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PARTE III – PERSPECTIVAS SOCIOECONÔMICAS E IMPACTOS DE UM PROJETO DE ENCLAVE NA MICRORREGIÃO DE ROSÁRIO A PARTIR DE 2010.

Absoluta 24.922 32.366 Fonte: IBGE/ Censo demográfico

A distribuição de terras por atividades agropecuárias (tabela 17) aponta que 13.709 hectares são utilizados pela pecuária, correspondente a 50% das terras disponíveis. A agricultura temporária ocupa 9.412 hectares, que corresponde a 34% da disponibilidade de terras no município de Santa Rita.

Tabela 17 – Utilização de terras conforme finalidade rural

Tipo de atividade Área (hectares)

Agricultura permanente 148

Agricultura temporária 9.412

Área plantada com forrageiras 2.151

Pastagens naturais 6.677

Pastagens plantadas degradadas 1.107

Pastagens plantadas em boas condições 3.774

Matas e/ou florestas destinadas à preservação – reserva legal 1.758

Outras matas e /ou florestas 397

Sistemas agroflorestais 492

Tanques, lagos, açudes, águas públicas/ aquicultura 204

Construções, benfeitorias ou caminhos 169

Terras degradadas 21

Terras inaproveitáveis para a agropecuária (pântanos, pedreiras, etc.) 1.384

Total 27.694

Fonte: IBGE – Censo agropecuário

A análise dos valores adicionados das atividades que contribuem para o PIB do município de Santa Rita (quadro 15) revela que no período 2009-2012 a pecuária decresceu, enquanto houve aumento na indústria, serviços e impostos. Observa-se que, em condições normais, a atividade de serviços é a que mais contribui para o PIB municipal, assim como se viu nos dois outros municípios analisados.

Quadro 15 – PIB a preços correntes (2009-2012) Atividades 2009 2010 2011 2012 Agropecuária 14.120 13.760 13.962 11.002 Indústria 19.209 22.589 23.760 26.574 Serviços 61.690 63.699 73.316 82.943 Impostos 4.860 6.282 5.882 8.044 PIB 99.878 106.330 116.921 128.562 Fonte: IBGE

Quanto ao mercado de trabalho, observa-se entre 2000 e 2010 que a taxa de atividade da população de 18 anos ou mais (ou seja, o percentual dessa população que era economicamente ativa) passou de 51,35% em 2000 para 56,04% em 2010. Ao mesmo tempo, sua taxa de desocupação (ou seja, o percentual da população economicamente ativa que estava desocupada) passou de 15,39% em 2000 para 10,58% em 2010. Atente-se para a alta

informalidade do trabalho neste município, o que indica precariedade nas relações laborais dos trabalhadores nesse local (IMESC, 2014).

Quadro 16 - Taxa de atividade, taxa de desocupação e grau de formalização dos ocupados – 18 anos ou mais em Bacabeira, Rosário e Santa Rita (2000/2010).

SANTA RITA

Período 2000 2010

Taxa de Atividade (%) 51,35 56,04

Taxa de desocupação (%) 15,39 10,58

Grau de formalização dos ocupados - 18 anos ou mais (%) 22,57 25,43

Fonte: PNUD,2013

Apresenta-se uma síntese da vulnerabilidade social da população do município de Santa Rita. Os indicadores mais expressivos na tabela 18 são: mortalidade infantil ainda elevada, 30%, baixos níveis de renda e de educação, e elevada informalidade no trabalho.

Tabela 18 – Vulnerabilidade social - Santa Rita – MA (1991, 2000, 2010)

Crianças e Jovens 1991 2000 2010

Mortalidade infantil 93,57 51,47 30,70

% de crianças de 0 a 5 anos fora da escola - 69,20 53,00

% de crianças de 6 a 14 fora da escola 27,71 4,08 2,54

% de pessoas de 15 a 24 anos que não estudam, não

trabalham e são vulneráveis, na população dessa faixa - 35,46 23,10

% de mulheres de 10 a 17 anos que tiveram filhos 3,74 6,76 6,49

Taxa de atividade - 10 a 14 anos - 4,83 9,39

Família

% de mães chefes de família sem fundamental e com filho

menor, no total de mães chefes de família 17,74 25,88 32,71

% de vulneráveis e dependentes de idosos 8,42 10,84 6,17

% de crianças com até 14 anos de idade que têm renda

domiciliar per capita igual ou inferior a R$ 70,00 mensais 74,71 56,63 36,16

Trabalho e Renda

% de vulneráveis à pobreza 95,39 89,34 67,24

% de pessoas de 18 anos ou mais sem fundamental completo

e em ocupação informal - 74,20 56,22

Condição de Moradia

% da população em domicílios com banheiro e água

encanada 4,60 12,38 35,21

Fonte: PNUD 2013

A análise de parte das receitas orçamentárias do município de Santa Rita é suficiente para inferir sobre a precariedade das finanças públicas desse município (tabela 19), verificada a incapacidade de arrecadação de impostos de competência municipal (IPTU, ISS e ITBI),

consequentemente reafirma-se a dependência financeira de receitas de transferências (convênios, auxílios, termos de parceria, contrato de repasse).

A reduzida capacidade fiscal dos municípios, no que diz respeito ao cumprimento integral do artigo 11 da Lei de Responsabilidade Fiscal, que em tese obrigaria à instituição, cobrança e arrecadação da receita de tributos pelos entes da Federação, tem tornado sem aplicação o próprio parágrafo único desse mesmo artigo, pois este veda a entrega de recursos mediante transferências voluntárias a ente que não arrecade impostos de sua competência constitucional. Se essa vedação fosse levada a efeito, certamente a precariedade das contas públicas municipais inviabilizaria as administrações públicas locais.

Tabela 19 – Dados das finanças públicas do município de Rosário (2009)

Receitas Orçamentárias Arrecadação (R$)

Receitas correntes 31.824.972,19

Receitas tributárias 645.942,68

Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana - IPTU 5.332,35 Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza - ISSQN 318.778,15 Imposto sobre Transmissão Intervivos de Bens Imóveis - ITBI 1.237,11

Receitas de Transferências 19.875.595,33

Transferências da União 18.650.904,58

Transferências do Estado 1.224.690,75

Fonte: IBGE

No Maranhão pode-se afirmar que a elevação recente das demandas urbanas é reflexo do subdesenvolvimento rural da maioria de seus municípios, que anima pessoas e famílias a buscarem “locais menos ruins para sobreviverem” (LEMOS, 2014). E possivelmente, o processo de urbanização tardia do Estado tenha-se ocorrido a partir dessa expectativa, posto que indústrias recrutadoras de mão de obra, ainda não se instalaram nesse espaço, tampouco o ambiente rural tem oferecido oportunidades de fixação das famílias no campo (reforma agrária incipiente e não concluída, mas não será discutida agora). Portanto, as carências do Maranhão estão materializadas na ruralidade desprovida de meios da maioria de seus municípios. As estruturas mínimas limitam suas escalas na esfera sociopolítica, inviabilizando qualquer iniciativa endógena para o desenvolvimento porque existe uma complexidade de fatores socioeconômicos com indicadores negativos que reafirmam a exclusão social na

região. Dessa forma, fica evidente que essa condição de escala inferior do Estado também “tem um viés rural, tendo em vista que os municípios com maior prevalência de população rural são os que têm os piores indicadores sociais e econômicos” (op. cit.).

Esses espaços já reconhecidos por assimetrias sociais e reduzidas condições de resistência política são oportunamente invadidos por “corpos estranhos” para agravar suas possibilidades subdesenvolvidas, no dizer de Castro. Questionam-se as críticas frequentes às propostas de desenvolvimento apresentadas para o Maranhão, acusando-se as posições contrárias aos investimentos até então instalados, mas é que estes, passados vários anos, produziram muito pouco para a região e retiraram muito mais – sem pedir licença.

5.3 Conclusão do capítulo

Após breve análise da conformação socioeconômica do Maranhão e dos municípios Bacabeira, Santa Rita e Rosário, através de seus índices de desenvolvimentos e informações adicionais sobre finanças, saúde, educação, trabalho e renda, percebe-se as fragilidades estruturais desses locais, que de pronto se contrapõem à complexidade do investimento da refinaria de petróleo projetada e “aceita” como mais um vetor de “geração de emprego e renda” – jargão amplamente utilizado em diversos “programas de governo” que assim o prometem.

Os números desfavoráveis indicam que seria necessário, antes, melhorar diversos aspectos das estruturas analisadas, vistas as singularidades da Microrregião de Rosário.

Pelas análises dos indicadores do Estado do Maranhão e dos municípios destacados da Microrregião de Rosário, pode-se inferir sobre a robustez das estruturas socioeconômicas locais e as escalas sociopolíticas postas em desafio ante a chegada de mais uma suposta oportunidade de crescimento econômico, com supostas vantagens diretas para as populações mais próximas. Seria necessária uma leitura mais aprofundada – para além das bases territoriais analisadas inicialmente –, para o entendimento das questões que se postaram sobre as possibilidades de desenvolvimento da região em estudo. Primeiro porque tem-se que atentar para as limitações espaciais relativas às estruturas locais (espaços sociais de acesso), não apenas local de instalação de empreendimentos, não apenas local de passagem ou de partida da produção. Depois, analisar de onde partiram as determinações, e a natureza dos investimentos propostos – seriam realmente proposições ou soluções endógenas? Observa Tânia Bacelar de Araújo22 na apresentação de “Territórios e Desenvolvimento” que existem

limites e impossibilidades de iniciativas tomadas apenas na escala local, e o agravante é que “neoliberais e ufanistas do localismo” desconsideram os determinantes macroeconômicos, “minimizam os conflitos políticos, o peso da estruturação das classes sociais, e, especialmente, o papel das políticas nacionais” (BRANDÃO, 2007). É importante perceber também nos estudos sobre desenvolvimento em espaços periféricos, que interesses subliminares sustentam os defensores de soluções puramente localistas (seriam eles realmente ufanistas?). Atente-se para todo o aparato do capitalismo (humano e instrumental) disponível ou criado para sustentar o ambiente desigual em que se funda a divisão social do trabalho, bem como “a capacidade das grandes corporações transnacionais capitalistas de manejar as escalas espaciais em seu benefício” (op. cit.) – nunca em favor das sociedades locais.

A análise dos indicadores do Maranhão e de seus municípios demonstra a incompatibilidade de suas estruturas para suportar a inclusão espacial de investimentos complexos, sem que grandes impactos ocorram, mesmo na fase de implantação (típico em locais subdesenvolvidos).

CAPÍTULO 6 – PERSPECTIVAS SOCIOECONÔMICAS E EXTERNALIDADES DO