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As conclusões são apresentadas em dois blocos: o 1° relativo à modelagem estruturada e o 2° relativo aos resultados encontrados com o modelo proposto para o estudo de caso na UHE Passo São João.

Em relação à modelagem estruturada pode-se concluir que a estratégia de uso dos dados prospectáveis processada por meio dos algoritmos parcimoniosos propostos permitiu a obtenção de informações úteis à uma tomada de decisão técnica no contexto de mediação dos usos competitivos da água. Estes processos normalmente são de interesse sócio ambiental, tais como o licenciamento ambiental e a outorga de uso dos recursos hídricos.

Estas informações úteis que a metodologia forneceu referem-se à energia gerada em comparação com os outros usos, no caso deste estudo, a relação competitiva entre a energia gerada, a produção agrícola e a diluição dos esgotos em termos monetários. Além disso, em etapa anterior à da valoração monetária, as rotinas do modelo permitiram os cálculos das demandas hídricas das lavouras para o cálculo da vazão para a irrigação, da demanda para a diluição das cargas e da vazão turbinada para a geração de energia hidrelétrica (balanço hídrico).

A estratégia montada por meio do modelo denominado “Hidroeco-BH” utilizou- se das seguintes informações:

(a) os dados da produção e cotação de produtos hidroagrícolas, conforme as informações da Companhia Nacional de Abastecimento Conab (2015) e da média da Série Histórica – 2010/2014 para a saca de 60 kg de soja e de milho (EMATER/RS- ASCAR, 2015);

(b) relativo à produção e cotação de energia hidrelétrica os dados foram provenientes do 1° leilão de energia nova para o SIN (Edital de leilão 002/2005- ANEEL) e dos parâmetros de projeto da usina hidrelétrica, queda de projeto, eficiência, limite máximo e limite mínimo de funcionamento das turbinas.

(c) relativo à produção de carga urbana, optou-se em avaliar o equivalente populacional em função de um coeficiente de eficiência na remoção da carga, decorrente do sistema de tratamento existente na área urbana;

(d) além dos anteriores, utilizaram-se os dados usuais de series históricas de vazões, de precipitações e de evaporação.

Em relação aos resultados encontrados com o modelo proposto para o estudo de caso na UHE Passo São João e de forma genérica pode-se concluir o seguinte:

Relativo à Geração de Hidroeletricidade o valor da redução de energia gerada com a troca do regime de vazões ecológicas LO Fepam por um menos restritivo (base 3 m3/s) pode ser equivalente à irrigação de lavouras de até 1.000 ha de soja

com captação de água no trecho do rio.

Os valores de energia gerada em média por ano podem superar o da LO Fepam em 7,22% (base 3 m3/s), ou ser inferior ao gerado no regime LO Fepam, em

3,23% (base 17 m3/s). Comparando os regimes com maior e com menor impacto na geração a diferença de energia gerada entre o máximo e o mínimo chegou à 27.000 MWh médios por ano. Isso demonstra que a opção por um regime menos restritivo de vazão ecológica produz um impacto na geração hidrelétrica com uma redução na geração significativa e que a escolha por um regime pode impactar significativamente também os outros usos no trecho, devido a esta restrição.

Com relação à competição da Geração com o uso para irrigação da soja a energia perdida devido à irrigação chegou a 0,34 MWH/ha médio por ano variando até 0,27MWh/ha médio anual com o acréscimo da área irrigada, o que conduz a um valor insignificante, pois representa uma perda na geração de 0,1% (1.000 ha). Com maiores impactos para área maiores, com 5,2% do total que seria gerado sem a soja, no caso de 50.000 ha. Por outro lado, uma área muito maior (imensa) não condiz com a realidade por superar a área da própria bacia incremental do TVA.

Quanto ao ganho na irrigação, foi representativo, de R$ 3.487.800,00 com 1.000 hectares de soja, se comparado à perda que houve na geração, de R$ 61.872,14.

Devido ao balanço hídrico no trecho os valores de MWh/ha diminuem com o aumento para áreas muito maiores. O que ocorre porque há menos vazão turbinada, e consequentemente menos energia gerada e menos energia perdida.

Com isso tem-se uma relação entre as áreas de lavoura e o seu impacto na geração, o que é um dado importante para a avaliação da competitividade entre a geração e a irrigação com soja.

Com relação à Geração competindo com o uso para a irrigação do milho, da mesma forma que para o caso da irrigação de soja, a energia perdida devido à irrigação do milho chegou 0,35 MWH/ha médio por ano variando até 0,27MWh/ha médio anual com o acréscimo da área irrigada, o que conduz a um valor insignificante, pois e representa uma perda na geração de 0,1% (1.000 ha). Com maiores impactos para área maiores, com 5,1% do total que seria gerado sem a soja, no caso de 50.000 ha.

O ganho representativo com na irrigação de milho foi de R$ 3.916.500,00 com 1.000 ha enquanto a perda que houve na geração foi de R$ 63.825,54.

Estes valores se aproximam dos valores encontrados no caso da soja porque estas culturas têm a época de semeadura e demandas hídricas muito próximas, e porque foram utilizadas as mesmas áreas simuladas.

No caso do uso da água do TVA para a diluição da carga de DBO produzida por uma população urbana, a porcentagem de vazão turbinada diminuiu com a diminuição do coeficiente de remoção de carga. O que corresponde a um aumento de carga de chega ao fluxo do rio.

Com a inserção de 1.000 hectares de soja e de milho irrigados com a água do trecho e a diluição de uma carga de 270 kgDBO/dia, referente a 50% da carga de uma população de 10.000 habitantes, no regime LOFepam, se turbinou, em média, 0,31% da vazão afluente a menos que no caso da geração sem competição. Como consequência foi gerada menos energia, cerca de 1.450 MWh médios por ano.

Por outro lado essa diminuição de energia gerada correspondeu a uma perda para a usina, em termos monetários, de pouco mais de R$265.000,00, valor muito menor do que o valor ganho pela atividade de produção agrícola com a irrigação, de aproximadamente R$7.404.000,00.

Para os cenários simulados (com despejo de 270kgDBO/dia, para 1.000 ha de soja e para 1.000 ha de milho) a perda de energia gerada com o uso urbano, de 821 MWh médios/ano, foi maior que o valor obtido para a irrigação, de cerca de 350 MWh médios/ano para milho e 337 MWh médios/ano para a soja. Pôde-se verificar

que o uso urbano obteve ganho nulo em termos monetários. Isto seria mais um argumento desfavorável a esta atividade, mas este é um uso necessário para compensar a falta ou não eficiência da remoção da carga dos esgotos domésticos urbanos lançados no trecho do rio.

A diluição de cargas poderia ter sua demanda de vazão no trecho do rio diminuída quando houver maior abrangência ou eficiência do sistema de coleta e tratamento dos esgotos e isso poderia fazer parte do plano da bacia hidrográfica, ou de algum plano relacionado ao saneamento da área urbana.

As áreas de lavouras com irrigação foram simuladas para valores maiores, que representariam situações de perímetros de irrigação muito superiores aos simulados, o que poderia ser uma situação encontrada em outra região. Da mesma forma, foram simuladas populações urbanas muito maiores que a simulada inicialmente (dez mil habitantes). Da mesma forma que na população de 10.000 habitantes os resultados para populações maiores demonstraram a diminuição da energia gerada com o aumento das áreas e com o aumento da população ou da carga urbana.

A área de irrigação a montante do barramento da usina também pode ser processada no balanço hídrico, pois requer uma vazão que não poderá ser turbinada, impactando a geração hidroelétrica. Estes aspectos demonstram a versatilidade do modelo para diversos arranjos de empreendimento de geração hidrelétrica e outros usos.

Pôde-se concluir ainda que os valores simulados com a irrigação até os 1.000 hectares e com a diluição de 50% das cargas das 10.000 pessoas representaram uma redução de energia gerada pequena em relação à geração sem outro uso competitivo no TVA. Essa energia que deixou de ser gerada poderia ser produzida por fontes alternativas. Porém provavelmente seria inviável a instalação de novos empreendimentos com um porte desta escala, apenas para compensar esta pequena quantidade energia que deixa de ser gerada. Isso se deve principalmente aos altos investimentos iniciais neste tipo de empreendimento, que se justificariam somente para uma potência maior. Deve-se ponderar também a deficiência no planejamento e legislação do setor energético nacional, que acabam propiciando barreiras a pequenas fontes de geração.

Por fim, o modelo, mesmo com as suas limitações, comprovou-se útil como uma metodologia genérica, desenvolvida com base em dados disponíveis. Tem potencial para ser aplicado na avaliação estratégica de outorga dos casos de conflitos sobre os múltiplos usos da água em um trecho de rio na presença de geração hidrelétrica. A regra de operação resultante da alocação da água para os diversos usos no trecho do rio pode servir de subsídio ao processo de apoio à decisão no processo de licenciamento ambiental destes empreendimentos.