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A discussão de resultados será orientada tendo em conta os objectivos gerais e específicos desta dissertação.

Quanto a hábitos de sono de um modo geral, podemos afirmar que os pais concordam que a criança adormece sozinha, na sua própria cama, dormindo raramente fora da sua cama com os pais ou irmãos. Em média estas crianças deitam-se às 22horas, e dormem 9h por noite. Segundo Januário (2012) e Mendes e Colaboradores (2012) dormem menos do que deveriam nesta faixa etária (10 a 11horas) no entanto, segundo Marcelli (2005) dormem o número de horas adequado. Relativamente a problemas de sono, apenas 12% destas crianças são indicadas pelos pais como tendo algum problema – contrariamente aos 20% indicados pelos autores contemplados na bibliografia (Mindell, 1993; Davis, Parker & Montgomery, 2004; Adair e Bauchner, 1993; Owens, 1999; Owens, 2005; Owens, 2003) existindo ainda assim consenso quanto à opinião entre pais sobre a existência de problemas de sono. No entanto, 22% das crianças auto percepcionam ter algum tipo de problema de sono, o que se revela consistente com a indicação bibliográfica mas sem correspondência com o que é dito pelos pais (Mindell, 1993; Davis, Parker & Montgomery, 2004; Adair e Bauchner, 1993; Owens, 1999; Owens, 2005; Owens, 2003).

No adormecimento, os pais referem que as crianças não procuram suporte para adormecer, porém, as crianças referem na grande maioria o contrário, quer no adormecimento primário, quer no adormecimento pós despertar nocturno quer como estratégia parental ideal na óptica da criança – a procura de suporte é sempre a primeira estratégia apontada, seja a procura suporte de ir para a cama dos pais, seja o suporte de ter os pais a fazer companhia ou a dar carinho, ou mesmo a utilização de um objecto securizante – que também é apontada como inexistente pelos pais. Ainda assim, relativamente aos despertares nocturnos, pais indicam que os filhos conseguem adormecer sozinhos, o que é coincidente com o relatado pela maioria das crianças.

Ainda no campo do adormecimento, pais e crianças concordam quanto ao facto de a criança adormecer sozinha na sua cama e raramente ir para a cama dos pais,

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embora muitas crianças na avaliação de vinhetas tenham indicado o “ir para a cama dos pais” como uma boa estratégia em caso de dificuldade de adormecimento.

Tal como indicado no estudo que antecedeu o que agora se apresenta, as mães tendem a reportar mais problemas de sono (escala Parassónias) (Januário, 2012). Estes valores talvez se devam ao facto de as mães terem um envolvimento mais activo com os filhos na hora de deitar e nos despertares nocturnos, talvez isso as deixe mais conscientes. Também se poderá colocar a questão de as mães serem mais sensíveis a este tipo de questão, no entanto consideramos que seria bastante interessante aprofundar melhor estas diferenças. Dodd e colaboradores (2012), referiram o maior envolvimento materno na hora de deitar e a sua percepção mais apurada dos problemas dos filhos. Este autor refere ainda a interferência das crenças da mãe no sono dos seus filhos e a plausibilidade do contrário também existir, pois caso o filho tenha um determinado problema a mãe estará mais inteirada do que isso implica e significa na vida da sua família.

As crianças referem que a sua principal estratégia é a procura de suporte, seja porque utilizam um objecto securizante, porque chamam alguém ou vão para outra cama, mas das 45 crianças analisadas, 30 referem como sua principal estratégia a procura de suporte. A distracção como ler, ver televisão ou brincar. Também são estratégias muito utilizadas pelo que mais uma vez a opinião é contrária à dos pais. As crianças referem ainda a centração em pensamentos positivos como ajuda no adormecimento. As estratégias indicadas pelas crianças neste estudo são idênticas às referidas por Januário (2012). Crianças referem a desaprovação da vinheta “Ver televisão” devido à perda de tempo de sono que esta poderá causar, sendo que o mesmo foi referido por Owens (1999) no seu estudo em que investigou o impacto do uso da televisão como estratégia de adormecimento.

Apenas se encontrou concordância entre mães e filhos quanto a se este dormia na sua cama sozinho, se tinha medo do dormir no escuro ou sozinho, e também sobre a dificuldade em acordar de manhã. Os pais apenas concordam com os filhos no facto de a criança ter medo de dormir sozinha. Este resultado é contrário ao estudo de Januário (2012) que indicaram existir maior concordância entre pai e criança do que mãe e criança. O nosso resultado poderá mais uma vez se explicado pelo maior envolvimento

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materno em situações de dificuldades do adormecimento ou problemas relacionados com o sono.

As crianças inquiridas parecem ter alguma noção da evolução do sono, discriminando determinadas estratégias para determinadas idades, como por exemplo, na opinião de algumas crianças, ir para a cama dos pais só deverá ser feito se a criança for pequenina assim como um objecto securizante é mais adequado para bebés, reconhecendo assim a importância das estratégias mas relacionando-as com diferentes etapas do ciclo de vida.

Os resultados sugerem também que determinadas práticas parentais e a sua influência nas crianças, pois, por exemplo, quando os pais são mais permissivos (crianças referem que “se os pais deixarem não vejo problema”) as crianças consideram que partilhar a cama com eles é bom, no entanto, caso os pais desaprovem as crianças referem também a sua desaprovação por esta estratégia. Ainda assim, tal como referido acima, seria importante estudar mais profundamente as crenças dos pais e relacionar depois com as suas crianças, a fim de obter resultados mais fiéis daquilo que acontece dentro de cada família específica.

Tikotzky e Shaashua (2011) referiram a importância das práticas e crenças parentais, e neste estudo, embora em pequena escala, e de forma não comprovada estatisticamente, algumas crianças com carência económica, problemas familiares ou diferentes etnias, pareceram referenciar menos o uso de estratégias adaptativas, isto é, estratégias promotoras do bem-estar e do correcto desenvolvimento da criança.

A este respeito Hamilton (2009) refere os pais como os melhores informadores, no entanto, este estudo revela desconhecimento por parte dos pais. Na realidade as famílias enfrentam alterações do seu paradigma, alterações de estatuto social, alterações no mercado laboral, e todos esses factores conjugados propiciam que haja menos contacto familiar e menos capacidade de comunicação.

Também Coloumbe (2010), falou sobre a intervenção parental no despertar nocturno e referenciou que quanto mais intervenções existissem mais despertares nocturnos iriam existir também. Cortina –Borja e Morrel (2002) procuraram as melhores estratégias para ajudar as crianças a adormecer, e concluíram que os pais deveriam dar primazia ao conforto verbal e social mas conseguir balancear estratégias e

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dar conforto físico no momento certo. A maioria das nossas crianças indicou o conforto/carinho como uma das principais estratégias a aconselhar aos pais e como uma das com melhores resultados.

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