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7. Os motivos de Emigração

7.3 Conclusão do capítulo

A análise de conteúdo em relação aos motivos de emigração mostrou diversos factores que tiveram um impacto na tomada de decisão. Como motivos principais observa-se por um lado o desejo de alcançar uma independência financeira como base para começar a sua “vida de adulto” e por outro lado o desejo de ter melhores condições de trabalho e opções de carreira.

Os factores financeiros ocuparam um papel preponderante na decisão. Porém, não foram as diferenças de salários que em primeiro lugar desempenharam um papel decisivo, como destacado por Harris e Todaro (1970) sendo o motivo principal de emigração, mas sim o desejo de através do emprego alcançar a sua independência financeira para poder viver a sua “vida de adulto”. O termo “vida de adulto” foi usado pelas próprias entrevistadas e mostra mais uma vez que a decisão de emigrar tem que ser percebida no contexto do momento no ciclo de vida de uma pessoa. Como já argumentado pelo Nauck e Settles, “o momento da decisão de emigrar é fortemente conectado ao ciclo de vida familiar e aos maiores eventos no ciclo de vida individual (2001: 462). Viver uma vida de adulto significa para as jovens entrevistadas a transição para o mercado de trabalho, a possibilidade de

sustentar a sua vida sozinha com um emprego que correspondesse a própria formação, viver numa casa própria e em alguns casos também de criar uma família.

A impossibilidade de exercer a sua profissão em Portugal cria, além das dificuldades financeiras e psicológicas78 a percepção de que o “capital humano” acumulado, investindo capital financeiro mas também energia na sua licenciatura de quatro anos na enfermagem, não pode ser rentabilizado ou que os conhecimentos não podem ser aplicadas como desejado, devido à falta de pessoal, stress e exaustão no local de trabalho. Mesmo sendo o motivo financeiro o mais significativo para estas entrevistadas, as condições de trabalho e a realização de uma carreira profissional podem ser vistas como outros factores que “empurram” para a emigração as enfermeiras que ainda não tinham pensado nela. Confirma-se então que a possibilidade de desenvolvimento do capital humano ideal, formulado na “teoria do capital humano” de Sjastaad (1962), que ao mesmo tempo leva ao desejado aumento do capital económico das enfermeiras, devido a certeza de encontrar através do recrutamento um emprego na Alemanha, é um motivo condutor da emigração. Além de conseguir entrar no mercado de trabalho através da emigração e fazer rentabilizar os conhecimentos adquiridos ao longo dos anos na universidade, é também a realização de certas metas profissionais que atrai para a emigração. A mobilidade destas mulheres surge então também da motivação de melhorar as suas qualificações profissionais para poderem seguir uma carreira e mostra assim mais uma razão para enquadrar os motivos de emigração de mulheres não apenas no contexto da migração familiar. Neste caso são as mulheres que emigram sozinhas, a procura de emprego e de melhores opções profissionais.

Apesar de não encontrar muitos exemplos, considero também importante mencionar a possibilidade do crescimento pessoal e de curiosidade como um motivo desta emigração, por serem diferentes dos predominantes motivos com base em considerações económicas e profissionais. A livre circulação na Europa serve então, além da possibilidade e facilidade de responder a períodos de desemprego através de uma mudança de país, como um espaço cultural que atrai os jovens,

78 Como uma “dificuldade prática” que resulta de uma situação financeira desfavorável encontra-se por exemplo a impossibilidade de mudar-se para uma casa própria, enquanto a “dificuldade psicológica” descreve os sentimentos que surgem do “aprisionamento” nesta situação de dependência.

curiosos por aprender uma nova língua e aumentarem o seu horizonte mental. Destaca-se, porém, que aquela entrevistada que sublinhou estes factores não- monetários como principais motivos de emigração, era a única que dispunha de um emprego em Portugal com contracto indeterminado que lhe permitia sustentar a sua vida completamente sozinha. Supõe-se então que estes benefícios do crescimento pessoal manifestam-se como um motivo de emigração mais naquelas pessoas que não sentem a necessidade de emigrar para poder cobrir as suas necessidades básicas.

Enquanto ela sempre esteve curiosa por viver algum tempo no estrangeiro, a maioria não incluiu a opção da emigração à partida no seu plano de vida mas sublinha que esta apenas surgiu como resposta à sua situação precária em Portugal. A observação de Verwiebe, face à migração contemporânea intra-europeia de que “as razões económicas ocupam uma posição pouco importante e a mobilidade europeia baseia-se muito mais em motivos sociais e culturais” (Verwiebe 2004:185) não se confirma para a maioria das enfermeiras portuguesas entrevistadas neste estudo.

Faist levanta a questão, até que ponto se trata de uma migração voluntária quando as pessoas emigram para fugir da situação de desemprego no seu país de origem (Faist 2000:23). Porém, a palavra “forçada” está ainda muito associada à ideia de assegurar a sobrevivência através da emigração, como é o caso para refugiados que são perseguidos nos seus países de origem ou sofrem as consequências de catástrofes naturais. Sem querer então chamar a emigração das enfermeiras portuguesas nesta estudo como “forçada”, observa-se em todo o caso uma necessidade de emigrar para poderem tornar-se financeiramente independentes e consequentemente estabelecer a sua vida de adulto e/ou para poderem realizar os seus planos de carreira.

Importa sublinhar que nem todas as entrevistadas que tinham um emprego na sua área conseguiam sustentar a sua vida completamente sozinhas e as que se encontravam no desemprego, nem recebiam resposta às suas candidaturas. Estas observações apontam para uma falta de valorização destas profissionais altamente qualificadas, pondo Portugal em risco de no futuro enfrentar um crescente fluxo migratório de enfermeiros que partem em busca de emprego no estrangeiro que lhes

permita sustentar a vida e de empregadores que valorizarem as suas competências profissionais, não apenas por uma remuneração justa mas também a possibilidade de realizarem as suas carreiras profissionais.

8. A influência das redes sociais e do recrutamento na decisão de