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Este estudo resulta da necessidade de compreender melhor quais as estratégias de sono utilizadas por crianças em idade escolar. Inicialmente foram escolhidos questionários que nos permitissem recolher informação sobre o que pensariam os pais e ao mesmo tempo que permitissem que posteriormente existisse comparação dessa informação com as respostas dadas pelas crianças. Para obter mais informação sobre as estratégias que eram utilizadas pelas crianças, e também quais seriam aquelas que seriam aprovadas pelas mesmas em caso de dificuldades de adormecimento, foi utilizada a entrevista semiestruturada, de modo a permitir investigar aquilo para o qual tínhamos um propósito mas também para podermos sair do nosso guião sempre que possível e escutar aquilo que as crianças tinham para nos dizer.

Percebemos que de facto, parece existir pouca concordância quanto àquilo que dizem os pais e àquilo que dizem as crianças. No entanto, alguns pontos importantes como, número de horas de sono por noite, manter algumas rotinas e também o facto de muitas crianças referirem que têm as suas estratégias de adormecimento, revela-nos que poderá ser na maioria uma população bem adaptada, com boas estratégias e revelando algumas preocupações e cuidados para com o sono.

A maioria das crianças demonstra ter uma opinião bem definida quanto às estratégias que aprova ou desaprova, sendo que muitas delas demonstram capacidade de análise e de discriminação relativamente a quais os motivos indicados para utilizar uma estratégia. Muitas destas crianças referem a necessidade de suporte como estratégia, revelando ir para a cama dos pais, pedindo companhia ou carinho, e demonstrando que tem algumas dificuldades no momento de adormecer. No entanto, a maioria tem bastante presente o que a poderá ajudar a adormecer e isso é uma conclusão importante. As crianças sabem que existem determinadas actividades que induzem o sono e sabem quais as estratégias a utilizar por exemplo para se acalmarem em caso de pesadelo.

Muitas crianças referem recorrer a estratégias distractivas, como ler, ver televisão, ouvir música. Também são referidas estratégias associadas com relaxamento, como contar carneiros, fechar os olhos e relaxar, ou simplesmente olhar para o vazio. Todas estas actividades têm habitualmente como objectivo a indução do sono, a indução

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de sonhos bons, a sensação de segurança ou também os benefícios para a saúde e ou aprendizagem.

Como justificação para reprovar estratégias, como ver televisão, jogar Playstation, muitas crianças reconhecem a incompatibilidade destas tarefas com o sono e referem-nas como potencialmente nocivas para a saúde. Estratégias como ir para a cama dos pais são reprovadas porque poderão ser prejudiciais ao sono da criança ou dos pais mas também poderá ser prejudicial no futuro, em que a criança terá de acostumar- se a estar sozinha.

As associações feitas por muitas destas crianças, são bastante concretas, e acabam se reportar também ao seu estádio de desenvolvimento cognitivo.

O facto de existir discordância entre as opiniões de pais e crianças, foi um efeito já reportado por Januário (2012) e que deverá ser melhorado por meio de sensibilização dos pais para a importância desta temática. O desconhecimento dos hábitos e rotinas de sono dos filhos é um factor precipitante de problemas do sono (Owens, 2011) e por esse motivo é importante manter os pais conscientes da necessidade de acompanhar o sono dos filhos.

Este estudo constitui uma ferramenta que poderá ser uma mais-valia no fornecimento de informação às escolas, unidades de cuidados de saúde primários e também no coração das próprias famílias. Informar é uma prioridade para que um dia estas crianças possam também educar e produzir uma geração saudável.

A informação sobre as estratégias de adormecimento de crianças desta faixa etária é escassa e por esse motivo acreditamos que este estudo trará um contributo capaz de abrir portas a novas investigações.

Este estudo tem algumas limitações. O tamanho da amostra é reduzido, pelo que não se poderá generalizar qualquer conhecimento adquirido, apenas criar hipóteses sujeitas a confirmação por estudos futuros. O facto de haver pouca variabilidade geográfica na recolha de dados também induz algum tipo de erro. Zonas onde o ritmo de vida seja menos acelerado do que na grande Lisboa, poderá demonstrar maior acompanhamento das rotinas dos filhos por parte dos pais. Existiu também alguma dificuldade na aplicação de entrevistas que poderá de certo modo ter influência nas respostas das crianças, pela indisponibilidade de salas na escola onde se pudesse criar

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um ambiente isolado e sem distracções. O questionário de hábitos e rotinas de sono será também no futuro alvo de alguns melhoramentos pois ainda se encontra numa fase inicial. Parece-nos importante aperfeiçoar ferramentas de investigação do sono, e estudar de modo mais aprofundado o porquê da discrepância de respostas entre pais e filhos.

Numa fase posterior seria interessante conduzir uma entrevista semiestruturada com os pais, tendo um guião compatível com a entrevista realizada às crianças. Assim, seria possível comparar aquilo que é aprovado e desaprovado por pais e por crianças e verificar se existiria compatibilidade de opiniões.

Em suma, conclui-se que a maioria das crianças utilizam estratégias relacionadas com o suporte e com a distracção, recomendando o mesmo tipo de estratégias aos pais para que eles as pratiquem de modo a apoiar os seus filhos a adormecer de forma facilitada. A maioria das crianças demonstrou sentido crítico e capacidade apurada de análise no tipo de estratégias a empregar em caso de dificuldade de adormecimento, sendo que as estratégias mais aprovadas se referem ao uso de objectos securizantes, centração em pensamentos positivos e leitura de histórias pelos pais.

Os pais revelam pouco conhecimento sobre as estratégias dos filhos, o que poderá ser indicativo de mais problemas de sono no futuro, no entanto, no geral estas crianças dormem um número de horas adequado por noite, e referem problemas pontualmente, o que denota uma situação dentro da normalidade.

De futuro seria importante não só alargar o tamanho da amostra mas também a sua representatividade geográfica a fim de verificar o que acontece em média na população em idade escolar.

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