• Nenhum resultado encontrado

A Indústria Brasileira de Defesa nos próximos anos enfrentará alguns desafios extraordinários.

Por um lado, existe uma preocupação recente com uma aparente desindustrialização do país. Entretanto, na área naval, não se observa esta desindustrialização, pois as encomendas devidas ao aquecimento da indústria do petróleo e às perspectivas do pré-sal têm crescido significativamente. Este aquecimento da indústria naval poderá afetar o interesse da iniciativa privada em participar de programas de desenvolvimento de meios navais para a MB.

Por outro lado, existe a sempre presente preocupação com a independência tecnológica e com os altos custos de desenvolver meios navais avançados. Soluções simplistas de compra de tecnologia não resolvem o problema, já que não é realista supor que algum país venda a tecnologia de uma forma aberta para a construção de um submarino nuclear ou de sistemas eletrônicos e de armas avançados.

As lições empresariais que se podem tirar da história da EMGEPRON são de mais de uma natureza.

Se forem analisadas as realizações da EMGEPRON, é indiscutível a importância destas. A construção de submarinos diesel-elétricos, a construção das corvetas, a modernização das fragatas, o desenvolvimento de sistemas eletrônicos avançados e o Programa Nuclear da MB são exemplos marcantes.

Por outro lado, se for analisada a contribuição para a definição de um paradigma sustentável para o desenvolvimento da BID na área naval talvez se possa observar um hiato. Vive-se hoje um período em que o futuro da BID nesta área está para ser escrito e o papel da EMGEPRON e de outros órgãos como o AMRJ não está definido, levando em conta a existência do PROSUB, da possibilidade do PROSUPER e da criação da nova estatal que cuidaria do Programa Nuclear Brasileiro.

Embora o assunto fuja ao escopo deste trabalho, é impossível não comparar o desenvolvimento da BID na área naval com o desenvolvimento da indústria aeronáutica, com a história da EMBRAER e a recente criação da EMBRAER DEFESA E SEGURANÇA. O desenvolvimento da BID na área

aeronáutica tem seguido um caminho que é cada vez mais o de empresas de direito privado, mesmo que com participação estatal.

Em vista de tudo o que foi exposto e a despeito das importantes contribuições feitas à BID, acredita-se que a EMGEPRON se encontra hoje numa situação delicada, pois as principais atividades que ajudaram a justificar a sua existência quase certamente não serão mais realizadas por ela. Além disto, face à inexistência de ativos, tais como uma infraestrutura própria de oficinas e pessoal treinado para mantê-las funcionando, acreditamos que a EMGEPRON terá dificuldades de enfrentar os novos desafios e manter um desenvolvimento crescente.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Presidência da Republica. Estratégia Nacional de Defesa. Decreto Nº

6.703, de 18 de dezembro de 2008. Brasília, DF, 2008.

BRASIL. Presidência da Republica. Estatuto da Empresa de Projetos Navais –

Emgepron. Decreto Nº 87.372, de 07 de julho de 1982. Brasília, DF, 1988.

BRASIL. Presidência da Republica. Estatuto da Empresa de Projetos Navais

(Alteração) – Emgepron. Decreto Nº 98.160, de 21 de setembro de 1989. Brasília,

DF, 1988.

_____. _____ Regimento Interno do Comando da Marinha. Portaria Nº 167/MB, de 7 de julho de 2005. Brasília, 2005.

VILELA, Fernando de Souza. Integração das Indústrias de Defesa na América do Sul. Revista de Escola de Guerra Naval, Rio de Janeiro, nº 14 , p. 155-172, dezembro 2009.

FERREIRA, Flávio Soares. A Estrutura Organizacional de Ciência e Tecnologia nas Forças Armadas: Avaliação e Perspectivas. Revista de Escola de Superior de

Guerra, v.24, n.49, p. 61-79, jan. / jun. 2008.

ARAÚJO, Bruno César; et al. Gestão do Conhecimento e Inovação na Indústria

Naval Militar Brasileira. Disponível em:

<http://w.w.w.mar.mil.br/sdms/artigos/6873-revisado.pdf.>. Acesso em: abr. 2011.

MARCHESINI, Paulo Roberto de Andrade. Gestão Estratégica de Pessoal e

Aprendizagem Organizacional no Programa Nuclear da Marinha do Brasil. Um Estudo de Caso. Disponível em:

<http://w.w.w.ead.fea.usp.br/Seamead/8seamed/resultado/trabalhosPDF/218.pdf.>. Acesso em: abr. 2011.

EMPRESA GERENCIAL DE PROJETOS NAVAIS (EMGEPRON). Disponível em: <Http:/w.w.w.emgepron.com.br> Acesso em: abr. 2011.

DIRECTION DES CONSTRUCTIONS NAVALES ET SERVICES (DCNS). Disponível em:

<http://en.dcnsgroup.com>. Acesso em: jul. 2011.

BEZERRIL, Carlos Passos. Centro Tecnológico da Marinha São Paulo. In: CONFERÊNCIA PARA O CURSO DE ALTOS ESTUDOS DE POLÍTICA E ESTRATEGIA, 2011, Rio de Janeiro – RJ. Apresentação CTMSP-ARAMAR, Iperó – SP: ESG, 2011.

SILVA, Maurillo Euclides Ferreira da. O Instituto de Pesquisas da Marinha. In: CONFERÊNCIA PARA O CURSO DE ALTOS ESTUDOS DE POLÍTICA E ESTRATEGIA, 2011, Rio de Janeiro – RJ. Apresentação IPQM, Rio de Janeiro: ESG, 2011.

APÊNDICE A – ENTREVISTA COM O DIRETOR TÉCNICO-COMERCIAL Contra-Almirante (RM-1) Roberio da Cunha Coutinho

MINISTÉRIO DA DEFESA ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA

1. De que modo a situação jurídica da EMGEPRON, como empresa publica, com personagem jurídica de direito privado, contribui para que ela possa atingir seus objetivos com um bom desempenho?

R: Uma empresa pública não objetiva lucros. Se fosse, as regras próprias do direito público, que nos são aplicáveis, poderiam ser consideradas como cerceadoras. Mas não: no caso da EMGEPRON, sua missão precípua é apoiar a MB. Sob esse enfoque, podemos afirmar que a Empresa tem auxiliado efetivamente à Marinha, por meio de gerenciamento de projetos, do apoio à obtenção e manutenção de meios navais, e da promoção da Indústria Militar-Naval Brasileira.

Não obstante, possuímos indicadores de desempenho, periodicamente aferidos pelo TCU e pela própria Marinha, através de relatórios gerenciais, que têm apresentado, sobretudo nos últimos anos, resultados positivos em nossa prática de gestão, inclusive com lucros consideráveis, obtidos pela prestação de serviços.

Assim, cabe-me ressaltar que a boa performance de qualquer empresa, seja ela pública ou privada, é atingida, principalmente, por meio da gestão eficiente de seus recursos e da administração e do controle de seus processos, que, no nosso caso são geridos pela Diretoria e orientados, no seu mais alto nível, pelos Conselho de Administração e Conselho Fiscal.

2. E de que forma esta situação gera óbices?

R: Não vejo como óbices, mas como realidades que se apresentam na administração de empresas públicas, regidas por leis e obrigações que, muitas vezes, apresentam-nos desafios ao desenvolvimento de projetos. Posso citar, como

exemplo, a compra de materiais e insumos para produção de nossos produtos, que deve ser feita de acordo com a lei 8.666, que regula as licitações públicas, influindo diretamente na agilidade do processo produtivo. Outro exemplo está na contratação de recursos humanos. De acordo com a Constituição, as empresas públicas obrigam-se a contratar pessoal mediante realização de concursos públicos. Assim, caso surja demanda premente de pessoal para atendimento a determinado projeto, seremos obrigados a respeitar os prazos estipulados na lei para realização dos certames.

À vista do exposto, torna-se então vital a implementação de métodos e ferramentas gerenciais para lidarmos de modo eficaz com essas normas, a fim de mantermos a qualidade de nossos serviços, como o Planejamento Estratégico da Empresa.

3. Na opinião de V.Exa. quais foram as maiores realizações ou contribuições da EMGEPRON para o desenvolvimento da Industria de Defesa Nacional.

R: Buscamos sempre em nossos projetos ampliar a participação e abrir mercado para as empresas nacionais. Nesse sentido, estabelecemos contratos e parcerias com diversas empresas da BID para fornecimento de componentes ou serviços aos projetos gerenciados pela EMGEPRON no Brasil e no exterior, como reparo, modernização e integração de sistemas de navios da MB, exportação de embarcações militares e de sistemas navais, produção de munição de artilharia, estudos do mar, dentre outros.

4. Na opinião V.Exa. quais são os principais parceiros da EMGEPRON na realização das suas atividades?

R: Com efeito, temos estabelecido parcerias com diversas organizações visando ao cumprimento de nossas metas e objetivos. A principal delas é com a própria Marinha, a qual nos orienta no desenvolvimento de negócios, na administração de nossos recursos e na execução de projetos. Além da MB, somos associados e temos grande interação com a Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa – ABIMDE, que tem nos apoiado, junto à Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos – APEX, na promoção de nossos produtos e serviços. Junto à iniciativa privada, poderíamos destacar parcerias construídas com a CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos) e com a INACE

(Indústria Naval do Ceará). Junto a entes públicos, citaríamos a IMBEL (Indústria de Material Bélico do Brasil) e o CENPES (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Petrobras).

5. Em que medida estes parceiros têm atendido as necessidades impostas pelos projetos realizados pela EMGEPRON?

R: A MB tem prestado fundamental apoio às nossas exportações, por meio da atuação dos adidos navais nos contatos comerciais junto aos nossos clientes no exterior. Além disso, o Conselho de Administração da EMGEPRON é presidido pelo DGMM e a execução de nossos projetos são feitos, em maioria, em parceria com Organizações Militares da Marinha.

Temos participado, com apoio da ABIMDE e da APEX, de feiras e eventos internacionais, com intuito de divulgar a Empresa, identificar oportunidades de negócios e estreitar relacionamento comercial com nossos clientes.

A CBC tem desenvolvido insumos de produção para nossas munições, como pólvora BS, por exemplo, mesmo quando isso não lhe traz retorno significativo. A INACE responde por parcela relevante da nossa capacitação em construção naval. A IMBEL é parceira no campo das armas portáteis. E o CENPES tem nos dado impulsos importantes em áreas tecnológicas diversas, especialmente, as relacionadas a estudos do mar.

6. Com relação aos parceiros da inciativa privada, como V.Exa. percebe a possibilidade deles virem atender no futuro as necessidades da EMGEPRON, face ao aquecimento do mercado?

R: O aquecimento do mercado hoje no Brasil, notadamente no setor naval, faz com que as empresas desse segmento tenham sua produtividade limitada devido a gargalos de infra-estrutura e de mão-de-obra qualificada. Na EMGEPRON não é diferente! Assim, para vencermos esses obstáculos, procuramos apoiar essa indústria com recursos existentes dentro da MB, utilizando, por exemplo, facilidades das Bases Navais para execução de reparos ou para construção de embarcações com a participação da iniciativa privada. Quanto ao recursos humanos, possuímos parceria com a Escola Técnica do Arsenal de Marinha - ETAM para formação de técnicos que são contratados não só pela EMGEPRON mas também por empresas civis.

7. E com relação aos parceiros ligados à MB, como V.Exa. percebe a possibilidade deles virem atender no futuro as necessidades da EMGEPRON, face a alegada tendência de privatização dos serviços na economia capitalista moderna?

R: Caso essa tendência venha a se concretizar, é possível que a EMGEPRON tenha participação nas negociações correspondentes a essas privatizações. Dessa forma, a grande contribuição poderia advir de maior aporte de capital para atualizar e dinamizar as plantas industriais da MB mais carentes, que assumiriam níveis de capacitação compatíveis com a crescente demanda do mercado de defesa.

8. Como a EMGEPRON procura atender a necessidade de ter pessoal altamente qualificado, tanto nas tecnologias gerenciais mais modernas, como na perfeita compreensão das tecnologias usadas no material de defesa moderno?

R: Como empresa eminentemente gerencial, acreditamos que nossos recursos humanos são nosso maior capital. Por isso, implementamos o Programa Anual de Treinamento – PAT para atualização, reciclagem e aumento da capacitação dos funcionários, de modo a atuarem com maior eficiência nos diversos projetos gerenciados pela Empresa. São expressivos nossos investimentos anuais no aprimoramento da capacitação do nosso pessoal que, por vezes, chega a incluir cursos até no exterior.

9. Em que medida a EMGEPRON vem atendendo a Estratégia Nacional de Defesa?

R: A EMGEPRON atua, orientada pela MB, em consonância com a END. Nesse sentido, estão sendo empreendidos esforços para o desenvolvimento de tecnologia independente, de acordo com as diretrizes para reorganização da indústria nacional de material de defesa, preconizadas no documento, como a produção de munição de artilharia de médio e grosso calibre na nossa Fábrica Alte. Jurandyr da Costa Müller de Campos. Com efeito, a END veio demonstrar o acerto dos homens que idealizaram a EMGEPRON pois, há cerca de 30 anos, já anteviam necessidades a serem supridas por nossa Empresa e que, hoje, são comuns com algumas metas da END.

10. Em que casos a EMGEPRON encontrou dificuldades em atender a Estratégia Nacional de Defesa?

R: Não só a EMGEPRON mas todas as empresas da BID têm encontrado dificuldades no que se refere ao sistema tributário aplicado à essas companhias no país, fator que consideramos grande entrave à subordinação de práticas comerciais aos imperativos estratégicos preconizados pela END

Documentos relacionados