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QUESTIONAMENTOS SOBRE POSSÍVEIS DIREÇÕES

A análise das atividades da EMGEPRON evidencia a sua vocação como sendo sobretudo a de uma empresa de gerenciamento de projetos. Por este fato, ela se apoia nas atividades de outras organizações e empresas com as quais ela realiza os projetos.

Ao longo da sua existência a EMGEPRON desenvolveu suas atividades principalmente através parcerias com o AMRJ, com o IPqM, com CTMSP e com outros órgãos da Marinha e em menor grau com empresas privadas.

As lições empresariais que podemos tirar da história da EMGEPRON podem servir para preparar a empresa para o futuro. Assim sendo, podemos identificar dois aspectos críticos contidos nestas lições:

a) O primeiro é o futuro do AMRJ, já que é com este que a EMGEPRON realiza a maior parte dos projetos de maior vulto e maior complexidade tecnológica.

b) O segundo é a eventual participação crescente de empresas privadas genuinamente nacionais na BID.

Todos estes dois aspectos estão relacionados com a existência de dois novos projetos: o PROSUB e o PROSUPER.

O PROSUB, Programa de Desenvolvimento de Submarinos, visa retomar a construção de submarinos convencionais de uma nova geração, tecnologicamente mais avançados, visando a posterior construção de um submarino de propulsão nuclear. Para isto, foi criada a ICN – Itaguaí Construções Navais, uma parceria entre a empresa francesa DCNS – “Direction des Constructions Navales et Services”, detentora da tecnologia, e a construtora Norberto Odebrecht, com a participação da MB, que detém o direito a veto, também chamado de “goldenshare”.

Um programa similar, o PROSUPER – Programa de Desenvolvimento de Navios de Superfície, também deverá ser implementado em breve com a finalidade de desenvolver navios de escolta.

Nestes dois programas, destaca-se a preocupação do governo com a participação da iniciativa privada nacional. Esta nova direção imprimida pelo governo parece indicar que novos projetos de grande porte não mais serão realizados pelo AMRJ.

Como a EMGEPRON não está participando do PROSUB e como também não deverá participar do PROSUPER, assim como o AMRJ, a EMGEPRON e o AMRJ devem preparar-se para rever suas atividades na área de construção naval.

No caso do AMRJ, existe um agravante, pois a aludida participação deste no PROSUB está se dando pela cessão de mão de obra altamente qualificada para a construção dos submarinos. Esta mão de obra, que foi treinada na construção dos primeiros submarinos com tecnologia alemã, não é disponível em nenhum outro lugar no país e é fundamental para a execução deste projeto.

Por outro lado, uma boa parte do pessoal técnico mais qualificado do AMRJ encontra-se próximo da aposentadoria e não parece existir qualquer programa de treinamento que vise substitui-los em números suficientes.

A conjuntura que está se desenhando levanta dúvidas sobre a importância futura do AMRJ nos programas de construção e reparos navais e consequentemente sobre as opções e sobre o próprio papel da EMGEPRON nestes programas.

Mesmo para os que defendem a ideia de uma maior participação das empresas privadas na BID, existe sempre uma incerteza quanto à disposição destas, uma vez que estas empresas são naturalmente condicionadas pela existência de lucratividade e não são imunes a operações de compra e fusões com multinacionais, o que poderia afetar os requisitos de independência.

Não se pode deixar de observar um fato irônico: a empresa francesa que foi escolhida para fazer a parceria com a Norberto Odebrecht, a DCNS, é uma empresa estatal francesa.

O PROSUPER é um programa que talvez siga a mesma estratégia do PROSUB. Quer-se dizer com isto que o Governo talvez continue a fazer a opção por uma “joint-venture” de uma empresa privada nacional com alguma empresa estrangeira detentora da tecnologia. Também é de se supor que o Governo faça exigências de algum tipo de transferência de tecnologia, que no caso da construção de navios de superfície é mais crítica no tocante a armamentos e dispositivos eletrônicos. A tecnologia de construção da plataforma em si, quer dizer o navio propriamente dito, já foi dominada no passado recente e acredita-se que seria possível atualiza-la para incluir aspectos mais modernos da arquitetura naval.

Esta opção, somada a opção feita no caso do PROSUB, colocaria todas as esperanças de desenvolvimento independente dos meios navais num único tipo

de estratégia, pois devido à escassez de recursos, é de se esperar que tanto a EMGEPRON como o AMRJ, o CPN e o IPqM, além de outros órgãos de Marinha, sofreriam um processo de atrofia que dificilmente poderia ser revertido a curto prazo, se necessário.

Uma alternativa que já foi discutida no passado, foi a possibilidade de transformar o AMRJ em uma empresa estatal. Além disto, como já consta da END, discute-se sobre a liberalização da legislação que rege as compras do setor estatal, notadamente a Lei 8.666. Argumenta-se que a construção da “Corveta Barroso” poderia ter sido mais eficiente em quase todos os aspectos: econômico, de tempo e de qualidade se esta legislação fosse modificada.

Hoje em dia, esta alternativa poderia ser contemplada pela incorporação, ou fusão, do AMRJ com a EMGEPRON e a adoção de uma estratégia mais estatal para o desenvolvimento de um programa importante de desenvolvimento de meios navais.

A existência de duas estratégias diferentes, uma tendo como base a participação da iniciativa privada nacional e outra desenvolvida principalmente com base em uma instituição estatal, mas contando também com a participação de empresas privadas, na medida do seu interesse, daria ao governo e à MB a opção de adaptar, no caso de necessidade, um dos seus programas à estratégia alternativa, sem criar uma solução de continuidade por falta recursos humanos, técnicos, de infraestrutura e outros.

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