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O objetivo desta pesquisa foi compreender os impactos decorrentes da crise da Covid-19 nas arrecadações de prêmio no mercado segurador brasileiro no ano de 2020, em especial, nos segmentos de Saúde Suplementar e Danos & Responsabilidades. Após análises feitas, é possível concluir que o mercado segurador se apresentou resiliente em 2020. Mesmo em um período adverso, o mercado arrecadou cerca de R$ 550,9 bilhões em prêmios, 3% a mais do que arrecadado no ano anterior.

À luz dos resultados apresentados pelo segmento de Saúde Suplementar, o setor teve o duplo trabalho em 2020 de continuar o atendimento de urgências médico-hospitalares, bem como o atendimento de complicações médicas dadas pelo agravamento da Covid-19 no estado de saúde de pacientes. O crescimento de 5% na arrecadação total do ano, cerca de R$ 227,2 bilhões em prêmios no ano de 2020, é avaliado de forma positiva pela Autora.

Vale destacar as medidas adotadas pela ANS, de suspensão de reajustes em contratos a fim de dar “alívio financeiro” ao consumidor, bem como o apoio complementar das teleconsultas, adotadas pelas operadoras de saúde e pelos prestadores, a fim de garantir atendimento aos beneficiários de forma rápida e segura. Acredita-se que este tipo de atendimento venha crescer nos próximos anos como alternativa barata e prática ao consumidor. De acordo com a CNSeg, o bom desempenho do mercado segurador em 2020 se deve, em parte, pelo segmento de Danos & Responsabilidades. Ao analisar os dados de arrecadação de prêmios dos ramos que compõe o segmento é possível notar esta perspectiva.

O segmento arrecadou cerca de R$ 78,3 bilhões em 2020, um aumento de 6% do total arrecadado no ano anterior. Comparando com as projeções feitas pela CNSeg ao final de 2019, o segmento cresceu as expectativas do mercado. Englobando diferentes ramos e, portanto, diferentes setores da economia brasileira, é possível notar uma espécie de balanço entre as altas e baixas arrecadações dentro do segmento.

É preciso evidenciar a diminuição da participação do ramo de Automóveis entre 2015 e 2020, no qual indica um maior protagonismo de outros ramos que compõe este segmento, como os ramos Patrimonial e Rural.

Sobre o ramo de Automóveis, ramo com maior volume arrecadado no segmento, o terceiro em todo o mercado segurador, este sofreu diretamente com as medidas restritivas de circulação social, no início da pandemia. Apresentou forte queda no segundo trimestre, e alta ao final do ano, com a retomada de venda de novos e semi-novos veículos. Há expectativa de que este ramo retome patamares pré-pandemia, e venha ainda crescer o volume total arrecadado no futuro.

Por outro lado, o ramo de Marítimos e Aeronáuticos, ramo que menos arrecada no segmento, apresentou alta nas arrecadações de prêmio, cerca de 44% a mais em relação a 2019. O bom desempenho de todo o setor agropecuário em 2020 reflete neste ramo, através das atividades de importações e exportações. De acordo com a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), se projeta um crescimento de 13,7% nas exportações em 2021, e um aumento de 7,3% nas importações neste mesmo ano. Este cenário impacta positivamente nos seguros que compõe o ramo de Marítimos e Aeronáuticos, presumindo um maior protagonismo deste ramo no segmento nos próximos anos.

O ramo “Outros” foi o ramo que mais cresceu dentro deste segmento, 53% a mais em relação a 2019. A boa performance deste ramo muito se deve pelo seguro de “Riscos de Petróleo”, no qual arrecadou cerca de R$ 1,2 bilhões em 2020, um aumento de 110% em relação ao ano anterior. Integrante dos Grandes Riscos, o mercado de petróleo e gás natural vem passando por mudanças, sobretudo devido aos danos ambientais que estas fontes de energia provocam. É possível concluir que a capacidade disponível se encontra cada vez mais restrita aos riscos que as seguradoras irão optar por aceitar, refletindo em aumento no prêmio, diminuição de coberturas disponíveis no mercado, aumento de franquias e eventualmente outros riscos não colocáveis.

Quanto ao ramo de Garantia Estendida, o que menos cresceu em 2020, nota-se uma queda acentuada nas arrecadações no período inicial da pandemia, resultando em -26% em abril, e -63% em maio. Influenciado pelas atividades do setor de Comércio, no qual também foi impactado pelas medidas restritivas de circulação social da pandemia, a compra presencial deixou de existir com o fechamento prolongado dos estabelecimentos de consumo de bens duráveis. As vendas destes bens continuaram suas atividades graças ao e-commerce. Por outro lado, devido à falta do canal de venda presencial dos estabelecimentos, o seguro sofreu forte queda nas arrecadações de prêmio. É necessário que o seguro venha se readaptar ao novo cenário de e-commerce nas relações de consumo, para que suas arrecadações de prêmio voltem a crescer.

É necessário mencionar o desempenho do seguro Cyber Risks em 2020. Este apresentou um aumento de 99% em relação ao ano anterior. Todavia, nota-se o aumento crítico de sinistros indenizados: cerca de 51.075% em relação a 2019. Tal alta na indenização de sinistros é reflexo da adoção de home-office, o qual facilita o sucesso de golpes de “ransomware” e “phising” sobretudo em instituições com sólida estrutura financeira. O seguro Cyber é um respaldo adicional para reforçar as políticas de proteção de dados e o plano de continuidade de negócios das companhias. Espera-se que o futuro para este seguro seja por um lado promissor, na alta

demanda que o mercado apresenta, mas também desafiador, devido ao endurecimento das taxas aplicadas, a redução de coberturas e franquias em contratos, bem como a atuação das seguradoras em gerir o risco de seus clientes e seu próprio evitando assim grandes perdas.

Por fim, o cenário adverso provocado pela crise da Covid-19 em 2020 evidenciou a importância da diversidade de atividades econômicas entre os produtos do mercado segurador. Ao passo que os ramos ligados a saúde, mobilidade e venda presencial direta foram fortemente impactados pelas medidas de restrição social, observa-se também aumento na procura de outros produtos integrante dos ramos rural, marítimos e aeronáuticos, e cyber risks.

A pluralidade de atividades econômicas no mercado segurador permitiu que as baixas nas arrecadações em alguns ramos fossem compensadas pelo aumento no volume de prêmios em outros ramos. O crescimento nas arrecadações apresentado no fechamento do ano de 2020 foi resultado de sua resiliência durante o período de pandemia, combinado a necessidade de restruturação de coberturas e franquias, a readaptação de canais para prospecção e venda, a aceleração digital de processos operacionais em seguradoras e resseguradoras, e até mesmo a criação e aprimoração de novos produtos carentes ao mercado.

Sem romantizar os impactos críticos causados pela crise da Covid-19 na economia, na política e nas relações sociais do país, é necessário reconhecer o bom desempenho do mercado de seguros em 2020, bem como suas particularidades no futuro desempenho do setor.

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