagem decadencial para todos os envolvidos, inclusive o devedor principal, conquanto já tenha este sido prévia e regularmente cientificado.

Depois de se deter em cada uma das opções retrocitadas, conclui-se pela possibilidade de reconhecimento de marcos decadenciais distintos das contribuições lançadas com solidariedade nas empresas de um mesmo grupo econômico, quando um (ou alguns) dos solidários somente é cientificado da exação depois de transcorrido razoável tempo da ciência do devedor principal, conquanto respeitável entendimento divergente esposado pela DRJ em Fortaleza, ao entender que o prazo decadencial é único para devedor principal e solidários.

No rumo, também se discute a possibilidade de decrepidez de apenas parte do lançamento, de uma mesma competência, em um só lançamento de ofício, a depender do fato gerador considerado. Em outras palavras, coexistência do art. 150, § 4º, do CTN e do art. 173, I, também do CTN, para uma mesma competência de um dado lançamento de ofício. O imbróglio é, por demais, polêmico, mas se mostra plenamente razoável a hipótese levantada, considerando que, dependendo do fato gerador, há como se identificar o que foi e o que não foi antecipado pelo contribuinte, como no caso de GPS códigos “2550” (pagamento da retenção e recolhimento efetuado por entidade promotora do espetáculo desportivo, em seu próprio nome) ou “2607” (comercialização da produção rural). Não seria possível, entretanto, para o fato gerador recolhido por meio de GPS código “2100” (empresas em geral), dado o caráter generalizado e inespecífico deste código. Certamente, o ponto precisa ser mais bem debatido pela Ciência Jurídica, que ainda possui amplo campo de estudos nessa seara.

Mais um nó a ser desatado é a fixação do exato dia do começo da contagem do prazo decadencial para as contribuições previdenciárias incidentes sobre a folha de pagamento. Mostra-se mais racional que este seja fixado no primeiro dia após a competência em testilha, dado o caráter periódico dos fatos geradores previdenciários, que vão se integralizando no decorrer do mês.

Por fim, este escrito inclina-se pela inconstitucionalidade formal e material dos §§ 3º, 4º e 6º do art. 390 da IN nº 971/09, na parte que trata da maneira e conteúdo de fixação do instante final da obra de construção civil para fins decadenciais. A uma porque haveria reserva de lei para o assunto. Não complementar, mas ordinária; a duas porque os critérios elegidos ofenderiam a ampla defesa e o direito ao contraditório do sujeito passivo, que se vê indevidamente tolhido na sua ampla produção de provas.

São necessários, portanto, muito cuidado e redobrada cautela na análise dos casos aventados, de forma a se fazer prosperar um direito justo, parcimonioso e equilibrado no estreito fiel da balança tributária: de um lado, o direito de constituir o crédito por parte do Estado; do outro, o direito de resistência do contribuinte, assegurado por prerrogativas constitucionais e infra-constitucionais que lhe asseguram um Estado Democrático de Direito.

Este trabalho pretende contribuir, mesmo que de forma discreta, com o enfrentamento de tão instigantes dilemas, que brotam espontaneamente da cotidiana faina estatal de tributar, mormente quando, não raras vezes, isso ocorre em meio a um cipoal de normas, o que dificulta sobremaneira a compreensão integral da matéria.

Espera-se que este escrito sirva de incentivo a que a Ciência Jurídica produza mais e mais trabalhos nessa seara, de forma a lançar luz sobre um debate que não parece ser tão difundido, nem mesmo entre os doutos, talvez em decorrência da especificidade do custeio previdenciário quando analisado sob a óptica da caducidade tributária.

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