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Comunicação não-verbal: a influência da indumentária e da gesticulação na credibilidade do comunicador

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Academic year: 2021

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DEPARTAMENTO DE LETRAS, ARTES E COMUNICAÇÃO

Comunicação não-verbal

A influência da indumentária e da gesticulação na credibilidade do

comunicador

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO

MARIA DE FÁTIMA MOURA RIBEIRO

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DEPARTAMENTO DE LETRAS, ARTES E COMUNICAÇÃO

Comunicação não-verbal

A influência da indumentária e da gesticulação na credibilidade do

comunicador

Orientador:

Professor Doutor Galvão dos Santos Meirinhos

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO

MARIA DE FÁTIMA MOURA RIBEIRO

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“A verdadeira aprendizagem acontece quando temos a certeza que ela será útil. E que nos tornará mais capacitados para actuarmos numa sociedade que exige prontidão, habilidades e competência”

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No término deste trabalho de investigação não poderia deixar de manifestar o meu sincero e profundo agradecimento a todos aqueles que com o seu apoio, conhecimento, colaboração, críticas e sugestões contribuíram para a realização do presente estudo. Assim, gostaria de agradecer,

 A todos os alunos que voluntariamente participaram neste estudo; dispondo do seu precioso tempo para responder aos instrumentos de recolha de dados apresentados, sem eles não seria possível a realização desta investigação;

 À minha mãe e irmãos, que sempre acreditaram na minha dedicação, pela força, apoio e carinho transmitidos;

 Ao Prof. Doutor Galvão dos Santos Meirinhos que orientou este projecto, pela competência, seriedade e firmeza com que contribuiu para a realização deste trabalho de investigação.

 Às colegas de trabalho, Célia, Catilina e Isabel, pela compreensão, incentivo e apoio demonstrados ao longo desta etapa da minha vida;  A todos os colegas de mestrado;

 Ao docente Carlos Cardoso pela fantástica representação dos tratamentos experimentais, pela simpatia e disponibilidade;

 Aos docentes Mário Sérgio e Daniela Fonseca pela simpatia, apoio e disponibilidade na recolha de dados;

 A todos os meus amigos, em especial à Celeste, Marisa, Ricardo e Nuno que me ajudaram e me apoiaram ao longo desta etapa da minha vida;  Ao meu namorado Fábio, pelo carinho, compreensão, amor, estímulo e

companheirismo em todas as horas.

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O objecto de estudo deste trabalho de investigação é a comunicação não-verbal. O principal objectivo foi verificar se a credibilidade do comunicador junto do receptor é influenciada pela indumentária e gesticulação. Este estudo científico implica a relação interdependente entre o acervo bibliográfico e o desenho experimental do tipo factorial 2x2 de grupos independentes, onde submetemos quatro grupos independentes a quatro tratamentos distintos, por forma a verificar em que medida as variáveis independentes influenciavam a dependente (credibilidade).

A amostra do estudo é uma amostra não probabilística por conveniência e é constituída por 40 alunos universitários seleccionados aleatoriamente dos ciclos de estudos em Ciências da Comunicação. O instrumento de recolha de dados é constituído por perguntas fechadas com escalas do tipo diferencial semântico. Como instrumentos estatísticos de análise, utilizámos medidas de tendência central, cujos resultados indicam que: a gestualidade lenta acompanhada de uma indumentária informal gera um efeito neutro na credibilidade do comunicador; a gesticulação brusca conjugada com uma indumentária informal proporciona um efeito negativo; por sua vez, a gestualidade lenta acompanhada de uma indumentária formal tem um efeito positivo em termos de credibilidade, e por último, a gesticulação brusca conjugada com uma indumentária formal gera um efeito neutro.

Palavras-chave: Comunicação não-verbal; Indumentária; Gesticulação; Credibilidade do comunicador.

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The object of this research study is the non-verbal communication. The main objective was to verify the credibility of the communicator with the receptor is influenced by the costumes and gestures. This scientific study involves the interdependent relationship between the bibliographic and experimental design of the type 2x2 factorial independent groups, where four independent groups to submit four different treatments in order to ascertain to what extent the independent variables influenced the dependent (credibility).

The study’s sample is a non-probability convenience sample and consists of 40 randomly selected college students of the courses in Communication Sciences. The data collection instrument consists of questions with closed-type semantic differential scales. As statistical tools of analysis, we used measures of central tendency, the results indicate that: a gesture accompanied by a slow casual attire creates a neutral effect on the credibility of the communicator, the sudden gestures coupled with an informal dress gives a negative effect; turn the slow gestures accompanied by a formal dress has a positive effect in terms of credibility, and finally, combined with a sudden gesture formal attire generates a neutral effect.

Keywords: Non-verbal communication, Clothes, Gestures, credibility of the communicator

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viii AGRADECIMENTOS………V RESUMO………..……VI ABSTRACT……….VII ÍNDICE GERAL………VIII ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES………X ÍNDICE DE TABELAS………X ÍNDICE DE GRÁFICOS……….XII ÍNDICE DE ABREVÍATURAS……….XII 1. INTRODUÇÃO………1 2. REVISÃO DA LITERATURA………...4 2.1. COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL………..4 2.2. COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL………..5

2.2.1. Noções Conceituais, Características e Tipologias da Comunicação Não-verbal………5

2.2.2. Comunicação Não-verbal: a Descoberta de um Novo Mundo……….9

2.2.2.1. O Tacto………10 2.2.2.2. O Olfacto………12 2.2.2.3. Cronémica……….12 2.2.2.4. Proxémica……….14 2.2.2.5. Paralinguagem………..17 2.3. CINÉSICA………19 2.3.1. Maneiras………21 2.3.2. Posturas……….21 2.3.3. Gestos……….24

2.3.3.1. A Função dos Gestos……….27

2.3.3.2. A Expressividade dos Gestos Corporais……….….30

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2.4.1. A Comunicação através das Roupas………..42

2.4.2. Indumentária e Status...44

2.4.3. Indumentária e Identidade……….…….45

2.4.3.1. Aparecer é Ser – O Corpo e a Roupa como a Imagem de si……….………….45

2.4.3.2. A Camuflagem de “um ser” para um “querer parecer”………..………….46

2.4.4. Da Cabeça aos Pés ……….48

2.4.5. Cor ………50

2.4.6. Indumentária Formal e Informal ……….…………51

2.4.6.1. Indumentária Formal ………..53

2.4.6.2. Indumentária Informal ……….………....57

2.5.CREDIBILIDADE DO COMUNICADOR ……….60

2.5.1. A Construção da Credibilidade ………..…..66

2.5.5.1. O Processo de Credibilização – Leis Fundamentais……….71

2.5.2. Factores Não-verbais de Credibilidade ………..…72

3. METODOLOGIA ………..………….76 3.1.Desenho da Investigação ………..……….77 3.2. Problema de Conhecimento ………..…………77 3.3. Hipóteses de Trabalho ………78 3.4. Desenho Experimental……….………81 3.5. Sujeitos do Estudo ………..………..84

3.6. Instrumento de Recolha de Dados ………..……….86

4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS………..………….……….91

4.1. Perfil dos Grupos Independentes……….………92

4.2. Grupos Independentes………93

4.3. Variáveis Independentes……….………108

4.3.1. Indumentária………..………108

4.3.2. Gesticulação……….………110

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4.5. DISCUSSÃO………..……….117

5. CONCLUSÕES……….………121

5.1. Limites e Desafios para Investigações Futuras……….………123

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS……….………125

7. ANEXOS………..………135

ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1 - A importância das mensagens não-verbais……….……7

Ilustração 2 - Classificação das distâncias………..16

Ilustração 3 - Linguagem não-verbal e a expressividade dos gestos corporais………23

Ilustração 4 - Grau de formalidade no vestuário masculino………..………..54

Ilustração 5 - O nível 1 e o nível 2 na comunicação………66

Ilustração 6 - Desenho da investigação………77

Ilustração 7 - Variáveis dependentes e independentes da investigação………..……80

Ilustração 8 - Apreciação de valores por grupo e por par de adjectivos opostos………..90

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - O modo como a pontualidade é encarada em diferentes países……….14

Tabela 2 - Algumas manifestações do silêncio………18

Tabela 3 - Estudos realizados no âmbito dos gestos.……….24

Tabela 4 - Tipologias de de Ekman e Friesen e McNeil……….………36

Tabela 5 - Duração do movimento lento e do movimento brusco………..….41

Tabela 6 - Significado de algumas peças do vestuário……….……….48

Tabela 7 - Cores e formas que projectam uma imagem de formalidade……….………57

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Tabela 11 - Tratamentos experimentais………..………..85

Tabela 12 - Intervalos definidores dos efeitos………..………….88

Tabela 13 - Intervalos definidores dos efeitos colectivos……….………..89

Tabela 14 - Perfil da amostra em estudo……….………92

Tabela 15 - Atitudes dos sujeitos no Grupo 1………..94

Tabela 16 - Pares de adjectivos mais apreciados nas atitudes no Grupo 1……….95

Tabela 17 - Atitudes dos sujeitos no Grupo 2……….………..……. 97

Tabela 18 - Pares de adjectivos mais apreciados nas atitudes no Grupo 2………....99

Tabela 19 - Atitudes dos sujeitos no Grupo 3………...…101

Tabela 20 - Pares de adjectivos mais apreciados nas atitudes no Grupo 3………..102

Tabela 21 - Atitudes dos sujeitos n Grupo 4………...……104

Tabela 22 - Pares de adjectivos mais apreciados nas atitudes no Grupo 4…………..……105

Tabela 23 - Credibilidade transmitida pela indumentária e pela gesticulação nos quatro grupos……….107

Tabela 24 - Atitudes 4dos sujeitos em relação à indumentária……….…….109

Tabela 25 - Atitudes dos sujeitos em relação à gesticulação………..………..111

Tabela 26 - Atitudes dos sujeitos relativamente à Imagem transmitida pela indumentária………113

Tabela 27 - Atitudes dos sujeitos relativamente à Imagem transmitida pela gesticulação………..………114

Tabela 28 - Intervalos definidores dos efeitos por grupo experimental...116

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Gráfico 1 - Atitudes no Grupo 1………..………..…96

Gráfico 2 - Atitudes no Grupo 2………....99

Gráfico 2 - Atitudes no Grupo 2………..…102

Gráfico 4 - Atitudes no Grupo 4 ………..…..106

Gráfico 5 - Credibilidade transmitida pela indumentária……….………107

Gráfico 6 - Credibilidade transmitida pela gesticulação……….…..…107

ÍNDICE DE ABREVIATURAS

VD – Variável Dependente t – Tratamento Experimental II – Indumentária Informal IF – Indumentária Formal GL – Gesticulação Lenta GB – Gesticulação Brusca

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1. INTRODUÇÃO

A comunicação humana é tanto um fenómeno como uma função social. Enquanto fenómeno envolve a linguagem verbal e/ou verbal. A comunicação não-verbal apresenta-se de forma silenciosa com a postura corporal, gestos, expressões faciais, olhar, voz, entre outras. Resultados de diversos estudos têm demonstrado que as relações interpessoais são mais influenciadas por canais de comunicação não-verbais do que não-verbais (Mesquita 1997: 1). Este aspecto é indicativo de que, de facto, o discurso não-verbal assume muita relevância nos processos de comunicação humana. Inclusivamente, comunicamo-nos através da cor, dos nossos sorrisos, forçados ou espontâneos, entre outros movimentos do nosso corpo. Estas configurações constituem-se como uma forma de comunicar silenciosa que nos permitirão transmitir inúmeras informações acerca de uma pessoa e da sua hipotética situação económica, cultural, preferências, ideologias, atitudes1 e estilos de vida.

De entre todos os instrumentos de comunicação não-verbal, este trabalho de investigação tem como objectivo estudar apenas dois: a indumentária e a gesticulação.

Segundo Knapp e Hall, a indumentária é qualquer coisa que se traja e que pode ser literalmente lida (Knapp e Hall citados por Lemos 2006: 4). Na nossa perspectiva convém não confundir a indumentária com o vestuário, apesar de ambos os conceitos se interrelacionarem, não possuem o mesmo significado, dado que a indumentária é um conceito mais abrangente que incorpora o próprio vestuário.

Roland Barthes (2005) na sua obra “Sistema da moda” estabelece esse paralelismo entre indumentária e traje. Compara a indumentária a uma realidade institucional e social que é independente do indivíduo mas que, por sua vez, interage e influencia a realidade, de onde ele extrai o que veste no dia-a-dia. Deste modo, o acto de vestir do indivíduo actualiza a instituição indumentária. Como refere Barthes, “ (…)

1 Uma atitude é uma disposição mental e nervosa, organizada pela experiência e que exerce uma

influência directriz sobre a conduta do indivíduo relativamente a todas as situações com as quais ele está em ligação (Alport in Dicionário de Sociologia 1982, 109).

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a relação entre traje e indumentária é uma relação semântica: a significação do vestuário cresce à medida que se passa do traje à indumentária; o traje é debilmente significativo, exprime mais do que notifica; a indumentária, ao contrário, é fortemente significante, constitui uma relação intelectual, notificadora, entre o usuário e seu grupo” (Barthes citado por Aquino 2009: 6).

Assim, a indumentária é um meio de comunicação não-verbal que comunica o indivíduo à sociedade e que traduz a maneira de viver, no plano social e individual.

A gesticulação tem atraído a atenção de inúmeros estudiosos ao longo dos séculos. A maioria dos estudos realizados incide na expressividade e na classificação dos gestos. Outros investigadores foram mais longe, como é o caso de McNeil que demonstrou que o gesto pode exercer um papel fulcral: no planeamento conceitual da mensagem; nas actividades cognitivas como raciocínio e na resolução de problemas (McNeil citado por Pereira 2010: 3). O estudo dos gestos ao longo dos tempos evidenciou um significativo corpo de pesquisa e insinuou que os gestos, nomeadamente os das mãos, reflectem a aprendizagem, podendo ser tidos em conta no processo de ensino (Goldin-Meadow; Alibali; Church citados por Pereira 2010: 3). Para além de exercer um papel significativo na estruturação do discurso oral, a gestualidade também actua como um elemento constituinte da interacção, podendo designar de modo simbólico a posição de cada um no sistema social – prestígio, status, ordem, privilégio, consideração, entre outros. A gesticulação é um sistema de símbolos que permite identificar a condição, o papel e o valor de cada indivíduo (Fávero et al., p.2). Assim sendo, tanto a indumentária como a gesticulação determinam, em grande medida, o grau de aprovação e aceitação do comunicador por parte do interlocutor, actuando, assim, como dois componentes essenciais para a conquista e reconhecimento da tão ambicionada credibilidade. Na visão de Adler e Rodman, a credibilidade diz respeito à plausibilidade do comunicador. Não se trata de uma qualidade objectiva, mas pelo contrário, ela é uma percepção nas mentes dos receptores (Adler e Rodman 2000: 322). Assim, para que o comunicador possa persuadir e ser aceite ele tem que desenvolver e construir um alto nível de credibilidade junto dos seus interlocutores; isso pode ser feito através da postura geral

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que o comunicador demonstra e transmite para o seu interlocutor. A audiência formula julgamentos acerca da credibilidade de um orador com base em crenças cognitivas (poder, prestígio) e afectivas (confiança, atractividade) (Franco 1999: 193).

Este trabalho de investigação tem como principal objectivo verificar se a indumentária e a gesticulação influenciam a credibilidade do comunicador. A estrutura divide-se em cinco partes: introdução, onde fazemos um enquadramento das duas variáveis em estudo - indumentária e a gesticulação – em relação à sua expressividade e relevância para a conquista da credibilidade por parte do comunicador. Na segunda parte, fazemos uma revisão da literatura que aborda os principais aspectos da indumentária, da gesticulação e da credibilidade, o que nos permite obter uma clara compreensão de todas as variáveis presentes no estudo, oferecendo ainda a contextualização da indumentária e da gesticulação no campo da comunicação não-verbal. No domínio da gestualidade, analisamos a expressividade, função dos gestos e estudos realizados nesta área específica tendo em conta as suas propriedades e taxonomias. Por outro lado, no que respeita à indumentária verificamos a comunicabilidade da roupa, a simbologia de algumas peças do vestuário e a importância da cor na indumentária, fazendo também uma clara distinção entre indumentária formal e informal, tanto para a realidade masculina como feminina.

Na metodologia que preside este trabalho de investigação, apresentamos o problema do conhecimento, as hipotéticas hipóteses e o desenho de investigação que nos permitirá depurar os ditos enunciados. Assim, a natureza do presente trabalho, quanto à centração do objecto de estudo, é do tipo experimental por provocação2; quanto ao quadro de referência é do tipo estrutural3; quanto à obtenção do tratamento de dados é do tipo quantitativo4 e quanto à generalização é do tipo nomotético5, e ainda no quadro metodológico, apresentamos e caracterizamos os

2

Estudo experimental por provocação: modificação intencional de uma variável independente por outra do mesmo tipo (Pardal e Correia 1995: 17).

3 Estrutural na medida em que enfatiza, na explicação de um fenómeno social, o carácter sistemático e

global do mesmo (Pardal e Correia 1995: 17).

4 O método quantitativo privilegia o recurso a instrumentos e a análise estatística (Pardal e Correia

1995, 17).

5

O método nomotético estuda aspectos gerais e regulares do fenómeno. Preocupações generalizadoras (Pardal e Correia 1995: 17).

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4

grupos independentes6, o instrumento de recolha de dados e as ferramentas estatísticas usadas para analisar os dados obtidos e responder às hipóteses de investigação.

Na última parte procedemos à apresentação e discussão dos resultados, terminando com a enunciação das conclusões, os desafios futuros e as limitações do estudo.

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1.Comunicação Interpessoal

Como sabemos, ninguém comunica sozinho. Para que a comunicação humana ocorra são necessárias duas condições principais, a primeira é a presença de dois sistemas: um emissor e um receptor e a segunda passa pela transmissão de mensagens. A comunicação interpessoal rege-se pela criação de relações sociais entre duas ou mais pessoas que participam num mesmo processo de interacção. Tal como referem Fisher e Adams, “a comunicação interpessoal é conceptualizada como uma dança entre parceiros relacionais” (Fisher e Adams citados por Farinha 2010: 4). A interacção é assim essencial para que o processo de comunicação se realize, pois é através dela que uma pessoa se interliga com outra e se comporta de acordo com as suas necessidades recíprocas. Como refere Mesquita, a interacção “é a influência que os indivíduos exercem uns sobre os outros. É uma realidade social que pode ser evidenciada quando um indivíduo age sobre um segundo e este segundo age sobre o primeiro, de forma perceptível” (Mesquita 1997: 156).

Na comunicação interpessoal a simples presença de uma pessoa na situação pode ter um impacto directo na natureza da interacção, uma vez que falar com uma pessoa é um processo dinâmico, provoca e estimula a reacção da outra, reacção esta que, por sua vez, influencia também as nossas reacções subsequentes. Assim, o

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Grupo experimental ou independente é um conjunto de sujeitos submetidos a um dado e único tratamento (combinação de condições experimentais) (Meirinhos p.5).

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processo de comunicação interpessoal, através do qual se transmitem ideias e sentimentos, de pessoa para pessoa, tornando possível a interacção social, é sem dúvida fulcral para o homem enquanto ser social e cultural.

A comunicação não se baseia apenas nas palavras ditas entre as pessoas. Todo e qualquer comportamento também transmite uma mensagem. Para que a comunicação ocorra com sucesso é necessário ter em conta a relação interpessoal como um todo, considerando as palavras e toda a linguagem não-verbal que o nosso corpo comunica. “A comunicação eficiente é assim. Palavra, tom de voz, gestos, contexto, tudo está interligado na mensagem que é transmitida. Processo e conteúdo, como música e dança, estão sintonizados na mesma vibração” (Ribeiro 1998: 17).

2.2. Comunicação Não-verbal

“Existe un linguaje que vá más allá de las palavras” Paulo Coelho

2.2.1. Noções Conceituais, Características e Tipologia da

Comunicação Não-verbal

Muito antes de aprenderem a comunicar com as palavras, os nossos ancestrais recorriam à linguagem corporal como forma de expressão. Os seres humanos primitivos comunicavam através dos seus corpos, gestos e sons, meios que dispunham para um entendimento mútuo, portanto a comunicação ocorria através de canais não-verbais.

Antes disso, a linguagem corporal e os sons produzidos pela garganta eram as principais formas de transmissão de emoções e sentimentos humanos – e continuam sendo até hoje, embora a excessiva atenção dada às palavras faça com que sejamos profundamente desinformados a respeito da linguagem do corpo e da importância que ela tem em nossas vidas (Allan e Pease 2004: 16 e 17).

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Henry H.Calero, na sua obra “The Power of Non verbal Communication” também faz referência à extrema importância atribuída à comunicação verbal, em detrimento da comunicação não-verbal referindo que “we are excessively sensitized to words and have very few terms for characterizing nonverbal behavior” (Calero 2005: 3). Tal como as nuvens que cobrem o sol, também a comunicação verbal faz o mesmo à linguagem do corpo.

Tal é o facto que a preocupação científica pela comunicação não-verbal é ainda muito recente. Apenas em 1950 é que se começou a aprofundar verdadeiramente este campo. No entanto, existem alguns autores e obras anteriores a esta data que estabelecem conexões entre a cultura e a comunicação não-verbal (Darwin, 1872; Efron, 1941) ou entre a personalidade e as formas do corpo (Kretschmer, 1925; Sheldon, 1940). Entre 1950 e 1960 surgem as primeiras tipologias: Birdwhishtell (1952) introduziu a cinésica, área que estuda os movimentos corporais e os gestos, Hall (1952) baptizou como “proxémica” a investigação sobre o uso do espaço.

Só a partir de 1960 é que o interesse pela comunicação não-verbal aumenta de forma considerável. Hess (1975), Argyle e Cook (1976) dão início a um novo campo de estudo: o comportamento e a comunicação do olhar; Roach e Eicher (1969) investigam a comunicação não-verbal do vestuário e dos artefactos; Montagu (1971) aborda o estudo da conduta táctil; Hall (1972) e Weiner (1966, 1967) analisam o valor comunicativo dos odores; Ekman e Friesen (1969) aprofundam o estudo acerca das origens e natureza da comunicação não-verbal; por sua vez Mehrabian (1971) investiga como os indivíduos interpretam os sinais não-verbais da comunicação.

De considerar ainda que, se tivermos presentes os estudos de Mehrabian e Birdwhistell – que defendem que numa comunicação normal entre duas pessoas apenas 7% da mensagem é verbal (apenas palavras), enquanto os restantes 93% é não-verbal (Ver figura 1) – podemos constatar que, de facto, se tem deixado um pouco de lado os estudos de uma linguagem também amplamente significativa. Verifica-se

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assim, que a comunicação não-verbal é fortemente responsável pela eficácia de um determinado acto comunicativo.

Ilustração1: A importância das mensagens não-verbais na percepção de Mehrabian (Monteiro

et al. 2008: 59)

© Produção Gráfica Pessoal

Entende-se por comunicação não-verbal toda a comunicação que é realizada com a ausência das palavras, nomeadamente através de sinais que produzimos, de gestos que fazemos, de imagens que criamos, etc.. Segundo Calero, “our senses of touch, taste, seeing, hearing, smells, signs, symbols, colors, facial expression, gestures, and intuition are the primary sources of the nonverbal messages we receive” (Calero 2005:1).

Na visão de Lusting e Koester “a comunicação não-verbal é um processo de multi-canais que é, usualmente, realizado espontaneamente. Envolve um conjunto sutil de comportamentos não linguísticos que são representados subconscientemente” (Lusting e Koester citado por Ribeiro e Guimarães 2009: 6).

Sendo inconsciente e espontânea a comunicação não-verbal pode assim estar presente em todos os momentos das relações pessoais, até a decisão de não falar, por exemplo numa conversa, é uma mensagem, e considerada não-verbal. Como explica Gaiarsa “cada modo de estar em silêncio pode significar tanto quanto uma declaração verbal” (Gaiarsa 2002: 1). Por outro lado, para além de ser usada, em grande parte, involuntariamente, ela pode também ser usada de forma propositada e estratégica. Conforme os estudos realizados por Allan e Barbara Pease, por detrás dos sorrisos,

55% 38%

7%

Comunicação Não-verbal

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gestos, expressões faciais é possível identificar a verdadeira intenção de uma pessoa, uma vez que detectamos muitas das vezes incoerência entre a mensagem verbal e não-verbal. Portanto, todo o nosso corpo fala. Ele manifesta e expressa diversas mensagens, não apenas à base de palavras, mas através de expressões faciais (olhos, lábios), gestos com as mãos, postura física, ritmo do corpo (caminhar, correr), transparecendo e comunicando, muitas das vezes informações importantes sobre um determinado indivíduo sem sequer recorrer ao uso das palavras. “A expressão verbal nem sempre possui a clareza das palavras, mas é carregada de significado” (Beirão et

al. 2008: 21).

De facto, os sinais não-verbais tornam a comunicação verbal mais autêntica, mais rica e significativa. Eles são os principais meios de expressão e comunicação das emoções, actuando como uma bomba de escape para os nossos sentimentos - “Not only do people unconsciously use words to conceal their feelings, they also unknowingly reveal what they feel through their body language - especially during times when they are under stress” (Calero 2005: 4).

Allan e Barbara Pease na obra “Linguagem corporal” apresentam alguns exemplos acerca de como a linguagem corporal transmite para o exterior o estado emocional de uma pessoa, e de como um simples gesto pode ser um indicador valioso de uma emoção que se esteja a experimentar no momento.

Um homem preocupado com o facto de estar a ganhar peso poderá beliscar uma prega de pele sob o queixo; uma mulher que se apercebeu de ter ganho uns quilinhos nas coxas poderá alisar o vestido ao longo das pernas; a pessoa que se sente receosa ou defensiva poderá cruzar os braços, as pernas, ou ambos (Allan e Pease 2009: 3).

A comunicação não-verbal também aumenta o feedback, dado que ela pode ser usada para acentuar, complementar, contradizer, regular ou substituir a comunicação verbal. De acordo com Lusting e Koester “as expressões não-verbais são usadas para acentuar uma mensagem verbal ao destacar uma palavra ou frase em específico, do mesmo modo, como na adição dos itálicos nos discursos escritos” (Lusting e Koester citado por Ribeiro e Guimarães 2009: 4).

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Benitez acrescenta que ela também é usada para esclarecer, explicar, reforçar e repetir as mensagens orais, complementando-as, ao confirmar, por exemplo, o conteúdo de enunciado verbal. É o caso de mover a cabeça para a direita e para a esquerda quando queremos expressar negação acompanhando o enunciado “Não, não, não é nada disso” (Benitez 2009: 5).

Substituir a comunicação verbal pode também ser uma das funcionalidades da comunicação não-verbal. Isto acontece mediante gestos manuais como, por exemplo, pedir a alguém que se aproxime, que nos traga a conta ou até para indicar o agrado/desagrado perante alguma coisa. “Uma mulher pode lançar a um homem um “olhar à matadora”, que lhe transmitirá uma mensagem muito clara, sem ela ter sequer de abrir a boca” (Allan e Pease 2009: 31).

Portanto, a comunicação não-verbal assume, de facto, extrema importância para enriquecer as mensagens orais, complementando-as. Ela é até considerada, segundo alguns especialistas, mais sincera do que as palavras. “Body language is an outlet for your feelings, is more reliable than verbal communication and may even contradict verbal expressions” (Alessandra 2006: 2).

2.2.2. Comunicação Não-verbal: A Descoberta de um Novo

Mundo

Tal como Shakespeare observou sabiamente “o mundo inteiro é um palco e todos os homens e mulheres são apenas actores (…) um homem representa muitos papéis em sua vida” (Shakespeare citado por Birck e Keske 2008: 10). De igual modo, o corpo exprime-se, faz mil gestos e mil caras e todas elas podem revelar inúmeros e diferentes significados.

Assim, no que concerne aos diversos meios de comunicação não-verbal Dick Crable, estudioso dos comportamentos não-verbais, identifica as diversas áreas do comportamento não-verbal como: cinésica, proxémica, háptica, oculésica, objéctica,

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cronémica, vocálica, factores ambientais e aparência física (Crable citado por Fisher e Adams 1994: 166).

Por sua vez Knapp classificou a comunicação não-verbal em sete dimensões, nomeadamente: cinésica, paralinguagem, contacto físico e as formas de toque, a proxémica, as características físicas do comunicador (forma e aparência do corpo), os artefactos e adornos e os factores ambientais (disposição dos objectos no espaço) (Knapp citado por Silva et al. 2000: 2).

No entanto, apesar de particulares diferenças (nomenclatura, disposição ou segmentação) pode-se afirmar que existe um certo consenso geral entre os investigadores ao considerarem como áreas da comunicação não-verbal as seguintes: cinésica, proxémica, cronémica, características físicas, vestuário e artefactos, paralinguagem e a comunicação dos sentidos da vista, do tacto e do olfacto.

Vejamos agora mais detalhadamente cada um destes canais de comunicação não-verbal, dando especial ênfase à cinésica e à indumentária, principais objectos de estudo deste trabalho de investigação.

2.2.2.1. O Tacto (tactésica)

Embora não estudado tão exaustivamente como os outros canais de comunicação, o toque é considerado uma das formas de comunicação não-verbal mais poderosas, no entanto deve ser usado com muita cautela.

Este sinal, para além de representar a forma mais primitiva de acção social, ele transmite inúmeras mensagens. Dependendo do local ou do país, ele pode incluir acções como apertar as mãos, abraçar, beijar, esfregar narizes, entre outras formas de toque. Quem se toca, quando e onde pode assim veicular inúmeras mensagens sobre o relacionamento.

O toque é um sinal de inclusão, pois tal como refere Calero “touching another person conveys many subtle nonverbal messages, love, caring, empathy, sympathy,

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concern, understanding, authority—plus others” (Calero 2005: 10 e 11). De facto, nós usamos o toque para transmitir empatia perante outras pessoas, para demonstrar sentimentos de afecto como amor, carinho e até orientar uma interacção quando, por exemplo, chamamos a atenção a um indivíduo ou acentuamos alguma mensagem verbal. No fundo o toque acaba por criar um laço momentâneo com o nosso interlocutor, diminuindo assim a sua defensividade e fomentando a proximidade entre ambos (Rego 2007: 158).

O toque pode ainda ser visto como um sinal de poder e autoridade. Um superior tocar no subordinado pode ser considerado uma deferência, por outro lado, tocar no subordinado e de seguida expô-lo pode transmitir uma falta de respeito para com ele. Henley estudou a relação entre o contacto físico e o status e chegou à conclusão de que “os indivíduos de condição mais elevada efectuam mais contactos físicos do que os de condição inferior à sua” (Bitti e Zani 1997: 140).

No entanto, as influências culturais podem determinar fortemente o significado destas mensagens silenciosas. Por um lado, há culturas onde o toque é habitual no quotidiano relacional (ex. espanhóis, italianos, etc.), enquanto que noutras o toque frequente não é regra, podendo até mesmo ser tabú. Por outro lado pequenas acções, como o acto de cumprimentar, também se subordinam a uma lógica cultural. Há países onde os homens não cumprimentam as mulheres em lugares públicos, enquanto noutros o beijo ocorre logo no primeiro encontro, quando se conhecem.

[Os brasileiros] como são muito expensivos, dos apertos de mão passam rapidamente para os abraços, que são demonstrações de apreço que têm por si. As mulheres falam com 2 beijinhos se são casadas e com 3 se são solteiras (dizem que o 3º é para dar sorte na busca do marido (…) (Amaral citado por Rego 2007: 159).

O toque assume assim uma grande relevância, uma vez que transmite inúmeras mensagens constantemente usadas na nossa sociedade – “it’s important not only to your individual position in the pecking order of status or authority but also to the social acceptability of your actions, in general” (Calero 2005: 22).

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2.2.2.2. O Olfacto

O olfacto é considerado um dos sentidos mais antigos e um dos métodos básicos de comunicação, pois, através do nosso nariz passa continuamente uma infinita série de informações.

O odor pode transparecer o estado emocional das pessoas bem como ajudar a localizar alimentos e parceiros. “They seem to influence moods, memory, emotions, the selection of a mate (…) and are also believed to be a major health factor to our physical well-being” (Calero 2005: 29) uma vez que um mau cheiro pode significar falta de higiene ou até implicar uma saúde vulnerável.

Na visão de Verônica Mazza o olfacto pode também ser usado para delimitar o território, e como forma defensiva (Mazza 1998: 29). É o caso dos animais onde o sentido de olfacto pode revelar a presença de inimigos bem como delimitar o território de cada um.

Por outro lado os odores têm uma capacidade quase lendária de despertar recordações. Flora Davis ainda acrescenta que a frivolidade, o sexo e os perfumes parecem andar de mãos dadas. Apesar do esforço constante da nossa sociedade em eliminar os odores naturais do corpo humana, esse esforço tem sido em vão.

O cheiro pode assim, no dia-a-dia, dar um senso da vida. As alterações e transições dos odores não só ajudam a situar alguém no espaço, mas também contribuem para dar encanto à vida diária.

2.2.2.3. Cronémica

O tempo é outro dos elementos com os quais as pessoas se comunicam sem palavras. Tal como refere Hall na sua obra, “The silent language”, o tempo fala. Fala mais claramente do que as palavras” (Hall, 1980). Relativamente a este campo da comunicação não-verbal as publicações do autor incidem nos seguintes argumentos: a) povos distintos encaram o tempo de modo diferente; b) estas concepções, e práticas correspondentes, influenciam as relações interpessoais, actuando como uma linguagem táctica nas relações com os outros. Podemos assim constatar, de uma

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forma mais sucinta, que o tempo, enquanto elemento de comunicação, pode ser analisado mediante dois pontos de vista: pontualidade e instrumento de poder.

Pontualidade

A falta de pontualidade pode comunicar inúmeras mensagens, nomeadamente, desinteresse, maus hábitos, pouco desejo de superação pessoal, descortesia e falta de respeito perante os outros. Já a pontualidade pode ser usada para aferir certas qualidades da pessoa. Por exemplo, se alguém chega sempre cedo ao trabalho manifesta interesse, responsabilidade e companheirismo. No entanto, estas interpretações são determinadas pela cultura, uma vez que a noção de pontualidade é interpretada de modo diferente pelos diferentes países (Ver quadro 1). Um atraso pode ser culturalmente admissível para um encontro social mas não para uma reunião de negócios. É o caso do Reino Unido onde predomina a pontualidade, mas é aceitável o atraso de 10m no que respeita a jantares sociais (Rego 2007: 181 e 182).

País Importância da Pontualidade

África do Sul Cumprir a mais estrita pontualidade é fundamental.

Alemanha É costume dizer-se que em nenhum outro país a pontualidade é tão

importante.

Angola É desnecessário ter pressa. Convém ser pontual, no entanto prepare-se para

esperar.

Bélgica A pontualidade é rigorosa.

Brasil O cumprimento de horários não é habitual, no entanto espera-se pontualidade

nos compromissos de negócios.

China A pontualidade é extremamente importante. Simboliza o respeito pelo

compromisso assumido.

Espanha Os atrasos de 15 minutos são aceitáveis para os encontros sociais. EUA Para os americanos “Time is money”.

França A pontualidade é sinal de cortesia e deve ser cumprida essencialmente nos

encontros de negócios.

Índia Os indianos estimam a pontualidade mas nem sempre a põem em prática.

Itália A pontualidade não é rigorosa.

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14 cortesia.

México A pontualidade é apreciada mas pouco praticada.

Suécia É muito importante ser pontual, tanto em encontros sócias como em reuniões

profissionais.

Tabela 1: O modo como a pontualidade é encarada em diferentes países Fonte: Rego 1997: 183-185

©Produção gráfica pessoal

O tempo como táctica de poder

O tempo também pode ser usado como um meio de comunicar e exercer influência e poder. Neste sentido, Allan e Barbara Pease foram peremptórios: “A pessoa que faz você esperar mais de 20 minutos mostra que ou é muito desorganizada ou está fazendo jogo de poder. Fazer o outro esperar é uma forma eficaz de diminuir-lhe o status e aumentar o próprio” (Pease e Pease 2005: 243). A lógica é: quem tem menos poder espera, quem tem mais, faz esperar. Convém no entanto ressaltar que, o descuido ou falta de cumprimento de horários podem proporcionar perda de poder, pelo menos em determinados países, uma vez que actuam como fontes para a perda de reputação e credibilidade.

2.2.2.4. Proxémica

Todos os seres vivos ocupam um espaço físico pessoal, uma espécie de bolha individual ou um território particular, cuja dimensão é condicionada pela cultura. “Uma das nossas necessidades mais profundas é o desejo de possuir a nossa própria terra. Esta pulsão provém do facto de que esta nos proporciona a liberdade espacial de que necessitamos” (Allan e Pease 2009: 227). Neste sentido a proxémica, definida pelo seu criador, e antropólogo, Edward Hall, rege-se pelo estudo dos comportamentos não-verbais que fazem referência à organização do espaço, bem como ao seu valor expressivo (Lázaro 2009: 16).

Tais espaços comunicam significados compartilhados, frutos da sociabilização entre as pessoas predispondo formas de comportamento adequadas aos objectivos

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pretendidos com a comunicação estabelecida. Neste sentido, o espaço pode comunicar informações precisas acerca de aspectos inerentes ao status, interesses e intenções do interlocutor.

El espacio que la persona utiliza para relacionarse com el exterior, tanto con objectos como com personas, informa sobre muchos aspectos inherentes a sue status, intenciones y âmbito cultural al que pertenece. Por tanto, decidirse a entrar en el espacio personal de outro es también una demonstración de interés y un acto de valentia (Edward citado por Bravo 2010: 46)

Segundo Monteiro e os seus colaboradores, o espaço transmite informações acerca do status do indivíduo. Para ilustrar esta situação o autor faz referência às pessoas de alto status social e de como estas têm tendência a adoptar uma atitude de frio distanciamento, chegando, por vezes, a evitar o contacto físico, nomeadamente o aperto de mão, e a adoptar uma distância adequada à sua posição social. (Monteiro et

al. 2008: 62)

Hall (1980) subdividiu as necessidades territoriais do indivíduo em quatro zonas: distância íntima, pessoal, social e pública, as quais crescem à medida que diminui a intimidade (Ver figura 2).

A distância íntima constitui-se em um espaço inferior a 45 cm e é caracterizada por contactos íntimos em que a proximidade e o contacto físico estão em primeiro plano. O calor do corpo, o odor e a respiração são perceptíveis, verifica-se, por exemplo, na relação natural entre os amantes, pais e filhos ou amigos íntimos. “É a distância do ato do amor e da luta, da protecção e do acolhimento” (Gomes citado por Lunardelli e Queiroz 2005: 4). A distância pessoal é de 45 cm até 1,25m e corresponde à zona onde ocorrem os contactos entre pessoas amigas e colegas de trabalho. Aqui existe a separação das pessoas, podendo ocorrer o toque a curta distância, como o aperto de mão ou a troca de olhares e sorrisos. A distância pessoal é de 1,25m até 3,5m e caracteriza-se por ser impessoal, sendo mais comum em contactos de negócios. Nesta zona “a informação sensorial transmitida é mínima, sendo a informação visual mais detalhada que a obtida na distância pública” (Carvalho, p.10). Por último, a distância pública estende-se a partir dos 3,6m e é muito formal.

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Esta distância verifica-se, por exemplo, na interacção entre um orador e uma audiência e a “principal forma de comunicação é verbal, acompanhada de comportamentos não-verbais exagerados” (Carvalho, p.9), como a utilização de muitos gestos.

Ilustração 2: Classificação das distâncias. Estas distâncias são globalmente aplicáveis a culturas anglo-saxónicas e a culturas do norte da Europa, mas não necessariamente às restantes culturas (adaptado de Hall (1980)).

Fonte: (Rego 2007: 164) © Produção gráfica pessoal

As distâncias que as pessoas adoptam numa relação interpessoal podem também transmitir inúmeras informações acerca da personalidade das mesmas. Por exemplo, as pessoas tímidas tendem a apresentar espaços maiores em comparação com as pessoas extrovertidas. As próprias modificações no decorrer de uma interacção fornecem informações sobre a intenção de iniciar, manter ou interromper um encontro.

(…) O movimento na direcção de uma pessoa pode ser sinal indicador do desejo de interagir; o afastar do interlocutor, acompanhando esta “jogada” com outros sinais não-verbais adequados, pode comunicar a intenção de pôr fim ao encontro (Bitti e Zani 1997: 142).

Diante do exposto, torna-se importante considerar as normas proxémicas da sociedade em que se vive, uma vez que a forma como o homem utiliza o seu espaço e o dos outros facilita, ou dificulta, as relações interpessoais.

Distância íntima Até 46 cm Entre 46cm e 1,22m Entre 1,22m e 3,6m Mais de 3,6m Distância Pública Distância Pessoal Distância Pessoal

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2.2.2.5. Paralinguagem

Na comunicação não-verbal a paralinguagem é uma disciplina que estuda as características não-verbais da voz como a entoação, a velocidade, o ritmo, as pausas, etc.. Todos estes aspectos vocálicos têm real interesse no processo de comunicação. Segundo Poyatos a paralinguagem é constituída por diversas categorias: a) qualidades primárias (como o timbre e o tom); b) modificadores (que compreendem por sua vez os qualificadores [tipos de voz] e os diferenciadores [riso, choro, suspiro, etc.]) e, por último, os alternantes (aspirações, pausas) (Serra 2001: 136).

As características paralinguísticas do tom de voz e do timbre têm, por exemplo, a função de enviar informações acerca do estado emocional do sujeito falante e constituem um código comunicativo que pode estar sujeito a convenções culturais (Bitti e Zani 1997: 160). Por exemplo, a ira costuma ser comunicada através do aumento da intensidade e da altura da voz. Por sua vez, uma pessoa excitada tende a falar rapidamente e com um volume mais forte, enquanto que um indivíduo deprimido fala lentamente e de modo mais apagado. Beirão acrescenta ainda que “uma voz calma, geralmente, transmite mensagens mais claras do que uma voz agitada” (Beirão 2008: 22).

A entoação de uma frase assume um papel importante, uma vez que tanto pode acentuar o que se está a dizer ou, pelo contrário, retirar algum significado, podendo até proporcionar uma inversão do sentido quando se trata de uma entoação irónica ou sarcástica. Tal como diz a expressão “Não é tanto o que se diz mas como é dito”.

Portanto, através da voz de uma pessoa nós podemos recolher inúmeras informações acerca do seu estado de espírito: se o indivíduo está tenso, relaxado, calmo ou excitado, entre outros.

O silêncio e as pausas também podem enviar múltiplas mensagens no processo de interacção com outra pessoa. Sobre as pausas, Cestero Mancera explica-nos o seguinte:

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[...] las pausas o ausencia de sonido durante un período de tiempo comprendido entre 0 y 1 segundo, aproximadamente, tienen como función primordial regular el cambio de turno, indicando el final de uno y el posible comienzo de otro, pero pueden funcionar también como presentadoras de distintas clases de actos comunicativos verbales, tales como preguntas, narraciones o peticiones de apoyos, y, además, pueden ser reflexivas o fisiológicas, con las connotaciones que ello conlleva (Mancera 2001: 601 e 602).

O silêncio, por si só, pode, tal como as pausas estar associado ao processo de decisão acerca de quem deve começar a falar ou simplesmente indicar o fim de uma fala. Para além de regular as expressões faladas ele pode transmitir ainda muitos outros significados. Como refere Calero “silence can convey confidence, honesty, forthrightness, strength, loyalty and dedication; but it can also convey indecision, lack of interest or ignorance” (Calero 2005: 62). O silêncio em muitas situações pode ser precioso, isto verifica-se, por exemplo, no contexto político onde é usado de modo estratégico, comunicando secretismo e incerteza. “Sometimes what you don’t say is more important that what you do say. Silence at times may turn out to be a wonderful non-response to a question” (Calero 2005: 61). Podemos assim verificar que cada modo de estar em silêncio pode significar tanto como uma mensagem verbal. Vejamos alguns exemplos na seguinte tabela:

Alguns significados do silêncio

Concordância Discordância (“Tratamento de silêncio”)

Preocupação, consideração de uma situação Ignorância Revelação (nós podemos saber muito das

pessoas através daquilo que elas optam por omitir)

Segredo (quando se pretende esconder algo)

Cordialidade (une os participantes) Frieza (“Separar os participantes”.)

Submissão Ataque (não responder a uma carta ou a um

comentário que nos foi dirigido)

Atrair a atenção Tédio

Consideração Desconsideração

Tabela 2: Alguns significados do silêncio

Fonte: Adaptado de Adler e Rodman apud Knapp e Vangelisti (2000: 113) © Produção gráfica pessoal

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Ainda segundo Ferro, o próprio suspiro é uma forma de silêncio e também ele comunica:

Por la relación que el modo de respirar tiene con el sosiego y la liberación de tensiones, así como en conexión com el sentido de libertad que el silencio posee frente a la palabra, el suspiro resulta liberador (…) *el suspiro+ puede llegar a ser un acto social, un acto comunicativo. No suspiramos delante de cualquiera (…) (Ferro citado por Serra 2001: 137).

Deste modo, é de notar que a paralinguagem actua como uma metacomunicação sobre o que é comunicado verbalmente, constituindo assim, de certa forma, um comentário constante acerca de como deve ser interpretado o que as palavras transmitem.

2.3. Cinésica

Ray Birdwhistell é conhecido como o pai da cinésica, tendo realizado inúmeros estudos acerca dos indicadores de sexo (nomeadamente no que respeita aos comportamentos, movimentos, gestos, etc. adjudicados a cada género). Estes estudos foram realizados em sete culturas distintas, onde deu também início aos estudos sobre os movimentos corporais partindo da ideia de que existem emoções básicas que são comuns a todos os seres humanos; como a alegria, amor, temor, atracção sexual, etc. Mediante estas considerações rapidamente chegou á conclusão de que não existem gestos universais. “Lo más que sabemos es que existe uma expresión facial, una actitud o una postura corporal que en sí misma no tiene el mismo significado en todas las sociedades” (Davis citado por Birdwhistell 2005: 16).

Na mesma linha de pensamento, Manuel Delgado refere que “no existeix mai expressió facial, posat ni actitud corporal que transmiti idêntica significació en totes les societats” (Delgado 2010: 4).

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20

Cada sociedade possui uma codificação e descodificação diferente. Por exemplo, o sorriso varia de cultura para cultura, nos Estados Unidos há inúmeros grupos propensos a sorrir, enquanto que outros não, podendo considerar o sorriso como algo provocador.

Tal como o discurso pode ser dividido em sons, palavras, orações, parágrafos, etc. também a cinésica possui unidades idênticas. A menor de todas elas é o “kine”, considerado “o mais pequeno movimento da linguagem do corpo” (Fast 2001: 153). Acima deste existem outros movimentos que são maiores e mais notórios, denominados “kinemas”, que adquirem significado quando são considerados em conjunto (Davis 2005: 17).

A cinésica é, provavelmente, de entre todos os sistemas de comunicação não-verbal o mais representativo e característico. É a disciplina que estuda o significado expressivo dos gestos e dos movimentos corporais que acompanham a fala. Nos estudos de Paul Ekman e Friesen, a cinésica é a ciência ou método que estuda os movimentos do corpo em geral, nomeadamente: os gestos, movimentos corporais das mãos, cabeça, pés e das pernas, expressões faciais, conduta ocular e posturas (Bravo 2010: 33).

Os actos não-verbais que constituem a cinésica são muitos e muito variados, pelo que se torna necessário subdividir este sistema noutros menores. No sentido de satisfazer as necessidades deste trabalho de investigação vamos adoptar a divisão proposta por Mancera. A autora divide este sistema em três categorias (Mancera citado por Litza 2006: 84):

 Maneiras ou formas convencionais de realizar acções;  Posturas;

 Gestos ou movimentos faciais e corporais;

Precedamos a uma breve análise destas categorias, dando especial enfoque aos gestos, um dos objectos de estudo deste trabalho de investigação.

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2.3.1. Maneiras

Segundo Mancera, as maneiras são definidas “como las formas de hacer movimentos, tomar posturas y en general, realizar actos não-verbais comunicativos” (Mancera citado por Orellana 2006: 87). Poyatos acrescenta ainda que as maneiras são caracterizadas pelo modo como se realiza um gesto ou uma postura mediante a cultura, o sexo, o nível sócio-educacional, estado emocional, etc. (Poyatos 2003: 77).

Neste sentido as maneiras acabam por ser comportamentos não-verbais geralmente aprendidos ou ritualizados socialmente de acordo com o contexto e podem adoptar uma relação de alternância ou simultaneidade perante os signos verbais.

Mancera classifica as maneiras da seguinte forma:

 Maneiras gestuais e posturais – incluem gestos para saudar, despedir, auto-apresentar-se, etc.;

 Maneiras de realizar hábitos de comportamentos culturais – incluem, por exemplo, a forma de ir sentado, de andar, a maneira de comer, etc.;

O valor das maneiras é essencialmente cultural. Deste modo, por exemplo, durante uma interacção social comportamentos como as palmaditas ou as carícias podem, ou não, ser permitidos, dependendo dos valores da sociedade em questão bem como do tipo de relação social.

2.3.2. Posturas

Tal como os restantes sistemas da comunicação não-verbal, também a postura comunica. Através da postura uma pessoa pode mostrar às demais a sua atitude, ao sentar-se, por exemplo, de modo diferente das outras. A maneira de andar,

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de estar de pé, de cruzar ou não as pernas comunica os papéis vividos, o seu estado de espírito e até a confiança que uma determinada pessoa tem em si própria.

Há uma relação próxima entre postura e personalidade. A rigidez, o porte altivo, a postura tímida ou de superioridade, podem dar indicações úteis sobre a personalidade, embora a pessoa possa utilizar intencionalmente essas posturas para reforçar o papel que deseja representar socialmente (Monteiro et al. 2008: 62).

Existem posturas dominantes e submissas. Por exemplo, o porte direito, a cabeça levantada para trás e as mãos nas ancas podem indicar o desejo de dominar, ao passo que aquele que possui as costas curvadas transmite fraqueza e submissão. Outras correspondem a situações de amizade ou hostilidade, e há ainda aquelas que indicam um estado ou condição social sendo mais usuais em situações públicas. “Nas relações hierárquicas, verificamos que inferiores hierárquicos adoptam posturas atenciosas e mais rígidas do que os seus superiores, que tendem a mostrar-se mais descontraídos” (Beirão et al. 2008: 22).

A postura varia de acordo com o estado emocional. Neste sentido, Sarbin e Hardyck (1953) estudaram a relação existente entre ambos e puseram em evidência uma correlação específica entre o tipo de postura e algumas das emoções fundamentais. Essa correlação está bem explicitada na ilustração que se segue:

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Ilustração 3: Linguagem não-verbal e a expressividade dos gestos corporais Fonte: Figuras extraídas de Sarbin e Hardyck por Monteiro et al. 2008: 64.

Legenda: a) curiosidade; b) embaraço; c) indiferença; d) rejeição; e) observação; f) autossatisfação; g) gratidão; h) determinação; i) ambiguidade; j) procura; k) concentração; l) atenção; m) agressividade; n) excitação; o) preguiça; p) surpresa; q) servilis; r) timidez; s) meditação; t) afetação.

Já Ekman e Friesen consideram que “a postura é mais importante para comunicar a intensidade da emoção e não o seu tipo” (Ekman e Friesen citados por Figueiredo 2000:41). Na percepção destes autores, a postura é menos regulável do que outros aspectos corporais, pelo que pode revelar uma ânsia secreta que a expressão facial, por exemplo, não transmite. Cherny e Rulicki ilustram bem esta situação ao referirem que “adelantar el torso puede indicar tanto receptividade como desafio, mientras que cruzar los brazos señala mala predisposición, o simplemente que se tiene frio” (Cherny e Rulicki 2007: 36).

A própria orientação da postura comunica acerca da intenção do interlocutor. Se por exemplo, alguém quer ajudar o mais provável é que se sente adoptando uma certa inclinação para onde está localizado o sujeito com quem quer cooperar. Por

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outro lado, a direcção para a qual apontam os sapatos e o tronco do indivíduo pode incluir ou excluir as outras pessoas da roda conversacional.

2.3.3. Gestos

“Os gestos são janelas para o pensamento”

(D. McNeil citado por Pereira 2010: 26)

Gesto é uma palavra derivada do latim géstus e designa movimento, atitude, gesticulação, esgar, visagem, careta (Pereira citado por Houaiss 2010: 31). Segundo Kendon, a palavra ‘gesture’ é usada por diversos fenómenos distintos que incluem movimentos corporais nos actos comunicativos (Ozyurek 2000: 67).

Os gestos têm atraído a atenção de inúmeros estudiosos por mais de dois milénios. O interesse pelo estudo desta área advém já desde a Antiguidade Clássica. Cícero na Invenção da Rétorica e Quintiliano na sua Instituição Oratória falavam da

dispositio do orador para persuadir o auditório; aqui o gesto era usado para criar e

ressaltar a imagem do orador bem como para dar ênfase aos movimentos estratégicos que melhor se aplicavam para a defesa das causas em questão. Desde então muitas pesquisas e estudos foram realizados impulsionando novas descobertas na área dos gestos. Nesta perspectiva, e de forma a evidenciar as principais linhas de investigação desta temática, apresentamos um quadro resumo dos estudos realizados:

Autor Ano/Período Contributo para o estudo dos gestos

Marcus Fabios Quintilianus

30 a 95 Escreveu a obra Institutio Oratória composta por 12 volumes que apresenta a discussão mais completa sobre os gestos da época, chamando a atenção para a importância da voz e do gesto coreográfico (sequência de movimentos intencionais).

Július Victor Séc. IV Estuda a importância dos gestos e faz recomendações sobre a sua utilização.

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numa primeira parte, faz uma descrição de todos os gestos corporais e, numa segunda, trabalha com gestos e sinais usados nas diversas profissões.

John Bulwer 1606 - 1656 Publica os tratados Chirologia, or the natural

language of the hand e Chironomia e Art of Normal Rhetoric (1644). O autor exalta o

discurso e aptidão das mãos discutindo os 64 gestos das mesmas.

Condillac 1756 O autor e outros filósofos acreditavam que as primeiras línguas eram gestuais. O investigador afirmou que “a linguagem original emergiu de signos naturais”, portanto, dos gestos (Condilac citado por Pereira 2010: 2).

Gilbert Austin

1753 - 1837

Escreve Chironomia (1806), o estudo mais ambicioso publicado neste período. O seu sistema de notação dos gestos consistia na representação do corpo numa esfera imaginária, dentro da qual o falante movia o seu corpo, pés e mãos na direcção de um dos pontos demarcados.

Albert M. Bacon 1875 Baseando-se no modelo de Austin, Bacon apresenta uma variedade de expressões faciais. Tal como Austin, Bacon também usava uma esfera imaginária para mapear os gestos dos falantes.

David Efron 1941 É pioneiro no estudo dos gestos que

acompanham a fala. Na sua pesquisa Gesture

and Environment faz uma descrição dos gestos

espontâneos que acompanham

sincronicamente a fala. O seu trabalho foi considerado um marco de cientificidade devido ao rigor do seu método. Realizou observações visuais, produziu filmes em câmara lenta e inúmeros desenhos.

Ekman e Friesen 1969 Divulgam os estudos iniciados por Efron e propõem um esquema de classificação

tipológica dos gestos, classificando-os em cinco categorias: emblemáticos, reguladores da interacção, indicadores do estado emocional e de adaptação.

W. Wundt 1870 Defende o dualismo ou a separação entre gesto

e ideia. Para este autor, a comunicação gestual era considerada como “uma expressão do pensamento por meio dos movimentos visíveis, mas não audíveis e de dar a esta expressão um lugar entre fala e escrita (Rector citado por Correa 2007: 30).

François Delsarte 1811 - 1871 Desenvolveu um estudo intensivo do

movimento e do seu comportamento. Define o gesto como “intérprete do discurso – o gesto

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foi dado ao homem pata revelar o que o discurso é impotente para expressar” (Delsarte citado por Pereira 2010: 2). O pesquisador analisa profundamente a voz, respiração, dinâmicas de movimento, linha e forma, bem como todos os movimentos do corpo que actuam como agentes expressivos.

Rudolf Laban 1879 - 1958 Os seus estudos incidiram na relação entre o movimento humano e o espaço que o rodeia dando origem a um extenso sistema de análise, pesquisa e notação do movimento.

Adam Kendon 1972, 1988 Investigou diversos aspectos do gesto como o seu papel na comunicação, na evolução da língua, bem como o convencionalismo do gesto. Como resultado dos seus estudos sugere a integração do gesto e da fala, a partir da construção de uma unidade entre ambos.

McNeil 1992 A partir das pesquisas de Efron, considera que

“os gestos, juntamente com a língua, ajudam a constituir o pensamento e reflectem a

representação imagística mental que é activada no momento de falar” (McNeil citado por Pereira 2010: 3). Abre-se então a possibilidade de o gesto possuir não só um papel na produção do discurso mas também em actividades cognitivas. Classifica os gestos em quatro tipos: icónicos, metafóricos, rítmicos e dêiticos.

Goldin-Meadow; Alibali e Church

1993 As suas pesquisas evidenciam que os gestos das mãos podem oferecer uma visão única no processo de ensino e aprendizagem.

Kita; Alibali e Young 2000, 2003 Acreditam que os gestos estão envolvidos na elaboração conceitual do discurso. Os seus trabalhos indiciam que o gesto, para além de ser um acto comunicativo, também pode reflectir e influenciar os processos mentais dos falantes, facilitando o acesso a itens do léxico mental.

Tabela 3: Estudos realizados no âmbito dos gestos Fontes: Pereira, 2010 e Correa, 2007

© Produção gráfica pessoal

Segundo McNeil, os gestos são movimentos corporais, visíveis e voluntários, realizados pelo ser humano, através dos quais transmitem um determinado significado. Noutros termos podemos dizer que os gestos são movimentos que, de forma consciente ou inconsciente, o falante realiza com uma ou mais partes do corpo, nomeadamente com a cabeça, o rosto (incluindo o olhar), ou as extremidades, tanto

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superiores como inferiores. De realçar os gestos das mãos que, no âmbito gestual, desempenham funções claramente ostensivas.

Cestera (2004) divide os gestos em dois grandes grupos:

 Gestos faciais: aqueles que se realizam com os olhos, as sobrancelhas, o queixo, o nariz, os lábios, a boca;

 Gestos corporais: aqueles que se realizam principalmente com a cabeça, as ombros, os braços, as pernas, os pés, as mãos e os dedos.

2.3.3.1. A Função dos Gestos

Quadro1 – Enunciado oral e gesticulado

Knapp e Hall (1999), referindo-se à função do comportamento não-verbal salientam que ele pode perfeitamente repetir, substituir, complementar, acentuar ou regular e até mesmo contradizer as mensagens verbais (Knapp e Hall 1999: 30). Neste sentido, quando existe concordância entre a palavra e o gesto, a recepção da mensagem é mais eficaz e o impacto é maior. Por sua vez, quando existe uma divergência entre ambos, esta contradição cria um efeito perturbador (Dorna e Argentin 1993: 63).

Os gestos também exercem funções comunicativas chegando, por vezes, a ser mais eficazes na transmissão das mensagens do que qualquer palavra que possamos eventualmente usar. Eles podem ser usados para ilustrar ou reforçar a mensagem

- Moço, pode-me dizer onde fica a farmácia mais próxima?

Pergunta uma mulher a um rapaz que apertava os cordões dos seus sapatos.

- Um momento, deixe-me acabar de apertar os cordões dos sapatos e, então, poderei explicar-lhe melhor.

Ao explicar à mulher, o rapaz aponta com o dedo indicador para a direcção que ela deveria seguir para chegar ao destino desejado.

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verbal, esclarecendo o seu significado. A título de exemplo temos o recurso a gestos direccionais no sentido de complementar a expressão direccional verbal, como é demonstrado no exemplo acima. Ali o gesto de apontamento esclarece a direcção enunciada oralmente pelo rapaz, clarificando e complementando a informação que lhe foi solicitada pela mulher.

De facto, uma das funções dos gestos é ilustrar a expressão verbal, criando uma imagem clara daquilo que está a ser dito. “Because some people take in information more effectively be seeing what´s being described, illustrating your message through gestures helps create a clear picture for them”7.

Segundo Adam Kendon, os gestos participam na construção de sentido do enunciado. Muitas das vezes as palavras faladas são ambíguas e aquilo que o falante quer dizer com as palavras ou frases visadas só se torna claro quando elas são definidas num contexto mais amplo. Neste sentido, os gestos podem fornecer o contexto para a expressão oral através de uma representação visual, fazendo com que o enunciado oral seja mais preciso. (Kendon, p.51).

Por outro lado, os gestos podem ser usados como marcadores da atitude do falante em relação ao que se está a dizer, nomeadamente, para expressar as suas atitudes acerca de como se espera que aquilo que se está a dizer seja interpretado pelo interlocutor. Deste modo, os gestos acabam por expressar a natureza da intenção ilocucionária do enunciado, adicionando significado à mensagem falada (Kendon, p.56).

Assim sendo, podemos verificar que o gesto exerce funções comunicativas, visando acima de tudo tornar a expressão falada o mais clara e unívoca possível. “É o caso dos gestos que sublinham a palavra, a pontuam e lhe dão um relevo relativo como faz o dedo indicador apontando para aquele que eu acuso” (Bergès 1967: 24).

Alguns especialistas (Laguna 1927; Friedman 1972; Mead 1934¸ Moscovici 1967; Werner; Kaplan 1963) alegam ainda que, os gestos não só transmitem

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Tabela 1: O modo como a pontualidade é encarada em diferentes países  Fonte: Rego 1997: 183-185
Ilustração  2:  Classificação  das  distâncias.  Estas  distâncias  são  globalmente  aplicáveis  a  culturas  anglo- anglo-saxónicas e a culturas do norte da Europa, mas não necessariamente às restantes culturas (adaptado de  Hall (1980))
Tabela 2: Alguns significados do silêncio
Ilustração 3: Linguagem não-verbal e a expressividade dos gestos corporais  Fonte: Figuras extraídas de Sarbin e Hardyck por Monteiro et al
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Referências

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