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3. A INDÚSTRIA DE CELULOSE

3.1. Modelos Adotados para Suprimento de Madeira

Um dos principais aspectos para o desenvolvimento das indústrias produtoras de celulose está no suprimento da principal matéria-prima (madeira), tendo como referência os significativos investimentos em expansões das empresas estabelecidas e novos entrantes.

Assim, para responder ao objetivo 1 e elevar o entendimento dos modelos de suprimento de madeira utilizado pelas organizações fabricantes de celulose, foram analisados os formatos adotados pela empresa-alvo. Para melhor compreensão, a figura 05 relaciona às fronteiras verticais aos tipos de relacionamento utilizados pela empresa-alvo, com os respectivos detalhamentos descritos na seqüência:

Figura 05 – Tipos de Relacionamento e Fronteiras Verticais I

Fonte: Elaborado pelo Autor

Terra Própria: Modelo predominante, em que pertence ao principal (fabricante de celulose) a propriedade da terra e o direito a madeira produzida, no qual, insumos, processo de silvicultura (planejamento de plantio, limpeza da área, preparação do solo, plantio e manutenção), aplicação de melhores práticas, mão de obra (própria ou terceirizada) e gestão são de responsabilidade da organização que beneficiará a madeira em celulose.

Arrendamento Próprio: O arrendamento rural é o contrato agrário pelo qual proprietários rurais alugam suas terras por um período determinado, normalmente sete anos, recebendo um pagamento anual pelo uso delas, na qual, o preço varia

conforme o tipo da terra (roxa, arenosa, mista, entre outras), classe (terra com alto ou baixo grau de mecanização - plantio e colheita) e distância da unidade fabril. Isso pode ocorrer por diversos ciclos mediante a renovação contratual, na qual, a principal característica do modelo baseia-se no pagamento líquido e certo ao arrendador - independente da produção - e com a cobertura de todos os riscos por parte do arrendatário.

Excetuando a propriedade da terra, todas as demais características são idênticas ao modelo de “Terra Própria”. Para o arrendador, além da redução do risco financeiro através da geração de renda fixa anual, após o término do contrato ele pode se beneficiar com o cultivo e venda da madeira de rebrota (após a colheita, a terra naturalmente tem uma nova brota de madeira).

Arrendamento – Investidores: Nesse modelo, a arrendatária (empresa de celulose) repassa o uso da terra a terceiros (normalmente grupos de investidores florestais) que assume a produção de madeira. Nesse formato, a propriedade da madeira e as demais etapas/custos (processo de silvicultura, mão de obra e recursos financeiros) são de encargo desses terceiros. O contrato entre a empresa de celulose e grupos de investidores prevê a obrigatoriedade de compra da produção a preços fixados no ato do acordo.

Parceria: A parceria rural é a modalidade contratual em que o proprietário firma acordo com a empresa de celulose por longos períodos (entre vinte e trinta anos), podendo compartilhar os benefícios (venda da madeira), porém, ficando com os principais riscos (incêndios, perda de produção em decorrência de pragas, baixa produtividade, entre outros).

Os eventuais investimentos efetuados pela fabricante de celulose (terraplanagem e limpeza/preparo do solo) são ressarcidos no momento da colheita através de parte da produção de madeira (tal negociação normalmente é efetuada antes da assinatura do contrato), e, há acordo entre as partes para compra da produção (normalmente 50%). Entretanto, nesse tipo de relacionamento, os

contratos definem a venda do volume remanescente ao mercado somente após anuência da empresa de celulose.

Parceria – Investidores: A partir da segunda metade da década passada, as empresas de celulose iniciaram um movimento de venda das terras para grupos de investidores com foco em captar recursos para expansões ou para a redução de dívidas. Entretanto, para não perder acesso a principal matéria-prima, realizaram contratos de compra da madeira (média de 50% da produção) junto a esses grupos por um longo período (entre vinte a trinta anos), em que, há obrigatoriedade da venda da produção de madeira (parcial ou total) com preços previamente acordados.

As diferenças em relação ao modelo tradicional de “Parceria” residem na garantia aos investidores, na qual, há um preço mínimo por metro cúbico de madeira caso a produção seja abaixo do piso acordado. Nessa modalidade, o investidor fica livre para vender eventual volume suplementar sem a necessidade da prévia liberação pela empressa de celulose – exceto se o contrato determinar a aquisição de toda a produção.

Fomento: No fomento florestal, as características são similares à parceria, tendo como principais diferenças, um formato voltado ao pequeno produtor (fazendas com dois a cem hectares), em que, além do financiamento via fornecimento dos principais insumos e processos de silvicultura, há o aspecto social para auxiliar a fixação dos agricultores na terra através da transferência de melhores práticas de plantio e sustentabilidade, além de promover a recuperação da vegetação e o estabelecimento de outros tipos de cultivos. Os contratos normalmente tem prazo de um ciclo (sete anos) com preço mínimo estabelecido se a produção for abaixo do acordado, na qual, há possibilidade de renovação para um novo período.

Um fator relevante na comparação dos tipos de relacionamentos ocorre na delegação das atividades de silvicultura (exceto terra própria e arrendamento), oriundo dos potenciais riscos em danos à imagem decorrentes de: (a) contratações em desacordo com a lei, (b) incêndios que reduzam o total de madeira previsto para

colheita e (c) má qualidade da madeira originada por problemas no plantio e manutenção da floresta durante fase de crescimento e maturação. Para melhor entendimento, abaixo tabela 01 com características que apoiam a definição das modalidades conforme grau de integração vertical:

Tabela 01 – Tipos de Relacionamento e Fronteiras Verticais II

Fonte: Elaborado pelo autor

De acordo com Soares (2006), os tipos de relacionamento ligados à parceria e fomento são estratégias utilizadas pelas empresas de celulose e outras do segmento de produção de madeira para garantir o suprimento de matéria-prima, e, a redução da imobilização de recursos em terras e capital. Assim, tais tipos de relacionamento são importantes para o setor, além de estar contribuindo para o desenvolvimento local (VALVERDE, 2003). Ratificando parte do exposto anteriormente, nos contratos de parceria e fomento das empresas florestais, especificamente celulose e papel, são repassados aos produtores de mudas, fertilizantes, defensivos, recursos financeiros e assistência técnica (OLIVEIRA, 2003).

Os principais aspectos que contribuem para adesão a tais modelos consistem nos itens fornecidos pela empresa (insumos, financiamento e assistência técnica), retorno financeiro, baixo custo de mão de obra na atividade, recuperação de áreas degradadas e sustentabilidade do agronegócio florestal – alternativas de negócio viáveis economicamente e que demonstrem segurança no investimento (Silva et al, 2009). Quanto aos fatores negativos, projetos florestais caracterizam-se pelo elevado investimento inicial, longo tempo de maturação, retorno do investimento após a colheita da madeira, riscos de ocorrência de incêndios, ataques de pragas e doenças, variações nos preços, entre outros. Além disso, o produtor florestal efetua

decisões de investimento baseando-se no preço corrente do produto, pois o preço futuro é desconhecido (Soares et al, 2008). Silva et al (2009) destaca ainda a discordância do preço da madeira, a insatisfação quanto ao custo de transporte da madeira a indústria e o desacordo em relação ao sistema de medição da madeira colhida.

Adicionalmente, é possível identificar a ocorrência das formas plurais na indústria da celulose, visto abarcar estruturas híbridas para o suprimento de madeira, em formatos que pendem entre a completa integração vertical até a proximidade de operações baseadas no mercado.

Entretanto, de forma antagônica a literatura, as condições que motivaram a adoção das formas plurais não derivaram da assimetria de informação (MacMillan, 1990) ou seleção adversa (Levinthal, 1988), devido às empresas de celulose terem primeiramente estabelecido maciços florestais próprios com foco na minimização dos riscos de desabastecimento - provenientes da dependência de mercado e eventual baixa qualidade da madeira.

Sob ponto de vista dos tipos de relacionamentos em direção ao mercado, os potenciais riscos para as empresas de celulose originam-se nos danos à imagem por conta de contratações em desacordo com a lei, incêndios que reduzam o total de madeira previsto para colheita, má qualidade da madeira em decorrência de problemas no plantio e manutenção da floresta durante fase de crescimento/ maturação.

Outro aspecto relevante refere-se à ausência de problemas de incentivo e externalidades (horizontais e verticais) no uso deste ativo (Bai & Tao, 2000; Lafontaine & Raynaud, 2002) diferentemente do que ocorre no modelo de franquias. Tal situação é verificada mesmo com a existência de múltiplos agentes dispersos geograficamente, cujos rendimentos provêm da exploração coletiva de um mesmo ativo (madeira). Caso ocorressem, esses e outros problemas de risco moral poderiam ser atenuados por meio dos contratos de incentivo.

Será discutida na análise dos resultados, a avaliação das formas plurais com foco na melhoria da eficiência através dos custos de transação.

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