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Conclusão: representação, sentido e linguagem reconsiderados

No documento Cap 1 - Representation - Stuart Hall (páginas 58-62)

5 2 O sujeito da/na representação

6 Conclusão: representação, sentido e linguagem reconsiderados

Nós começamos com uma definição bem simples de representação.

Representação é o processo pelo qual membros de uma cultura usam linguagem (amplamente definida como qualquer sistema que emprega signos, qualquer sistema significante) para produzir sentido. Já aqui, essa definição carrega a importante premissa de que coisas – objetos, pessoas, eventos, no mundo – não possuem, neles mesmos, nenhum sentido fixo, final ou verdadeiro. Somos nós – na sociedade, dentro das culturas humanas – que fazemos as coisas terem sentido, que damos significado. Sentidos, consequentemente, sempre mudarão, de uma cultura ou período ao outro. Não há garantia alguma de que todo objeto em uma cultura terá sentido equivalente em outra, precisamente porque culturas diferem, às vezes radicalmente, umas das outras em seus códigos – a forma com que elas retalham, classificam e atribuem sentido ao mundo. Então uma ideia importante sobre representação é a aceitação de um grau de relativismo cultural entre uma e outra cultura, uma certa falta de equivalência, e, então, a necessidade da tradução quando nos movemos de um universo mental ou conceitual de uma cultura para outro.

Nós chamamos isso de abordagem construcionista para a representação, contrastando-a com ambas as abordagens reflexiva e intencional. Agora, se cultura é um processo, uma prática, como ela funciona? Na perspectiva construcionista, a representação envolve fazer sentido ao forjar ligações entre três diferentes ordens de coisas: o que nós devemos amplamente chamar de mundo das coisas, pessoas, eventos e experiências; o mundo conceitual – os conceitos mentais que carregamos em nossas cabeças; e os signos, arranjados nas linguagens, que ‘respondem por’ ou comunicam esses conceitos. Agora, se você tiver que fazer uma ligação entre sistemas que não são os mesmos, e fixá- los pelo menos por um tempo para que outras pessoas saibam o que, em um sistema, corresponde a quê, em outro sistema, então deve haver alguma coisa que nos permita traduzir entre eles – nos dizendo qual palavra usar para qual conceito, e assim por diante. Portanto, a noção dos códigos.

Produzir sentido depende da prática da interpretação, e a interpretação é sustentada por nós ativamente usando o código – codificando, colocando coisas

no código – e pela pessoa do outro lado interpretando ou decodificando o sentido (Hall, 1980). Mas note que, porque os sentidos estão sempre mudando e deslizando, os códigos operam mais como convenções sociais do que como leis fixas ou regras inquebráveis. Como os sentidos mudam e transitam, então inevitavelmente os códigos de uma cultura mudam, imperceptivelmente. A grande vantagem dos conceitos e classificações da cultura que carregamos por aí conosco, em nossas cabeças, é que eles nos habilitam a pensar sobre coisas, estando elas presentes, ali, ou não; de fato, tendo elas sequer existido, ou não. Existem conceitos para nossas fantasias, desejos e imaginações, tanto quanto para os tão chamados ‘reais’ objetos no mundo material. E a vantagem da linguagem é que nossos pensamentos sobre o mundo não precisam permanecer exclusivos a nós, e silenciosos. Nós podemos traduzi-los na linguagem, fazê-los ‘falar’, através do uso de signos que respondem por eles – e então nós falamos, escrevemos, comunicamos a respeito deles para outros.

Gradualmente, então, nós complexificamos o que nós entendíamos por representação. Ela veio a ser menos e menos aquela coisa simples que

assumimos ser primeiramente – o que é o porquê de precisarmos de teorias para explicá-la. Nós olhamos para duas versões do construcionismo – aquela que se concentrou em como linguagem e significação (o uso de signos na linguagem) funciona para produzir sentidos, o que depois de Saussure e Barthes nós chamamos de semiótica; e aquela, seguindo Foucault, que se concentrou em como discurso e práticas discursivas produzem conhecimento. Eu não vou passar pelos pontos mais detalhados dessas duas abordagens de novo, uma vez que você pode voltar a elas no corpo principal do capítulo e refrescar sua memória. Na semiótica, você vai recordar a importância do significante/significado, langue/parole e ‘mito’, e como a demarcação da diferença e as oposições

binárias são cruciais para o sentido. Na abordagem discursiva, você vai recordar formações discursivas, poder/conhecimento, a ideia de um ‘regime da verdade’, a forma com que o discurso também produz sujeitos e define as posições de sujeito, de onde conhecimento procede e, enfim, o retorno das questões sobre ‘o sujeito’ ao campo da representação. Em diversos exemplos, nós tentamos fazer você trabalhar com essas teorias e aplicá-las. Haverá mais debate sobre elas nos capítulos subseqüentes.

Note que o capítulo não argumenta que a abordagem discursiva derrubou tudo na abordagem semiótica. Desenvolvimento teórico não prossegue,

normalmente, dessa forma linear. Havia muito mais para aprender de Saussure e Barthes, e nós ainda estamos descobrindo modos de aplicar suas percepções frutiferamente – sem necessariamente engolir tudo que eles disseram. Nós oferecemos a você alguns pensamentos críticos sobre o assunto. Há muito que

aprender de Foucault e a abordagem discursiva, mas de forma alguma tudo o que ela reivindica é correto e a teoria está aberta a, e tem atraído, muitas críticas. De novo, em capítulos posteriores, à medida que encontrarmos mais desenvolvimentos na teoria da representação, e ver as forças e fraquezas dessas posições aplicadas na prática, nós viremos apreciar mais completamente que estamos apenas no começo da excitante tarefa de explorar esse processo da construção do sentido, que está no coração da cultura, em suas profundezas. O que nós oferecemos aqui é, esperamos nós, uma consideração relativamente clara, embora experimental, de um conjunto de ideias complexas de um projeto não acabado.

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* As Leituras A, B, C, D e F encontram-se nas páginas 55 a 74 do livro Representation - Cultural Representation and Signifying Practices.

No documento Cap 1 - Representation - Stuart Hall (páginas 58-62)

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