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5. CONCLUSÕES

5.2 Conclusões conceituais

Na literatura encontram-se estudos sobre a LR, reciclagem, coleta seletiva e destinação final de resíduos, porém estes estudos não apresentam a utilização da SED nesta área e com o propósito apresentado neste trabalho, de forma a auxiliar os tomadores de decisão e possibilitar uma efetiva aplicação prática do método. Foram encontrados em muitos trabalhos publicados a utilização de cálculos que, embora possam ter uma precisão de resposta maior, apresentem modelos matemáticos muitos complexos, que podem dificultar sua utilização e replicação por gestores não especialistas, além de que a inserção de muitas variáveis pode tornar o modelo de difícil resolução matemática.

Ressalta-se que o foco central desta pesquisa não foi, a priori, comprovar a lucratividade ou sustentabilidade ambiental, por exemplo, de alguma forma de LR ou destinação final de resíduos, e sim fornecer subsídios para que gestores, de posse de dados mais precisos, possam realizar análises e julgamentos mais estruturados e metódicos que possibilitem esclarecer e responder com mais acuracidade as questões relativas à área da LR

de pós-consumo e gestão de resíduos. Então, a ideia central foi apresentar um modelo genérico de análises para auxiliar na tomada de decisão, que pode ser utilizado para todos os tipos de materiais. Ressalta-se que somente a publicação de leis não irá mudar por si só o quadro atual de gestão dos RSU, haja vista o número extenso de legislação desde esfera Federal à Municipal, mas é preciso dar condições para que as municipalidades, responsáveis legais pelos resíduos, possam operacionalizar um adequado sistema de gestão e LR.

Uma prova real da dificuldade e da problemática de se estruturar um adequado programa de gestão de resíduos que envolva a logística reversa é que, embora a PNRS deixe claro a obrigatoriedade desta questão para vários setores, na prática pode-se verificar que ainda não há acordos setoriais e termos de compromissos efetivamente firmados neste sentido. Tanto o setor empresarial quanto o público se deparam com diversos problemas que vão desde questões legais a questões operacionais do processo como um todo. O mercado de reciclagem brasileiro apresenta muitas incertezas (sazonalidade e qualidade), poucos compradores (concentrados em grandes cidades) e numerosos vendedores (espalhados).

Em relação à incineração, na cidade de Boa Esperança/MG (população 40.018 habitantes) está em andamento um projeto para a instalação da primeira usina térmica no país que utilizará os RSU para gerar energia elétrica. Segundo a empresa responsável pelo projeto, a energia produzida será distribuída na rede que atende os prédios públicos municipais, como o da prefeitura, e vai gerar uma economia de R$ 200 mil por mês, o que também poderá reduzir a conta de energia elétrica dos moradores. O reaproveitamento energético dos RSU poderia mitigar dois grandes problemas da atualidade: a demanda por energia e a destinação do crescente volume dos resíduos.

Uma vantagem da incineração que é não há necessidade de grandes espaços para operar e processar milhares de toneladas de resíduos e a usina pode ser instalada em centros urbanos. Já o aterro necessita de locais específicos, analisados e autorizados por órgãos ambientais, e tem sua vida útil reduzida ao longo dos anos conforme a geração de RSU se eleva. Como consequência, tem-se que a localização dos aterros está cada vez mais distante das fontes geradoras. No Brasil, porém, a disponibilidade de terra torna a opção pelos aterros menos complicada e dispendiosa do que para a maioria dos países desenvolvidos, o que justifica essa opção como forma de destinação predominante no país.

No que tange ao custo da coleta seletiva, conforme pode ser constatado na literatura pesquisada, economias substanciais poderiam ser alcançadas ao se otimizar a rota, por meio da roteirização e programação dos veículos de coleta, por exemplo. O baixo desempenho da coleta seletiva está fortemente relacionado com a baixa densidade dos materiais, com a baixa

taxa de coleta e separação na fonte e rotas ineficientes. Outro ponto de discussão que poderia atenuar a questão do custo com o sistema de coleta seletiva diz respeito à cobrança de taxas para a prestação dos serviços municipais de limpeza urbana, uma vez que os consumidores também são incluídos como parte da responsabilidade compartilhada no ciclo de vida dos produtos. No Brasil, essa prática de cobrança de uma taxa específica ainda não é realidade para a maioria dos municípios brasileiros e com isso verifica-se uma forte dependência dos municípios por repasses de verbas oriundas do Governo Federal e Estadual, o que não raro pode ocasionar um quadro de não sustentabilidade financeira e não cumprimento das legislações por falta de financiamento municipal.

Questões como investimentos em desenvolvimento de novas tecnologias, atividades que agregam valor ao produto, riscos, dentre outras, influenciam diretamente no resultado econômico pretendido para cada negócio, mas é importante que se tenha uma visão holística da logística reversa com o intuito de tentar mitigar cenários de histórica exploração do trabalho dos catadores de materiais recicláveis e avaliar melhores alternativas de destinação dos diversos tipos de matérias presentes nos RSU. A utilização do modelo de sustentabilidade triple bottom line, conforme as análises conjuntas realizadas no presente trabalho, possibilitou equacionar e visualizar a gestão dos RSU sob a perspectiva do Poder Público, que já tem como atribuição utilizar os recursos de modo a promover melhores condições ambientais, sociais e econômicas para a população.

Cada alternativa tem suas vantagens e desvantagens, conforme a ótica de análise e interesses envolvidos, e a utilização de métodos de planejamento direcionados à racionalização ajudarão a encontrar as melhores alternativas conforme as características dos materiais sob avaliação. Assim, pode-se concluir que no modelo de sustentabilidade, por apresentar três pilares de decisão, aliada a complexidade inerente da LR e destinação final de resíduos, torna-se imperativo o uso de ferramentas e métodos que possam auxiliar em análises conjuntas e que possibilitem compreender o sistema sob um ponto de vista mais holístico, uma vez que dificilmente alguma solução apresentará ao mesmo tempo vantagens sob todos os aspectos da sustentabilidade.

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