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Ao concluir esta monografia sobre ensaios clínicos em crianças com PEA, mais especificamente sobre Terapias sensoriais e Terapias assistidas por cavalos, apresento as seguintes conclusões:

Entre as diversas terapias usadas, poucas detêm evidências convincentes da sua eficácia e segurança. Além do mais, e tendo em conta que a PEA é expressa de muitas maneiras diferentes, nem todos os tratamentos são adequados para quaisquer pacientes, pelo que devem ser adaptados individualmente.

De acordo com N. Klein e K. Kemper, a maioria das terapias utilizadas para a PEA não foi estudada através de ensaios clínicos controlados randomizados bem desenhados, com uma grande amostra, motivos pelos quais não devem ser ativamente recomendadas (6).

De facto, de entre os 16 artigos revisados nesta dissertação, apenas 2 ultrapassaram os 100 participantes (aquando da randomização). No entanto, como qualquer outro estudo, estes também apresentam limitações e possibilidades de melhoria.

De acordo com um artigo de revisão sobre Terapias Complementares e Alternativas para a PEA publicado em 2015, as terapias mais amplamente investigadas, entre as que não incluem terapias invasivas ou tratamentos farmacológicos, incluem as intervenções de musicoterapia, integração auditiva, integração sensorial, acupuntura e massagem (51). Todavia, não estão disponíveis dados suficientes relativamente a diversas outras intervenções terapêuticas, como por exemplo a terapia baseada em dança, baseada em teatro ou assistidas por animais de estimação (51).

No presente trabalho, e de acordo não só com a pesquisa sistematizada, mas também com o resultado da seleção dos artigos de acordo com o método PRISMA, foram analisados 16 artigos, 10 sobre terapias sensoriais [6 baseadas em treino musical (ver tabela 3), 1 baseada em teatro (ver tabela 4), 1 baseada em estimulação sensoriomotora (ver tabela 5), 4 sobre novas tecnologias (ver tabela 6)] e 4 sobre terapias assistidas por cavalos (ver tabela 7).

As terapias sensoriais são bastante solicitadas pelos pais e muitas vezes são incorporadas em programas de intervenção. As descobertas de E.E. Barton et al, numa revisão sistemática sobre terapias sensoriais para crianças com deficiência, sugerem que as evidências que apoiam a sua eficácia são inconclusivas (9). Porém, essas conclusões não devem ser interpretadas como evidência de que terapias sensoriais não são eficazes para nenhuma criança ou, particularmente, para crianças com PEA, mas sim de que a investigação não deve cessar.

De acordo com M. Grandgeorge et al, as terapias assistidas por animais também são amplamente utilizadas, mas os seus benefícios raramente são avaliados cientificamente. Perante a potencial capacidade dessas terapias auxiliarem o desenvolvimento de comportamentos sociais e outros (como, por exemplo, motores) em indivíduos com PEA, mais estudos deverão ser realizados, de modo a assegurar a segurança e eficácia da terapia e para

Ensaios Clínicos na PEA: Terapias Sensoriais e Terapias Assistidas por Cavalos 2019

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compreender melhor os mecanismos envolvidos no desenvolvimento da relação entre a criança e o animal.

A prática clínica baseada na evidência ajudará a garantir que, ao empregar tais terapias, tanto as sensoriais como as assistidas por cavalos, as intervenções sejam implementadas com o mesmo cuidado, rigor e padrões éticos que todas as intervenções devem incorporar (9).

Tabela 3 - Ensaios clínicos elegíveis sobre musicoterapia para crianças com PEA: principais áreas de atuação e resultados.

Tabela 4 - Ensaio clínico elegível sobre uma terapia baseada em teatro para crianças com PEA: principal área de atuação e resultados.

Tabela 5 - Ensaio clínico elegível sobre uma terapia baseada em estimulação sensoriomotora para crianças com PEA: principal área de atuação e resultados.

O principal obstáculo na literatura é, provavelmente, a inconsistência dos resultados entre os diversos estudos, que apesar de apresentarem, de forma geral, um suporte positivo à utilização dessas terapias, este é limitado.

Autores Ano Áreas de atuação Resultados

J. Kim et al

(23) 2009

Responsividade emocional, motivacional e

interpessoal

Evidências significativas sobre a promoção do desenvolvimento social, emocional e

motivacional

Hayoung A.

Lim (32) 2010 Produção verbal

Ausência de diferenças significativas entre os grupos de treino (musical e da fala)

G. A. Sandiford et al (11)

2013 Produção verbal Ausência de diferenças estatísticas significantes entres os grupos

G. A. Thompson et al (24)

2014 Interação social; Qualidade do

relacionamento pais-filhos

Resultados quantitativos sem significância. Perceção, subjetiva, positiva sobre a qualidade dos relacionamentos

A. Blythe

LaGasse (31) 2015 Competências de comunicação

Ausência de diferenças entre os grupos numa das medidas de avaliação (ATEC) e resultados superiores para o GMT noutra (SRS)

Łucja Bieleninik et al (27)

2017 Competências de comunicação social Ausência de evidências significativas sobre a redução da gravidade dos sintomas da PEA

Autores Ano Área de atuação Resultados

Blythe A. Corbett et al (35)

2016 Competências Sociais

Verificaram-se diferenças significativas entre os grupos, com vantagem para o grupo

experimental

Autores Ano Área de atuação Resultados

O. Latham e I. J. Stockman (4) 2014 Desempenho dos participantes em tarefas verbais e não verbais

Verificaram-se diferenças significativas entre os grupos, com vantagem para o grupo prático

Tabela 6 - Ensaios clínicos elegíveis sobre terapias baseadas em novas tecnologias para crianças com PEA: principais áreas de atuação e resultados.

Tabela 7 - Ensaios clínicos elegíveis sobre terapias assistidas por cavalos para crianças com PEA: principais áreas de atuação e resultados.

Atualmente, os tratamentos farmacológicos na PEA incidem sobre sintomas associados, como hiperatividade, agitação ou distúrbios do sono, e não sobre sintomas nucleares. Além do mais, podem, eventualmente, ter efeitos adversos.

Autores Ano Terapia Áreas de atuação Resultados

Yee-Pay Wuang et al (39) 2010 Equitação Simulada Proficiência motora; Funções sensoriais integrativas

Evidências significativas sobre a promoção da proficiência motora e funções integrativas;

Efeito sustentado (24 semanas) sob a função motora global

N. Aresti- Bartolome e B. Garcia-Zapirain

(5)

2015 Jogos de computador Comunicação e interação social Inconclusivo

S. Fletcher- Watson et al

(36)

2016 Aplicação de Ipad Competências de comunicação social

Ausência de diferenças significativas entre os grupos. Intervenção sem efeito imediato ou retardado sobre as competências de comunicação social

T.W. Frazier et al (41) 2017 Sistema STS Qualidade do sono; Qualidade de vida da criança e da família

Os resultados preliminares revelaram melhorias na qualidade do sono e qualidade de vida de toda a família

Autores Ano Áreas de atuação Resultados

J. K. Kern et

al (47) 2011

Gravidade da PEA Qualidade das interações pais-filhos;

Processamento sensorial Qualidade de vida

Resultados com tendências positivais, mas sem alterações estatísticas significantes

H. Steiner e Zs. Kerteszç

(46) 2015

Coordenação dos movimentos na marcha

Diferenças significativas com vantagem para o grupo de ET R. L. Gabriels et al (44) 2015 Autorregulação, socialização, comunicação; Comportamentos adaptativos e motores

Diferenças significativas com vantagem para o grupo de ET

J. D. Petty

et al (43) 2017

Interação dos participantes com seus animais de estimação

Ausência de diferenças entre os grupos numa das medidas de avaliação (AABS) e resultados superiores para o grupo de ET noutra (AATS); Aumento de interações sociais positivas no grupo de ET, de acordo com os cuidadores

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Posto isto, as terapias não-farmacológicas podem ser vistas como promissoras (apesar de ainda não suficientemente evidenciadas) para melhorar a interação social, as competências de comunicação ou outros défices, na população com PEA.

Assim, e atendendo às limitações da qualidade metodológica de estudos anteriores, a concretização de mais estudos controlados randomizados e de alta qualidade sobre intervenções comuns na PEA são indispensáveis.

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