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Apesar do crescimento da indústria da celulose no Brasil, poucos estudos foram dedicados a entender os modelos adotados para suprimento de madeira e o relacionamento desses com a teoria dos custos de transação. A relevância do estudo ocorre ainda pelas limitações de opções das empresas do setor, acarretadas pela: (a) dificuldade em aliar disponibilidade e baixo custo na aquisição da terra; (b) necessidade da fábrica estar próxima das florestas produtoras de madeira (custo de transporte), (c) próxima de rios ou lagos com oferta abundante de água (utilizado para resfriamento das caldeiras de produção), e, (d) próxima ao litoral ou servida de modais de baixo custo para direcionar a celulose para portos.

Para responder as questões de pesquisa, essa dissertação teve como objetivo avaliar se: (a) tipos de relacionamento em direção à integração vertical denotam em maior ∆ produtividade das fazendas (m3 por hectare), e, (b) se pressupostos da teoria dos custos de transação foram empregados para definir os tipos de relacionamento adotados pela empresa-alvo. Para realizar este estudo, foram utilizados dados de 2013 das fazendas que atendem a um dos principais players do segmento. A regressão linear múltipla via modelo de equações simultâneas foi à ferramenta estatística escolhida para responder as hipóteses do trabalho.

Os resultados da amostra estudada corroboram de forma moderada a hipótese 1, evidenciada através da superior produtividade em fazendas com maior integração vertical, e, também moderadamente em H2, na qual, a influência da teoria dos custos de transação pode ser parcialmente inferida na escolha dos tipos de relacionamento face às características das fazendas. Para tanto, os resultados apontam para terceirização quanto maior à distância em relação à fábrica e para fazendas com maior irregularidade no relevo, ambos podendo ser explicados pelos maiores custos em gestão e controle - aspectos que ratificam os conceitos expostos por Williamson (1991a), em que, a partir dos resultados encontrados, a empresa- alvo procura reduzir os custos de monitoramento e execução.

Tal inferência também está em linha com Besanko (2006), na qual, afirma que (a) a especificidade de localização é um direcionador para escolha de ativos (minimização dos custos de transporte). Ademais, ressaltam a conexão entre os estudos academicos dos autores acima aos resultados da dissertação: (b) relacionamento positivo compreendendo distância dos ativos (proximidade das fazendas em relação à fábrica) com eficiência na gestão/controle, e, (c) especificidade de ativos associada a maior produtividade (fazendas com características que possibilitam maior produção de madeira relacionada à redução de custos – abertura de estradas, colheita e transporte).

Entretanto, não foi observado efeito nas variáveis “preço da terra“ e “área total” com integração vertical. Isso contraria a suposição pela procura ou manutenção de terras mais produtivas (preço mais elevado) e por fazendas com elevada extensão territorial para obtenção de ganhos de escala nos processos que envolvem o ciclo da madeira (maior utilização dos ativos para rateio dos custos nas atividades que compreendem o ciclo da madeira).

Outro fato relevente, refere-se às diferenças dos resultados entre as unidades Jacareí e Três Lagoas. Como possíveis justificativas há uma dispersão maior entre as fazendas que atendem a unidade Jacareí, provavelmente pela pressão no custo da terra proveniente da expansão de cidades próximas desde a inauguração da fábrica na década de 80. Adicionalmente, destaca-se a maior uniformidade das características de relevo e solo na unidade Três Lagoas, podendo ser traduzido em menores diferenças nos resultados estatísticos entre os tipos de relacionamentos utilizados pela empresa-alvo.

O trabalho procurou evoluir na identificação do balanço mais efetivo entre integração vertical e terceirização para alavancar benefícios e reduzir custos, na qual, os resultados apresentaram ganhos em modalidades mais integradas verticalmente, porém, não é possível desconsiderar tipos de relacionamentos próximos da plena terceirização devido a potenciais benefícios na negociação (compra da madeira a um valor abaixo do mercado).

Em paralelo, foi verificada a existência das formas plurais na empresa-alvo, porém, não foi possível elucidar se a escolha teve foco na melhoria da eficiência / incentivo para competição entre as modalidades (Mols, 2000; Heide, 2003), ou, originou-se pela oportunidade no estabelecimento de contratos para suprimento de madeira sem a necessidade da compra de terras.

Como limitações da pesquisa, apesar da utilização do banco de dados da empresa-alvo (dados primários), o estudo analisa uma empresa de um setor específico - a indústria de celulose. Por conseguinte, os resultados podem ser distintos se aplicados em concorrentes ou em segmentos correlatos. As demais limitações foram: (a) banco de dados utilizado não consta o ano de entrada das fazendas, na qual, seria uma importante variável para analise do ∆ produtividade, (b) disponibilidade dos dados em anos anteriores para efeito de comparação dos resultados, (c) ausência de dados para analisar impactos de efeitos exógenos em ∆ produtividade (ex: excesso ou falta de chuvas, ocorrências de incêndios, má qualidade nas atividades que compõem a formação da floresta, entre outros).

Na análise econométrica, para explicar H2 não foi possível empregar função probit com varíaveis categóricas com mais de dois níveis em "Integração Vertical" (transformando-a em seis varíaveis dummy), devido impossibilidade em utilizar a mesma métrica na regressão que visou responder H1 (necessário para utilizar mínimos quadrados ponderados em três estágios).

Para pesquisas futuras, sugere-se o complemento desse estudo mediante a obtenção dos dados expostos nas limitações e a aplicação do mesmo em outras empresas do setor, em virtude da crescente relevância da maximização no uso da terra como vetor para a competitividade da indústria da celulose.

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