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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.2 Logística Reversa

2.2.4 Embalagens Longa vida

Souza (2011) cita que as embalagens cartonadas longa vida foram criadas com o intuito de preservar os alimentos por mais tempo, tornando-se assim um meio eficiente de conservação dos mesmos. Essas embalagens são descartáveis, gerando a produção de resíduos sólidos e consequentemente efluentes orgânicos capazes de alimentar pragas/insetos e prejudicar a saúde pública. As ELVs contêm em sua composição três materiais diferentes: 75% de papel, 20% de polietileno e 5% de alumínio (Figura 2.16). Elas são 100% recicláveis. No Brasil, a empresa Tetra Pak é responsável por quase toda produção das ELVs no país (Mafra, 2011).

Figura 2.16 - Composição embalagens longa vida Fonte: Tetra Pak (2013)

Segundo dados do CEMPRE (2014a), a taxa de reciclagem das ELVs no Brasil em 2012 foi de 29%; índice inferior aos 59% das garrafas PET, aos 58,9% dos papéis e principalmente inferior aos mais de 90% das latas de alumínio. Essa situação pode ser justificada, em partes, como consequência das ELVs se tratarem de compósitos, ou seja, constituídas de papel, plástico e alumínio, condição que torna o processo de reciclagem mais complexo em virtude da necessidade de separação desses materiais. Cita-se também o fato de que o ônus da coleta e destinação adequada dos RSU é de responsabilidade dos Municípios, cujos orçamentos e recursos técnicos muitas vezes são insuficientes, além da falta de uma devida cooperação do setor privado.

Souza (2011) afirma que uma alternativa para aumentar a eficiência da reciclagem das ELVs é os Municípios, por meio do legislativo, promoverem ações civis e administrativas para que efetivamente possam fiscalizar e punir o não cumprimento da responsabilidade do varejo no que se refere à sua integração como elo da LR, atuando assim entre a indústria e o consumidor no que tange ao recebimento dessas embalagens para posterior envio à reciclagem, como já acontece no caso das embalagens de agrotóxicos.

Um das formas correntes para se reciclar as ELVs se inicia em fábricas de papel que utilizam as fibras para fabricação de diversos tipos de papéis. Para que a reciclagem seja possível, é necessário que se faça a separação das camadas dos materiais que compõem as embalagens e esse processo não requer a utilização de qualquer aditivo químico ou calor. Na sequência, após a segregação do papel, o composto de polietileno-alumínio é encaminhado para separação no reator a plasma térmico, gerando dois produtos: o alumínio metálico, com alta pureza, e a parafina. A indústria de reciclagem a plasma está localizada em Piracicaba/SP, ao lado da maior empresa recicladora de papéis do país e parceira no projeto plasma. A localização lado a lado dessas indústrias tem o intuito de evitar custos de transporte. Segundo Zuben (2012) um dos entraves atuais no processo de reciclagem das ELVs é a falta de matéria-prima.

O desenvolvimento da tecnologia a plasma no processo de reciclagem alterou o modelo vigente de reciclagem das ELVs, que até então separava o papel, mas mantinha o plástico e o alumínio unidos. O novo processo permitiu a reciclagem de todos os três componentes da embalagem. Pedroso e Zwicker (2007) ainda destacam que as principais iniciativas que viabilizaram o Projeto Plasma foram a inovação tecnológica e as ações integradas na cadeia de suprimentos. A inovação tecnológica determinada pela tecnologia a plasma foi fundamental para permitir a completa separação dos componentes das ELV e as

ações integradas na cadeia de suprimentos contribuíram para o alinhamento e a coordenação das ações nos vários estágios da cadeia de suprimentos da embalagem

Varžinskas, Staniškis e Knašyte (2012) mostraram em seu estudo que na Europa as ELVs pós-consumo têm as seguintes destinações: 36% são enviadas para aterros, 34% são recicladas e 30% são incineradas para recuperação de energia. A escolha da opção de tratamento e destino varia conforme a necessidade e viabilidade de cada caso. Xie et al. (2013) afirmam que apesar de haver muitos estudos que tratem sobre embalagens e seus impactos ambientais, somente uma pesquisa realizada no Brasil por Mourad et al. (2008), presente na base de dados da ScienceDirect, avalia por meio do método de ACV os efeitos ambientais do aumento da taxa de reciclagem especificamente das ELVs.

Xie et al. (2013) utilizaram o método de ACV e avaliaram, sob o ponto de vista ambiental, alternativas para a destinação final das ELVs pós-consumo na China. Os resultados revelaram que o aterro é a pior alternativa e a incineração é ambientalmente mais indicada quando comparada somente com a reciclagem de papel, em que o composto de aluminio/plástico das embalagens é enviado para o aterro. A tecnologia a plasma, desenvolvida no Brasil, mostrou-se a opção mais adequada do ponto de vista ambiental. Semelhante ao trabalho anterior, Varžinskas, Staniškis e Knašyte (2012) utilizaram o método de ACV para avaliar alternativas de destinação final das ELVs. Os autores destacaram que devido o método de ACV ter o foco em questões ambientais, há necessádade se realizar, separadamente, uma análise sob o ponto de vista econômico.

Neste mesmo contexto, Mourad et al. (2008) comprovaram que o aumento da taxa de reciclagem de ELVs, de 2% para 22%, traz uma série de benefícios e ganhos de escala em termos de redução do consumo de energia, de recursos naturais, de emissões de poluentes no ar e na água, melhorando o desempenho ambiental do sistema de reciclagem. Pedroso e Zwicker (2007) identificaram quatro fatores críticos de sucesso da reciclagem de ELVs: (1) gestão da inovação tecnológica; (2) viabilidade econômica no âmbito da cadeia de suprimentos; (3) a coordenação estratégica da cadeia de suprimentos; (4) motivação e compromisso com a sustentabilidade corporativa das empresas envolvidas.

Por fim, Hernández, Marins e Castro (2012) afirmaram que o aumento do número de produtos com vida útil menor, a intensificação no uso do comércio eletrônico, leis cada vez mais exigentes de responsabilidade sobre descarte dos produtos e uma crescente consciência ambiental têm gerado um elevado número de retornos, fazendo crescer a importância da LR para as empresas e para a sociedade, de forma geral. Contudo, os autores constataram na

literatura que se trata de uma área ainda pouco explorada e que há falta de dados concretos para se trabalhar e explorar as oportunidades de melhoria.

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