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O estudo realizado possibilitou verificar incompatibilidades existentes entre as referências legais analisadas e as particularidades do território. Também foi possível refletir sobre as dificuldades e limitações práticas enfrentadas pelas administrações municipais no que tange à execução e cumprimento do arcabouço legal incidente nos ambientes costeiros.

Em relação às delimitações legais avaliadas – Orla Marítima, Zona Litorânea (ZL), e APP de Restinga; verificou-se a ocorrência de discrepâncias entre os princípios e objetivos postos, seu alcance sobre o território, e as características concretas das áreas por elas abrangidas. Observou-se que ainda que tais delimitações fossem ajustadas uma a uma ao território, tal trabalho continuaria sob a incumbência municipal, sujeito, portanto, à capacidade e às limitações de ordem estrutural e/ou institucional de cada prefeitura. Em vista disso, constatou-se a validade de se propor uma delimitação de orla marítima urbana que seja mais apropriada às necessidades municipais de gestão e ordenamento urbano e ambiental.

As incongruências entre os limites legais e as características físico-territoriais (áreas não urbanizadas, traçado urbano e sistemas de infraestrutura implantados, unidades ambientais existentes, situação de implantação do parcelamento do solo, etc.) demonstraram a inadequação da adoção de linha de costa como referência para definição de limites terrestres de orla marítima, ainda que genéricos, sob o viés da gestão e controle do uso e ocupação do solo urbano em áreas urbanas consolidadas.

Dada a relevância dos ambientes costeiros, concluiu-se pela viabilidade da adoção do instrumento zoneamento urbano como alternativa útil para alinhar e incorporar de forma prática preceitos relativos às diversas referências legais, no que for possível sistematiza-los.

Considera-se, portanto, que o instrumento Zoneamento Urbano apresenta potencial para incorporar não apenas variáveis naturais e antrópicas relevantes para a construção de um regramento do uso e ocupação do solo, como possui potencial de traduzir grande parte de seus princípios e objetivos em critérios de aplicação prática.

Dessa forma, presume-se ser viável investigar novos indicadores que sejam associados a variáveis presentes nos ambientes costeiros, e que possam ser utilizados como estruturantes em procedimento de construção de zoneamentos específicos de orla marítima.

A identificação de indicadores relevantes ao ambiente costeiro, e da correlação possível entre tais indicadores e os índices e parâmetros aplicáveis por meio do zoneamento urbano, pode vir a embasar um sistema próprio de variáveis padrão que balisem a definição de zoneamento específico de orla marítima urbana, adequado ao ambiente costeiro, e ajustável a cada contexto municipal, segundo um mesmo conjunto de princípios e indicadores estruturantes.

O indicador sombreamento causado por edificações se mostrou viável, além de passível de ser alimentado com valores desejáveis/necessários de horas de incidência de luz solar, sejam estes ditados pelos elementos que compõem os ecossistemas naturais existentes, sejam definidos por decisões ligadas à gestão da cidade, vinculados à saúde, lazer, desenvolvimento econômico, ou outros.

Somando-se novos indicadores, supõe-se ser possível avaliar melhores opções de combinação entre índices urbanísticos, de forma orientada a promover e/ou garantir a manutenção dos recursos naturais, a segurança das ocupações existentes, e o planejamento de modelos mais adequados para novas ocupações e usos nos espaços costeiros. Novos indicadores poderão auxiliar na definição de densidades construtivas e populacionais adequadas; quanto às possibilidades de distanciamento da linha de costa; na prevenção ou mitigação da erosão costeira; entre outros. Além disso, a utilização do Zoneamento Urbano para a delimitação de orla marítima urbana reflete nas atividades de instrução, análise e aprovação de projetos e de planos arquitetônicos e urbanísticos; nas atividades de fiscalização, e outras realtivas ao dia a dia da gestão e controle do uso e ocupação do solo, tendo em vista seu potencial de incorporar e traduzir princípios legais referentes às zonas costeiras em regramentos objetivos e de compreensão mais simples.

Tendo-se em vista trabalhos futuros, sugere-se a investigação de novos indicadores vinculados ao ambiente costeiro, para que se possa compreender mais profundamente as possibilidades de se construir um método capaz de guiar a definição de um Zoneamento Urbano passível de se consubstanciar em delimitação

de orla marítima que favoreça a realização da gestão integrada desse ambiente pelas administrações municipais. Alguns exemplos de possíveis indicadores são os associados à cobertura do solo (percentual de impermeabilização do solo; infiltração e carreamento de poluentes; taxa de ocupação; etc.); sistemas de iluminação pública; densidade construtiva; entre outros.

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