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CONCLUSÕES DA PESQUISA

No documento 2018CristianTeixeiraMarques (páginas 151-154)

Cada vez mais, a busca pelo desenvolvimento sustentável está exigindo novas formas de organização empresarial e políticas que agreguem a si o desenvolvimento humano, a inovação tecnológica e o uso e o reuso equilibrado de recursos disponíveis. As propostas que surgem constantemente na busca de aumentar os padrões de sustentabilidade na cadeia produtiva da construção civil evidenciam que essa possui uma nova agenda a cumprir. Nesse aspecto, o presente estudo identificou como as empresas do setor da construção civil podem se aprimorar sustentavelmente nos aspectos social, econômico e ambiental, a partir da observação de bons exemplos já implementados por outras organizações e da aplicação destas melhores práticas.

A escolha do setor da construção civil e das empresas desse setor se deu em função da forma com que a sustentabilidade é tratada nesse meio, quase sempre, de maneira incompleta quando observados dois aspectos: primeiro, com enfoque específico dado ao produto, que são as edificações, por meio dos green buildings, green projects e green constructions, deixando de lado a visão total das empresas que irão construir esse produto; e segundo, com o enfoque dado às questões ambientais, deixando de lado os aspectos sociais e econômicos, essenciais para construção da sustentabilidade. Sendo assim, o trabalho se justificou pela contribuição ofertada à lacuna existente na literatura, de trabalhos com esse enfoque.

Para atender ao primeiro objetivo específico da pesquisa, foi realizado um diagnóstico para avaliação da gestão de empresas da construção civil, em relação à sustentabilidade, identificando as principais potencialidades e problemáticas existentes. Para isso, foi

desenvolvido um questionário, que viabilizou o diagnóstico em doze construtoras do município de Passo Fundo. Esta investigação permitiu identificar que o fato das empresas serem mais ou menos sustentáveis está ligado basicamente ao direcionamento dado pelos gestores dessas organizações com relação às suas atividades, optando em assumir uma postura sustentável e investindo para isso. As empresas mais consolidadas no mercado com muitos anos de atuação, com muitas obras já executadas, ou mesmo com muitos colaboradores, apresentaram desempenho inferior a empresas consideradas novas.

A caracterização do perfil de empreendimentos que as empresas pesquisadas optam em executar permitiu, igualmente, identificar que a implementação da sustentabilidade em empreendimentos de alto padrão ocorre com mais frequência do que em empreendimentos destinados à população de baixa renda, uma vez que para a população da classe alta, os custos dos empreendimentos, que são superiores pelas soluções e materiais que são empregados, podem ser repassados ao consumidor. Ou seja, esse público pode pagar pela sustentabilidade inserida no seu imóvel e isso torna-se um facilitador para a empresa construtora no momento de optar pela implementação de boas práticas sustentáveis.

De maneira geral, a cadeia da construção civil em Passo Fundo/RS ainda exige um maior entendimento acerca da problemática da sustentabilidade, a fim de que, dessa forma, possam ser observadas de fato, mudanças significativas no comportamento dessas organizações. Observa-se que as tendências em relação à construção sustentável caminham em várias direções. Em nível nacional, a pesquisa apresentada pelo Centro de Tecnologia de Edificações (CTE, 2015), demonstra que o mercado da construção sustentável brasileira evoluiu, porém, os desafios tendem a ser maiores a cada dia. Em nível local, as empresas construtoras ainda não fizeram a devida assimilação quanto à necessidade de adoção dos princípios da sustentabilidade em suas atividades, como evidenciam os dados levantados. A concepção da necessidade de alto investimento financeiro na implementação de práticas sustentáveis ainda é bastante presente, isso ficou evidente com o diagnóstico, uma vez que apenas duas empresas, por exemplo, relataram a adoção da certificação Procel de eficiência energética, quantidade relativamente pequena de empreendimentos/organizações que desenvolvem algum tipo de atividade em prol da sustentabilidade, em comparação à totalidade de empreendimentos/organizações no município.

Por último, outra questão importante a ser destacada foi o déficit evidenciado para as questões sociais dentro das empresas, sendo a dimensão da sustentabilidade que apresentou o maior número de problemas principalmente no que se refere à participação da comunidade nas atividades da organização e vice-versa. Enquanto isso, as dimensões econômica e

ambiental apresentaram os melhores resultados indicando que ambas se encontram mais desenvolvidas dentro das empresas, com destaque para a dimensão econômica, confirmando, dessa forma, o alto controle que existe acerca das finanças dentro das organizações e garantindo, assim, os seus interesses econômicos.

O segundo objetivo específico desta pesquisa foi alcançado a partir da definição dos

benchmarks para análise e busca de parâmetros de comparação. Os benchmarks encontrados

no Guia CBIC 2012 foram de maior relevância, uma vez que trataram de casos de empresas específicas ao setor da construção civil. A partir do levantamento de benchmarking nas empresas brasileiras, foi feita a avaliação destes por meio da aplicação de uma metodologia de análise de multicritério pelo método de Análise Hierárquica (Analytic Hierarchy Process - AHP), onde mediante o estabelecimento de alguns critérios, foi realizada a determinação da principal ação, ou a que melhor se aplica para a realidade local, de acordo com o ponto de vista dos especialistas.

A ação escolhida, diz respeito à implementação da sustentabilidade por meio de ações para a melhoria do desempenho nas etapas de produção no canteiro de obras. Ou seja, essa boa prática tem como foco principal as etapas de construção e execução de obras, enfatizando os impactos envolvidos nas atividades desenvolvidas no canteiro de obras, estimulando a eficiência no uso dos materiais e recursos, bem como a redução de resíduos, emissões e poluentes, e oportunizando a otimização de processos construtivos.

Comparando-se a boa prática escolhida pelos profissionais na análise de multicritério com o diagnóstico local, é necessário observar que ambos caminham em direções distintas, sendo que um busca principalmente o aprimoramento das questões ambientais dentro dos canteiros de obras, e o outro retrata um déficit nos aspectos sociais dentro das empresas construtoras analisadas. Pelo diagnóstico local, a boa prática ideal para sanar as fraquezas identificadas é a incorporação da sustentabilidade por meio da responsabilidade social, buscando a promoção de ganhos sociais para a comunidade, melhorando o relacionamento com as comunidades vizinhas às obras, promovendo a geração de renda na área de atuação da empresa e a formação de mão de obra qualificada para o setor da construção, levando a uma, consequente, melhora no desempenho da empresa como um todo. Este panorama pode estar indicando uma visão local de baixa importância nas questões sociais da sustentabilidade.

Ainda, este distanciamento evidenciado entre a ação escolhida pelos profissionais do setor e as reais necessidades das organizações reafirma a falta de compreensão e assimilação acerca da problemática local por parte de seus stakeholders. A ação escolhida traz inúmeros benefícios às empresas, porém, essa não resolve as deficiências imediatas apontadas no

diagnóstico. Por meio da incorporação de ações de melhoria do desempenho nas etapas de produção no canteiro de obras, os ganhos sociais viriam apenas de maneira indireta e, ainda assim, com várias limitações. Com a padronização dos processos de construção, oportuniza-se o aumento da produtividade por trabalhador, reduzindo riscos de acidentes de trabalho e aumentando a conscientização dos colaboradores sobre as questões ambientais.

Pode-se concluir que existe um desconhecimento por parte dos gestores das empresas e dos especialistas participantes do estudo, a respeito da sustentabilidade social. Sendo assim, uma das principais barreiras enfrentadas dentro das organizações, de uma forma geral, é o correto entendimento acerca da sustentabilidade e o porquê de sua necessidade, ou seja, a uniformidade entre as opiniões para que se tenha o engajamento dos colaboradores e dos diferentes stakeholders. A reflexão sobre o desenvolvimento dos processos com sustentabilidade deve ser um processo que compõe o aprimoramento constante da organização, aproveitando-se dos bons exemplos que podem ser encontrados em diferentes empresas, como benchmarking positivo que transforme a sustentabilidade em um objetivo/meta viável a ser atingido pela organização.

Conforme indagado no problema de pesquisa, ao questionar como as empresas do setor da construção civil podem aprimorar sua sustentabilidade, tem-se como feedback a necessidade de transformação da postura assumida por seus stakeholders. No atual cenário de competição baseada no conhecimento e na informação, objetivos sociais e econômicos não podem ser conflitantes, mas, sim, integrados e convergentes. Portanto, a sustentabilidade não necessariamente precisa ser a meta principal, ela pode ser uma meta secundária, porém, quanto mais a sustentabilidade convergir com a ideia de criação de valor para a empresa, mais sucesso se terá.

No documento 2018CristianTeixeiraMarques (páginas 151-154)