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Mapa 6. Mapa de geológico da região de Taió, SC

7. CONCLUSÃO

A evolução da legislação mineral brasileira, através de todas as regulamentações levantadas até aqui, refletem diretamente o contexto social e econômico da sua época de vigência, sempre levando em consideração a indústria extrativa mineral como parte integrante do processo de desenvolvimento social.

O alto número de alterações ocorridas não reflete necessariamente ineditismo regulatório. Pode-se dizer que as Leis Pandiá Calógeras e Simões Lopes, bases referenciais para o volumoso histórico de regulamentos minerais brasileiros, já previam em certo grau de equivalência com as normativas atuais. A exigência de relatórios de pesquisa, planos de aproveitamento econômico, o pagamento de taxas para o direito a exploração, a previsão de possibilidade de perda dos direitos minerais por ingerências ambientais e a aplicação direta de bens minerais na construção civil pela coisa pública estavam todos contemplados já em 1921.

É notável que do final dos anos 90 em diante, o Executivo Federal mudou sua forma de legislar sobre a pauta mineral, adotando uma postura de evitar o desenvolvimento de políticas públicas participativas, seja submetendo projetos ao próprio Congresso ou na consulta direta a base de profissionais e técnicos da área. Uma vez que a atividade é mineradora é intrinsecamente atrelada aos regimes de concessões e licenciamentos, o abuso do poder administrativo se dá pela edição de decretos, resoluções, portarias e normas técnicas que em tudo se caracterizam com o mérito e função de texto-lei, mas ao serem de competência exclusiva das entidades reguladoras federais, não participam pelo mesmo processo de discussão e formulação participativa que os projetos de lei possibilitam. O maior exemplo disto foi a ausência de esforços significativos por parte do Poder Executivo para a conversão da MP n° 790/2017 em texto lei, utilizando como alternativa, respaldado por princípios administrativos e constitucionais, a criação do Decreto n° 9.406/2018 que regulamenta o Código de Mineração, implementando assim elementos componentes da MP n° 790/2017 sem a necessidade de discussão com outros atores diretamente impactados.

A criação da Agência se pressupôs em um ambiente normatizado em equilíbrio com preceitos técnicos segundo as melhores práticas da indústria da mineração, porém parte principal da proposição de formulação da Agência, presente na MP n° 791/2017 nos termos do § 1° do art. 8° e suprimida pelo Congresso na conversão da matéria na Lei n° 13.575/2017, foi justamente a exigência de requisitos técnicos para o preenchimento de cargo de Diretor-Geral e/ou membro da Diretoria Colegiada, quando com a lei vigente tanto o Diretor-Geral quanto os membros da Diretoria Colegiada parte de indicação política por parte do Presidente e sancionada pelo Senado. Em relação ao grau de autonomia que as entidades reguladoras compartilhavam, ambas foram alçadas ao status de autarquia (o DNPM desde

1994, como apresentado anteriormente), e assim sendo, a autonomia administrativa, financeira e de gestão patrimonial da ANM não apresenta ineditismo. Duas questões ainda a se conferir são: I - a atuação da Agência no fomento a concorrência entre agentes econômicos, competência não prevista na sua entidade predecessora; e II – o acompanhamento da funcionalidade efetiva de processos digitais na celeridade do tramite regulatório.

Pode-se concluir que as mudanças na legislação competente a CFEM foram benéficas nos sentidos de melhora no processo de arrecadação, uma vez que a incidência passou de valores do faturamento líquido para a receita bruta de venda, agilizando a cobrança e inibindo, em certo grau, sonegações. A redistribuição, entre os agentes envolvidos, de valores arrecadados também foi positiva, uma vez que municípios afetados indiretamente pela atividade de exploração mineral passaram a ser contemplados. Duas omissões identificadas a serem corrigidas na legislação vigente são: I – a falta de transparência por parte dos Estados e Municípios na divulgação de aplicação dos recursos já obtidos; e II - a falta de critérios para aplicação dos valores arrecadados pela CFEM por parte dos Municípios e Estados, uma vez que a utilização destes recursos é matéria de competência arbitrária dos poderes executivos (tanto estaduais quanto municipais), e um dos objetivos da CFEM é o investimento em infraestrutura para o desenvolvimento da mineração.

Resguardada a observação da limitação da representatividade estatística dos dados obtidos, uma vez que o número de empresas entrevistadas limitou-se a três, conclui-se que dentro do universo pesquisado a percepção das mudanças ocorridas nos últimos dois anos na legislação mineral é restrita, portanto, pelo menos até o momento pouco surtiram efeito em atividades de extração processualmente já consolidadas. A falta de conhecimento relativa a possibilidade de leilões eletrônicos como critério definidor para o requerimento de áreas desoneradas é justificada, uma vez que não existe até o presente momento resolução específica sobre o assunto.

Quanto às contribuições que legislações minerais estrangeiras podem dar a discussão de futuras reformulações legislativas nacionais, é de se considerar como fonte de inspiração o caráter social atribuído as legislações sul-africanas e australianas; a possibilidade de descentralização e autonomia normativa por parte dos Estados, que mesmo com legislações discordantes em nível nacional nada prejudica o investimento interno e externo na mineração canadense; e por fim a simplificação regulatória americana no caso de compra e venda de direitos minerais.

Como último ponto, mais a título de curiosidade, fica a correção de um senso popular errôneo de que a União é proprietária do subsolo, quando na verdade, através de análise textual da CF de 1988, pode-se afirmar que a separação jurídica de propriedade (dualidade imobiliária) não ocorre entre solo e subsolo, como no caso da legislação americana, e sim entre o solo e as jazidas, nos termos previstos do art. 176 da CF de 1988.

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