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A comunicação não-verbal tem exercido fascínio sobre a Humanidade desde os seus primórdios, pois envolve todas as manifestações corporais que não são expressas por palavras como os gestos, as expressões faciais, as posturas, as distâncias entre as pessoas, o odor, o tacto, os elementos paralinguisticos da voz, a indumentária, etc.. Muitas vezes está presente no nosso dia-a-dia mas não temos consciência da sua ocorrência nem da sua importância. Para além de exercer uma função comunicativa, enriquecendo a linguagem verbal, também transmite informações acerca da personalidade, gostos, emoções e atitudes do indivíduo. As palavras podem ser bonitas e excitantes, no entanto, não representam a mensagem total. Na verdade, segundo a opinião de um cientista “a palavra é aquilo que o homem usa quando tudo o resto falha” (Davis 1979: 22).

As manifestações não-verbais são também determinantes no processo de construção da credibilidade do comunicador. É através do seu comportamento e da sua conduta que o receptor vai verificar se ele, ou não, é digno de crença e confiança. Como foi possível perceber através deste estudo, a indumentária e a gesticulação demonstraram ser dois poderosos canais de comunicação não-verbal que influenciam e determinam a percepção da crebilidade por parte do receptor da mensagem. Demonstrou-se que, a gestualidade lenta acompanhada de uma indumentária formal tem um efeito positivo na credibilidade do comunicador, enquanto que, a gesticulação brusca conjugada com uma indumentária informal gerou um efeito negativo em termos de credibilidade.

A indumentária comunica através das cores, formas, texturas das roupas, entre outros componentes que possam ser significativos (Barnard citado por Aquino

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2011:4). O tipo de tecido, o corte, a cor podem dizer muito acerca de um indivíduo e do mundo em que vivem. Por outro lado, cerca de 95% da primeira impressão que causamos é proporcionada pelas roupas, uma vez que elas cobrem 95% do nosso corpo (…). Assim sendo, a indumentária é considerada crucial para a formação da primeira impressão do indivíduo e respectiva imagem. No presente estudo podemos verificar que o grau de formalidade é decisivo na percepção de fiabilidade e confiança por parte dos sujeitos experimentais. As amostras dos Grupos 1 e 2, ambas submetidas a uma indumentária informal, evidenciaram atitudes negativas em termos de credibilidade. Já as amostras dos Grupos 3 e 4, ambas submetidas a uma indumentária formal, demonstraram apreciações favoráveis. Estes resultados revelaram-se naturais, tendo em conta que a indumentária informal transmitiu Imagens de Jovialidade, Diversão, Descontração, Irreverênica e Insucesso, enquanto que a indumentária formal comunicou Imagens de Seriedade, Profissionalismo, Maturidade, Sucesso e Reverência. Neste sentido, podemos afirmar que, o caractér formal da indumentária projectou ao comunicador um subtexto de inteligência, competência, respeitabilidade e confiança. Ou seja, a indumentária formal contribuiu para a construção de uma imagem de credibilidade, ao contrário da indumentária informal, que acabou por depor contra a mesma. Estar bem vestido é, asssim, fundamental para inspirar confiança, prestígio e respeitabilidade.

À semelhança da indumentária, a gestualidade também demonstrou ser muito importante no processo de construção da credibilidade do comunicador. Os resultados obtidos demonstraram que a gesticulação lenta gerou percepções de Delicadeza, Profissionalismo, Segurança, Coerência, Empatia e Sabedoria. A realização de gestos moderados e coerentes enriqueceu a mensagem do sujeito falante e contribuiu para a percepção de uma imagem de competência e confiabilidade. Não obstante, confirmou-se que a gesticulação brusca gera uma percepção negativa em termos de credibilidade. Na opinião dos sujeitos experimentais ela transmitiu Imagens de Agressividade, Imaturidade, Insegurança, Hipocrisia, Incoerência e Distanciamento. Ou seja, gerou a percepção de não credibilidade e falta de confiança e sinceridade. O uso de gestos nervosos, atrapalhados e excessivos denuncia falta de concentração e

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rigor pessoais. Assim sendo, não é apenas na fala que o emissor deve dominar os seus impulsos e reflexos, mas também na gesticulação do sujeito (Rei 2005: 17).

Ainda, no presente estudo confirmou-se que a gestualidade lenta acompanhada de uma indumentária informal gera um efeito neutro na credibilidade do comunicador. Não obstante, não conseguimos validar a última hipótese de investigação. Verificamos que, a gesticulação brusca conjugada com a indumentária formal em vez de gerar um efeito positivo em termos de credibilidade gerou um efeito neutro.

5.1. Limites e Desafios para Investigações Futuras

Um estudo em torno da comunicação não-verbal, nomeadamente da indumentária e da gesticulação, adivinha-se como um campo vastíssimo. Por isso, também este estudo foi sujeito a alguns condicionalismos ou limitações como:

 A dimensão e o perfil da amostra. A amostra foi constituída por apenas 40 estudantes universitários quando poderíamos ter seleccionado uma amostra mais representativa e diversificada;

 A não distribuição homogénea dos sujeitos quanto ao género (número reduzido de sujeitos do género masculino);

 Ausência de sujeitos experimentais de outras culturas, uma vez que o significado das mensagens não-verbais é determinado pela cultura.

A presente dissertação, pela sua própria natureza exploratória, mais do que conclusões permitiu abrir um conjunto de novas interrogações. Assim sendo, aqui ficam alguns desafios para possíveis investigações futuras:

 Alargar o presente estudo a uma amostra mais vasta, tentando verificar as atitudes de outros segmentos de indivíduos e outras culturas;

 Medir quantitativamente os efeitos obtidos nos diversos grupos e compará-los entre si com o intuito de verificar quantas vezes uma determinada

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combinatória de variáveis é mais credível comparativamente às outras e vice- versa.

 Analisar e avaliar mais detalhadamente a importância e a eficácia de outros factores da indumentária e da gesticulação que podem influenciar a percepção de credibilidade por parte do receptor. Um desses factores poderia ser, por exemplo, a cor da indumentária.

 Alterar o género do comunicador, para verificar se há ou não diferenças em termos de credibilidade;

 Realizar investigação sobre outros canais de comunicação não-verbal e a sua possível influência na credibilidade do comunicador.

Para finalizar, há que referir que este trabalho de investigação, para além de já se tratar de um processo rico ao nível da experiência pessoal e académica, pode também dar a conhecer a importância da indumentária e da gesticulação no processo de construção de uma imagem de credibilidade, prestígio e respeitabilidade.

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