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9. Integração no país de destino

9.3 Conclusão do capitulo

As relações sociais das entrevistadas estruturam-se na maioria em torno de colegas e namorados portugueses. A emigração em grupo, os recrutamentos consecutivos e a concentração no mesmo prédio residencial facilitou a criação de uma comunidade. Cada nova enfermeira portuguesa que chega a Munique ou a Frankfurt, apesar de estar já integrada socialmente no grupo com que emigrou, integra-se nesta comunidade portuguesa já estabelecida pelos colegas portugueses, recrutados anteriormente. Os membros desta comunidade sentem-se ligados através das experiências comuns, criando ligações fortes e assegurando um apoio mútuo entre eles (Elrick 2005:3). Como capital social que surge destas relações sociais intensas, encontra-se a disponibilização de informações para as recém chegadas, a defesa dos interesses comuns em situações insatisfatórias e o apoio psicológico (Bauer et al 2002).

Apesar dos ganhos evidentes que resultam desta concentração na comunidade portuguesa, esta não é só percebida como um recurso mas mostra ao mesmo tempo actuar como uma barreira para a integração social na sociedade do país de acolhimento. Como já observado por Esser, a concentração na língua materna, leva nos casos das entrevistadas que se concentram apenas nos contactos com outros portugueses, ao mais lento desenvolvimento dos conhecimentos de alemão e assim também à dificuldade de criar laços sociais com alemães (Esser 2006, 2009). Trata-se de um tipo de círculo vicioso: por causa das dificuldades com a língua alemã surge a concentração na comunidade portuguesa mas, por outro lado, a concentração única em contactos com portugueses dificulta o desenvolvimento do conhecimento da língua alemã. Nestes casos encontram-se então evidências de uma “segmentação nacional” (Esser 2001:41), caracterizada por benefícios e barreiras no processo da integração social. As entrevistadas que ainda não dispunham de

relações sociais com alemães, indicam como razões, especialmente dificuldades linguísticas.

Duas entrevistadas dispunham, para além de relações fortes na comunidade portuguesa, amizades com colegas alemãs de trabalho. Como consequência destas tendências de uma “inclusão múltipla” (Esser 2006:4), as entrevistadas não só melhoraram significativamente os seus conhecimentos da língua alemã, mas obtiveram também melhor acesso à vida cultural da cidade, identificando-se consequentemente mais com o seu novo local e sentindo-se mais integradas na vida social da cidade. Outros contactos sociais fora do grupo de enfermeiras são os contactos com outros estrangeiros ou com portugueses que chegaram à Alemanha nos anos 70. Com estes a comunicação é avaliada como sendo mais fácil e no contacto com compatriotas encontram-se sentimentos de pertença e de familiaridade.

Dada a concentração da maioria das entrevistadas em relações sociais com outros portugueses, pode considerar-se que as enfermeiras portuguesas não estão integradas socialmente. Porém, importa questionar: integradas em quê? A integração tem de ser percebida como um processo local e não num país, com vários segmentos aos quais os migrantes se podem integrar (Portes e Zhou 1993). Ocorre numa cidade, numa associação, num local de trabalho. Visto que nenhuma das entrevistadas se sente socialmente isolada e que o ambiente multicultural, em especial em Frankfurt contribui fortemente para elas se adaptaram rapidamente à vida na nova cidade e que já se observa processos de integração em associações portuguesas e alemãs em Frankfurt, mostra o bem-estar ao nível social das enfermeiras entrevistadas, com diferentes tipos de integração, variando de tendências de uma “segmentação nacional”, integrando-se no grupo de colegas enfermeiros ou outros conhecidos portugueses a uma “inclusão múltipla”, integrando-se no grupo de colegas portuguesas e ao mesmo tempo no grupo de colegas alemães. Além disso, encontra-se também a integração no grupo de outros estrangeiros na Alemanha.

Analisando a integração profissional das entrevistadas a um nível estrutural, em todos os casos ela parece acontecer de uma forma bem-sucedida, quer porque todas dispunham de um emprego com contracto, salários

relativamente elevados em comparação com Portugal e com direitos sociais protegidos, quer porque as suas competências académicas e profissionais foram todas oficialmente reconhecidas. Porém, a integração profissional também possui componentes culturais e nem todas as entrevistadas tiveram a mesma facilidade e o mesmo apoio neste processo. O apoio para uma integração profissional bem sucedida, caracterizado pela capacidade de exercer a profissão autonomamente e pelo sentimento de se ver reconhecida profissionalmente no novo local de trabalho, difere por um lado entre a organização dos hospitais empregadores e por outro lado entre a compreensão e o apoio dos colegas alemães e outros estrangeiros.

A boa preparação do Centro Cardíaco para a chegada de enfermeiras portuguesas, sensibilizando os colegas alemães, definindo uma pessoa como responsável por todos os assuntos ligados às profissionais portuguesas, oferecendo um curso de alemão e um tempo de integração profissional suficiente e a transparência face ao pagamento de um salário, mostrou-se como um modelo ideal para uma integração profissional bem-sucedida. Ao contrário, a violação de condições previamente definidas e a falta de transparência, observada inicialmente por entrevistadas no Uniklinik Frankfurt, e ainda hoje por entrevistadas no hospital Nordwest, leva à insatisfação com a situação profissional. O facto de algumas entrevistadas dos dois hospitais em Frankfurt terem tido um tempo de integração curto, aumentou a insatisfação e o stress inicial no novo local de trabalho. Sem poder ser confirmado, encontra-se no caso de algumas entrevistadas que trabalham no hospital Nordwest indícios para uma discriminação salarial e um comportamento discriminatório durante o processo de reconhecimento profissional.

As dificuldades individuais no processo da integração profissional e no contacto com as colegas de trabalho, estão muitas vezes ligadas à dificuldades na comunicação em alemão, criando assim inicialmente situações de discriminação pelos colegas alemães. Inicialmente a língua não permitia à maioria das entrevistadas mostrarem os seus conhecimentos profissionais a que as entrevistadas responderam com frustração e receio. Quando as colegas de trabalho responderam positivamente com compreensão e apoio às situações de barreiras linguísticas, as entrevistadas conseguiram superar mais rapidamente os seus medos e receios, relacionados com o exercício duma profissão que lida com situações de vida ou

morte numa língua que ainda não dominaram perfeitamente. Ao contrário, quando as colegas não mostraram compreensão e puseram em causa as capacidades profissionais das enfermeiras portuguesas, discriminando-as com base na língua, as próprias dúvidas face às suas capacidades para exercer como enfermeira autonomamente na Alemanha, foram reforçadas e o processo para se sentirem realizadas e integradas profissionalmente prolongou-se. Porém, já tendo sido um factor positivo na integração social, é também no contexto profissional, onde a presença de outros estrangeiros é avaliada como uma ajuda no processo de integração, face à partilha de experiências similares que criou sentimentos de solidariedade entre eles.