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O estudo da rabeca é algo que vem crescendo nas últimas décadas, mas, em vista da antiguidade do instrumento, é algo relativamente novo. A sua origem e a do violino se deve à miscigenação cultural ocorrida no período da ocupação ibérica pelos árabes. Os dois instrumentos surgiram da influencia que a cultura árabe incutiu na cultura daquela região. Para chegar a essa hipótese e entender um pouco de sua história, foi preciso estudar e comparar diversos trabalhos, que possibilitaram uma análise mais ampla do que é uma rabeca: não apenas um instrumento, mas uma identidade de quem o constrói.

As rabecas brasileiras se fazem presentes em quase todo o território do país, e em cada região, e por casa artesão, ela recebe uma característica diferente. Cada construtor imprime algo totalmente seu no modo de fazer rabecas, transformando um bloco de madeira num instrumento único. É um ponto importante para o desenvolvimento do trabalho: entender que a ausência de padrões encontrada nas rabecas é uma característica, e não uma falha. Não existe a preocupação de repetir um instrumento, utilizar um molde, um método que deixe todas as rabecas iguais, buscando um som poderoso e sofisticado. O pensamento é outro quando se faz uma rabeca.

Nas regiões em que são encontradas, as rabecas e os rabequeiros participam de manifestações populares importantes na cultura brasileira, como a folia de reis, o cavalo- marinho, o fandango caiçara e a marujada bragantina. São tradições transmitidas oralmente, assim como o aprendizado da rabeca. Não se encontra uma sistematização no ensino ou na construção do instrumento; por vezes, quem aprende o faz escondido, ouvindo e vendo os mais velhos. Em algumas leituras, pude perceber que a iniciativa de projetos sociais visando o ensino da rabeca se deu para suprir uma falta de rabequeiros jovens, o que preocupa o futuro de algumas marcas da cultura popular. Nota-se que o uso de rabecas em determinadas manifestações diminuiu drasticamente e, segundo alguns autores, chegou ao ponto de desaparecer.

É interessante também se deparar com informações como a de que rabequeiros antigos trocam suas rabecas por violinos de fábrica, enquanto músicos de outras áreas fazem questão de adquirir uma rabeca “de verdade”. Uma falta de artesãos torna caro e difícil de obter uma rabeca, enquanto um violino de fábrica pode ser obtido com um baixo preço e maior facilidade.

Comparações entre o instrumento estudado e o violino são situações que ocorrem inúmeras vezes, principalmente num primeiro momento em que se encontra uma rabeca, e se ouve o seu som: mas não é um violino? Faltou o acabamento! Por que o som é anasalado? São essas e outras dúvidas frequentes de quem apenas conheceu a rabeca por um período curto de tempo.

Levando em conta todas as informações levantadas no presente trabalho (forma de construção, tipos de afinações e número de cordas, a prática musical, a maneira de execução, sua utilização e papel na música, etc), principalmente a ausência de padrões, em todos os aspectos, fica claro que a rabeca é um instrumento à parte, que não tem maior ou menor importância que o violino. Cada um dos instrumentos musicais criados pelo homem possui um papel importante para a música. De uma tábua de lavar roupa utilizada na música zydeco nos Estados Unidos ou uma fujara (instrumento de sopro) eslovaca com seus ataques de harmônicos a um órgão de tubos de uma igreja na Europa, o homem soube explorar e desenvolver sua musicalidade a níveis elevadíssimos. Não é preciso conhecer a fundo os instrumentos para entender que cada um tem sua importância, e que, principalmente, cada detalhe da cultura de um povo deve ser respeitado.

Só resta finalizar com a frase que me levou por esse caminho:

“A rabeca é um instrumento. Não é uma imitação de instrumento, não é um violino mal acabado. Não! Ela é outro instrumento” (GRAMANI, 2003, p. 5).

REFERÊNCIAS

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