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A atual prática da saúde mental brasileira é resultado da mobilização de trabalhadores, familiares e usuários dos serviços de saúde iniciada na década de 1980, com a finalidade de transformar a realidade dos manicômios onde viviam centenas de pessoas com transtornos mentais. O movimento foi estimulado pela importância do tema dos direitos humanos no combate à ditadura militar e foi fortalecido a partir das experiências exitosas de países europeus na substituição do um modelo asilar de saúde mental por um modelo de serviços comunitários com base comunitária e territorial. Nas últimas décadas, esse processo de mudança se manifesta, principalmente, por meio do Movimento Social da Luta Antimanicomial e de um projeto de coletividade denominado de Reforma Psiquiátrica. Assim, dentre os equipamentos substitutivos ao modelo manicomial é importante citar os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT)

Devido a uma história baseada na exclusão e segregação sociais, a internação prolongada proporciona ao indivíduo uma vida passiva afastado do seu mundo o convívio social. Quando tem longa duração, é capaz de afastar o indivíduo da sua própria identidade, perdendo suas referências, seus princípios, suas relações sociais e laços afetivos. Todavia, destacam-se os relevantes números relativos à morbidade e mortalidade, que caminha de encontro a esse processo evolutivo da saúde mental brasileira, garantindo demanda e serviços ainda no formato hospitalocêntrico e isolado do convívio social.

Para tanto, os objetivos aqui discutidos desenvolveram-se no intuito de resgatar sua identidade deste público como sujeitos de direitos, em um ambiente terapêutico, produtor de autonomia e cidadania. Os resultados, por sua vez, apontaram para uma maior necessidade de apoio aos usuários e seus familiares, tanto no que tange ao incremento de estratégias de enfrentamento para o cotidiano, quanto às atividades de assistência social e psicológica.

Ainda que a avaliação dos serviços não tenha sido o foco desta pesquisa, pode-se inferir que, aparentemente, os serviços oferecidos na política de saúde mental brasileira não estão sendo suficientes ou até mesmo eficazes, dados os altos números apresentados no presente trabalho. A desinstitucionalização chama os usuários ao protagonismo e suas famílias a participarem, porém não cria dispositivos que acolham e garantem a permanência no tratamento. Questiona-se se o modelo de desinstitucionalização, no contexto do Nordeste, está restrito apenas à desospitalização, ao passo em que os serviços substitutivos ainda não conseguem atender a demanda da população.

Apesar da resistência por sua permanência, não se trata mais de um sistema hospitalocêntrico, contudo ainda há centralidade na instituição, em detrimento da família, e esse modelo precisa ser revisto, pois há mais de 20 anos está vigente a Estratégia Saúde da Família, cujo núcleo de atenção integral está família e seus integrantes que comungam da mesma realidade social, biológica e psicossocial.

Os resultados deste estudo indicam ainda que mortes e internações pelo consumo de álcool e fumo permanecem com altos números, embora haja políticas de prevenção, como também a subnotificação. Outros dados informaram que as mortalidades por TH e OTMC sofrem influência de variáveis como faixa etária, sexo, escolaridade e estado civil, o que denota a necessidade de alternativas voltadas especialmente ao público idoso, feminino e/ou com nenhuma escolaridade.

O planejamento das ações em saúde na atenção básica interligado com as políticas locais de saúde mental pode auxiliar na definição das responsabilidades de cada equipamento da rede de saúde, bem como na condução das atividades desenvolvidas nas comunidades. A implementação de uma política pública que atenda os usuários em sofrimento mental no contexto das políticas da atenção básica passa pelo reconhecimento de que a hegemonia do modelo biomédico se faz presente até os dias atuais. Destarte, enquanto política municipal de saúde, a alternativa de inserção da saúde mental no Programa Saúde da Família ratifica a necessidade de rompimento com as amarras dos antigos padrões assistenciais.

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