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Delimitação de orla marítima urbana: estudo no município de Vila Velha-ES

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DE INFRAESTRUTURA URBANA

LIGIA BETIM MARCHI

DELIMITAÇÃO DE ORLA MARÍTIMA URBANA:

ESTUDO NO MUNICÍPIO DE VILA VELHA-ES

Vitória

2020

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DELIMITAÇÃO DE ORLA MARÍTIMA URBANA:

ESTUDO NO MUNICÍPIO DE VILA VELHA-ES

Trabalho final de curso apresentado à Coordenadoria do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Engenharia de Infraestrutura Urbana do Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Vitória, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Engenharia de Infraestrutura Urbana.

Orientador: Prof. Msc Juliette Zanetti.

Vitória

2020

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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) (Biblioteca Nilo Peçanha do Instituto Federal do Espírito Santo) M316d Marchi, Ligia Betim.

Delimitação de orla marítima urbana : estudo no município de Vila Velha-ES / Ligia Betim Marchi – 2020.

95 f. : il. ; 30 cm

Orientadora: Juliette Zanetti.

Coorientador: Jonio Ferreira de Souza.

Monografia (especialização) – Instituto Federal do Espírito Santo, Coordenadoria do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em

Engenharia de Infraestrutura Urbana, Vitória, 2020.

1. Urbanismo – Vila Velha (ES). 2. Costa – Proteção – Legislação. 3. Costa – Vila Velha (ES). 4. Planejamento urbano. 5;. Saneamento. I. Zanetti, Juliette. II. Souza, Jonio Ferreira de. III. Instituto Federal do Espírito Santo. IV.Título.

CDD 22 – 711

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Agradeço ao IFES, na figura da Coordenadoria de Estradas, e a todos que trabalharam e contribuíram para a implementação do curso de Pós-graduação em Engenharia de Infraestrutura Urbana, tão útil aos profissionais de arquitetura, urbanismo e engenharia que lidam com a problemática urbana no dia a dia da atividade profissional.

Agradeço à Professora Juliette Zanetti pelo apoio, pelas orientações, e por estar sempre presente e disposta a auxiliar no que fosse preciso durante todo o curso. Agradeço à equipe de professores pela dedicação, em especial à Professora Silvia Fernandes Rocha e ao Professor Jonio Ferreira de Souza, pela atenção e constante disponibilidade em auxiliar.

Agradeço também aos queridos colegas da turma, que com bom humor, otimismo e generosidade sempre se mostraram dispostos ao apoio mútuo e a compartilhar tão valiosas experiências e conhecimentos adquiridos.

Agradeço à Prefeitura de Vila Velha pela disponibilização de informações úteis ao desenvolvimento do trabalho, especialmente à Secretária Caroline Jabour de França e aos queridos colegas da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Mobilidade (SEMDU).

Agradeço à querida Mayara Tavares pela disponibilidade em auxiliar com a elaboração das cartas temáticas.

Agradeço à minha família pelo apoio incondicional, e por compreender minha ausência em tantos momentos durante o decorrer do curso, especialmente aos meus pais Aluizio e Maria, e à Ricardo.

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De onde nem tempo, nem espaço, Que a força mande coragem

Pra gente te dar carinho, durante toda a viagem Que realizas no nada, através do qual carregas O nome da tua carne

Terra, Terra Por mais distante O errante navegante Quem jamais te esqueceria?

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As zonas costeiras consistem nas áreas de interface entre o mar e o continente, e abrangem tanto uma parte terrestre quanto uma marítima. Devido à complexidade das relações existentes nessa interface – naturais e antrópicas, diversos tratados, legislações e ações vêm sendo concebidos mundialmente ao longo das últimas décadas. Estes objetivam promover o adequado gerenciamento desses territórios e a compatibilização do uso e ocupação com a preservação dos recursos e processos essenciais ao equilíbrio ambiental. Nesse sentido, o presente trabalho propôs-se a avaliar a aplicação de delimitações legalmente instituídas vinculadas às zonas costeiras, provenientes do Decreto Federal Nº 5.300/2004; da Lei Estadual Nº 5.816/1998, e da Resolução CONAMA Nº 303/2002, adotando como área de estudo um trecho de orla marítima situado no município de Vila Velha-ES. Complementarmente, avaliou-se a utilização do sombreamento das praias causado por edificações como indicador relevante à construção de um método de delimitação de orla marítima urbana, que seja estabelecido por meio do instrumento Zoneamento Urbano. Verificou-se que as delimitações legais avaliadas apresentam divergências tanto entre si quanto com as particularidades do território, dificultando sua aplicabilidade. Concluiu-se pela validade da adoção do sombreamento como indicador relevante à delimitação de orla marítima urbana. Considerou-se válida a premissa de que é possível incorporar variáveis de ordem natural e legal aos instrumentos já previstos na legislação brasileira de ordenamento do solo. Assim, supõe-se que o método proposto possui potencial em contribuir para a integração e compatibilização entre diversas previsões legais e as características concretas observadas nos espaços costeiros urbanos.

Palavras-chave: Delimitação de Orla Marítima Urbana. Zoneamento Urbano. Sombreamento. Estudo de Sombreamento.

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The Coastal Zones comprise the interface area between the sea and the mainland, covering a portion of land and sea surface. Due to the complexity of the relations that exist in this interface - natural and anthropic, several treaties, laws, and actions have been formulated worldwide over the last decades. Their aim is to promote adequate management over these territories, to make land use and occupation compatible with the preservation of resources and processes that are essential to environmental balance. Therefore, the present work proposed to evaluate the application of legally established boundaries linked to coastal areas, from Federal Decree Nº 5.300/2004; State Law Nº. 5.816/1998, and CONAMA Resolution Nº 303/2002, adopting as a study area a part of the coast of the municipality of Vila Velha-ES. Also, shadows cast by buildings on the beach were evaluated as indicators to establish the construction of a method for delimitation of urban space coastal boundaries, to be set in the territory by using the Urban Zoning instrument. It was found that the legal delimitations manifest inconsistencies among them and the features of the territory, complicating its applicability. It was concluded that the adoption of the shadows cast by buildings as an indicator is valid for the establishment of urban space coastal boundaries. It is considered valid the premise that it is possible to assimilate variables of legal and environmental order to the instruments already foreseen in the Brazilian legal framework for land management. Therefore, it is assumed that the proposed method has the potential to contribute to the integration and compatibilization among several legal provisions and the actual characteristics perceived in urban coastal spaces.

Keywords: Delimitation of Urban Space Coastal boundaries. Urban Zoning. Shadows. Shadow Analysis.

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APA – Área de Proteção Ambiental. APP – Área de Preservação Permanente. CF – Constituição Federal.

CIRM – Comissão Interministerial para os Recursos do Mar. CNUDM – Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente.

EEA – European Environmental Agency.

GI-GERCO – Grupo de Integração do Gerenciamento Costeiro.

GRPU/ES – Gerência Regional do Patrimônio da União no Espírito Santo. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

INCAPER – Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural. IPCC - Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.

LPM – Linha de Preamar Média.

MCTI - Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. MMA – Ministério do Meio Ambiente.

MPOG – Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.

OECD - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. ONU – Organização das Nações Unidas.

PAF – Plano de Ação Federal. PDM – Plano Diretor Municipal.

PEGC – Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro. PGI – Plano de Gestão Integrada.

PGZC – Plano de Gestão da Zona Costeira.

PMGC – Plano Municipal de Gerenciamento Costeiro. PNGC – Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro. PNMA – Política Nacional de Meio Ambiente.

PNMJ – Parque Natural Municipal de Jacarenema. PNRH – Política Nacional de Recursos Hídricos. PNRM – Política Nacional para os Recursos do Mar.

PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. RMGV - Região Metropolitana da Grande Vitória.

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SMA-ZC – Sistema de Monitoramento Ambiental da Zona Costeira. SPU – Secretaria do Patrimônio da União.

UC – Unidade de Conservação.

ZEEC – Zoneamento Ecológico Econômico Costeiro. ZL – Zona Litorânea.

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1 INTRODUÇÃO GERAL ... 10

1.1 HIPÓTESES ... 12

1.2 OBJETIVOS ... 12

1.3 ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO ... 13

2 DELIMITAÇÃO DA ORLA MARÍTIMA: CONTEXTUALIZAÇÃO ... 15

2.1 A ZONA COSTEIRA BRASILEIRA ... 18

3 CONSTRUÇÃO DO MÉTODO DE DELIMITAÇÃO DE ORLA MARÍTIMA URBANA – ADOÇÃO DO INSTRUMENTO “ZONEAMENTO URBANO” .... 29

3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA ... 29

3.2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ... 29

3.3 MATERIAIS E MÉTODOS ... 32

3.3.1 Materiais utilizados ... 32

3.3.2 Etapas Metodológicas ... 32

3.3.3 Etapa 1: Análise das referências legais e normativa ... 33

3.3.4 Etapa 2: Análise do sombreamento das edificações como indicador para delimitação de orla marítima urbana ... 36

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 51

4.1 DELIMITAÇÃO LEGAL: DECRETO Nº 5.300/2004; LEI Nº 5.816/1.998 (PEGC); E RESOLUÇÃO CONAMA Nº 303/2002 ... 51

4.2 SOMBREAMENTO DAS EDIFICAÇÕES ... 67

4.2.1 Solstício de Inverno – 20 de Junho de 2020 ... 69

4.2.2 Solstício de Verão – 21 de Dezembro de 2020 ... 78

5 CONCLUSÃO ... 88

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1 INTRODUÇÃO GERAL

A orla marítima consiste em uma faixa contida na zona costeira, de largura variável, composta por uma porção marítima e outra terrestre e caracterizada pela interface entre a terra e o mar (MUEHE, 2004). A Zona Costeira é definida no parágrafo único do Art.2º da Lei nº 7.661/1988, que institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC), como o espaço geográfico onde ocorre a interação entre o ar, o mar, a terra, conjuntamente aos recursos existentes (renováveis ou não), e que abrange faixa marítima e terrestre, a serem definidas legalmente.

Aos municípios costeiros cabe o controle e gestão do uso do solo, e a garantia de preservação ambiental em sua orla marítima, e, para isso, com base em exigências e/ou recomendações de base legal em nível federal, deverão munir-se de instrumentos específicos para controle, proteção, e gestão da orla: Municipal – Plano Diretor Municipal (PDM), legislação ambiental municipal, Plano Municipal de Gerenciamento Costeiro (PMGC), Plano de Gestão Integrada da Orla (PGI); Estadual – Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro (PEGC), Zoneamento Econômico Exclusivo Costeiro (ZEEC), etc.; Federal – PNGC, etc.

As Zonas Costeiras possuem características bastante específicas, especialmente suas orlas marítimas, que requerem atenção por se tratarem de áreas que apresentam grande fragilidade e sensibilidade ambiental, concomitantemente a um maior adensamento construtivo e populacional, e ao alto valor do preço da terra em áreas urbanizadas, resultante da pressão exercida pelo mercado imobiliário. Possuem grande importância socioeconômica, pois situam atividades produtivas (portuária, turística, pesqueira, etc.), assumem valor paisagístico, recreativo, contribuem para o bem-estar (lazer, saúde, etc.), e consistem em espaços de uso público coletivo livre e gratuito. Estão sujeitas a eventos meteorológicos e oceanográficos extremos, e por isso demandam atenção quanto à manutenção do equilíbrio ambiental e preservação dos recursos naturais e ecossistemas, imprescindíveis à segurança e estabilidade desses ambientes. (BURBRIDGE, 2012; MMA, 2015; CROSSLAND et al., 2006; POLLETE; ASMUS, 2017).

O planejamento e a gestão fundamentados nas especificidades desses ambientes são essenciais para garantir a proteção dos ecossistemas, a correta implantação de

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serviços urbanos e de infraestrutura, e o adequado ordenamento do solo (MMA, 2015).

Para realizar o planejamento e gestão das orlas marítimas, primeiramente é necessário compreender seus limites no território municipal.

O Decreto nº 5.300/2004, ao regulamentar a Lei no 7.661/1988 que institui o Plano

Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC), define limites legais de orla marítima, possibilitando sua adequação para compatibilizá-la aos princípios e objetivos do PNGC. Contudo, outros limites legais podem incidir sobre essas áreas, instituídos tanto por meio de instrumentos de ordenamento do solo quanto pelos de proteção e preservação do meio ambiente natural, podendo citar: Áreas de Preservação Permanente (APP), zonenamentos territoriais, por exemplo, a Zona Litorânea (ZL) estabelecida no Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro (PEGC) do estado do Espírito Santo, zoneamentos urbanos estabelecidos no Plano Diretor Municipal (PDM), o Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE), entre outros.

Essa complexidade do arcabouço legal e normativo incidente sobre o mesmo espaço físico, que inclui a definição de limites espaciais segundo objetivos diversos, dificulta a plena realização da gestão, planejamento e controle do uso e ocupação do solo pelas administrações municipais, até porque algumas dessas referências legais compreendem determinações genéricas e muitas vezes abstratas. Logo, para que haja aplicação prática e efetiva sobre o território, precisam primeiramente ser compatibilizadas entre si e traduzidas em regras precisas e objetivas, conforme cada contexto municipal.

Sendo assim, como delimitar uma orla marítima urbana de forma a compatibilizar ações de ordenamento do solo, desenvolvimento ambiental, e segurança costeira, sob a gestão da administração municipal?

Uma possibilidade é a utilização do intrumento Zoneamento Urbano para a concepção de um Zoneamento Urbano de Orla Marítima, que seja delineado de forma fundamentada em parâmetros naturais e antrópicos, e orientado a favorecer o cumprimento dos princípios e objetivos do PNGC, integrado às demais políticas setorias – Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), Política Urbana.

Para isso, há necessidade de se compreender quais são as variáveis passíveis de utilização como parâmetros, de que forma se dão as relações de associação e/ou

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interferências entre as variáveis envolvidas, e como estas podem ser absorvidas no delineamento do instrumento citado.

Com base nessa lógica foi desenvolvida a presente pesquisa, adotando-se como área de estudo o Município de Vila Velha-ES, especificamente o trecho de orla marítima compreendido entre o bairro Praia da Costa, com início na Praia da Sereia, até o bairro Nova Ponta da Fruta, no limite com o município de Guarapari-ES, ao sul. O propósito deste trabalho é analisar a delimitação de um espaço de Orla Marítima Urbana do ponto de vista da relevância em se estabelecer limites físicos adequados à realização de um gerenciamento sustentável desses espaços, e da necessidade de se investigar meios de instrumentalizar a administração municipal para sua gestão e ordenamento.

1.1 HIPÓTESES

Diante do exposto, foram construídas duas hipóteses que guiaram o desenvolvimento do trabalho:

I. As delimitações previstas nas normas legais analisadas no presente trabalho

são incompatíveis com as particularidades do território e com a situação de urbanização estabelecida, e, por conseguinte, de difícil correlação com as problemáticas enfrentadas para a gestão do território municipal e ordenamento do solo.

II. É viável incorporar variáveis ambientais naturais e antrópicas à construção de

um método de delimitação de orla marítima urbana, utilizando para isso o instrumento Zoneamento Urbano, buscando estabelecer dessa forma meios práticos de compatibilizar aspectos urbanísticos, ambientais e de segurança abarcados pelo arcabouço legal incidente nos ambientes costeiros.

1.2 OBJETIVOS

O objetivo geral deste trabalho é avaliar critérios de delimitação de orla marítima urbana, com proposição de método de delimitação que seja compatível com a

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prática da gestão e ordenamento do solo pela municipalidade, e ajustável às características observadas no território. Como objetivos específicos têm-se:

I. Aplicar a delimitação da orla marítima conforme limites estabelecidos no arcabouço legal específico: Decreto Federal nº 5.300/2004; Lei Estadual nº 5.816/1998; sobre a área de estudo definida para o Município de Vila Velha-ES;

II. Aplicar a delimitação de Área de Proteção Permanente (APP) de Restinga sobre a área de estudo, utilizando como referência critérios estabelecidos na na Resoluções CONAMA nº 303/2002;

III. Analisar o sombreamento provocado por edificações como possível indicador

aplicável para a construção de um Zoneamento Urbano de Orla Marítima, que funcione como delimitação de orla marítima urbana para a gestão municipal;

IV. Avaliar comparativamente os parâmetros legais/normativos aplicados sobre a

área de estudo, observando os trechos de orla urbanizada e não urbanizada, considerando as características naturais e antrópicas observadas no território.

1.3 ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO

O presente trabalho está dividido em cinco tópicos, conforme segue:

 Introdução Geral - apresenta uma introdução geral sobre os aspectos relevantes das zonas costeiras, a previsão legal brasileira fundamentada na necessidade de planejamento e gestão específicos desses espaços, e a complexidade para sua aplicação pela administração municipal nas atividades cotidianas de gestão e ordenamento do solo, as hipóteses levantadas, os objetivos gerais e específicos e a importância do presente estudo.

 Tópico 2 – tem como objetivo, após uma revisão bibliográfica e documental, a realização de uma aproximação aos conceitos de zona costeira, orla marítima, gerenciamento costeiro integrado, considerando a complexidade e peculiaridade desses ambientes e o arcabouço legal incidente, e tendo-se em vista a importância de se estabelecer uma delimitação física para a realização da gestão adequada desses espaços.

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 Tópico 3 - são descritos os materiais e métodos aplicados para a avaliação das hipóteses levantadas.

 Tópico 4 - são apresentados os resultados obtidos a partir da aplicação da metodologia construída no tópico anterior, visando verificar a validade das hipóteses levantadas.

 Tópico 5 - expõe as conclusões, considerações finais e recomendações para trabalhos futuros.

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2 DELIMITAÇÃO DA ORLA MARÍTIMA: CONTEXTUALIZAÇÃO

A Zona Costeira corresponde ao espaço de transição entre o continente e o oceano, mais precisamente entre os meios exclusivamenteterrestres e exclusivamente marinhos da superfície terrestre, configurando-se como espaço sob a influência de ambos, e de grande importância como espaço de diversidade e riqueza de ecossistemas e recursos naturais (CROSSLAND et al., 2006).

De acordo com a conceituação definida no âmbito do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o termo Costa refere-se à porção terrestre próxima ao mar, enquanto que o termo Costeiro refere-se tanto à porção terrestre relacionada ao mar quanto aos ambientes marinhos submetidos à forte influência dos processos terrestres (IPCC, 2019).

Crossland et al. (2006) citam que as zonas costeiras caracterizam-se por intensas relações de interação, cujo balanço é proporcionado por múltiplos e variados graus de dependência entre fatores ecossistêmicos, climáticos, geomorfológicos, antrópicos, além de processos físicos, químicos e biológicos altamente dinâmicos. A riqueza de recursos naturais e potencial econômico inerentes a essas áreas tornam-as extremamente atrativas ao estabelecimento de assentamentos humanos, e, conforme apresentado pelos autores, estima-se que cerca de metade da população mundial habite as zonas costeiras, em variadas escalas de concentração e situações de localização (CROSSLAND et al., 2006). Também na zonas costeiras encontram-se a maior parte das cidades e metrópoles mundiais, e nelas estão concentradas atividades econômicas de variadas escalas e grande diversidade de usos, por exemplo, petrolífera, portuárias, agropecuárias, pesqueiras, aquicultura, extrativistas, turismo e recreação, entre outras (POLETTE; ASMUS, 2017).

Em decorrência disso, tratam-se dos espaços onde há maior ocorrência de perturbações no mundo, sujeitas a grande variedade, concentração e intensidade de impactos sobre o meio ambiente, e a conflitos sobre sua utilização (CROSSLAND et al., 2006). Crossland et al. (2006), Polette e Asmus (2017) citam como exemplos dessas perturbações e conflitos a super exploração dos recursos naturais, poluição, eutrofização, supressão de elementos ambientais (como o aterro de manguezais e

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marismas), conflitos em relação à dominialidade das terras, disputas pelo direito de exploração ou por acesso a determinados recursos, problemas decorrentes de

atividades industriais, agrárias, pesca excessiva, crescimento urbano,

governamentais (como o antagonismo entre políticas públicas de diferentes entes governamentais para uma mesma área), entre outros; capazes de desestabilizar o equilíbrio natural desses ambientes e degradá-los. Crossland et al. (2006) expõem ainda que o balanço entre as interações naturais nas zonas costeiras é sensível também à fenômenos em larga escala, como as alterações atmosféricas

(concentração de CO2), mudanças de temperatura na atmosfera e águas marinhas,

entre outros.

As zonas costeiras são áreas onde se encontram as principais fontes de obtenção de alimentos, são estratégicas para o transporte em escala local, regional e global, e para o desenvolvimento de atividades econômicas. Também são fonte significativa de recursos minerais, combustíveis e de energia, consistem em locais de ocorrência da maior parte das atividades turísticas no mundo e, por fim, são suporte à biodiversidade e à ecossitemas que por sua vez são essenciais ao funcionamento de sistemas em escala global (CROSSLAND et al., 2006).

Conforme evidenciado pelos autores nos trabalhos citados, o adequado gerenciamento de uso das zonas costeiras apresenta-se como um dos maiores desafios na atualidade, sendo necessário à mediação e correção dos diversos conflitos existentes, visto que essas áreas representam cerca de 12% da superfície terrestre, e são dotadas de recursos e benefícios cruciais às necessidades humanas (CROSSLAND et. al., 2006; POLETTE; ASMUS, 2017).

Burbridge (2012) expõe que para enfrentar esse desafio é necessário que haja uma integração entre os grupos econômicos e sociais envolvidos e interessados em utilizar a zona costeira. Esclarece ainda que o gerenciamento desses espaços consiste em estabelecer planos de desenvolvimento que consigam abordar o máximo potencial de uso dos recursos, sem ocasionar danos e prejuízos aos meios que originam e dão condições à existência desses recursos. Ao falar de integração, refere-se à necessidade de se estabelecer uma coordenação entre as diversas atividades, e garantir oportunidades iguais de acesso à utilização dos diferentes recursos da zona costeira.

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Logo, o gerenciamento integrado envolve ordenar, articular, e harmonizar as diversas atividades passíveis de ocorrer em um mesmo ambiente costeiro, ou em função de um mesmo recurso, assim como a atuação dos diversos atores, para que a realização de uma determinada atividade não acarrete prejuízos ao desenvolvimento de outra, e de forma que todas elas não resultem em prejuízos e degradação do meio.

Polette e Asmus (2017) apontam que o gerenciamento costeiro é um processo contínuo, dinâmico e que evolui ao longo do tempo. Além disso, envolve uma avaliação compreensiva da realidade, tendo como objetivo a construção de planos de ações na forma de programas e projetos voltados ao gerenciamento desses ambientes e de seus recursos. Citam como exemplos ligados à condução de ações de gerenciamento costeiro as seguintes atividades: a caracterização e diagnóstico do meio quanto aos usos, dinâmicas, ecossistemas, estado, etc.; planejamento físico e financeiro com formulação de políticas e procedimentos de gestão, execução de projetos, conservação ambiental, etc.; monitoramento do desempenho e resultados de ações implementadas, e avaliação visando ajustes, correções e avanços.

Polette e Asmus (2017) expõem também que as finalidades de políticas e ações voltadas ao gerenciamento costeiro são pautadas nos objetivos estabelecidos por instituições responsáveis por estabelecer as políticas para as zonas costeiras, constantes em documentos internacionais. Em escala internacional cita-se como exemplo a Agenda 21 (ONU) e a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos do Mar (CNUDM). Em escala nacional cita-se a Constituição Federal (CF), a Política Nacional para os Recursos do Mar (PNRM), a Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC), entre outros.

Em adição, Burbridge (2012) aponta que o maior desafio e a grande complexidade inerente à gestão desses ambientes está em integrar os diversos setores econômicos, sociais e institucionais a partir da consolidação da compreensão de que o valor estratégico dos ambientes costeiros é relevante e significativo o bastante para que se invista em gerenciá-los racionalmente. É necessário que se almeje benefícios sociais e econômicos maiores, e que o aproveitamento e utilização desses espaços e de seus recursos ocorra de forma economicamente responsável,

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menos danosa ao meio, e sem que se suprima ou se desarranje os processos e fluxos naturais costeiros.

Realizar essa integração é uma ação a longo prazo, por isso, mais importante do que buscar criar um modelo ou estratégia definitivos a serem seguidos rigorosamente, é se pensar em níveis de ação em menor escala, que possam ser construídos e implementados gradualmente. Sob essa ótica, a cada experiência bem-sucedida é possível avançar com o gerenciamento integrado de modo a se alcançar resultados em níveis mais altos de complexidade e abrangência, e, assim, consolidar as relações de cooperação, conscientização e confiança necessárias entre os atores (BURBRIDGE, 2012).

Ressalta-se que elaborar e promover ações, projetos, e gestão nesse caso demanda a necessidade de estabelecimento de espaços físicos onde tais ações devam ocorrer. Ou seja, a gestão do ambiente costeiro, para uma escala determinada de ação, demanda a identificação dos limites físico-espaciais para sua aplicação.

Ainda não existe uma determinação padrão/universal justificada científica ou legalmente sobre qual deva ser o limite das zonas costeiras, seja na parte terrestre ou marítima, por isso, com vistas a identificá-las, têm sido definidas com base em referências aproximadas existentes, por exemplo, equiparando-as às águas territoriais, zonas econômicas exclusivas, entre outras (IPCC, 2019). É possível, portanto, estabelecer uma delimitação de acordo com finalidades específicas, visando atender necessidades e/ou abarcar escalas de abrangência variadas no território.

Polette e Asmus (2017) apontam que na falta de um sistema imperativo quanto à definição de limites para a zona costeira que seja aplicável internacionalmente, cada país estabelece sua própria definição, que varia de acordo com objetivos e condições consideradas relevantes no cenário atual.

2.1 A ZONA COSTEIRA BRASILEIRA

Na zona costeira brasileira residem cerca de 44 milhões de habitantes em situação de densidade populacional seis vezes acima da média nacional; há 16 regiões metropolitanas à beira-mar, que concentram uma população de mais de 35 milhões

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de habitantes, o que corresponde à concentração de cerca de 20% da população nacional em apenas 1% do território (POLETTE; ASMUS, 2017).

De acordo com Silva (2019) o Gerenciamento Costeiro no Brasil consiste em um conjunto de atividades e procedimentos aplicáveis por meio de instrumentos específicos que orientam e regulam a utilização dos recursos existentes nas Zonas Costeiras.

A política nacional de gerenciamento costeiro é coordenada, em nível federal, pelo Grupo de Integração do Gerenciamento Costeiro (GI-GERCO), subordinado à Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM), com apoio do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Essa política é estabelecida em diversos instrumentos legais, normativos e técnicos, como o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC), o Plano de Ação Federal da Zona Costeira (PAF), o Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro (PEGC), o Plano Municipal de Gerenciamento Costeiro (PMGC), os Planos de Gestão da Zona Costeira (PGZC), o Zoneamento Ecológico Econômico Costeiro (ZEEC), o Macrodiagnóstico da Zona Costeira; o Sistema de Informações do Gerenciamento Costeiro (SIGERCO), o Sistema de Monitoramento Ambiental da Zona Costeira (SMA-ZC) e o Relatório da Qualidade Ambiental da Zona Costeira (RQA-ZC) (BRASIL, 1996; POLETTE; ASMUS, 2017).

Nesse contexto, Oliveira e Nicolodi (2012) ressaltam que a aplicação dos instrumentos citados e o alcance dos objetivos neles estabelecidos depende substancialmente da atuação das três esferas de governo, da prioridade empregada à gestão das áreas costeiras, e, além disso, da participação da sociedade civil nessa gestão.

Quanto à definição de limites físicos-territorias, o Brasil possui delimitações estabelecidas em lei tanto para a zona costeira quanto para a orla marítima, porção territorial nela contida. A Zona Costeira brasileira, segundo o estabelecido no parágrafo único do art. 2º da Lei nº 7.661/1988, que institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC), consiste em um espaço geográfico de interação do ar, mar, terra, conjuntamente com os recursos existentes, renováveis ou não renováveis, compreendendo uma faixa marítima e outra terrestre.

A Zona Costeira brasileira está listada como patrimônio nacional na Constituição Federal (art. 225, § 4º), e como tal, a sua utilização poderá se efetuar desde que

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dentro da lei, e desde que seja assegurada a preservação do meio ambiente, e dos seus recursos naturais.

Silva (2019) relata que o PNGC é fundado como parte integrante da Política Nacional para os Recursos do Mar (PNRM) e da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), e subordinado aos princípios desta última, tendo a Lei nº 7.661/1988 sido promulgada antes mesmo da promulgação da Constituição.

A Zona Costeira brasileira é definida como Patrimônio Nacional na Constituição Federal de 1988, em seu art. 5, parágrafo 4º. Oliveira e Nicolodi (2012) explicam que o patrimônio nacional declarado na Constituição apresenta proeminência devido às suas qualidades notáveis e destacadas, e que a aplicação da legislação federal e estadual referente a este condiciona ou submete os demais direitos incidentes por meio de outras legislações, inclusive o direito sobre a propriedade privada ou pública. Os autores também citam três direitos coletivos reconhecidos pela Constituição que são pertinentes no âmbito do gerenciamento integrado das zonas costeiras, sendo eles: os direitos ao planejamento das cidades, ao meio ambiente equilibrado e à participação popular na gestão das cidades, ressaltando a necessidade de cumprimento da função socioambiental pelas propriedades públicas e privadas.

A Lei nº 7.661/1988, em seu art. 3º, estabelece que o PNGC deverá prever o zoneamento de usos e atividades na Zona Costeira, priorizando a conservação e proteção de recursos naturais renováveis e não renováveis, feições características e ecossistemas terrestres e marinhos (costões, dunas, restingas, manguezais, recifes, bancos de algas, entre outros), sítios ecológicos de relevância cutural e unidades naturais de preservação permanente, e monumentos integrantes do patrimônio natural, histórico, paisagístico, étnico, cultural, arqueológico, entre outros.

De forma a garantir que sejam tomados os cuidados necessários para utilização dos recursos naturais e preservação do meio ambiente nas zonas costeiras, o PNGC deverá ser elaborado e executado tendo em conta o funcionamento integrado de atividades existentes e/ou desejáveis nesses espaços. Conforme previsto no art. 5º da Lei que o institui, deverá considerar aspectos como a urbanização, a ocupação e uso do solo, do subsolo e das águas, o parcelamento e remembramento do solo, os sistemas viário e de transporte, os sistemas de geração, transmissão e distribuição

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de energia, habitação e saneamento básico, turismo, recreação e lazer, patrimônio natural, histórico, étnico, cultural e paisagístico (MMA, 2015).

O Decreto nº 5.300/2004, promulgado 16 anos após a promulgação da Lei nº 7.661/1988, regulamentando-a, estabelece regras de uso e ocupação da zona costeira e critérios de gestão da orla marítima, além de outras providências. Seu art. 1º informa sobre a definição de normas gerais que visam a gestão ambiental da zona costeira do País ao estabelecer bases para a formulação de políticas, planos e programas nas três esferas governamentais. Seu conteúdo é organizado em capítulos que tratam dos limites, princípios, objetivos, instrumentos e competências para a gestão da Zona Costeira e da Orla Marítima, além de estabelecer regras de uso e ocupação do solo para estes espaços.

Entre os avanços deste marco legal destacam-se a incorporação da aplicação do princípio da precaução tal como estabelecido na Agenda 21, e a complementação dos instrumentos de gestão da zona costeira. Também incorpora entre os princípios fundamentais a observância dos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil na matéria (art. 5º, inciso I), somando-se aos demais princípios estabelecidos para a gestão da zona costeira, além dos previstos na PNMA, PNRM e na Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) (MMA, 2015).

Neste Decreto nº 5.300/2004 constam os limites legais estabelecidos para a zona costeira. Conforme apontado por Oliveira e Nicolodi (2012), a partir dele que se institui a orla marítima como um novo espaço de gestão territorial, que, de acordo com a conceituação estabelecida em seu art. 22, consiste em uma faixa inserida na zona costeira, com largura variável, e que abarca uma porção marítima e uma terrestre, situada na interface entre a terra e o mar.

Moraes e Zamboni (2004) esclarecem que a orla foi pensada no âmbito de uma escala para planejamento e gestão, sob viés de um detalhamento de parte da Zona Costeira com foco na realidade intra-municipal, visando a delimitação de um espaço pertinente à realização dos objetivos estabelecidos no Projeto Orla, programa governamental federal destinado à gestão territorial e ambiental das áreas de patrimônio da União nas zonas costeiras.

O primeiro Plano de Ação Federal da Zona Costeira (PAF), de 1998, elaborado antes mesmo da regulamentação do PNGC pelo Decreto nº 5.300/2004, já trazia em

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seu escopo quatro programas de ação: Ordenamento da Ocupação e do Uso do Solo; Conservação e Proteção do Patrimônio Natural, Histórico e Cultural; Controle Ambiental; e Suporte ao Desenvolvimento do Plano (articulação, capacitação, informação/ tecnologia, etc.). Uma das atividades prioritárias vinculadas a essas ações consistia no planejamento e implantação do Projeto Orla (MMA, 2015).

O Projeto de Gestão Integrada da Orla Marítima também chamado Projeto Orla, consiste em um programa diretamente relacionado à necessidade da União em ordenar os espaços litorâneos sob seu domínio, mais especificamente os espaços de praia e áreas determinadas como terrenos de marinha e seus acrescidos (MMA, 2015). É orientado pela perspectiva de integração entre políticas ambientais, urbanas e patrimonial da União, a partir da promoção de articulação entre os três entes federativos. Esse programa encontra-se sob gestão do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e da Secretaria do Patrimônio da União (SPU/MPOG).

A construção desse programa e sistematização da sua metodologia originou uma série de Manuais contendo a metodologia para elaboração do Plano de Gestão Integrada da Orla Marítima (PGI) pelos Municípios, documento este voltado a orientar a gestão das áreas objeto do projeto. Os limites para a orla marítima nele adotados consistem nos definidos no Decreto nº 5.300/2004. Estes limites equivalem na porção marítima à isóbata de dez metros, pois trata-se da profundidade em que a ação das ondas passa a sofrer influência da topografia do fundo do mar, ocasionando transporte de sedimentos (BRASIL, 2004); e na porção terrestre à cinquenta metros em áreas urbanizadas ou duzentos metros em áreas não urbanizadas (BRASIL, 2004), de forma geral.

Sob o enfoque da gestão patrimonial do projeto orla, Moraes e Zamboni (2004) expõem que essa proposta de limites tinha por objetivo distinguir uma faixa de segurança da costa, caracterizada por grande atividade morfológica, com ocorrência de processos erosivos e tendência ao avanço ou recuo do mar, e que apresenta equilíbrio instável quanto aos processos hidrodinâmicos e de conformação do relevo. O modelo de delimitação adotado no Projeto Orla baseou-se em critérios de fragilidade e/ou vulnerabilidade natural, combinando-os às variações de situação de ocupação do litoral brasileiro.

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Muehe (2004) avalia que estabelecer limites legais orientados a controlar e restringir atividades que possam vir a ser capazes de deteriorar as características naturais do ambiente de orla é fundamental. No entanto, há que se considerar limites adequados às diferentes características observadas nesses espaços – caracterizados pela interface entre a terra e o mar e suas especificidades, considerando inclusive eventos associados às mudanças climáticas, como a elevação do nível do mar e a intensificação de tempestades. Segundo o autor, esses fatores dificilmente são incorporados ao planejamento pelos gestores devido ao horizonte temporal de ocorrência desses eventos.

Contudo, a delimitação da orla marítima em seus valores genéricos, estabelecidos nos incisos I e II do art. 23 do Decreto Federal, demanda adequações para que seja possível sua aplicação no território. Para pôr em prática essa adequação é necessário a realização de diagnósticos, mapeamentos, entre outros trabalhos, cujo grau de dificuldade varia de acordo com a complexidade observada no território – dado os aspectos naturais e antrópicos. Também há limitações de cunho institucional, sejam estruturais – recursos humanos, físicos, materiais e financeiros; seja quanto à disponibilidade de dados e informações; etc.

De acordo com o constante no Decreto nº 5.300/2004, a referência incial para a demarcação da orla marítima consiste na Linha de Preamar, e a final, interior ao continente, consiste nos limites finais de ecossistemas e/ou elementos caracterizados de acordo com suas feições geomorfológicas, identificados nas áreas de terrenos de marinha e seus acrescidos, por exemplo: restinga, costões, manguezais, falésias, estuários, praias, dunas, etc. Isso significa que além das medidas genéricas a norma cita outras referências passíveis de serem observadas para a execução da delimitação, trazendo ainda a necessidade de observação da presença de áreas inundáveis e sujeitas à erosão, entre outros aspectos.

Devido a essa multiplicidade de características que precisam ser identificadas e avaliadas, ainda no art. 23 do Decreto, em seu parágrafo 2º, fica estabelecido que os valores em metros definidos nos incisos I e II podem ser alterados mediante justificativa que se enquadre em ao menos uma das seguintes situações: tendência erosiva, indicada com base em dados; conflitos e/ou concentração de usos devido aos recursos ambientais existentes; tendência de avanço da linha de costa em

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direção ao mar; existência de trecho de orla abrigada com profundidade inferior a dez metros.

Apesar de instituir limites, o Decreto o faz de forma generalizada e abrangente, buscando abarcar a possibilidade de incorporação da diversidade de conformações possíveis na costa brasileira, o que por sua vez resulta na demanda por novas ações para reunião e/ou produção de dados e informações necessários.

Muehe (2004) ressalta que há o entendimento de que ocorrem sobreposições entre os limites abarcados por elementos e unidades naturais, a ocupação humana, e os limites legais existentes. Esse espaço de conflitos precisa ser identificado em sua extensão/área sobre o território, para que seja adequadamente gerenciado. O autor expõe a necessidade de se estabelecer limites mais adequados às realidades observadas.

A questão apontada por Muehe (2004) é patente para as administrações municipais, âmbito no qual ocorre a gestão direta do ordenamento do solo urbano. A gestão dos espaços costeiros se apresentam como um desafio para a gestão do ordenamento do solo para as administrações municipais. Isso ocorre tanto pelas características prórias desses espaços quanto pelo amplo arcabouço legal incidente, caracterizado pelo estabelecemento de regramentos, diretrizes, princípios, zoneamentos, etc., sob múltiplos pontos de vista, de forma a abarcar a complexidade de características naturais e de uso e ocupação. Dessa forma, os conflitos resultantes das dificuldades de transposição dos princípios e objetivos legais às práticas e ações de gestão, controle e fiscalização urbanística são uma constante no dia a dia.

A diversidade do arcabouço legal que rege aspectos de ordenamento do solo, com enfoques e sob competências muitas vezes setoriais, ainda que compartilhem princípios e objetivos semelhantes ou complementares entre si resulta em sobreposições e definições não compatibilizadas legalmente entre si na forma de um procedimento ou regramento de aplicação prática pela administração.

Por exemplo, no que tange aos ambientes costeiros, a Lei nº 7.661/1988 define que os planos de gerenciamento costeiro poderão estabelecer normas e diretrizes para uso do solo e que esta Lei deverá ser observada em processos de licenciamento para uso e ocupação. O Decreto nº 5.300/2004, como já citado, estabelece limites para a orla marítima, institui planos de ação voltados a esses espaços, define

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normas gerais aplicáveis ao território, define tipos de zonas e critérios de enquadramento, metas a serem atingidas na gestão integrada, assim como critérios para classificação de orlas marítimas, tudo isso visando integrar a gestão das zonas costeiras e orlas marítima (BRASIL, 2004).

Contudo, o planejamento, gestão e controle do uso e ocupação do solo, no âmbito administrativo municipal, ocorre pela aplicação de um conjunto de instrumentos legais e normativos que fundamentam e orientam tais atividades. Conforme o estabelecido no Art. 182 da Constituição Federal (BRASIL, 1988), a política de desenvolvimento urbano é executada pelo Poder Público municipal e tem como objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes, sendo o plano diretor o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana (BRASIL, 1988).

O Art. 182 da CF é regulamentado pela Lei nº 10.257/2001, intitulada Estatuto da Cidade. Para a execução da política urbana de que trata a Constituição, o Estatuto da Cidade reúne em seu Art. 4º os instrumentos da política urbana, entre os quais inclui o Plano Diretor (BRASIL, 2001).

Constata-se, portanto, três regulamentos legais cujo conteúdo voltado ao ordenamento e regramento do solo incide nas zonas costeiras: Plano Diretor, Decreto nº 5.300/2004, e Lei nº 7.661/1988. A tais regulamentos, independentes entre si, soma-se um programa de governo - o projeto orla, cujo produto final consiste em um plano de gestão a ser instituído legalmente pelo poder municipal, resultando, dessa forma, em uma nova norma. Ressalta-se que a aplicação desse arcabouço legal para o ordenamento do solo juntamente com a gestão do meio ambiente nos espaços costeiros fica à cargo do município, com todas as limitações muitas vezes existentes.

Tendo isso em vista, percebe-se a necessidade de superar algumas dificuldades relacionadas, tais como: a deficiência ou inexistência de ações de planejamento integrado entre os diversos entes governamentais e/ou setoriais (abarcando a realidade observada no ambiente objeto do planejamento); a limitação ou indisponibilidade de recursos (humanos, materiais, financeiros, etc.); a sobreposição de competências de gestão sobre uma mesma área.

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O objeto de gestão integrada é o território, que é único, e conforme determinado na Constituição, cabe aos municípios promover o ordenamento territorial adequado por meio do planejamento e controle do uso, parcelamento e ocupação do solo urbano, no que for da sua competência (art.30, inciso VIII). Essas atividades estão sujeitas ao cumprimento de determinações legais de ordem urbanística, ambiental, patrimonial, entre outras.

Para a superação das dificuldades citadas é pertinente e necessária a criação ou o fortalecimento dos meios utilizados pela administração municipal para a gestão e ordenamento do solo, destacadamente em ambientes de grande complexidade ambiental, caso das zonas costeiras e ambientes de orlas marítimas.

Conforme exposto são previstos instrumentos legais tanto sob o enfoque setorial da zona costeira, quanto para o ordenamento do solo e implementação da política urbana pelo município. Contudo, há lacunas entre o conteúdo trazido por esse arcabouço legal e as necessidades práticas das administrações para torná-los concretos e efetivos quando das atividades de urbanificação. Cita-se como exemplo o estabelecimento de regras práticas para o traçado urbano, diretrizes projetuais, critérios para resolução de conflitos observados, etc.

Diversos instrumentos no PDM somam para a realização de uma gestão integrada. Contudo, apesar da quantidade de intrumentos e de suas possibilidades de aplicação conjunta, devido às próprias limitações encontradas pela administração para a implementação dos mesmos, o zoneamento urbano destaca-se como instrumento bem assimilado e amplamente utilizado, sendo relevante meio de se estabelecer critérios objetivos/quantificáveis para realização das ações/atividades de uso e ocupação do solo urbano.

Silva (2018) expõe que o regime urbanístico do solo consiste num conjunto de normas, instituições e institutos aplicados de forma a disciplinar as atividades ligadas ao habitar, trabalhar, circular e recrear. No âmbito administrativo municipal, o principal instrumento utilizado para gerir e regular o território é o Zoneamento Urbano – instrumento de gestão do território e ordenamento do solo urbano estabelecido no Plano Diretor Municipal (PDM) e/ou em Leis específicas de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo.

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Este instrumento é representado na lei textualmente, em valores e índices, e em mapas que indicam seu local e área de abrangência no território. Conforme ilustrado por Silva (2018), trata-se de um plano urbanístico especial, podendo ser chamado Plano de Zoneamento, pois destina-se a pôr em prática as diretrizes e regramentos definidos para a área que abrange, em conformidade com o PDM.

Silva (2018) relata que o zoneamento pode ser compreendido como uma ferramenta, de caráter urbanístico, destinada a fixar os usos adequados e desejáveis em diversas áreas definidas no território, ou ainda, para destinação de áreas para a realização de funções urbanas fundamentais. O zoneamento consiste em um dos principais instrumentos aplicados para realizar o ordenamento do solo, atividade necessária à implementação de planos e projetos urbanísticos e realização do gerenciamento do território: realização da função socio-ambiental da propriedade; estabelecimento de direitos e deveres quanto ao uso e ocupação; dominialidade; entre outros.

A partir da elaboração de um Plano de Zoneamento, conforme exposto pelo autor, é possível estabelecer um regramento para o desenho urbano que seja compatível com o cumprimento dos princípios e objetivos de diversas legislações e normas específicas, incorporando-as na forma de critérios, valores, ou informações transferíveis sobre o território e ocupação urbana, e para o processo de planejamento.

Com base nas finalidades e características do intrumento zoneamento lecionadas por Silva (2018), é possível perceber a pertinência deste como alternativa para a delimitação de uma orla marítima, de forma a responder à uma necessidade prática e imediata da gestão cotidiana desses espaços:

O zoneamento constitui, pois, um procedimento urbanístico que tem por objetivo regular o uso da propriedade do solo e dos edifícios em áreas homegêneas, no interesse do bem-estar da população. Ele serve para encontrar lugar para todos os usos essenciais do solo e dos edifícios na comunidade e colocar cada coisa em seu lugar adequado, inclusive as atividades incômodas. Não é modo de excluir uma atividade indesejável, descarregando-a nos Municípios vizinhos. Não é meio de segregação racial ou social. Não terá por objetivo satisfazer interesses particulares, nem de determinados grupos. Não será um sistema de realizar discriminação de qualquer tipo. Para ser legítimo, há de ter objetivos públicos, voltados para a realização da qualidade de vida das populações. (SILVA, 2018)

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O regramento, princípios e diretrizes do arcabouço legal, em certa medida, pode ser traduzido e incorporado ao instrumento zoneamento, de forma que se percebe seu potencial como meio de articular regras e contribuir para a realização da gestão integrada costeira em escalas locais no Município.

Devido a essa complexidade, que também se estende ao arcabouço legal e normativo incidente, integrar o planejamento do uso do solo e o gerenciamento integrado da zona costeira continua sendo um desafio para planejadores, técnicos e tomadores de decisão (BATISTA et al., 2017).

A construção e/ou aperfeiçoamento de métodos ou ferramentas que dêem suporte à gestão integrada desses espaços é relevante à concretização dos objetivos já expostos anteriormente para os ambientes costeiros, cabendo a formulação de propostas orientadas às diferentes escalas de percepção e ação.

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3 CONSTRUÇÃO DO MÉTODO DE DELIMITAÇÃO DE ORLA MARÍTIMA URBANA – ADOÇÃO DO INSTRUMENTO “ZONEAMENTO URBANO”

3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA

A pesquisa realizada no trabalho é de natureza aplicada, e busca contribuir com a construção de propostas voltadas a instrumentalizar as administrações públicas municipais para a delimitação e exercício da gestão dos territórios de orlas marítimas urbanas, propondo meio de se integrar as previsões legais de diversas ordens a partir de dados e/ou informações que auxiliem na aplicação do arcabouço legal, com a realização de seus objetivos e princípios.

Para tanto adotou o método hipotético e dedutivo, com a proposição de duas hipóteses a serem testadas por meio dos métodos aplicados e da metodologia proposta. A pesquisa tem caráter exploratório, pois considera a necessidade de investigar a amplitude do tema e das variáveis possíveis, ainda a serem identificadas e analisadas em sua complexidade, e quanto às possibilidades de interrelação entre si.

Quanto aos procedimentos técnicos adotados, foram realizadas pesquisas bibliográfica e documental (legislação) sobre o tema, e também pesquisa experimental, consistindo na proposição de um método de análise e incorporação de variáveis ambientais na construção do instrumento Zoneamento Urbano. Tal método foi testado a partir da realização de simulações aplicando-se as variáveis selecionadas, realizando a aproximação e teste de uma das hipóteses.

3.2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo se encontra no município de Vila Velha, localizada no estado do Espírito Santo entre os meridianos 40°30’00” W e 40°15’00” W e entre os paralelos 20°17’00” S e 20°33’00” S (Figura 1).

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Figura 1 – Localização da Área de Estudo

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

Localizado na Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV), o Município de Vila Velha limita-se ao norte com a capital Vitória, a oeste com os municípios de Cariacica e Viana, ao sul com o município de Guarapari, e a leste com o Oceano Atlântico. Possui área da unidade territorial igual a 210,225 Km², e população

estimada em 493.838 habitantes para o ano de 20191.

Conforme a Lei nº 5.816/1998, que institui o PEGC, o município de Vila Velha faz parte do setor Litoral Centro, juntamente com os municípios de Fundão, Serra, Vitória, Cariacica e Viana.

De acordo com o que se observa quanto à ocupação do território do município, este pode ser analisado, de forma geral, a partir de duas porções distintas: a primeira porção ao sul do Rio Jucu, que corresponde a aproximadamente 70% do território total, e contém toda a área rural e parte da área urbana, esta última situada predominantemente ao longo das rodovias estaduais ES-388 e ES-060; e a segunda

1 IBGE. Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/es/vila-velha/panorama - 15-09-19>. Acesso: 20 ago. 2019.

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porção ao norte do Rio Jucu, que concentra maior extensão de área urbanizada e com maior adensamento construtivo e populacional, melhor dotada de infraestrutura urbana, e onde se encontram as áreas mais valorizadas pelo mercado imobiliário, destacadamente nos bairros litorâneos.

O município encontra-se dentro do bioma da Mata Atlântica, e são observáveis no território os ecossistemas de restinga e manguezal, campos e pastagens, herbáceas aluviais e macrófitas, e ecossistemas insulares. Além disso, é permeado por diversos cursos d’água, pertencentes à bacia hidrográfica do Rio Jucu2. Já o relevo é

predominantemente plano, em média 4 metros acima do nível do mar, sendo que cerca de 98,63% de suas áreas apresenta declividade inferior a 30% (INCAPER, 2011). Também se destaca a presença de maciços rochosos ao longo da Baía de Vitória, onde observa-se a presença de instalações portuárias e militares.

Sua orla marítima possui 47,915 km de extensão total3, e está inserida inteiramente

no perímetro urbano municipal.

A área de estudo abordada no presente trabalho consiste na extensão terrestre da orla marítima, no trecho compreendido entre o bairro Praia da Costa, ao norte, a partir da Praia da Sereia, e o bairro Nova Ponta da Fruta, ao sul, no limite com o Município de Guarapari-ES, como apresentado pela Figura 01.

Situam-se nessa extensão 10 bairros litorâneos, 02 Unidades de Conservação legalmente instituídas (Parque Natural Municipal de Jacarenema – PNMJ, e Área de Proteção Ambiental da Lagoa Grande – APA da Lagoa Grande), e a Lagoa e Mata de Jacuném, parcela territorial não pertencente à delimitação legal de bairro, e identificada no art. 314, inciso XXVIII, do Plano Diretor Municipal (PDM) vigente como Patrimônio Municipal de Interesse de Preservação (VILA VELHA, 2018). Além disso, nos bairros da porção norte da área de estudo predomina ocupação caracterizada por acentuada verticalização edilícia, enquanto nos bairros ao sul predominam ocupação horizontalizada e menos adensada, situações patentes de ocupação irregular sobre áreas ambientalmente sensíveis, e eventos relacionados à erosão costeira agravados por causas antrópicas.

2 Agência Estadual de Recursos H[idricos - AGERH. Disponível em: <https://agerh.es.gov.br/mapas-2>. Acesso em: 20 ago. 2029.

3 1º Relatório de Gestão de Praias. Disponível em: <http://www.planejamento.gov.br/assuntos/gestao/ patrimonio-da-uniao/destinacao-de-imoveis/extratos-dos-termos-de-adesao>. Acesso: 20 ago. 2019.

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3.3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.3.1 Materiais utilizados

Os materiais utilizados neste trabalho foram:

 Ortofotomosaico da área de estudo, disponibilizado gratuitamente pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos - IEMA realizado em todo o Estado do Espírito Santo entre os anos de 2012 e 2015.

 Shapefile da Linha de Preamar Média (LPM), disponibilizado pela Gerência Regional do Patrimônio da União no Espírito Santo - GRPU/ES.

 Autodesk Civil 3D 2019, versão do produto 13.0.613.0 stand-alone: student version.

 Autodesk InfraWorks 2020.2, versão do produto stand-alone: student version;  QGIS versão 3.10.9.

 ProGrid - ferramenta gratuita disponibilizada pelo IBGE para transformação de coordenadas entre referenciais geodésicos.

 Suncalc.org4 - ferramenta web gratuita na qual é possível consultar dados

solares de acordo com a localização definida em mapa (Esri Satellite ou OSM-OpenStreetMap), ou a partir de inserção de coordenadas geográficas.

 Tábua de Marés5 - página eletrônica para consulta de dados solares, lunares

e meteorológicos.

 Anuário 2020 do Observatório Nacional (ON) – publicação sobre as efemérides astronômicas do ano de 2020.

3.3.2 Etapas Metodológicas

Para a execução deste trabalho, duas etapas foram necessárias: i) análise das referências legais e normativa e; ii) análise do sombreamento das edificações como indicador para delimitação de orla marítima urbana.

4 Desenvolvida por HOFFIsoft software/Torsten Hoffmann. Disponível em: <https://www.suncalc. org/#/-20.5298,-40.3736,17/2020.07.19/21:50/1/0>.

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3.3.3 Etapa 1: Análise das referências legais e normativa

Para analisar os critérios relevantes à proposição de delimitação de um zoneamento de orla marítima urbana, foi relevante avaliar que tipo de delimitação já incide sobre a área de estudo com base na legislação e em normativas específicas vigentes, vinculadas às características naturais ou à ação antrópica.

Ao mapear os limites verificados no arcabouço legal citado foi possível analisar comparativamente sobre o território os diferentes alcances das distâncias estabelecidas. Essa análise foi útil ao auxiliar o estudo de critérios pertinentes à delimitação de orla marítima urbana, dentro do propósito de que tal delimitação se realize a partir do estabelecimento de um Zoneamento Urbano próprio para esses espaços. Supõe-se que este instrumento, se compatibilizado às especificidades dos ambientes costeiros, poderá sustentar de forma objetiva a gestão e ordenamento do solo pela administração municipal.

3.3.3.1 Mapeamento da delimitação de APP de Restinga

Um dos aspectos explorados no presente trabalho é a delimitação de Área de Preservação Permanente (APP) de Restinga.

Do ponto de vista legal, a delimitação de APP de restinga é estabelecida pela Resolução CONAMA nº 303/02, que estabelece parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente, e em seu Art. 3º, inciso IX, traz como limites para a APP de restinga a faixa mínima de 300 metros, medidos a partir da Linha de Preamar máxima, e abrangendo também qualquer localização ou extensão quando recoberta por vegetação com função fixadora de dunas ou estabilizadora de mangues (BRASIL, 2002).

Ainda de acordo com a Resolução CONAMA nº 303/02, em seu Art. 2º, inciso VIII, a restinga consiste no depósito arenoso contíguo à linha da costa, resultante de processos de sedimentação, e onde se encontram diferentes comunidades que recebem influência marinha. A cobertura vegetal típica ocorre em praias, cordões arenosos, dunas e depressões, apresentando, de acordo com o estágio sucessional,

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camadas herbáceas, arbustivas e arbóreas, esta última mais interiorizada (CONAMA, 2002).

A Resolução CONAMA nº 10/93, que estabelece os parâmetros básicos para análise dos estágios de sucessão de Mata Atlântica, ao tratar das formações vegetais, conceitua vegetação de restinga como a que recebe influência marinha, presente ao longo do litoral brasileiro, também considerada comunidade edáfica, por depender mais da natureza do solo do que do clima (CONAMA, 1993).

Assim, com base em tais referências, elaborou-se uma carta temática com a representação da APP de Restinga sobre a área de estudo, utilizando como parâmetro a faixa mínima de 300 metros. O resultado obtido é apresentado mais à frente, no próximo capítulo.

3.3.3.2 Mapeamento da delimitação da Orla Marítima

O próximo aspecto explorado no presente trabalho é a delimitação de Orla Marítima conforme preconizado no Decreto nº 5.300/2004, que regulamenta a Lei nº 7.661/1988, que delibera sobre o uso e ocupação da zona costeira estabelecendo critérios de gestão da orla marítima e outras providências. Conforme estabelecido no Decreto, considera-se Orla Marítima a faixa contida na zona costeira, de largura variável, compreendendo uma parte marítima e uma terrestre, situada na interface entre a terra e o mar (BRASIL, 2004).

Os limites genéricos da porção terrestre da orla marítima, parte abordada no presente trabalho, estão pautados pela presença ou não de áreas urbanizadas, ou seja, pela ocorrência de ação antrópica sobre a área (BRASIL, 2004).

Para a distinção entre áreas urbanizadas e não urbanizadas adotou-se a conceituação estabelecida no art. 2º, inciso XIII, da Resolução CONAMA nº 303/02 para Área Urbana Consolidada, que considera como tal as áreas assim definidas legalmente pelo poder público, ou as que possuam ao menos quatro dos seguintes equipamentos de infraestrutura urbana: malha viária com canalização de águas pluviais; rede de abastecimento de água; rede de esgoto; distribuição de energia elétrica e iluminação pública; recolhimento de resíduos sólidos urbanos; tratamento

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de resíduos sólidos urbanos; e densidade demográfica superior a cinco mil habitantes por km².

Essa definição consta igualmente no Art. 2º, inciso V, da Resolução CONAMA nº 302/2002, que vem a complementar a Resolução CONAMA nº 303/02. Com base nesse conceito, foram identificadas na área de estudo os trechos caracterizados como áreas urbanizadas e não urbanizadas.

Dessa forma, para os trechos onde verifica-se consolidação da área urbanizada aplicou-se a medida de 50 metros. Já para os trechos cobertos por vegetação, ainda preservados, ou nos quais a ação humana ocorreu de forma restrita e/ou limitada, sem formação de áreas urbanizadas, aplicou-se a medida de 200 metros.

Como referência para delimitação da faixa de orla marítima em sua porção terrestre utilizou-se a Linha de Preamar Média (LPM), a partir da qual mediu-se a distância estabelecida na legislação. A opção pela adoção da Linha de Preamar Média como referência se deu devido à disponibilidade da informação espacial, e à não identificação de dados oficiais que estabeleçam espacialmente os limites finais dos ecossistemas costeiros do Município.

Foi aplicada a ferramenta buffer sobre a Linha de Preamar Média demarcada para o trecho da área de estudo, com medida de distanciamento de 50 metros em áreas urbanizadas e de 200 metros em áreas não urbanizadas. Obteve-se então o polígono referente à faixa de orla marítima terrestre, conforme estabelecido a princípio no Decreto Federal. A carta temática produzida é apresentada mais adiante, no próximo capítulo.

3.3.3.3 Mapeamento da delimitação da Zona Litorânea

O próximo aspecto examinado é a delimitação da Zona Litorânea (ZL) conforme estabelecida pela Lei nº 5.816/1998, que institui o Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro (PEGC).

De acordo com essa lei, o instrumento básico de planejamento do PEGC consiste no Zoneamento Ecológico Econômico Costeiro (ZEEC). O objetivo desse instrumento é identificar unidades territoriais que necessitem de um regime de tratamento especial em função de suas características ambientais, geomorfológicas e socio-econômicas,

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visando o desenvolvimento de ações voltadas ao aproveitamento, manutenção, ou recuperação ambiental e do potencial produtivo (ESPÍRITO SANTO, 1988).

As unidades territorias do ZEEC têm seu enquadramente regido de acordo com a definição de zonas características, e conforme estabelecido no inciso VI do artigo 19 da Lei, a Zona Litorânea (ZL) consiste em uma faixa terrestre adjacente à Zona Marinha, com distância de 100 metros a partir do limite da praia ou, inexistindo praia, a partir das Linhas de Base definidas pela Convenção das Nações Unidas. A linha de base citada consiste na linha de baixa mar, conforme estabelecido pela Conveção das Nações Unidas pelos Direitos do Mar, legitimada no Brasil pelo Decreto nº 1.530/1995.

Contudo, optou-se pela adoção da Linha de Preamar Média como referência, devido à disponibilidade de infomação espacial, e para fins de análise comparativa com as demais normas quanto à sua extensão sobre o território.

Assim foi aplicado a ferramenta buffer sobre a LPM demarcada na área de estudo, com medida de distanciamento de 100 metros, obtendo-se a partir daí o polígono referente à Zona Litorânea. A carta temática elaborada é apresentada mais à frente, no próximo capítulo.

3.3.4 Etapa 2: Análise do sombreamento das edificações como indicador para delimitação de orla marítima urbana

Estudos têm apontado a influência da incidência e duração dos raios solares para manutenção e regeneração do meio ambiente costeiro e de suas dinâmicas naturais, com reflexos para a preservação ambiental, saúde, e manutenção da qualidade de vida. Além disso, a antropização desses espaços tem resultado no surgimento e/ou agravamento de problemas como poluição e/ou contaminação do solo e das águas devido à deficiência de saneamento, erosão costeira, degradação de ecossistemas, entre outros.

O trabalho realizado por Santos e Ferreira Júnior (2009) aponta aspectos como a temperatura da areia, o dinamismo característico dos ambientes litorâneos, a maior ou menor ocorrência de erosão costeira, as feições geomorfológicas das praias em relação à presença ou não de interferências no percurso entre o mar e a praia, e as

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