• Nenhum resultado encontrado

Terapias Assistidas por Cavalos

3. Perturbação do Espectro do Autismo

4.2. Terapias Assistidas por Cavalos

Desde os primeiros resultados da reportagem de Levinson, em 1962, de que um cão poderia auxiliar na psicoterapia, as terapias assistidas por animais, nomeadamente cães, cavalos e golfinhos, têm sido propostas e consideradas, em geral, como benéficas no desenvolvimento de comportamentos sociais (7), (42).

As terapias assistidas por animais tem uma história longa, mas não documentada, e foi somente na última metade do século XX que a pesquisa e a resposta profissional sobre o seu uso se iniciou (42).

Apesar da evidência científica ser limitada, existem evidências empíricas emergentes de que as intervenções com animais podem ter efeitos benéficos sobre os desafios únicos da população com PEA (7), (43), (44).

M. E. O'Haire, numa revisão recente de vários estudos, sobre intervenções assistidas

por animais para a população com PEA, afirma que o animal de intervenção mais comumente utilizado é o cavalo (55% dos estudos) e que o resultado mais comum é uma melhoria na interação social (79% dos 22 estudos) (45), (39).

A terapia com cavalos é uma terapia alternativa, aplicada individualmente ou em grupo, e compreende diferentes métodos (duração, atividades e variáveis de resultados) que

embora variem13, apresentam melhorias transversais a diversos estudos na população com PEA,

incluindo: melhoria dos défices motores, coordenação, equilíbrio e postura; diminuição de problemas de comportamento (irritabilidade, hiperatividade, estereotipia, falta de atenção, e gravidade dos sintomas característicos); melhorias do processamento sensorial, comunicação, e competências sociais (46), (44).

13 Os diagnósticos e os objetivos terapêuticos determinam que tipo de terapia assistida por cavalos é

4.2.1 Ensaios Clínicos sobre Terapias Assistidas por Cavalos

J. K. Kern et al analisaram os efeitos de atividades assistidas por cavalos sobre a

gravidade da PEA e sobre a qualidade das interações entre pais e filhos, através da aplicação de 2 escalas, CARS e “Timberlawn Parent-Child Interaction” (TPCI), respetivamente (47). Além disso, investigaram as alterações no processamento sensorial e na qualidade de vida, através

de 2 questionários aplicados aos pais (“Sensory Profile”14 e “Quality of Life Enjoyment and

Satisfaction Questionnaire: General Activities Subscale Revised for This Study”,

respetivamente) (47).

O estudo incluiu 24 crianças com PEA, com idades compreendidas entre os 3 e os 12 anos, e cada uma delas agiu como o seu próprio controle (47). Os participantes foram avaliados em quatro momentos: antes de iniciar um período de espera de 3 a 6 meses, antes de iniciar a terapia de equitação, após 3 meses e 6 meses de equitação (47). Todavia, apenas 20 participantes completaram os 6 meses de intervenção (47).

Foi utilizado um programa de equitação com etapas específicas para a intervenção em crianças com PEA, chamado “SpiritHorse”, onde se refletem não só os objetivos da equipa bem como das necessidades e interesses do aluno (47). Foi, ainda, estabelecida uma parceria entre os pais ou cuidadores e o instrutor de equitação de cada aluno, já que os primeiros fizeram parte integral das sessões e participaram em todo o processo terapêutico (47).

Os participantes realizaram equitação uma vez por semana, durante cerca de 60 minutos, durante 6 meses (47). Além de cavalgar, as crianças realizaram diferentes atividades, como conduzir, escovar, acariciar e alimentar o cavalo, o que lhes incutiu um sentimento de responsabilidade para com o animal designado (47). Tudo isso auxiliou o desenvolvimento de uma relação com o cavalo e com o instrutor, competências que poderiam ser transferidas, a

posteriori, para as suas relações familiares e vida doméstica (47).

Não se verificaram alterações dos dados do CARS durante o período de pré-tratamento, mas verificou-se, contudo, uma diminuição significativa após 3 e 6 meses de terapia (47). A TPCI, por outro lado, não revelou alterações estatísticas significantes (47).

A qualidade de vida apresentou, também, uma melhoria, incluindo no período de espera antes do tratamento (provável sentimento de realização pelo recrutamento e não pelos efeitos específicos do tratamento) e todas as apreciações sobre a satisfação dos pais em relação à terapia foram positivas (47). Por fim, não se verificaram alterações estáticas significantes relativamente ao processamento sensorial (47).

Contudo, até nas variáveis que não foram estatisticamente significativas, verificaram- se tendências positivas (47). Além do mais, foi concluído que ocorreu uma redução na gravidade dos sintomas da PEA devido a terapia assistida por cavalos, sugerindo que as crianças com PEA beneficiam das mesmas (47).

Ensaios Clínicos na PEA: Terapias Sensoriais e Terapias Assistidas por Cavalos 2019

24

Distintamente, H. Steiner e Zs. Kerteszç investigaram os efeitos da terapia assistida por cavalos no desenvolvimento de crianças com PEA, mas averiguaram a contribuição da Equitação Terapêutica (ET) na coordenação dos movimentos na marcha, enquanto modelo de movimentos corretos para o sistema esquelético e nervoso (46).

Realizaram, portanto, um ensaio clínico randomizado que incluiu 26 crianças com PEA, entre os 10 e os 13 anos de idade, distribuídas por dois grupos de acordo com o seu nível de atividade física (46). Assim, treze crianças receberam uma sessão semanal de ET e participaram em sessões de psicoeducação para crianças com PEA (46). Os restantes participantes participaram apenas nas sessões educativas, e em sessões de fisioterapia (GC) (46).

Cada sessão de ET teve a duração de 30 minutos, e incluiu diversos exercícios enquanto o cavalo estava imóvel e, posteriormente, em movimento (46). Além do terapeuta, havia, em cada sessão, dois assistentes e uma pessoa para conduzir o cavalo (46).

Os autores examinaram o mecanismo da marcha através da análise de todo o corpo durante a marcha – “full Body Model analysis”, em séries cronológicas, e mediram os ângulos articulares em diferentes planos (46). As competências mentais foram avaliadas em quatro componentes, nomeadamente comunicação, cuidados pessoais, competências motoras e socialização – “Pedagogical Analysis and Curriculum (PAC-test)” (46). Essas avaliações foram realizadas antes e um mês depois do início da terapia, após um intervalo de três meses sem terapia e após novo mês de terapia de equitação ou de fisioterapia (46).

Após a intervenção, foram encontradas diferenças significativas no grupo da ET, com aumento do ciclo da marcha e consequente melhoria da coordenação, orientação e eficácia da marcha, enquanto que o GC aumentou a assimetria do movimento durante a marcha (46). Além disso, este último não demonstrou melhorias nos parâmetros de comunicação, cuidados pessoais e socialização, contrariamente ao grupo de ET (46).

Os resultados do estudo apoiam a hipótese de que a terapia assistida por cavalos pode ser usada, com sucesso, não só para melhoria do ciclo e orientação da marcha, mas também no desenvolvimento de competências mentais (46). Assim, concluiu-se que a ET deve ser considerada como uma forma de reabilitação para crianças com PEA, principalmente quando outras terapias não são bem-sucedidas (46).

Sobre outra perspetiva, R. L. Gabriels et al realizaram um estudo para avaliar a eficácia da terapia assistida por cavalos na autorregulação, socialização, comunicação e nos comportamentos adaptativos e motores em crianças com PEA (44).

Para tal, 127 participantes com PEA, entre os 6 e os 16 anos de idade, foram estratificados de acordo com o seu QI e randomizados para um de dois grupos: grupo de ET ou GC com atividades de celeiro, mas sem contacto com cavalos (44). Após o início do estudo 11 participantes abandonaram o estudo, resultando num total de 58 no GC e 58 no grupo de ET

(44).

Ambas as intervenções cursaram por 10 semanas (44). Cada sessão teve a duração mínima de 45 minutos, integrou 2 a 4 participantes, e incidiu sobre conteúdos relacionados a cavalos (44). Pelo menos um voluntário foi designado a cada participante e foram empregues

métodos de ensino comumente utilizados na população com PEA (uso de recursos visuais, elogios de comportamentos apropriados, valorização do interesse do participante, etc.) (44).

Particular e adicionalmente, os participantes do grupo ET montaram a cavalo durante 10 minutos, participando numa sequência consistente de atividades (como, segurar as rédeas, comandar os cavalos, completar exercícios de alongamento, entre outras) (44). Para além do desenvolvimento dessas competências, os participantes do grupo de ET aprenderam a cuidar do seu cavalo (44).

Por outro lado, os participantes do GC concluíram um breve projeto de arte e tiveram acesso a um cavalo de peluche, de tamanho real, enquanto parte integrante do ensino de competências relacionadas com cavalos (44).

Foi realizado, um mês antes e depois da intervenção, um conjunto de medidas de avaliação para estimar os níveis de funcionamento dos participantes [“Peabody Picture

Vocabulary Test, Fourth Edition”; “Systematic Analysis of Language Transcripts, Bruininks- Oseretsky Test of Motor Proficiency–2nd Ed (Short Form)”; “Sensory Integration and Praxis Test:

Praxis on Verbal Command and Postural Praxis”; “Vineland Adaptive Behavioral Scales – 2nd

Edition, Survey Interview Form”] (44).

Para além disso, os cuidadores realizaram avaliações não cegas de diversas variáveis de comportamento, nomeadamente irritabilidade, letargia/retirada social, estereotipia, hiperatividade, discurso inapropriado e défices sociais (“Aberrant Behavior Checklist -

Community” e SRS), antes, durante e depois da fase de intervenção (44).

Verificaram-se melhorias significativas no grupo de ET em comparação com GC relativamente à de irritabilidade e hiperatividade, que se iniciaram na quinta semana de intervenção, resultados análogos aos do seu estudo preliminar concretizado no ano de 2012

(44), (48).

Também foram observadas melhorias significativas no grupo ET relativamente à cognição e comunicação social, número total de palavras e de novas palavras expressas, durante a análise de uma amostra de linguagem (44).

Os resultados desse estudo suportam os estudos anteriores e demonstram a eficácia da ET, fornecendo evidências de que as terapias e atividades com cavalos constituem uma opção terapêutica viável para crianças e adolescentes com PEA (44).

Curiosamente, o estudo concretizado por J. D. Petty et al revela resultados adicionais ao estudo anterior, cujo objetivo foi determinar se a intervenção no grupo de ET, em comparação com a do GC, poderia demonstrar alterações positivas nas interações dos participantes com os seus animais de estimação (43).

Uma subamostra de 31 e 36 participantes constituiu o grupo de ET e GC, respetivamente (aleatoriamente designados à semelhança do estudo de R. L. Gabriels et al) (44), (43).

As informações sobre as atitudes e cuidados para com os animais de estimação no domicílio foram recolhidas através de uma escala de classificação cumprida pelos pais – “Child’s

Ensaios Clínicos na PEA: Terapias Sensoriais e Terapias Assistidas por Cavalos 2019

26

Duas variáveis gerais foram calculadas e analisadas com base em dois questionários: de apego animal – “Animal Attachment Score (AATS)” - e de abuso de animal – “Animal Abuse

Score (AABS)” (43). Foi solicitado aos cuidadores que completassem o CABTA como parte do

estudo maior, juntamente com outras medidas de avaliação (supramencionadas) (43), (44). Enquanto que os resultados do GT não revelaram nenhuma tendência de melhoria, os resultados do AATS do grupo de ET melhoraram significativamente após a intervenção, principalmente no que toca ao bom relacionamento entre a criança e o animal e à ação carinhosa da criança em relação ao seu animal de estimação (43). Contudo, não se observaram diferenças estatisticamente significativas entre os grupos, no período pré e pós-intervenção, relativamente ao AABS (43).

Nesse estudo, os participantes do grupo de ET apresentaram melhorias claramente superiores, já que agiram, de acordo com os cuidadores, de forma cuidadosa em relação aos animais de estimação (43). Afirmam, assim, os resultados de pesquisas anteriores, exibindo um aumento de interações sociais positivas como resultado de uma intervenção específica, assistida por animais, em crianças e adolescentes com PEA (43), (49).

Documentos relacionados