• Nenhum resultado encontrado

A coordenação entre as políticas fiscal e monetária é de extrema importância para o alcance dos objetivos macroeconômicos de um país. Já em 1981, os autores Sargent e Wallace iniciaram os debates sobre as dominâncias e coordenação entre tais políticas definindo que na dominância monetária a autoridade monetária determina o resultado primário que deve ser entregue pela autoridade fiscal, cabendo à política fiscal se ajustar a fim de equilibrar o orçamento do governo, buscando um superávit que mantenha constante a relação dívida/PIB e que na dominância fiscal, a autoridade fiscal define sua política sem considerar o orçamento proposto, equilibrando possíveis déficits e superávits via emissão de títulos públicos, onde a autoridade monetária se torna passiva, agindo de acordo com a necessidade de garantir a solvência do governo e de ajustar o balanço orçamentário.

Dentro desses conceitos desenvolvidos por Sargent e Wallace, Blanchard escreveu um artigo sobre o cenário pré eleitoral da economia brasileira em 2002, onde a crescente probabilidade da eleição de Lula fez com que o Risco Brasil disparasse, provocando um parada repentina dos fluxos de capitais, levando a depreciação cambial e consequentemente elevando a inflação. Como resposta, o Banco Central aumenta a taxa de juros a fim de reter capitais e diminuir a inflação, porém segundo Blanchard, essa não deveria ser a medida tomada uma vez que tal aumento iria piorar a trajetória da dívida pública, ampliar a percepção de default e afastar ainda mais o fluxo de capitais. O cenário retratado por Blanchard caracterizaria assim o regime de dominância fiscal, já que a autoridade monetária tem sua ação restringida pelos fatores fiscais.

Também houve outro período em a atuação da política fiscal aparentou se sobrepor a atuação monetária. Em 2014, 2015 e 2016, o país apresentou déficits primários consecutivos demonstrando que a autoridade fiscal não esteve comprometida com o orçamento proposto. Com destaque para 2015, o déficit primário levou a desconfiança dos agentes, induzindo depreciação cambial e refletindo em inflação elevada para o período. Como medida, tanto para conter a trajetória da dívida como para a inflação, além de aumentar a taxa de juros, o governo incluiu uma medida de emenda diretamente na constituição a fim controlar os gastos públicos. Segundo Relatórios da Inflação do Banco Central, a recuperação da confiança para a trajetória fiscal futura foi essencial para diminuir a inflação no ano seguinte. Dessa forma, foi feito o uso

da política fiscal para o alcance de objetivos que seriam da política monetária caracterizando um possível regime de dominância fiscal.

Para investigar se realmente houve dominância fiscal no Brasil, além de analisar o cenário macroeconômico de ambos os períodos, o trabalho realizou um teste econométrico a fim de estabelecer a influências das variáveis macroeconômicas (EMBI, resultado primário, taxa de câmbio real e Selic) sobre a inflação (IPCA). Apurando os resultados do trabalho e considerando suas limitações, é razoável concluir que a apesar da determinação da inflação brasileira ser influenciada por constrangimentos de ordem fiscal, os fatores monetários ainda apresentam influência dominante. Dessa forma, a hipótese de que a dominância fiscal prevaleceu sobre a monetária durante alguns períodos, mais especificadamente em 2002 e em 2015 não pode ser tomada como verdadeira, uma vez que a política monetária ainda tem seu principal instrumento, a taxa de juros, como principal aliado para influenciar a inflação.

Não obstante, os aspectos fiscais do país ainda exercem considerável impacto sobre a inflação e devem ser guiados com responsabilidade para que se possa continuar em um cenário de dominância monetária. Também é válido destacar que o estudo da coordenação entre a política fiscal e monetária deve continuar a ser feito, já que ambas interagem diretamente e o desajuste é capaz de gerar efeitos desastroso no cenário macroeconômico, principalmente sobre a inflação e a trajetória da dívida como no caso brasileiro.

Ademais, como continuação do trabalho seria interessante estimar a relação de curto prazo entre as variáveis, as funções impulso de cada variável além de realizar uma comparação direta entre os coeficientes estruturais encontrados para se chegar a resultados mais precisos.

REFERÊNCIAS

ARIDA, P.; BACHA E.L.; RESENDE, A.L. Credit, Interest, and Jurisdictional Uncertainty: Conjectures on the Case of Brazil. Londres: Massachussetts Institute of Technology. MIT, 2005

BLANCHARD, Olivier. Fiscal Dominance and Inflation Targeting: Lessons from Brazil. 2004. Disponível em: < http://www.nber.org/papers/w10389> . Acesso em 28/05/2019.

_____________. Macroeconomia. (5ª edição). São Paulo: Pearson, 2011.

BRASIL. Ministério da Economia. Banco Central do Brasil. Dívida Líquida do Setor Público (% PIB) - Total - Banco Central. 2007. Disponível em: < https://dadosabertos.bcb.gov.br/dataset/4505-divida-liquida-do-setor-publico--pib---total--- banco-central>. Acesso em 04/06/2019.

______________. Carta aberta ao Ministro da Fazenda - Banco Central. 2016. Disponível em: < https://www.bcb.gov.br/htms/relinf/carta2016.pdf>. Acesso em 22/10/2019.

______________. Carta aberta ao Ministro da Fazenda - Banco Central. 2002. Disponível em: < https://www.bcb.gov.br/htms/relinf/carta2002.pdf>. Acesso em 22/10/2019.

______________. Relatório da administração 2002 - Banco Central. 2003. Disponível em: <

https://www.bcb.gov.br/htms/reladmbc2002/RelatorioAdmBC2002.pdf>. Acesso em

22/09/2019.

______________. Relatório de Inflação – Dezembro de 2002 - Banco Central. 2015. Disponível em: < https://www.bcb.gov.br/publicacoes/ri/200212>. Acesso em 02/11/2019. ______________. Relatório de Inflação – Março de 2003 - Banco Central. 2016. Disponível em: < https://www.bcb.gov.br/publicacoes/ri/200303>. Acesso em 02/11/2019.

______________. Relatório de Inflação – Dezembro de 2015 - Banco Central. 2015. Disponível em: < https://www.bcb.gov.br/publicacoes/ri/201512>. Acesso em 02/11/2019. ______________. Relatório de Inflação – Março de 2016 - Banco Central. 2016. Disponível em: < https://www.bcb.gov.br/publicacoes/ri/201603>. Acesso em 02/11/2019.

BRASIL. Ministério da Economia. Secretária do Tesouro Nacional. O que é dívida pública federal. Disponível em: <http://www.tesouro.fazenda.gov.br/o-que-e-a-divida-publica- federal->. Acesso em 04/06/2019.

______________. Política Fiscal. Disponível em:

<http://www.tesouro.fazenda.gov.br/pt/sobre-politica-fiscal>. Acesso em 04/06/2019.

BUENO, R. L. S. Econometria de séries temporais. (2ª edição). São Paulo: Cengage Learning, 2011

CARVALHO, Fernando J. C. et al. Economia Monetária e Financeira: Teoria e Política. (2ª edição). Rio de Janeiro: Campus, 2012.

ENDERS, W. Applied econometric time series. (Second edition). New York: Wiley, 2004 FAVERO, C.A.; GIAVASSI, F.Inflation targeting and debt: Lessons from Brazil. Londres: Massachussetts Institute of Technology. MIT, 2005

GIAVAZZI, F; GOLDFAJN, I.; HERRERA, S. Overview: Lessons from Brazil. Londres: Massachussetts Institute of Technology. MIT, 2005

LEEPER, E. M. Equilibria under ‘active’ and ‘passive’ monetary and fiscal policies. Londres: Journal of monetary economics, v. 27.

MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de Metodologia Científica. 5. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2003.

MISHKIN, Frederic S. Inflation targeting in emerging-market countries. American Economic Review, v. 90, n. 2, 2000.

NÓBREGA, W. C. L.; MAIA, S. F.; BESARRIA, C. Da N. Interação entre a política fiscal e monetária: uma análise sobre o regime de dominância vigente na economia brasileira. In: Encontro Nacional de Economia, XLIV, Foz do Iguaçu, 2016. Anais de Economia. Foz do

Iguaçu: ANPEC, 2016, p. 1-21. Disponível em: <

https://www.anpec.org.br/encontro/2016/submissao/files_I/i4- f0fe1ee90bb73e0418ddb970f6a09292.pdf >.

PASTORE, A. C.; PINOTTI, M. C. Fiscal Policy, Inflation, and the Balance of Payments in Brazil. Londres: Massachussetts Institute of Technology. MIT, 2005.

PASTORE, A.C.; GAZZANO, M.; PINOTTI, M.C.P. Inflação e crises: o papel da moeda. (1ª edição). Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.

PFAFF, B. Analysis of Integrated and Cointegrated Time Series with R. (Second edition).New York: Springer, 2008

ROCHA, F.; SILVA, E. (2004). Teoria Fiscal do Nível de Preços: um Teste para a Economia Brasileira no Período 1966-2000. IPEA. Pesquisa e Planejamento Econômico, v.34, n.3, 419- 436, 2004.

SARGENT, T. J.; WALLACE, N. Some Unpleasant Monetarist Arithmetic. Federal Reserve Bank of Minneapolis Quarterly Review, v. 5, n. 3, p. 1–17, 1981. ISSN 02715287. Disponível em: <https://www.minneapolisfed.org/research/qr/qr531.pdf>.

TAYLOR, J. B. Discretion versus policy rules in practice. Carnegie-Rochester Conference Series on Public Policy, Stanford, 1993. p. 195-214. Disponível em: < https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/016722319390009L?via%3Dihub >. Acesso em 20/05/2019.

WOODFORD, Michael. Interest and Prices: Foundations of a Theory of Monetary Policy. Princeton, NJ: Princeton University Press, 2003.

Documentos relacionados