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CAPÍTULO 1 – CRESCIMENTO ECONÔMICO E DESENVOLVIMENTO

1.3 Conclusão do capítulo

Neste capítulo buscou-se o embasamento teórico sobre o crescimento econômico a partir de suas premissas demonstráveis em modelos matemáticos, que pretenderam comprovar que a diferenciação dos níveis de renda entre países parte da dicotomia poupança- investimento e do progresso tecnológico. Também foi abordado o aprofundamento das análises dos desenvolvimentistas-estruturalistas, que enfocaram os obstáculos estruturais ao desenvolvimento na América Latina, e sugeriram estratégias nacionais para a indução do crescimento econômico endógeno.

Nos modelos matemáticos aqui discutidos, as causas do efeito multiplicador do crescimento econômico ora são dadas por fatores exógenos, ora pela eficiência de fatores endógenos. Contudo, alguns resultados apresentados não têm confirmação nas análises empíricas a partir do desempenho das economias estudadas.

Os modelos derivados dos postulados keynesianos defendem a formação de poupança anterior e a busca permanente do equilíbrio entre a taxa de crescimento justificada (gw) e a taxa natural de crescimento (gn), no longo prazo. O modelo de Harrod revela uma natureza entrópica do sistema econômico, sempre no “fio da navalha”, representando uma condição de constante instabilidade desse sistema. O próprio escopo do modelo não favorece à projeção de um equilíbrio, pois os parâmetros e variáveis das taxas (gw) e (gn) apresentam-se independentes entre si, sem “mecanismos automáticos” de alinhamento para um crescimento econômico de longo prazo.

Kaldor postulou que o crescimento é um processo endógeno e que o nível de acumulação de capital determina o nível de progresso técnico, que produzirá nova acumulação ainda maior. Segundo este modelo, o crescimento é limitado pela disponibilidade de recursos. Conforme Kaldor, o nível do crescimento econômico dependeria dos investimentos possibilitados pela distribuição de renda favorável aos capitalistas, ou seja, quanto maior o lucro, maior a poupança dos empresários, e por consequência, maior o nível de investimentos. Kaldor disse que é impossível compreender o processo de crescimento e desenvolvimento sem setorizar as atividades de rendimentos crescentes das atividades de rendimentos decrescentes. Segundo ele, países ou regiões industrializadas são as que apresentam PIB mais elevados; o crescimento da produção manufatureira causa o aumento da produtividade do próprio setor (Lei de Verdoorn); e a expansão do setor manufatureiro reflete

no aumento da produtividade de outros setores industriais, dados os rendimentos decrescentes da agricultura e de pequenas atividades de serviços, fornecedoras de mão de obra. A partir daí, Thirlwall afirmou que as leis de Kaldor podem ser utilizadas para analisar economias de países diferentes e até de regiões de um mesmo país, aplicando-se os meios estatísticos apropriados. Conforme Thirlwall (2005), Kaldor antecipara os postulados da “nova” teoria do crescimento econômico, quando argumentou que o progresso tecnológico requer acumulação de capital, e esta requer o progresso tecnológico, enquanto a relação capital-produto mantem- se constante.

O modelo de Solow fundado na teoria neoclássica prega a economia em constantes estados estacionários com investimentos proporcionais a determinados níveis de poupança, mas que não elevariam o produto, pois em conformidade com a teoria dos rendimentos decrescentes do capital, o máximo que poderia ocorrer a partir de mais investimentos seria outros estados estacionários. O que realmente impulsionaria o crescimento econômico seria o aumento da força de trabalho em unidade de eficiência (l+ t), dado exogenamente ao modelo.

A teoria do crescimento endógeno opõe-se à proposição dos rendimentos decrescentes do capital, anteriormente defendida pelos neoclássicos - embora, Thirlwall afirme que os “novos” teóricos do crescimento sejam neoclássicos “disfarçados”. O pressuposto do modelo linear AK diz que, no longo prazo, há rendimentos constantes de capital em razão da produtividade total dos fatores – PTF global. O modelo tenta explicar a diferença de produtividade do capital (A) entre os países. As análises da PTF descem então a comparações de níveis de educação, gastos em P&D, comercio internacional e outros. A endogenia do modelo funda-se exatamente na análise das diferenças de produtividade dos países, que determinam os diferentes níveis de renda per capitas, observados os necessários índices de poupança-investimento para um certo nível de acumulação.

Enquanto os neoclássicos acreditavam na convergência econômica ou desejavam que essa possibilidade fosse aceita, Thirlwall informa que muito antes da “nova” teoria do crescimento, os economistas “heterodoxos” já vinham revelando as divergências cada vez maiores entre as economias dos diversos países – Prebisch destacou a estrutura de centro- periferia.

Os desenvolvimentistas ou economistas heterodoxos pretenderam ir além da perspectiva do crescimento econômico em seus estudos sobre as divergências de padrões de vida entre os países desenvolvidos e os subdesenvolvidos. Nesse sentido, após viver no Chile e analisar as fragilidades estruturais da América Latina, Hirschman propõe como estratégia nacional a racionalização de recursos e o estímulo às atividades industriais que promovessem

maiores encadeamentos pra trás (backyards linkages). Prebisch idealizou a economia em ciclos de renda, destacando os Estados Unidos como gerador de ciclos e maiores beneficiários das ondas superiores, e os países pobres como maiores prejudicados na fase descendente da renda, sugerindo que isso decorreria das determinações de uma estrutura de centro-periferia, que refletiam em verdade uma relação de poder. Furtado faz uma análise histórica da economia latino-americana baseada na produção de produtos primários. Apresenta a evolução da agricultura pré-capitalista para fase agroexportadora, sugere a coexistência de uma economia dual, e afirma o início de uma industrialização financiada e associada à modernização da produção agrícola. Esse autor destaca fase substituidora de importações da economia, como subsídio para o crescimento industrial, além da criação e fortalecimento de um mercado interno. Diferentemente dos outros desenvolvimentistas, não apresentou uma estratégia deliberada para o desenvolvimento, porém seu método contribuiu para abordagens mais aprofundadas sobre as causas do subdesenvolvimento dos países periféricos, como afirmou Bielschowsky.

O novo-desenvolvimentismo advoga pra si o ajustamento das premissas e proposições do desenvolvimentismo pós-guerra, mas ainda uma análise estruturalista, com forte enfoque no controle cambial como instrumento balizador do equilíbrio entre mercado interno e mercado externo. Bresser-Pereira aponta o risco da desindustrialização a partir da ameaça da doença holandesa recorrente, e de “políticas econômicas equivocadas” que agravariam os déficits correntes, os quais ele vê como falha estrutural e não como falha de mercado, portanto ajustável. Esse autor neo-desenvolvimentista propõe uma taxa de câmbio administrada, competitiva no nível da “taxa de equilíbrio industrial”, que satisfaria tanto os exportadores internos de commodities, quanto à indústria.

O ponto de interseção da análise estruturalista seja ela instrumento do desenvolvimentismo dos anos 50-60 ou do novo-desenvolvimentismo, é que o desenvolvimento econômico deve ser percebido como um processo de mudança estrutural. Por isso, as teses geralmente trazem uma proposta de estratégia nacional, que deveria estar vinculada a um projeto nacional de desenvolvimento.