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CAPÍTULO V – CONCLUSÕES, IMPLICAÇÕES E SUGESTÕES

5.1. Conclusões do estudo

Para alcançar o objetivo geral deste estudo, segundo o qual se pretendeu averiguar a literacia científica de alunos no final do 1.º Ciclo do Ensino Básico, da ilha de São Jorge, e respetivos pais, no que concerne aos sismos, foi realizada a presente investigação, através da qual se procedeu à aplicação de uma entrevista semiestruturada a 15 alunos dos três agrupamentos da ilha de São Jorge e respetivos pais. As suas conclusões são apresentadas de acordo com os objetivos específicos, formulados no Capítulo I, considerados necessários para alcançar o objetivo geral desta investigação.

A fim de alcançar o primeiro objetivo específico: caracterizar as conceções sobre sismos de alunos, no final do 1.º ciclo, e respetivos pais, tornou-se necessário identificar o significado que os sujeitos têm sobre os sismos, as suas causas, algumas características (ex. intensidade e frequência, localização no tempo e no espaço, duração), as suas consequências e a possibilidade de se prever um sismo.

Relativamente ao significado de sismo, a definição mais comum encontrada nos alunos e nos pais baseia-se na característica mais percetível do sismo, que é “a terra a tremer”, associando a esta conceção as suas consequências em termos de danos materiais e humanos. As duas amostras participantes no estudo evidenciam algum desconhecimento sobre as principais causas deste fenómeno, sendo este desconhecimento mais evidente na amostra dos alunos. Apesar de identificarem apenas causas de origem natural, não as conseguem explicar adequadamente, do ponto de vista científico. A existência de um maior número de vulcões ou de placas tectónicas foi apontada como razão justificativa para uma maior incidência da ocorrência de sismos em determinadas zonas, nomeadamente nos Açores.

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No que diz respeito às características dos sismos, os alunos e os pais consideram que os sismos não são todos iguais. A diferença mais apontada é a intensidade, ou seja, que uns são “fortes” e outros são “fracos” e, por isso, provocam diferentes danos materiais e humanos. As pessoas apenas sentem os sismos de maior intensidade, “os mais fortes”, sendo os mais frequentes os de menor intensidade, “os mais fracos”. Apesar da correção das respostas da quase totalidade dos inquiridos, mais uma vez, não apresentam qualquer justificação cientificamente válida e coerente para esse facto.

A conceção geral, de alunos e pais, com predomínio para os primeiros, é de que, devido à sua imprevisibilidade, os sismos não têm altura própria para ocorrer. Não acontecem em nenhum momento específico do dia ou época do ano. Os que responderam afirmativamente, referiram a tarde, a noite ou a estação do verão, como sendo as alturas mais propícias à ocorrência dos sismos por “o tempo estar mais quente”. Também é opinião geral dos sujeitos participantes neste estudo que os sismos tanto podem ocorrer no mar como na terra. Os pais evidenciam um melhor conhecimento do que os alunos sobre o que poderá originar um sismo, quando este ocorre no fundo dos oceanos ou mares, ou seja, tsunamis e a formação de novas ilhas. Os pais possuem a conceção de que um sismo demora pouco tempo, uma questão de segundos, no entanto consideram que depende sempre da perceção pessoal de cada um e do seu estado emocional. Para os alunos a duração de um sismo está diretamente relacionada com a sua intensidade – os mais fracos demoram pouco tempo, enquanto os mais fortes demoram mais tempo.

No que respeita às consequências da ocorrência de um sismo, em termos genéricos, os danos materiais, como destruição de habitações e infraestruturas, são os mais mencionados pelos alunos e pelos pais, enquanto os danos humanos, essencialmente “mortes” e “ferimentos”, são referidos em menor frequência, mas simultaneamente pelos alunos e pais.

Para terminar a apresentação das conclusões, no que se refere ao primeiro objetivo específico, caracterizam-se as conceções dos sujeitos quanto à possibilidade de previsão de um sismo. A conceção maioritária, de alunos e pais, é de que, devido à sua imprevisibilidade, é impossível prever a ocorrência de um sismo. Todavia, alguns alunos e pais, com predominância para estes últimos, manifestam conceções incoerentes e até contraditórias, pois se por um lado consideram que os sismos são imprevisíveis, por outro alguns admitem a sua previsibilidade (“máquinas” ou “cientistas” que conseguem prever). Quanto à possibilidade de os animais preverem um sismo, existe uma clara dualidade de conceções entre os alunos e os seus pais.

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Para os alunos os animais não conseguem prever um sismo, enquanto os pais consideram que sim. Os alunos afirmam que os animais não conseguem prever os sismos, pelo mesmo motivo que o homem não consegue, porque são imprevisíveis. Os pais justificaram as suas respostas, maioritariamente, com o facto de os animais manifestarem, momentos antes da ocorrência de um sismo, alterações de comportamento, ficando mais “agitados” ou “irrequietos”.

A seguir, apresentam-se as conclusões referentes ao segundo objetivo específico definido neste estudo: caracterizar os conhecimentos de alunos no final do 1.º ciclo, e respetivos pais, no que concerne a precauções a tomar antes, durante e após a ocorrência de um sismo. Começa- se pelas medidas a adotar antes da ocorrência de um sismo, nos diferentes espaços estipulados.

A realização de simulacros é a principal medida de proteção referenciada, por alunos e pais, a adotar na escola antes da ocorrência de um sismo. Outras medidas com alguma expressão, prendem-se com a necessidade de existirem nas escolas kits de sobrevivência. Possuir tais kits, constituídos por enlatados, água, rádio e materiais de primeiros socorros, é também a principal medida a adotar em casa, apesar de ser referida em menor frequência pelos pais. Estes consideram que a principal medida a adotar em casa é ensinar os filhos a protegerem-se. Porém, para além de não especificarem as medidas de autoproteção que devem ensinar em contexto familiar, também admitem que não concretizam nenhuma das medidas indicadas.

A maioria dos inquiridos refere que durante a ocorrência de um sismo, quer na escola, quer em casa, se devem abrigar debaixo das mesas e dos vãos das portas. Apesar das respostas maioritárias serem coincidentes, verifica-se que, para o espaço escola existe uma maior dispersão de respostas. Caso se encontrassem no exterior durante a ocorrência de um sismo os inquiridos referem que, por segurança, se deverá ir para um espaço aberto, afastado de postes, casas e objetos que podem cair.

No que diz respeito às medidas a adotar depois da ocorrência de um sismo, a principal medida referida pelos inquiridos para a escola e para casa, embora no espaço casa com menor incidência, devido a uma maior dispersão de respostas, é que se deveria sair para um local seguro, ponto de encontro, isto por uma questão de segurança, devido à ocorrência de eventuais réplicas e desabamentos. Caso se encontrassem no espaço exterior, a maioria dos alunos indica que iria para casa, enquanto a maioria dos pais iria procurar ou prestar ajuda. No entanto, o querer saber da família e do estado da habitação, acaba por ser a preocupação principal dos

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inquiridos, dado que, apesar de referirem outras ações no imediato, justificam as suas ações com essa finalidade.

No que se refere ao terceiro objetivo específico: caracterizar o conhecimento de alunos no final do 1.º ciclo, e respetivos pais, sobre as atitudes a manter durante e após a ocorrência de um sismo, verificou-se que a totalidade dos inquiridos reconheceu a importância de manter, nos dois momentos, uma atitude de calma. Apresentam também, maioritariamente, o mesmo tipo de justificação, ou seja, manter a calma para agir corretamente em situações de catástrofe, como os sismos. A realçar, no entanto, na amostra de pais os que reconhecem que manter a calma, apesar de recomendável, não é possível na situação de emergência em causa.

Caracterizar a origem do conhecimento sobre sismos nos alunos participantes no estudo foi o quarto objetivo específico definido. Assim, as fontes do conhecimento mais referidas pelos alunos foram a escola, os seus pais e a informação veiculada pela televisão e internet.

No quinto, e último, objetivo específico pretendeu-se caracterizar a transmissão do conhecimento sobre sismos dos pais para os respetivos filhos. A maioria dos pais afirma já ter conversado com os seus filhos acerca do que é um sismo, bem como acerca das medidas de autoproteção. Consideram, ainda, que as crianças devem ser, desde cedo, ensinadas acerca dos sismos, pois dessa forma os seus filhos estariam preparados para a eventualidade deste fenómeno ocorrer. A totalidade dos pais considera, também importante que as crianças aprendam, precocemente, os procedimentos corretos a realizarem antes, durante e após a ocorrência de um sismo. Considerando, no entanto, que é mais importante “saberem o que devem fazer quando decorre um sismo”. Reconhecem, pois, a importância de os filhos estarem informados acerca dos sismos. No entanto, muitos delegam essa responsabilidade à escola e quando o assunto é abordado em casa, vários pais afirmam que tal acontece por iniciativa dos próprios filhos, a qual é movida pela curiosidade que trazem da escola.

Em suma, considerando o objetivo geral do estudo e o peculiar enquadramento geodinâmico do arquipélago dos Açores, conclui-se que se torna necessário incrementar os conhecimentos específicos dos alunos e dos respetivos pais sobre os sismos, as medidas de autoproteção e os comportamentos adequados a adotar nos diferentes contextos (escola, casa e na rua). Existe na maioria dos inquiridos, a noção de que vivem em zona de maior risco sísmico, mas, tal perceção não se traduz na adoção de um comportamento conducente com essa mesma perceção. Neste sentido, é importante incrementar o nível de literacia funcional das

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populações, pois, tal como refere Nutbean (2008), só as pessoas literatas podem compreender e gerir com elevado controlo as diversas situações que ocorrem no quotidiano.

Torna-se necessário apostar na prevenção, de forma a evitar ações ou inações que, no caso, podem colocar em perigo a vida das pessoas. As pessoas precisam de saber como agir e regular os seus comportamentos. No entanto, tal como refere Mendes (2002), têm de acreditar na eficácia pessoal para transformar preocupações em ações efetivas de prevenção.