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O presente estudo objetivou avaliar o indicador de mortalidade na região nordeste do Brasil em relação aos transtornos de humor (afetivos) e outros transtornos mentais e comportamentais no período de 2007 a 2016. A partir destes analisou-se dados de morbidade e mortalidade no nordeste do Brasil com os achados das políticas de prevenção do adoecimento mental no país.

Sobre mortalidade por transtornos de humor (afetivos) e outros transtornos mentais e comportamentais do período estudado, observou-se que nas tabelas 1 e 2 ambas as taxas apresentam uma tendência geral ao decréscimo no decorrer dos anos, com destaque para as internações por Transtorno de Humor, que apresentam os números mais elevados.

Nesta análise evidenciam-se altos valores nos estados Rio Grande do Norte e Sergipe. Esta redução pode ser justificada pelo aumento no investimento na rede de serviços e ações substitutivas, que passou a superar os gastos com a rede hospitalar a partir de 2006. Ainda em 2011 é possível observar a continuidade desta tendência, que reforça o compromisso da gestão federal com ações e serviços diversos, com base comunitária.

Em seus achados, Santos e Barbosa (2017) levantam outra hipótese para o decréscimo nos números de internações, que diz respeito a operacionalização da reforma psiquiátrica a partir da desospitalização, mas que muitas vezes não se tem a adequada reestruturação dos serviços substitutivos hospitalares e extra-hospitalares, que leva a uma desassistência generalizada. Assim, a simples criação de leitos psiquiátricos em hospitais gerais não significa uma melhora da assistência. A queda das taxas de internações e a manutenção ainda assim de uma alta prevalência deste indicador pode revelar que os serviços comunitários de atenção à saúde mental podem não estar substituindo adequadamente os de base hospitalar e as residências.

Nos achados de sua pesquisa Silva Junior e Fischer (2014) ratificam a média de notificações de transtornos do humor [afetivos] (F30-F39), incluindo os quadros depressivos, que são os agravos que mais frequentemente são relacionados ao trabalho em pesquisas epidemiológicas de outros países. O mesmo ocorreu no Brasil entre 2008 e 2010, entretanto, o grupamento dos transtornos neuróticos, transtornos relacionados com o estresse e transtornos somatoformes (F40-F48) ocupou o lugar de mais frequente motivo de auxílio-doença relacionado ao trabalho em 2011.

Pode-se inferir que as realidades de estresse nas famílias e na ambiente laboral têm trazido prejuízos na qualidade da saúde mental das famílias, onde a partir de realidades de sofrimento mental se abre espaço para instalação da depressão.

Apesar da redução das taxas de mortalidade, assaz enfatizar que para muitos familiares de pacientes psiquiátricos a internação ainda é uma boa ou a melhor opção de tratamento, em virtude de lá haver uma rotina planejada, com horários certos de administração da medicação, alimentação e outras atividades. A demanda por esta opção pode ser um fator preponderante para a manutenção deste tipo de serviço, evidenciada apenas uma redução, mas nem de longe a extinção do mesmo.

No tocante que é a parcela da população que foi a óbito por ambos os agravos, verifica-se que o transtorno de humor (afetivo) se destaca novamente por possuir os maiores números, em comparação a OTMC. Para ambos os casos as taxas de mortalidade tendem a aumentar conforme o avanço da idade. Com relação ao gênero, depreende-se que a mortalidade do sexo feminino possui maiores números quando se trata de transtornos de humor (afetivos), enquanto o sexo masculino tem em seus óbitos os outros transtornos mentais e comportamentais como principal causa.

Sobre escolaridade, ambos os transtornos possuem maiores números de óbitos na população que não estudou, assim como apresentaram diminuição destes, conforme o aumento de anos de estudo. Acerca do estado civil, os resultados do estudo mostram óbitos em maiores números na população solteira. Neste caso outros transtornos mentais e comportamentais aparecem em maior número quando comparado a transtornos de humor (afetivos).

Ao analisar os dados acima relatados é possível perceber que há um agravamento da saúde mental das mulheres, que em sua maior realidade são solteiras e pobres, uma realidade que envolve a saúde da mulher, devendo os profissionais dos serviços estarem sensíveis no acolhimento das queixas clínicas e emocionais dessa clientela.

Nos resultados de seu estudo, Campos, Ramalho e Zanello (2017) aponta que as mulheres frequentam mais os serviços públicos de saúde do que os homens, haja vista os hábitos de prevenção serem historicamente associados às mulheres. Soma-se a isto a ausência de unidades de saúde específicas para acolhimento das demandas masculinas. Especificamente, infere-se que a baixa demanda de homens, no cenário desta pesquisa, pode estar ligada ao modelo de sociedade, que muitas vezes induzem o público masculino a disfarçar o sofrimento mental. Os resultados do estudo do autor ratificam os da presente pesquisa ao constatar o

estado civil “solteiro”, como fator de risco para a saúde mental e que uma sociedade com bom nível de escolaridade é uma possibilidade importante de empoderamento e mobilidade social.

As variáveis sociodemográficas e seus determinantes sociais no Brasil possuem variações conforme suas regiões, nesse sentido, a região Nordeste possui a maior parcela de pessoas que ainda se encontram com realidade econômicas, educacionais aquém da média nacional.

De acordo com o Ministério da Saúde (2013), mulheres possuem até duas vezes mais probabilidade de apresentar essas formas de sofrimento do que o público masculino. Essa diferença pode estar relacionada com a diferença de gênero (papéis sociais masculinos e femininos) do que própria diferença biológica de sexo. As diferenças de gênero afetam não somente a vulnerabilidade ao sofrimento, como também suas formas que este se expressa. A pobreza também está relacionada à elevação do risco de sofrimento mental, assim como a baixa escolaridade apontada nos resultados deste estudo. A admissão das pessoas no mercado de trabalho também se relaciona intimamente com o sofrimento mental, de modo que pesquisas mostram que o desemprego aumenta a vulnerabilidade ao sofrimento mental.

Diante dessa realidade se faz um alerta para os serviços substitutivos de base comunitária, permitindo estudos de rastreamento diagnóstico e acima de tudo no acolhimento com resolutividade dessa mulher que chega ao serviço de saúde como queixas biológicas, mas que são resultantes de uma somatização. Contudo, ainda há uma política que privilegia a medicalização com a prescrição de medicamentos psiquiátricos novos e caros para a população.

No quesito óbito por transtornos de humor (afetivos) e outros transtornos mentais e comportamentais, merece ainda destaque o alto índice por parte do público idoso, fato que pode relacionar-se com o envelhecimento exponencial da população brasileira, quanto com as vicissitudes e iniquidades vivenciadas por este público.

No estudo de Oliveira et al. (2018) foi encontrada uma associação do suicídio ou ideação suicida em idosos com características de ansiedade, depressão, doenças físicas e crônicas, baixa escolaridade e nível socioeconômico baixo. O estudo aponta para necessidade de investir em acolhimento, terapias, rodas de conversa, grupos, fóruns e conferências de saúde como equipamentos para cuidado em saúde para esse público idoso, uma vez que a ausência de um espaço de escuta e acolhimento nos serviços de saúde e convivência e também de um profissional no qual o idoso possa encontrar apoio podem alargar a vulnerabilidade destes.

Nessa realidade há necessidade de ofertar melhores ações de prevenção do sofrimento mental, pois há um país que está envelhecendo caracterizando expectativa de vida, mas sem

qualidade de vida, pois o evento da mortalidade por causas externas tem crescido nos últimos anos e nessa realidade, os suicídios precisam ser compreendidos na ocorrência e causas dos mesmos.

As faixas etárias mais acometidas pelos transtornos de humor (afetivos) e outros transtornos mentais e comportamentais que maior número de anos potenciais de vida perdidos, tem-se as de menor de um ano e maior de 80 anos de idade. O menor impacto é representado pela de 30 a 39 anos. Os anos potenciais de vidas perdidos são caracterizados pelos anos que o indivíduo deixou de viver em virtude da sua morte. Este indicador é relevante por influenciar outros indicadores, como os relacionados à contribuição para Previdência Social. Dessa forma, tais dados revelam um importante problema de saúde e social, qual seja: um em cada dez anos de vida perdidos por morte ou incapacidade correspondem a essas causas. Estima-se que 30 milhões de brasileiros possuíam algum tipo de transtorno mental no ano de 2010, o que equivale a uma prevalência de 15% (MARINHO; PASSOS e FRANÇA 2016).

Nesse ínterim, merece destaque a implementação e fortalecimento da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS Política Nacional de Práticas Complementares (PNPIC) no SUS, que objetiva atuar com ações de prevenção de agravos e da promoção e recuperação da saúde, com ênfase na Atenção Básica, voltada para o cuidado continuado, humanizado e integral em saúde (BRASIL, 2015).

Em seus achados, Silva Junior e Fischer (2014) afirma que nos últimos anos o adoecimento mental se manteve como uma das três principais causas de concessão de benefício e auxílio-doença por incapacidade laboral no Brasil. A diminuição da força produtiva, principalmente quando o adoecimento atinge a população economicamente ativa, provoca importantes despesas, ao Estado, uma vez que representa a diminuição indireta da economia nacional.

Essa é uma realidade desoladora, pois o Estado, erroneamente, acaba privilegiando a doença em detrimento da cronificação, na medida em que são medicalizados e se encontram nessa situação para o resto da vida e com isso oneram o Estado com licenças médicas, afastamentos longos e até aposentadorias de pessoas jovens.

Há necessidade de fortalecimento da política vigente, que prevê na teoria a prática da promoção da saúde mental e prevenção dos agravos. E nesse cenário a rede de atenção em saúde mental é essencial no trabalho conjunto com os profissionais da Atenção Básica.

Acerca das categorias de causas do capítulo cinco CID-10, sobre mortalidade destacam-se os F10 - transtornos mentais comportamentais devido ao uso de álcool e o F17 - transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de fumo.

Sobre os principais motivos de morte, é pertinente destacar que existe uma lacuna histórica na política pública de saúde, sob a qual o uso abusivo de drogas era interpretado como uma questão judicial ou policial, sendo negligenciado o seu componente se saúde.

Acredita-se que a dificuldade em reconhecer e enfrentar problemas como alcoolismo e tabagismo pode ser responsável pela pouca ou nenhuma notificação destes agravos até meados dos anos 2002, quando da implementação do Programa Nacional de Atenção Comunitária Integrada aos Usuários de Álcool e outras Drogas, finalmente reconhecido pelo problema do uso prejudicial dessas substâncias como problema da saúde pública, situada no campo da saúde mental.

O estudo de Bohland e Gonçalves (2015), realizado em Sergipe, confirma os achados da presente pesquisa, quando afirma que os óbitos por transtornos mentais e comportamentais associados ao álcool aumentou entre os anos de 1998 e 2010, tanto para o sexo masculino, como também para o feminino, caracterizando um provável aumento no padrão de consumo da bebida. Resultados semelhantes foram obtidos pelo Ministério da Saúde, que também verificou que o consumo está mais intenso no país.

Esse tendência do uso do álcool tem sido cada vez mais percebida na realidade de homens e mulheres, e tem sido a porta de entrada dos transtornos mentais pois a ingestão de bebidas alcoólicas tem se transformado em fuga da realidade de suas dores emocionais.

Um relatório da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), lançado em agosto de 2015 também ratifica os resultados obtidos neste estudo quando aponta que no Brasil, 73,9 homens a cada 100 mil habitantes morreram por causa do álcool em 2010, o que garantiu ao país o terceiro lugar entre os países das Américas com mais mortes envolvendo uso de álcool.

Pereira e Joazeiro (2015) afirma que o sofrimento provocado pelos sintomas da esquizofrenia induz alguns sujeitos e seus familiares a optar pela internação psiquiátrica, buscando diminuir ou acabar com tal sofrimento. Outros têm na internação atual uma forma de sobrevivência e um modo de se distanciarem de alguns vícios e de conter a agressividade.

Sobre a principal causa de internações, a esquizofrenia caracteriza-se pelas reiteradas internações psiquiátricas, fato que pode justificar seu alto número. Sobre este agravo, pode-se ressaltar que, apesar dos avanços nos serviços substitutivos, o paciente psiquiátrico ainda se

vê necessitando de internação psiquiátrica, inclusive, de longo período. Nesse sentido, concorda-se com o estudo de Pereira e Joazeiro (2015) quando no mesmo ela afirma que a demanda por internações asilares pode ser justificada pela falta de tratamento adequado por parte do CAPS, que pode não atender as expectativas e demandas individuais dessas pessoas. Os sujeitos egressos de longas internações frequentemente identificam dificuldades na vinculação e adaptação ao CAPS.

A análise espacial das taxas de internação e mortalidade do nordeste brasileiro revelou que há uma alta interação espacial entre os estados. Esse achado é discordante do observado no estudo de Santos e Barbosa (2017), mortalidade por suicídio no Nordeste do Brasil, cujos resultados evidenciam uma distribuição espacial de caráter aleatório, sem formação de cluster quando associada aos fatores socioeconômicos analisados.

Por fim, é importante fazer referência a algumas dificuldades que emergiram durante esta pesquisa, como a ausência de dados sobre a região estudada, entendida nos dados do DATASUS, com dados incompletos, pouco acervo bibliográfico sobre a temática, os quais limitaram os achados e o aprofundamento das análises estatísticas. Contudo, foi possível não só avaliar os indicadores de morbidade e mortalidade na região nordeste do Brasil em relação aos transtornos de humor (afetivos) e outros transtornos mentais e comportamentais no período de 2007 a 2016 no nordeste do Brasil, como também levantar questões a serem refletidas pelos gestores e em seguida incorporadas aos planos anuais de saúde e às pesquisas das universidades, como a exemplo do avanço das práticas integrativas no tratamento desse tipo de doença.

Isso pode ser impulsionado pela reflexão analítica do Brasil, quando se analisa documento publicado em 15 de dezembro de 2018, publicado pela Associação Brasileira de Saúde Mental, quando menciona que o Ministério da Saúde considerando a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) publicou a portaria 3.659/2018, onde em seu teor traz a suspensão do repasse financeiro no valor de mais de 300 serviços e a portaria 3.718/2018 que exige a devolução ao Ministério da Saúde do incentivo para a implantação de serviços que deveriam ter sido implantados (ABRASME, 2018).

Isso impulsiona que os Estados do Nordeste do Brasil se unam para atender com integralidade, equidade e universidade a realidade de muitos usuários com sofrimento mental inserido nas comunidades e que devem ser acolhidos em suas necessidades não apenas biológicas, mas acima de tudo psicossociais.

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