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CAPÍTULO II – DIMENSÃO INVESTIGATIVA: OS PAPÉIS DE GÉNERO NA EDUCAÇÃO

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

8.1. CONCLUSÃO DO ESTUDO INVESTIGATIVO

Com a recolha e análise dos dados, o principal aspeto que se constata é que o que as crianças participantes neste estudo dizem e fazem vai sofrendo alguma alteração. Com o estudo pretendia-se:

- Identificar as áreas da sala que são preferencialmente escolhidas pelas crianças;

- Observar/registar os comportamentos das crianças quando brincam em contexto de brincadeira livre;

- Conhecer as conceções de género das crianças relativamente a brincadeiras, profissões e atividades;

- Refletir sobre o papel do/a educador/a para uma prática integradora que não reforce ideias estereotipadas sobre os papéis atribuídos ao sexo masculino e feminino.

Relativamente ao primeiro objetivo, os dados recolhidos através de observações atentas mostram que os participantes preferem as áreas da Casinha e do Castelo. Inicialmente, as crianças L. e T. (sexo masculino) não concebiam a ideia de brincar na Área da Casinha, porém, ao longo da Prática de Ensino Supervisionada e do estudo, fui observando algumas presenças destas crianças também na Área da Casinha. Relativamente à criança B. (sexo feminino) e à criança F. (sexo masculino), a área frequentemente escolhida era a Área da Casinha. Estas crianças tinham mais dificuldade em dirigir-se para outras áreas, porém, comecei a observar algumas idas até à Área do Castelo. Esta possibilidade de brincar, em áreas anteriormente quase não frequentadas, pode ter sido desencadeada pela dinâmica do estudo investigativo.

Em relação ao segundo objetivo, os comportamentos da criança B. e da criança F., em momento de brincadeira livre, eram semelhantes. Nas suas brincadeiras, imitavam muitas vezes desenhos animados a que ambos assistiam em casa, idas à equitação e simulavam realizar tarefas domésticas, tais como cozinhar e pôr a mesa. Também as crianças L. e T. revelavam comportamentos semelhantes, sendo que, na Área do Castelo, frequentemente, simulavam “lutas” entre os seus personagens. Foi interessante constatar as diferenças de brincadeiras entre os quatro participantes nas áreas mencionadas.

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Dois dos participantes de sexo masculino (crianças L. e T.) têm preferências por brinquedos e áreas semelhantes, porém, o outro participante de sexo masculino (criança F.) parece não optar pelos mesmos brinquedos e áreas, “As preferências por brinquedos e actividades são influenciadas pelos estereótipos de género, expressando as crianças uma maior preferência por brinquedos típicos do seu género (…)” (Neto et. al., 2000, p. 15). A criança B., de sexo feminino, não apresentou conceções estereotipadas, o que pode talvez ser explicado por “(…) as raparigas, a partir dos 4 ou 5 anos (Pitcher & Schultz, 1983), não aumentam visivelmente as suas preferências tipificadas (…).” (ibidem).

A questão de partida “Será que, para as crianças, existem brincadeiras, atividades, roupas e profissões para meninos e meninas, homens e mulheres?” vai ao encontro do terceiro objetivo. Assim sendo, a criança B., na grande maioria das suas respostas, ao longo do estudo não revelou conceções estereotipadas. Efetivamente, na subcategoria tarefas domésticas, tanto no primeiro como no terceiro momento, ao visualizar a imagem do homem a passar a ferro e a mulher a ler o jornal dizia que “É fixe a mãe estar a ler o jornal e o pai a passar a ferro” (conforme quadro 15) e que “está bom assim” (conforme quadro 21).

A criança L., revelou conceções estereotipadas, também desde o início ao final do estudo, relativamente à subcategoria atividades, interesses e profissões e à subcategoria brincadeiras. No segundo momento as suas conceções iam oscilando, revelando-se mais rígidas na subcategoria profissões, mais especificamente na profissão de futebolista e taxista (conforme quadro 18). O facto de esta criança manter, de algum modo, as suas conceções pode significar que a proposta de intervenção não foi geradora de modos diferentes de pensar.

Relativamente à criança F., os seus comportamentos verbais e não verbais parecem contraditórios pois, em momento de brincadeira livre, na Casinha, simula realizar tarefas domésticas e veste roupas que, tradicionalmente, são usadas por pessoas do sexo feminino. Porém, quando convidado a desenhar uma tarefa típica de mulher e de homem, tanto no primeiro como no terceiro momento, desenha a mulher a cozinhar e o homem a fumar (conforme quadros 16 e 22). Por inexperiência não fiz questões que pudessem realmente saber o que pensa a criança, nomeadamente se a mulher podia fumar, pergunta

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que poderia ter ajudado a perceber de forma mais clara as suas conceções. Durante o segundo momento, a criança revelou conceções estereotipadas apenas relativamente à proposta da FotoPalavra (conforme quadro 18).

Relativamente à criança T., os dados recolhidos nas atividades dos três momentos, permitem perceber que, inicialmente revelou conceções estereotipadas, considerando a subcategoria brinquedos e tarefas domésticas (conforme quadro 16). Durante o processo de intervenção e reflexão verifica-se que a criança parece alterar um pouco o seu modo de pensar, pois no 3.º momento referiu que o homem apanha milho e a mulher cozinha, sentindo necessidade de explicar que a mulher também pode apanhar milho e o homem cozinhar. Nas brincadeiras, desenhou o menino e a menina a brincarem juntos, contrariamente ao primeiro momento. Mais uma vez, a investigadora deveria ter procurado, na interação com a criança, razões para as suas escolhas e afirmações.

A aparente evolução no modo de pensar da criança T. pode mostrar que a investigadora, para aquela criança, pode ter começado a fazer a diferença, construindo a possibilidade de pensar de modo diferente. Porém, considerando que há crianças que aparentemente parecem não ter mudado de opinião, importa repensar modos mais adequados e duradouros de ação pedagógica capaz de ajudar as crianças a refletirem. No entanto, importa ter presente que não se alteram conceções de um momento para o outro. Este é um trabalho que não cabe apenas ao/à educador/a, pois envolve todo o contexto da criança, desde a família às narrativas com que contacta. Desta forma, o/a educador/a poderá trabalhar em conjunto com a família.

É de salientar que as respostas das crianças L., F. e T. divergiam quando estavam em grupo e individualmente, o que leva a constatar as influências dos pares, em que, “Os amigos começam a reforçar o comportamento aos 3 anos, e sua influência aumenta com a idade.” (Papalia, Olds & Feldman, 2006, p. 327). Este facto evidencia alguma fragilidade na estratégia de recolha de dados.

Refletindo sobre o último objetivo, o papel do/a educador/a, os dados recolhidos permitem constatar que é fundamental que este consiga organizar o ambiente educativo de forma a que o mesmo não apresente estereótipos.

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No caso do presente contexto, na Área da Casinha não estavam presentes apenas roupas referencialmente vestidas por pessoas do sexo feminino, também estavam roupas preferencialmente vestidas por pessoas do sexo masculino. Na Área do Castelo não estavam presentes apenas reis, também estavam princesas. Para além das áreas, é importante que o/a educador/a tenha atenção às imagens estereotipadas que afixa. Por exemplo, poderá colocar uma mulher policia, ou um homem cabeleireiro, caso o foco das interações seja as profissões. Também os livros devem ser cuidadosamente selecionados, de forma a evitar narrativas estereotipadas. Caso sejam, poderá proceder à desconstrução e reconstrução da narrativa, em conjunto com as crianças. Outro aspeto que o/a educador/a deverá ter em conta recai nos momentos de brincadeira livre, devendo evitar que as crianças permaneçam sempre nas mesmas áreas, conversando e incentivando-as a experimentarem brincar noutras áreas.

Concluindo, apesar de os estereótipos existirem, ao longo deste estudo sinto que ajudei as crianças a refletir. Neste sentido, este estudo comprova a importância de Práticas inclusivas na Educação Pré-Escolar, de forma a que as crianças reflitam e desconstruam alguns estereótipos.

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