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Ensaios Clínicos sobre Intervenções baseadas em Novas Tecnologias

3. Perturbação do Espectro do Autismo

4.1. Terapias Sensoriais

4.1.4. Ensaios Clínicos sobre Intervenções baseadas em Novas Tecnologias

com PEA que não respondem bem a uma abordagem já estabelecida (4). Portanto, não é surpreendente que abordagens não convencionais tenham sido desenvolvidas (4).

Intervenções baseadas em tecnologias têm se revelado bem-sucedidas no ensino de novas competências para crianças com PEA e, apesar do seu carácter "não-social", têm sido aplicadas, com sucesso, no desenvolvimento de competências sociais (36). Existe, porém, uma carência de ensaios clínicos de elevada qualidade metodológica sobre intervenções tecnológicas para a PEA (36).

Posto isto, S. Fletcher-Watson et al avaliaram o impacto de uma aplicação para iPad, chamada FindMe, especialmente desenvolvida para o desenvolvimento de competências de comunicação social, em crianças pequenas com PEA (36).

Os investigadores aspiravam por um impacto nos comportamentos de comunicação social na interação com outros, e não apenas por uma melhoria no jogo (36). Investigaram, portanto, o contato visual, a resposta social e a vocalização direcionada na interação da criança com seu cuidador (36). Os mesmos comportamentos de comunicação social, e a linguagem, foram avaliados pelos pais e tidos em consideração (36).

O estudo incluiu 49 crianças com PEA, com idade inferior a 6 anos, randomizadas, de acordo com o grau de gravidade dos sintomas (através do ADOS) para o grupo de intervenção ou GC (36). No primeiro, os participantes tiveram acesso à aplicação durante 2 meses, para além do seu tratamento usual, enquanto que os do GC receberam apenas a sua terapia usual

(36). O ADOS foi novamente aplicado 6 meses após o início da intervenção (36).

Antes e 6 meses depois do início da intervenção, foi realizada uma análise da interação entre os pais e os filhos, para apurar alterações de comportamentos de comunicação característicos da PEA (36).

Imediatamente após a intervenção, os pais avaliaram a comunicação dos seus filhos (compreensão de palavras, palavras utilizadas e gestos) e responderam a um questionário sobre a presença de comportamentos de comunicação social no quotidiano da criança (36). Os pais foram ainda convidados a expor os seus comentários sobre a aplicação, que foram maioritariamente positivos (36).

O número médio de dias em que as crianças realmente utilizaram a aplicação foi de 28 dias, com um número médio de 1,7 sessões, cada uma com uma duração média de 11 min (36).

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Verificaram-se melhorias substanciais nos dois grupos, sem diferenças significativas entre ambos, na maioria dos itens avaliados (36). Além do mais, os resultados indicam, de forma geral, que a intervenção não teve um efeito imediato ou retardado sobre os comportamentos sociais (36).

Os autores inferem, então, que a aplicação em questão não teve um impacto observável nas competências de comunicação social (36). Isso deve-se, provavelmente, à dificuldade de transferir as competências de um jogo animado para um cenário real (36).

Recomendam, portanto, cautela sobre a potencial utilidade das aplicações iPad para melhorar os défices de interação social (36). No entanto, perante o potencial de fornecer conteúdo terapêutico a baixo custo económico, sugerem que vale a pena prosseguir a investigação, visando também outros tipos de competências (36).

Além de importantes défices nas interações sociais e na comunicação, as crianças com PEA apresentam dificuldades relativamente às funções sensoriais integrativas e motoras, que podem dificultar sua capacidade de participar em diversas atividades (37), (38).

Assim sendo, Yee-Pay Wuang et al, investigaram a eficácia de um Programa de Desenvolvimento de Equitação Simulada (PDES) em 60 crianças com PEA, com idades compreendidas entre os 6 anos e 5 meses e os 8 anos e 9 meses (39).

Foi utilizado um equipamento de exercício inovador (simulação dos movimentos que ocorrem durante a equitação, sem contacto com cavalos) direcionado à proficiência motora e às funções sensoriais integrativas (39).

Na primeira fase de 20 semanas, 30 crianças realizaram o PDES, em paralelo com a sua terapia ocupacional regular, enquanto que as outras 30 crianças receberam apenas a terapia ocupacional (direcionada à função motora fina, função sensorial integrativa e às atividades de vida diária) (39). Esse arranjo foi, após uma interrupção de 2 semanas, invertido numa segunda fase de outras 20 semanas (39).

O PDES incluiu 2 sessões por semana, com a duração de 60 minutos por sessão, num total de 40 sessões para cada grupo (39). Note-se que um plano de tratamento foi especialmente desenvolvido para cada criança, compatibilizando as atividades do programa com os seus interesses e a sua função motora (39).

Ambos os grupos foram avaliados antes, durante a interrupção, e depois da aplicação do PDES, através do “Bruininks-Oseretsky Test of Motor Proficiency” e “Test of Sensory

Integration Function” (39).

As crianças com PEA revelaram uma melhor proficiência motora e melhoria das funções sensoriais integrativas após 20 semanas do PDES. Além disso, o efeito terapêutico na função motora global aparentou ser sustentado por pelo menos 24 semanas (39).

Posto isto, os autores consideram que este PDES constitui uma intervenção eficaz para crianças com PEA e sugerem uma abordagem combinada de PDES e terapia ocupacional regular, de forma a maximizar o efeito dos tratamentos (39).

Através de novas tecnologias, direcionadas para pessoas com PEA (hardwares, como o

interpretação da perspetiva e estado mental de pessoas com PEA, ajudando-as a desenvolver competências (5), (40).

Assim, o trabalho de N. Aresti-Bartolome e B. Garcia-Zapirain avaliou de que forma atividades de reabilitação e jogos de computador supervisionados (incorporados num sistema desenhado para pessoas com PEA) influenciam a comunicação e interação entre pessoas com PEA e profissionais (5).

Foi então utilizado um grupo de 20 crianças com diagnóstico de PEA (grupo clínico) e um grupo de 20 crianças com um desenvolvimento normal (GC), ambos com crianças entre os 3 e os 8 anos (5).

A avaliação incidiu sobre o tempo de resposta e interação visual com o líder da sessão

(5).

Apesar do grupo clínico ter olhado menos e demorado mais tempo que o GC para interagir com o líder (perante a interrupção do jogo), o contato visual predominou na interação

(5). No GC, o tempo de reação diminuiu ao prosseguir no jogo, impendentemente do tipo de

interação (5). Todavia, no grupo clínico verificou-se uma diminuição do tempo de reação quando a interação envolvia olhar nos olhos do líder da sessão (5).

Os autores concluem, assim, que este sistema poderá ajudar na reabilitação cognitiva, mas referem a necessidade de esclarecer a sua eficácia enquanto uma ferramenta de reabilitação cognitiva em estudos futuros (5).

Diversamente, e perante a escassa literatura sobre as abordagens tecnológicas para o tratamento de problemas do sono na PEA, T.W. Frazier et al realizaram um estudo preliminar para investigar a tolerância e eficácia de uma nova tecnologia de colchão, o sistema Sound-To-

Sleep (STS) (41).

Após a seleção dos participantes, 45 crianças, com idades entre 2,5 anos e 12 anos, com problemas do sono, foram randomizadas de acordo com a ordem de uso da tecnologia de colchão (ligado-desligado ou desligado-ligado) (41). As condições de tratamento (ligado ou desligado) duraram duas semanas e foram seguidas por um crossover imediato (41).

A tecnologia do colchão STS incorpora vibrações sincronizadas a uma fonte de som, proveniente do colchão (41). Poderia ser usado com áudio e vibração, apenas com vibração ou alternar entre ambas (41). Neste estudo, os pais, ou as crianças, puderam reproduzir um arquivo de áudio sugerido ou selecionar outro qualquer, podendo ainda ajustar o volume do som e a intensidade tátil (41).

A avaliação da eficácia foi realizada no início, antes do crossover e no final do estudo e incluiu a análise de questionários aos pais, de um diário de sono, construído pelos pais, e de

actigrafias12 (41).

Em relação ao questionário aos pais, este incidiu sobre características da PEA, sintomas psicopatológicos, anomalias sensoriais, défices de comunicação, qualidade de vida, higiene e problemas do sono (41).

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O uso do sistema STS foi bem tolerado, sendo que apenas 2 participantes abandonaram o estudo devido ao uso do colchão (após a randomização), e a sua tecnologia foi descrita pelos pais como muito fácil de usar (41).

Os pais reportaram uma melhoria na qualidade de vida, não só da criança, mas também da família, e os resultados dos diários de sono indicaram melhorias no adormecer e na redução de comportamentos desafiadores durante o dia (41). Para além disso, uma melhoria da duração e da eficácia do sono foram também observadas nas actigrafias (41).

Apesar dos resultados preliminares deste estudo, o sistema STS resultou em melhorias na qualidade do sono de crianças com PEA e aparenta ser útil no auxílio de crianças com problemas em adormecer (41).

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