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3 SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO

3.3 PRINCÍPIOS ATINENTES À SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO

Inicialmente, é imprescindível ao presente trabalho monográfico analisar alguns princípios que possuam relevância e aplicabilidade no que se refere à matéria de segurança e medicina do trabalho. Contudo, faz-se necessário estabelecer a diferença entre as regras e os princípios. As regras, segundo Canotilho:

[...] são normas que, verificados terminados pressupostos, exigem, proíbem ou permitem algo em termos definitivos sem qualquer excepção (direito definitivo) [...]”, enquanto os princípios “[...] são normas que exigem a realização de algo, da melhor forma possível, de acordo com as possibilidades fácticas e jurídicas [...] (CANOTILHO, 1998, p. 86; apud CASSAR, 2017a, p. 158).

Deste modo, infere-se que os princípios possuem uma função interpretativa cujo objetivo é solucionar os conflitos com base nas circunstâncias jurídicas e fáticas de cada caso concreto. Ao Direito do Trabalho, aplicam-se tanto princípios constitucionais, quanto princípios trabalhistas e ambientais, sendo que, ao presente trabalho acadêmico, quatro merecem destaque. Inicialmente, no âmbito constitucional, destaca-se o princípio da dignidade da pessoa humana, previsto no inciso III do artigo 1º da CRFB/1988, como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil. Por esse princípio, entende-se que não é admitido que o trabalhador seja usado como um mero objeto, na busca pelo lucro e pelos interesses pessoais, pois o ser humano é um fim em si mesmo, sendo vedada a “coisificação” do empregado

(RESENDE, 2016). Cármen Lúcia Antunes Rocha (2004, p. 38; apud OLIVEIRA, 2017, p. 275) ensina que “a dignidade da pessoa humana é princípio havido como superprincípio constitucional, aquele no qual se fundam todas as escolhas políticas estratificadas no modelo de Direito plasmado na formulação textual da Constituição”. Assim sendo, o propósito de tal princípio é evitar o trabalho vexatório e degradante do trabalhador.

No que diz respeito aos princípios trabalhistas, ressalta-se o princípio da proteção ao trabalhador, cujo objetivo é estabelecer o equilíbrio entre a relação de emprego, pois o empregado é a parte hipossuficiente da relação empregatícia e o empregador possui uma situação econômica favorável. É considerado o princípio norteador de praticamente todos os direitos trabalhistas arrolados no artigo 7º da CFRB/1988. Ademais, “a necessidade do princípio protetor tem fundamento na subordinação exercida pelo empregador, limitando a autonomia da vontade” (CORREIA, 2017, p. 107).

Para Vólia Bomfim Cassar:

O trabalhador já adentra na relação de emprego em desvantagem, seja porque vulnerável economicamente, seja porque dependente daquele emprego para sua sobrevivência, aceitando condições cada vez menos dignas de trabalho, seja porque primeiro trabalha, para, só depois, receber sua contraprestação, o salário (CASSAR, 2017a, p. 170).

Ainda, Resende (2016) adverte que o princípio da proteção consiste em aplicar ao Direito do Trabalho o princípio da igualdade em seu aspecto substancial, ou seja, tratar de forma igual os iguais e de forma desigual os desiguais, na medida de suas desigualdades. É o que ensina José Cairo Júnior:

Pela regra do Direito Civil, todos são iguais perante a lei e devem ser tratados de forma igualitária por ela. Isso não ocorre no Direito Laboral. Reconhece-se que não existe uma igualdade entre empregados e empregadores, em face da superioridade econômica e jurídica destes últimos em relação aos primeiros. Para equilibrar a relação havida entre os atores sociais, o Direito do Trabalho procura proteger o empregado contra o desejo insaciável de lucro do empresário (CAIRO JÚNIOR, 2009, p. 98; apud CORREIA, 2017, p. 108).

Desse modo, é possível inferir que o principal objetivo do Direito do Trabalho é estabelecer formas de proteger a parte mais fraca da relação empregatícia, a fim de reequilibrar tal relação jurídica.

Já no âmbito ambiental, dois são os princípios que devem ser realçados: o princípio da prevenção e o princípio da precaução. Quanto ao primeiro, diz-se que prevenção é o princípio basilar no que diz respeito às regras de saúde, o qual defende que é obrigação do Poder Público e da coletividade em geral defender e preservar o meio ambiente, conforme expressa previsão no artigo 225, caput, da CRFB/1988, que dispõe que “todos têm direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988). Já o segundo princípio, refere-se à necessidade de adotar medidas essenciais que evitem os acidentes que decorrem de riscos (CASSAR, 2017a). Neste passo, vale relembrar que tal princípio possui íntima ligação, portanto, com a necessidade do empregador em tomar as providências cabíveis com o intuito de prevenir doenças profissionais e acidentes de trabalhos.

Cassar (2017a, p. 964), ainda afirma que “os atuais estudos e posicionamentos doutrinários avançaram no sentido de que é necessária a imposição urgente de proteção não só à saúde do trabalhador, mas também na prevenção que busque um ambiente que proporcione efetiva qualidade de vida do trabalhador”. Quanto à aplicação dos princípios, a autora reforça que:

[...] é dever do intérprete cumprir os diversos comandos e princípios constitucionais e infraconstitucionais que determinam a proteção ao meio ambiente do trabalho (art. 225 da CRFB), a redução dos riscos inerentes ao trabalho (art. 7º da CRFB) e a proteção da saúde do trabalhador (CASSAR, 2017a).

Deste modo, verifica-se que é indispensável a aplicação das regras de medicina e segurança do trabalho em conjunto com os princípios inerentes ao trabalhador, com o objetivo de alcançar a máxima efetividade de tais normas e resguardar os bens jurídicos do trabalhador.

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