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No decorrer da presente investigação, vislumbra-se o enfoque sobre o Direito do Trabalho, consolidado pelo Decreto-Lei nº 5.452/1943, e mais especificamente sobre o direito do trabalhador brasileiro, considerado a parte mais desprotegida na relação contratual trabalhista.

Neste contexto, abordou-se a expectativa de mais um direito a ser assegurado, que está em trâmite no Congresso Nacional, por intermédio do Projeto de Lei nº 3.829/1997, de autoria do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), consubstanciado na possibilidade de obtenção pelo trabalhador genitor de alimentos, do benefício de estabilidade provisória, em caso de gravidez de sua esposa ou companheira, diante de ausência de renda familiar diversa, para fins de reflexo na proteção ao direito do nascituro, enquanto nessa condição, contra despedida arbitrária por parte do empregador.

O Direito do Trabalho, estabelecido como um ramo jurídico especializado, encontra sua finalidade na proteção da relação privada entre empregado e empregador. Por sua vez, as Leis do Trabalho foram consolidadas no sentido principal de preservar o trabalhador, hipossuficiente em relação ao seu empregador.

Assim concretizada, a Consolidação das Leis Trabalhistas busca desde 1943, em seu texto, a normatização de direitos, com o fim máximo de proteção social do trabalhador. No entanto, é cediço que a mesma Consolidação encontra-se com boa parte dos seus artigos revogados ou em desuso, de modo a não suprir todas as necessidades sociais, conforme as mudanças que vem acontecendo ao longo do tempo, e principalmente, não sendo possível proteger o trabalhador da situação de desemprego involuntário frente às demandas da sociedade, em face da arbitrariedade do empregador, cuja dispensa se funde em motivo disciplinar, técnico, econômico ou financeiro.

Acontece que diante de uma situação de desemprego involuntário por despedida arbitrária de seu empregador, o principal prejudicado não é o trabalhador em si, mas sim sua família, que dependia do seu sustento para manter uma vida digna. Apesar de ainda estar em tramitação, o Projeto de Lei nº 3.829/1997, busca a proteção da família diante de tal situação. Mais especificamente a proteção do nascituro, prevendo a possibilidade de concessão de estabilidade provisória ao trabalhador genitor, diante da ausência de renda por sua esposa ou companheira no sustento da família durante o período de sua gravidez.

Sendo a estabilidade uma garantia contra a extinção do contrato de trabalho, primada sobre os princípios da proteção do trabalhador, bem como da continuidade da relação

trabalhista, a estabilidade prevista no Projeto garantiria ao trabalhador não ter seu contrato de trabalho encerrado por iniciativa potestativa do empregador durante o período entre a concepção até 5 (cinco) meses após o parto da mulher gestante, como forma de garantir a preservação do valor da dignidade da pessoa do nascituro, enquanto nessa condição.

Não obstante existirem alguns tipos específicos de estabilidade, conforme discorrido ao longo deste trabalho, é certo que a proteção à maternidade se limita à gestante, em razão da sua própria condição e na sua relação direta com o nascituro. Nessa óptica, a Constituição Federal veda expressamente a dispensa arbitrária ou sem justa causa da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.

Nesta senda, buscou-se fundamento no princípio da igualdade material previsto na Constituição, que busca evitar disparidades no tratamento entre homem e mulher, com o fim de não criar, desarrazoadamente, privilégios para uma classe em detrimento da outra. Por consequência, fica evidente a possibilidade de discriminação na concorrência de vagas de emprego quando a única possível portadora de estabilidade provisória é a gestante.

Não se pode deixar de considerar que o direito à estabilidade provisória da gestante é um resultado de um processo de conquista da sociedade, não devendo ser menosprezado, mas sim estendido ao pai, provedor do sustento de sua família – em especial do nascituro –, como forma de garantir a manutenção da dignidade da pessoa humana por meio da equidade.

Assim, considerando primordialmente que o bem maior do ser humano é o direito à vida, e que este se reflete também no direito de ter uma vida digna, bem como no fato de que a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro, conclui-se plenamente possível no ordenamento jurídico brasileiro a extensão da estabilidade provisória de emprego da gestante ao pai do nascituro.

No entanto, não dispensa outros estudos acadêmicos que possam robustecer ou até mesmo refutar a tese levanta, ante a existência de grande disparidade na interpretação do ordenamento jurídico. Portanto, este trabalho serve como ímpeto mais discussões no meio acadêmico sobre o tema proposto.

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ANEXO A – PROJETO DE LEI Nº 3.829 / 1997

PROJETO DE LEI Nº 3.829, DE 1997 (Do Sr. Arlindo Chunag1ia)

Dispõe sobre a estabilidade provisória no emprego do trabalhador cuja companheira estiver grávida.

(AS COMISSOES DE TRABALHO, DE ADMINISTRAÇAO E SERVIÇO PtlBLICO· E DE CONSTITUIÇAO E JUSTIÇA E DE REDAÇAQ (ART. 54) - ART. 24, IÍ)

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1° Fica garantida a estabilidade no emprego, durante o período de 12 (doze) meses contados a partir da concepção presumida, ao trabalhador cuja esposa ou companheira estiver grávida.

Parágrafo único. A comprovação da gravidez será feita mediante laudo emitido por profissional médico vinculado a órgão integrante do Sistema Único de Saúde (SUS).

Art. 2° Será aplicada multa, equivalente a 18 (dezoito) meses de remuneração do empregado, ao empregador que demitir o trabalhador que se encontrar na situação definida no caput do art. 1°, sem prejuízo da aplicação das demais sanções previstas na legislação vigente.

Art. 3° Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 4° Revogam-se as disposições em contrário.

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