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Como discutido ao longo do trabalho, os efeitos da disrupção no jornalismo trazem mudanças para a cadeia produtiva da atividade, no âmbito da produção, distribuição e do consumo de notícias, afetando desde as instituições de mídia tradicional, o campo profissional e a relação do jornalismo com a audiência.

A passagem da atividade do analógico para o digital e a incorporação de novas tecnologias e técnicas à sua rotina abriu lacunas, inicialmente práticas, mas também teóricas, mudando a forma como o jornalista trabalha e como a mídia tradicional devia operar para ainda reter a audiência. Porém, essas mesmas tecnologias abriram um vasto acesso por parte da audiência a notícias e informações, fazendo com ela assuma um papel muito mais ativo nas construções jornalísticas e forçando profissionais e instituições a se adaptarem a essa nova forma.

Essas mesmas lacunas são espaços abertos de novas perspectivas, que merecem uma discussão sobre a ressignficação do jornalismo, agora com ferramentas e que viabilizam a atividade não só como um meio de produzir notícias, mas sim conhecimento, cumprindo uma função social.

Além disso, um novo espaço para a atuação do jornalista abre a perspectiva de produzir conhecimento e torna-se uma peça chave dentro da cadeia produtiva do jornalismo, tendo a possibilidade de se atribuir ao profissional um olhar de responsabilidade para com a audiência no âmbito de traduzir e contextualizar as notícias, conhecendo a audiência e lapidando informações e dados para que tornem-se um produto final relevante à esta mesma audiência, que agora divide-se em nichos e escolhe o que consumir, não mais pela factualidade ou por veículos específicos, mas por interesse.

Em meio a esse movimento, o jornalismo encara o desafio de além de se reposicionar, encontrar outras formas de viabilizar-se. Conforme discutido ao longo

do trabalho, novas possibilidades e alternativas para tornar iniciativas independentes sustentáveis são cada vez mais possíveis, e estas são fruto da disrupção em curso.

Para sustentar as afirmações, o estudo de caso sobre o Portal Catarinas - uma uma iniciativa de Florianópolis, de jornalismo independente com perspectiva de gênero - no terceiro capítulo, mostra os pontos de contato entre a iniciativa, e as mudanças causadas pela disrupção, evidenciando como existe a possibilidade de preenchimento das lacunas anteriormente citadas. Exemplos disso vão desde a criação do Portal, que teve em seu processo de constituição iniciativas não tradicionais, de organização, financiamento e viabilização, até a forma como ele vem buscando se manter financeiramente - que vislumbra a contribuição e participação da própria audiência com financiamentos coletivos e leilões, até a parceria com instituições no futuro - passando pela sua relação com esta audiência, que tem funcionado de uma forma dinâmica e colaborativa, onde o veículo abre espaço para a participação de leitores como colunistas, com sugestões de pauta e até com discussões sobre os tópicos noticiados. Além disso, o maior indicativo de aceite e de uso da disrupção a favor do negócio, por parte do Portal Catarinas está em sua linha editorial que, ao mesmo tempo em que supre uma demanda de interesse da audiência que consome as suas noticias, produz conhecimento em seu trabalho total, que visa desconstruir esteriótipos e reconstruir perspectivas de gêreno para a sociedade

BIBLIOGRAFIA

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WEBER, Maria Helena, COELHO, Marja Pfeifer. Entre Jornalismos e Poderes. Jornalismo Contemporâneo. Figurações, impasses e perspectivas. EDUFBA, 2011.61.

APÊNDICE

Entrevista com Clarissa Peixoto, uma das idealizadoras do portal Catarinas.info:

CV: Cassiane Vilvert. CP: Clarissa Peixoto.

CV: Bom, pra começar vou te explicar um pouco sobre o trabalhao. Ele é sobre a

disrupção no jornalismo. A disrupção – ou a inovação disruptiva – é um conceito de negócios, é assim, quando você tem um modelo de negócio e algo quebra esse modelo. Exemplos de coisas disruptivas são, tipo, o Uber, o Airbnb... São negócios que quebram o mercado onde eles estão inseridos e oferecem uma coisa nova que atende muito bem o público. Na faculdade a gente tava trocando uma ideia sobre isso e sobre as mudanças que vem acontecendo no jornalismo, que muita gente não entende, fica meio perdido, se o jornalismo morreu, não morreu, o que tá havendo com nossa área, etc. Aí a ideia do trabalho foi pegar esse conceito de disrupção, e inovação disruptiva, e começou a pensar se ele se aplicaria ao jornalismo, podendo ser a causa dessas mudanças, porque o jornalismo é uma área de estudo, é uma forma de produzir conhecimento, mas ele também é um negócio, porque tem gente que trabalha nisso, tem gente que ganha dinheiro com isso, tem imprensa, grande mídia e etc. Então, aonde existe disrupção no jornalismo? Eu fui pensando e o trabalho conceitual é em cima disso. Aí, agora na reta final, surgiu a necessidade: “Tá, a gente precise de alguma coisa que exemplifique isso, alguma coisa que torne essas ideias e teorias mais tangíveis”, e eu pensei em vocês. Porque o portal Catarinas é diferente, é uma proposta de jornalismo diferente, e vim conversar contigo por causa disso. Vocês usam uma mídia diferente, que não é uma mídia comum no jornalismo tradicional, mas o conteúdo de vocês também é disruptivo, porque ele é direcionado pra um público diferente, ele tem uma outra proposta, então é sobre isso que eu vim falar contigo, vocês são o nosso exemplo de disrupção de jornalismo.

CV: Então, daí eu queria... tipo, eu conheço o site, eu super leio, eu vejo que a Paula

posta coisas direto no Mulheril, eu sempre acompanho vocês. Mas eu tenho aquelas perguntas-padrões, pra que tu me conte a história e etc e tal, pra a gente formular.

CP: Vamos lá, então!

CV: Então, eu queria saber por que que o portal Catarinas existe?

CP: Tá, então, vou te contar um pouco da historinha, de como a gente se juntou, né.

Eu e a Paula, a gente estudou juntas na universidade... juntas no mesmo período, assim, né. Mas cada uma tocou sua vida, teve um caminho, né. E nesse caminho, fiz outras amizades, me envolvi com o movimento social, sempre fui jornalista de movimentos sociais, trabalho aqui no sindicato, já trabalhei em outros, fui do movimento estudantil, enfim. E participei bastante do movimento de mulheres, fui de organizações de movimento de mulheres e, por conta desse movimento, acabei caindo na assessoria de comunicação da Rede Nacional Feminista de Saúde. A Rede, ela congrega várias entidades do movimento de mulheres, do movimento feminista no Brasil, principalmente aqueles que atuam com a saúde reprodutiva, direitos sexuais reprodutivos e saúde da mulher. E a Rede fica de tempos em tempos num estado, ela é sediada em um estado, e em 2012, ela veio ser sediada aqui em Santa Catarina, pela Clair Castilhos, que é a secretária executiva. Então, quando a Rede veio pra cá, eu acabei entrando nesse corpo da Rede e fui trabalhar na assessoria de comunicação lá. E já participava de movimentos de mulheres, movimentos feministas. Nesse caminho, eu conheci melhor a Kelly, que também já atuava em movimentos sociais, enfim, ligada à temática da sexualidade, LGBT e de mulheres, feminista também. E ela caiu lá na Rede, a gente fortaleceu nosso... a gente se conhecia já, mas fortaleceu nosso relacionamento lá. Depois a Paula veio pra cá e acabou que quando saí da assessoria da Rede, a Paula entrou lá nessa assessoria da Rede, então assim, tem um lugar muito forte que é essa nossa atuação na Rede Feminista, nós trabalhamos lá, né. Então o que acontece, daí a gente vinha conversando um tempo... eu e a Paula, por outro lado, já tínhamos tido essas outras experiências, ela já trabalhou no jornalismo mais tradicional, sempre mais ligada, trabalhou com assessoria de imprensa, e eu já mais, sempre nesse lugar de movimento social, né. Daí a gente se reencontrou, fez alguns trabalhos

juntas na Enredo, que é um outro espaço que a gente criou, que é Enredo – Conteúdo Criativo, porque a gente tava afim de fazer outras coisas, prestar assessoria mas trabalhar mais com essa coisa do case, de contar histórias e tal. Então, aí começou a juntar tudo isso, a gente começou a viver juntas nesse ambiente, trabalho juntas também no Portal Desacato, que também é uma experiência de mídia alternativa aqui de Florianópolis, teve uma passagem por lá, né. Aí a gente chegou num momento que a gente tava fazendo assessoria de imprensa pra Rede Feminista ou tava fazendo assessoria pra movimento social, mas o que a gente curtia era fazer jornalismo. E sentia que tinha espaço pra um outro veículo de comunicação, que a gente pudesse fazer jornalismo, mas que a gente não cobrisse a pauta meramente, num ponto de vista de assessoria de imprensa, que a gente pudesse criar conteúdo e ter uma plataforma, um espaço que a gente pudesse dar vazão às coisas que a gente criava também, né. Daí começamos a conversar, começamos a conversar com a Kelly, que pensa muito em projetos na área do feminismo, que conhece muito esse lugar, começamos a trocar ideia. Então surgiu a ideia de um portal de notícias, num primeiro momento era nossa discussão em que a gente pudesse produzir conteúdo próprio, sempre que possível com fontes e dados daqui, que são mais perto da gente, porque a gente acredita nesse jornalismo na rua, do contato, né. Que a gente pudesse ser um observatório da imprensa pras questões de gênero, da imprensa catarinense, já que é nos meios de comunicação também que se criam os estereótipos, que se constroem os discursos, que são machistas, misóginos, enfim. E que a gente pudesse fazer curadoria de informação, ser um espaço em que as pessoas pudessem procurar sobre aqueles conteúdos, né. Sempre tratando do que? Dessa questão regional também, dando uma ênfase pra isso, porque a gente acha importante tu ser um lugar pro mundo, do singular pro plural, nessa lógica. Na ideia de trabalhar o gênero, o direito das mulheres, enfim, direitos humanos das mulheres, com o fundo do feminismo. Mas assim, no direto e no indireto, né, então a gente promove os aspectos do feminismo ou dos direitos das mulheres ou com pautas com mulheres, mas também espaço pra mulheres poderem produzir conteúdo, poderem produzir opinião, que também é uma lacuna que a gente tem na nossa sociedade, né. Então tá, daí, isso, “que legal a ideia, muito massa, eba, todo mundo feliz”, então, como é que a gente vai dar conta

de fazer isso, né? Daí a gente chamou primeiro, assim, do ponto de vista mais teórico da coisa, de dar aquela substância mais, assim, de construção do portal. Aí a gente pensou: “bom, então vamos criar um conselho editorial”, aí chamamos algumas pessoas pro conselho editorial, né. Que são pessoas que já atuavam no movimento de mulheres ou LGBT, enfim, no movimento social mais ligado a esse campo, do direitos humanos e das mulheres e do gênero, né. E pessoas também da área de comunicação, então a gente chamou algumas, que é a Clair Castilhos, que é da Rede Nacional Feminista de Saúde, tem a Guilhermina, que é da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transsexuais, que é a ABGLT. A Gui trabalha aqui, de repente, tu até vai conseguir falar com ela, ela é bibliotecária aqui do Sindprevs, mas também tem bastante acúmulo, assim, atua nacionalmente nessa pauta. Daí a gente chamou a Ana Cláudia, que é jornalista, que também foi da Associação Brasileira de Mulheres, enfim, e é bem ativista. Chamou a Cris, que é do movimento negro, também do Movimento de Mulheres Negras, aqui do coletivo Pretas em Desterro. E chamou mais duas, que é a Mônica, que é antropóloga, e a Lilian, que é jornalista e trabalha no Ministério da Saúde, trabalha com a pauta da saúde. Aí a gente juntou esse coletivo todo e começou a conversar, começou a conversar, “como é que a gente vai fazer, como a gente vai encaminhar”. E a gente precisava de dinheiro pra construir o site, porque é isso que tu falou: a gente também tava na perspectiva de trabalhar e a nossa profissão é jornalismo. Mesmo que a gente quisesse fazer de graça, não dá pra fazer de graça. Por que requer uma...

CV: Tem uma estrutura, um custo...

CP: Requer tudo, né. A gente trabalha na perspectiva de uma unidade ativista

também, mas a gente tem exatamente isso que tu disse, né. O jornalismo, ele é uma profissão, é um campo de trabalho, né, pra além do campo de conhecimento, ele também é um campo de trabalho, onde tem ação prática. E a gente precisaria manter isso, tanto nosso horário, nosso tempo de trabalho, até porque se a gente é ligado aos movimentos sociais, ao sindicalismo, a gente também entende que o jornalista é um trabalhador e uma trabalhadora, e precisa ganhar pela sua hora, né. E é isso que eu acham que vocês esperam se formando em jornalismo, viver de jornalismo. E então a gente precisaria levantar recurso pra isso. Daí a gente teve a

ideia: “bom, pra criar plataforma e uma primeira reportagem, então vamos fazer uma campanha de financiamento coletivo”.

CV: Legal.

CP: E a gente, assim, conhecia a campanha de financiamento coletivo de apoiar, de

saber como é que as pessoas fazem, mas nunca tinha feito uma na nossa responsabilidade e é uma coisa bastante trabalhosa, assim. Por isso que, hoje, eu vejo o financiamento coletivo como uma alternativa, mas ele não é A alternativa, né. Ele é uma possibilidade pra uma determinada situação. Aí a gente investiu, foi bem difícil, porque as pessoas não entendem bem ainda o que que é o financiamento coletivo, elas compreendem mais, assim, tipo, um artista: um artista vai lá, grava o cd, então tem o cd material que vai chegar pra ti, tem aquilo ali. Um portal, o “financiar notícia”, ainda é um negócio...

CV: Fica meio no mundo das ideias, assim...

CP: Isso, que a gente é... primeiro ele que não é palpável, tu não vai receber um

objeto na tua casa. E depois porque é isso, a gente não tem ainda... a gente compra o jornal, a gente não compra a matéria, né. A gente compra o papel, a gente compra... inclusive a gente compra o acesso, mas não compra a notícia, né. E tem sites fechados, enfim, mas é toda uma discussão e teu trabalho deve ter a ver com isso um pouco, tudo a ver com isso. Então tá, aí rolou o financiamento coletivo, e dentro desse financiamento coletivo, nesse processo, a gente trouxe a Ana Cláudia, que era do conselho pra esse núcleo, que também é jornalista, então aí, de nós três, a gente passou a ter a Ana Cláudia, e aí com um papel bem importante, com bastante experiência, tanto na questão do ativismo, da linguagem, do como tratar essa questão do feminismo, e tanto no ponto de vista do jornalismo, que é jornalista já há bastante tempo também, experiente e tal. E aí a gente juntou, são essa quatro. Na campanha do financiamento coletivo, a gente fez atividades, outras coisas. E sentiu que algumas mulheres e algumas pessoas toparam a ideia, basicamente, artistas toparam muito a ideia, e jornalistas, enfim, fotógrafos. E aí rolou um negócio bem legal, um desdobramento bem legal, que já tinha a ver também um pouco do nosso trabalho, porque a gente já tinha um trabalho com a Enredo, já tinha envolvimento com outras pessoas que trabalham com a arte aqui, em Florianópolis.

Mas basicamente as artistas doaram coisas pra gente, peças, que foi como a gente conseguiu levantar recursos.

CV: Ah, legal, eu vi no site lá, ficou bem legal.

CP: Isso, então gente fez leilões e tal. E aí envolveu mais gente, então foi um

negócio que, puxa, ele tomou um corpo pra além só do portal. A gente mobilizou pessoas pra uma causa, que é esse jornalismo em perspectiva de gênero, né. Que é o que? Que é contar história do tempo... se o jornalismo é contar história do tempo presente, né, a gente tá falando sobre um outro aspecto, sobre outro ângulo, que é esse do feminismo. Então, trazer mais pro cotidiano essa fala do feminismo que é mais acadêmica, se envolver em outros lugares, e acho que esse é um pouco o papel do jornalista, o sub-literato, de trazer de lá pra cá, e contextualizar novas conexões..

CV: Isso, e contextualizar as coisas do que tá acontecendo...

CP: E um pouco de traduzir, uma coisa que é tão acadêmica, que parece que é tão

distante do cotidiano. Então isso foi muito legal, foi muito esperançoso, foi muito massa, porque, pô, então tá rolando, porque uma galera legal, que pensa coisas legais, mas que tá afim de ajudar e contribuir. Então tá, a gente saiu da etapa do financiamento coletivo, a gente conseguiu fazer o portal, conseguiu ter o recurso pra contratar as meninas, a webdesigner, a programadora e tal, montou. Esse tempo todo, claro, a gente conseguiu pagar um pouco dos nossos custos de trabalho, com o financiamento coletivo, mais a construção do site, mais a produção da matéria, mas aí a gente chegou num limite, fechamos isso e começamos a produzir. Bom, ainda produzimos no voluntário, ainda produzimos nessa coisa da unidade ativista, no jornalismo ativista também. Porque duas coisas movem muito o portal, muito a gente: uma é essa coisa do jornalismo... um jornalismo radical, o que é o jornalismo radical? Fazer o “jornalismo jornalismo”. Se a gente critica um jornalismo que tá aí, então a gente precisa, em primeiro lugar, fazer um jornalismo como a gente diz que seria o correto, então, a gente tem muito esse ativismo nesse lugar, ou seja, nós vamos fazer esse jornalismo que a gente quer fazer. Claro, tendo em vista toda a realidade, tudo que é possível, o que não é, tem hora que a gente não consegue cumprir a pauta, tem hora que não dá pra ir mais além, não dá pra sair daqui e ir lá

fazer uma entrevista, né, então a gente desiste, às vezes, de algumas pautas, enfim, mas aí é a questão da nossa estrutura hoje. E a questão do feminismo, que basicamente norteia a gente, tá ali na nossa linha editorial.

CV: Era isso que eu ia perguntar pra ti, pra me dizer, assim, bem especificamente,

qual que é o tipo de especialidade que vocês propõe no meio, é um jornalismo especializado em gênero.

CP: Isso, a gente fala um jornalismo em perspectiva de gênero. É como é que é

nosso slogan, né, mas seria assim: a gente costuma dizer que é um jornalismo especializado na questão de gênero, de direitos das mulheres e feminismo. É como tu ter um jornalismo especializado em cultura, um jornalismo especializado em saúde. Tem várias especialidades.

CV: Várias vertentes.

CP: A gente tá trabalhando a questão... quando a gente diz que ele é especializado

em gênero, é um negócio até, assim, pô, acho que é difícil, porque tem que ter um cuidado total, né, é um tema difícil ainda de tratar, por um lado tu não pode ser muito... tu tá fazendo jornalismo, então tu não pode ser muito academicista. Por outro, tu também tem que saber lidar com as palavras, com os termos...

CV: Tu tá desvendando, talvez, um tema...

CP: Então pra gente é um desafio. Claro, toda especialidade, tu vai se

especializando naquilo, tu vai falar sobre economia, tu vai entendendo de economia. Mas o gênero é um negócio em construção social, né. A gente tá construindo socialmente esses conceitos ainda e eles mudam toda hora. Mas é isso, a gente tem uma especialidade de tema, de assunto e de lógica de ver o mundo. Porque daí a gente junta esse olhar, tenta juntar, né, porque pra gente é um exercício também, não tem nada pronto pra nós, a gente estuda, tenta estudar. Mas a gente tenta um

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