• Nenhum resultado encontrado

O presente trabalho monográfico possibilitou estudar o acréscimo do parágrafo único ao artigo 60 da CLT, analisando se é válida a dispensa da licença prévia na prorrogação de jornada nas escalas de doze horas de trabalho por trinta e seis horas de descanso em condições insalubres, após o advento da Lei n. 13.467/2017, à luz das regras e princípios inerentes ao trabalhador.

Em razão da evolução da sociedade, os meios de trabalho e as relações empregatícias se modificaram, de modo que se mostrou a necessidade das normas trabalhistas se adequarem à sociedade atual. Foi neste cenário que surgiu a Reforma Trabalhista. Entretanto, inúmeras discussões surgiram, em razão das drásticas mudanças que ocorreram na lei.

No presente estudo, foi analisado que a saúde é um direito social, garantida à todas as pessoas, sendo dever do Estado a sua promoção. No que concerne à saúde do empregador e ao meio ambiente do trabalho, surgem as normas referentes à segurança e medicina do trabalho, a fim de estabelecer normas protetivas à segurança e a saúde do trabalhador, em razão do disposto no inciso XXII do artigo 7º da CRFB/1988.

Estudou-se, também, que a jornada normal de trabalho é limitada a oito horas diárias e quarenta e quatro horas semanais, sendo que todo o tempo em que o trabalhador ficar à disposição do empregado, após esse limite, será tido como hora extraordinária. Entretanto, é admitida a escala de doze horas de trabalho por trinta e seis horas de descanso, sem que as horas laboradas a mais sejam remuneradas como hora extra. Ademais, foi estudado também que a atividade insalubre é considerada como aquela que expõe o trabalhador à agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados pelo Ministério do Trabalho, sendo devido, portanto, um adicional de remuneração com o objetivo de indenizar o trabalho nesta situação.

O ponto principal de estudo do presente trabalho foi o artigo 60 da CLT. O caput do referido artigo dispõe que para a prorrogação de jornada nas atividades insalubres é necessário licença prévia do Ministério do Trabalho. Tal autorização serve para verificar as condições de saúde e segurança do meio ambiente de trabalho, resguardando a saúde física e psíquica do trabalhador, prevenindo eventuais doenças ocupacionais e acidentes do trabalho.

Contudo, a Reforma Trabalhista acrescentou o parágrafo único, estabelecendo que não é necessária a licença prévia na prorrogação de jornada quando a atividade insalubre for realizada no regime de doze horas de trabalho por trinta e seis horas de descanso.

A justificativa do relator da Reforma Trabalhista, que foi a desburocratização da relação empregatícia, não foi o suficiente para o acréscimo de tal exceção, pois a saúde do

trabalhador não foi levada em consideração. As trinta e seis horas de descanso concedido ao trabalhador não servem para diminuir os impactos que os agentes nocivos provocam no organismo do empregador, em razão das doze horas contínuas trabalhadas em ambiente insalubre, mas sim para apenas compensar o cansaço físico das longas horas de labor.

Ainda, o ex-Deputado Roberto Marinho afirmou que a CLT era antiga e que as leis deveriam se adequar as relações empregatícias atuais. Entretanto, inúmeras modificações foram realizadas desde a promulgação da CLT, não sendo este argumento necessário para que houvesse tal modificação. Inclusive, inúmeros direitos foram suprimidos e modificados, sem que houvesse a devida proteção da parte hipossuficiente da relação de emprego: o empregado. Ademais, se para a prorrogação de jornada do trabalhador que cumpre a jornada normal de trabalho (oito horas diárias e quarenta e quatro semanais), em condições insalubres, é necessária a autorização do órgão ministerial, a cautela quanto àquele que labora por mais horas em contato a agentes insalubres deve ser ainda maior.

Outrossim, se as longas jornadas de trabalho já causam malefícios ao trabalhador, a exposição por mais de doze horas contínuas aos agentes insalubres é totalmente prejudicial à higidez do empregado, pois diminuirá a capacidade para o trabalho, em razão da fadiga, estresse, esgotamento físico e mental, bem como interferirá na vida em família e sociedade, em razão das doenças ocupacionais e acidentes do trabalho em que o trabalhador estará sujeito.

Deste modo, excepcionar a licença prévia nessa circunstância é incoerente com os princípios aplicáveis ao trabalhador, principalmente com o disposto no artigo 7º, inciso XXII, da CRFB/1988, que considera como um direito fundamental do trabalhador a redução dos riscos inerentes ao trabalho. Inclusive, em razão disto, inúmeros doutrinadores entendem pela inconstitucionalidade do parágrafo único em comento.

Portanto, a inserção normativa trazida pela Lei n. 13.467/2017 não é válida frente às regras e princípios inerentes ao trabalhador, pois o dispositivo estudado contraria os artigos 1º, inciso III (princípio da dignidade da pessoa humana); 7º, inciso XXII; 6º; e 196, da CRFB/1988, bem como é contrário aos princípios da proteção, da prevenção e da precaução, visto que a relativização trazida pelo parágrafo único do artigo 60 da CLT coloca o empregador em uma situação vulnerável, deixando-o propício a doenças ocupacionais e acidentes de trabalho.

Vale consignar, por fim, que não foi a intenção desse trabalho exaurir o tema, o qual pode ser melhor analisado em pesquisa acadêmica mais aprofundada, considerando sua complexidade e importância, em razão de tratar sobre um direito fundamental do trabalhador.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS MAGISTRADOS DA JUSTIÇA DO TRABALHO.

Reforma trabalhista – enunciados aprovados: 2ª Jornada de Direito Material e Processual

do Trabalho (2017). Brasília, DF. 2017. Disponível em:

<https://www.anamatra.org.br/attachments/article/27175/livreto_RT_Jornada_19_Conamat_si te.pdf>. Acesso em: 05 jun 2019.

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROCURADORES DO TRABALHO; ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS MAGISTRADOS DA JUSTIÇA DO TRABALHO; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS ADVOGADOS TRABALHISTAS; SINDICATO NACIONAL DOS AUDITORES FISCAIS DO TRABALHO. Nota técnica PLC 38/2017 – reforma

trabalhista: aspectos de inconstitucionalidade e antijuricidade. Brasília, DF. 2017.

Disponível em: <https://www.anamatra.org.br/files/Nota-tcnica-Conjunta-Reforma- Trabalhista---aspectos-de-constitucionalidade-e-antijuridicidade.pdf>. Acesso em: 05 jun 2019.

BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 10 ed. São Paulo: LTr, 2016. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 06 abr 2019.

BRASIL. Decreto-Lei n. 1.254, de 29 de setembro de 1994. Promulga a Convenção número 155, da Organização Internacional do Trabalho, sobre Segurança e Saúde dos Trabalhadores e o Meio Ambiente de Trabalho, concluída em Genebra, em 22 de junho de 1981. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D1254.htm>. Acesso em: 06 abr 2019.

BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-

Lei/Del5452compilado.htm>. Acesso em: 25 ago 2018.

BRASIL. Lei n. 13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, e as Leis nos 6.019, de 3 de janeiro de 1974, 8.036, de 11 de maio de 1990, e 8.212, de 24 de julho de 1991, a fim de adequar a legislação às novas relações de trabalho. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/L13467.htm>. Acesso em: 25 ago 2018.

BRASIL. Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm>. Acesso em: 15 maio 2019.

BRASIL. Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços

correspondentes e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/LEIS/L8080.htm>. Acesso em: 06 abr 2019. BRASIL. Ministério do Trabalho e do Emprego. Portaria nº 702 de 28 de maio de 2015. Estabelece requisitos para a prorrogação de jornada em atividade insalubre. Disponível em: < http://www.normaslegais.com.br/legislacao/Portaria-mte-702-2015.htm >. Acesso em: 05 jun 2019.

BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula n. 444, de 26 de novembro de 2012. Jornada de trabalho. Norma coletiva. Lei. Escala de 12 por 36. Validade. Disponível em: <http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_401_450.html#SU M-444>. Acesso em: 26 ago 2018.

BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula n. 453, de 23 de maio de 2014. Adicional de periculosidade. Pagamento espontâneo. Caracterização de fato incontroverso.

Desnecessária a perícia de que trata o art. 195 da CLT. Disponível em: <

http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_451_600.html#SU M-453>. Acesso em: 02 jun 2019.

BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula n. 85, de 03 de junho de 2016. Compensação de jornada. Disponível em:

<http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_401_450.html#SU M-444>. Acesso em: 26 ago 2018.

CASSAR, Volia Bomfim. Comentários ao substitutivo projeto de lei 6787/16. 2017b. CASSAR, Volia Bomfim. Direito do trabalho. 2017a. 14 ed. São Paulo: Método, 2017. CORREIA, Henrique. Direito do trabalho para os concursos de analistas do TRT e MPU. 11 ed. Salvador: Juspodivm, 2017.

DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 15ed. São Paulo: LTr, 2017. DELGADO, Mauricio Godinho; DELGADO, Gabriela Neves. A reforma trabalhista no

Brasil: com os comentários à Lei n. 13.467/2017. São Paulo: LTr, 2017.

FELICIANO, Guilherme Guimarães. Princípios de Direito do Trabalho. In: SIQUEIRA, Germano; FELICIANO, Guilherme Guimarães; ARIANO, Silvana Abramo; SANTOS, José Aparecido dos; GRILLO, Sayonara (org). Direito do trabalho: releitura, resistências. São Paulo: LTr, 2017, p. 95-138.

KREIN, José Darci; ABILIO, Ludmila; FREITAS, Paula; BORSARI, Pietro; CRUZ, Reginaldo. Flexibilização das relações de trabalho: insegurança para os trabalhadores. In: KREIN, José Darci; GIMENEZ, Denis Maracci; SANTOS, Anselmo Luis dos Santos(org).

Dimensões críticas da reforma trabalhista no Brasil. São Paulo: Curt Nimuendajú, 2018, p.

95-122.

LEONEL, Vilson; MARCOMIM, Ivana. Projetos de pesquisa social. Palhoça: Unisul Virtual, 2015.

MARINHO, Roberto. Comissão especial destinada a proferir parecer ao projeto de Lei n.

6.787, de 2016, do Poder Executivo. 2017. Disponível em:

<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1544961>. Acesso em: 09 set 2018.

MEDEIROS, Patricia Braga. Art. 60. In: LISBOA, Daniel; MUNHOZ, José. Lucio (org).

Reforma trabalhista comentada por juízes do trabalho: artigo por artigo. São Paulo: LTr,

2018, p. 92-93.

MELO, Raimundo Simão de. Aspectos da reforma trabalhista sobre o meio ambiente do trabalho e a saúde do trabalhador. In: TREMEL, Rosangela; CALCINI, Ricardo (org).

Reforma trabalhista: primeiras impressões. São Paulo: EDUEPB, 2018, p. 707-733.

OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. A loucura do trabalho – estudo de psicopatologia do trabalho – Christophe Dejours. In: SIQUEIRA, Germano (org); et al. Direito do trabalho: releitura, resistências. São Paulo: LTr, 2017, p. 247-285.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos Humanos. 10 de dezembro de 1948. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/wp-

content/uploads/2018/10/DUDH.pdf>. Acesso em: 05 jun 2019.

PRETTI, Gleibe. Comentários à lei sobre a reforma trabalhista: o que mudou na CLT e nas relações de trabalho. São Paulo: LTr, 2017.

RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho esquematizado. 6 ed. São Paulo: MÉTODO, 2016. ROCHA, Valéria Rodrigues Franco da; LOPES, Marcus Aurélio. Algumas das mudanças que a Lei n. 13/467 repercutem nas normas de segurança e medicina do trabalho e na autonomia de vontades do meio ambiente do trabalho. In: DALLEGRAVE NETO, José Affonso; KAJOTA, Ernani (org). Reforma trabalhista ponto a ponto: estudos em homenagem ao professor Luiz Eduardo Gunther. São Paulo: LTr, 2018.

SARAIVA, Renato; SOUTO, Rafael Tonassi. Direito do trabalho. 18 ed. Salvador: Juspodivm, 2016.

SILVA, Homero Batista Mateus da. Comentários à reforma trabalhista. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017.

TEIXEIRA, Marilane Oliveira Teixeira; GALVÃO, Andréia; KREIN, José Dari; BIAVASCHI, Magda; ALMEIDA, Paula Freitas de; ANDRADE, Hélio Rodrigues de.

Contribuição crítica à reforma trabalhista. São Paulo: UNICAMP/IE/CESIT, 2017.

VAL, Renata do. Flexibilização da jornada de trabalho na reforma trabalhista. Sistema de compensação 12x36. In: TREMEL, Rosangela; CALCINI, Ricardo (org). Reforma

Documentos relacionados