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Conclusões do Grupo Focal – Modelo Conceptual

No documento CMESMP 4546 (páginas 75-80)

3. ÁREA CLÍNICA

3.1. Estágio Hospitalar – UIPIA

3.1.1. Estudo de Investigação

3.1.1.3. Resultados

3.1.1.3.2. Conclusões do Grupo Focal – Modelo Conceptual

Durante a análise de conteúdo do discurso dos enfermeiros e de entre as diferentes escolas de pensamento em enfermagem existentes, aquela que melhor parece ir ao encontro das categorias identificadas é a escola das interações, em que a interação enfermeiro-cliente é central no decurso da IE. O facto de essa interação promover o crescimento quer do enfermei- ro, quer do cliente parece convergir especificamente com a teoria de Hildegard Peplau.

Relativamente ao primeiro conceito do metaparadigma apresentado, correspondente à “Dimensão I - Pessoa”, Peplau define «pessoa» como um homem que «luta» à sua maneira para reduzir a tensão gerada pelas suas necessidades (Belcher & Fish, 2000). Na UIPIA o alvo central da IE trata-se da criança, que na procura de alívio do seu sofrimento emocional, desenvolve respostas adaptativas únicas. Esta definição parece ajudar a traduzir o comporta- mento imprevisível da criança, descrito pelos enfermeiros participantes, que consideram na

acaba por ser considerada ao longo da sua teoria. Na UIPIA a IE abrange também a famí- lia/figura tutelar da criança, pela compreensão dos enfermeiros participantes de que o sofri- mento da criança é extensível à família/figura tutelar.

No que respeita ao segundo conceito do metaparadigma e “Dimensão II – Saúde” da análise de conteúdo, “Peplau define saúde como (…) um movimento da personalidade para a frente e outros processos humanos em curso, no sentido de uma vida criativa, produtiva, pes- soal e comunitária” (Howk, 2004, p.429). Na UIPIA, a saúde mental da criança traduz-se, essencialmente, pela estabilidade emocional, por um comportamento que deve ser ajustado à idade e pela capacidade em estabelecer relações interpessoais positivas, aspetos fundamentais para a criança continuar a desenvolver-se no sentido de uma “vida criativa, produtiva, pessoal e comunitária”.

A “Dimensão III – Ambiente” refere-se a um dos conceitos do metaparadigma que foi implicitamente definido por Peplau como “forças existentes no exterior do organismo e no contexto da cultura” [(Peplau, 1952)], a partir das quais a moral, os costumes e crenças são adquiridos” (Howk, 2004, p.429). A sua teoria não analisa a vasta variedade de influências ambientais sobre a pessoa (George, 2000), no entanto Peplau define como condição susceptí- vel de conduzir à saúde, a relação interpessoal (Howk, 2004).

A relação interpessoal sucede diariamente no quotidiano da pessoa, podendo assumir-se como parte que integra o ambiente onde esta apreende e se desenvolve. Também durante o internamento, através do método de trabalho de Milieu Terapia, é esperado que a criança adquira estratégias adaptativas e a capacidade de se relacionar com os outros, com o objetivo desta poder generalizar essas aprendizagens para os diferentes aspetos da sua vida. É neste sentido que o enfermeiro, durante a prestação de cuidados, deve considerar, os aspetos como a cultura, os costumes e as crenças da criança, de modo não só a favorecer a sua adaptação ao meio hospitalar (Belcher & Fish, 2000) como ainda a promover o seu desenvolvimento e crescimento (Townsend, 2011). Ao longo da análise dos dados, os enfermeiros participantes fazem referência às características físicas do internamento, ao seu funcionamento e missão, como aspetos do ambiente que também influenciam a adaptação da criança à UIPIA e têm impacto sobre a IE desenvolvida.

citado por Belcher & Fish, 2000, p.51), uma conceção que a UIPIA igualmente, absorve. Tal- vez seja nesta categoria, que a teoria de Peplau mais se aproxima do discurso oral dos enfer- meiros. Esta teórica apresenta uma sequência de fases da relação enfermeiro-cliente, designa- damente: a orientação, identificação, exploração e resolução, que apesar de serem indepen- dentes, se sobrepõem (Howk, 2004), assim como acontece no Processo de Enfermagem (Doenges & Moorhouse, 2010). Algumas semelhanças poderão ser consideradas entre essas duas estruturas, pois ambas são “sequenciais e enfocam as interações terapêuticas” (Alligood &Tomey, 2004, p.51). Além disso, ambas permitem uma definição mais clara do problema do cliente e a identificação das suas necessidades específicas; enfatizam o uso da técnica de reso- lução de problemas, pelo enfermeiro, em colaboração com o cliente, com o objetivo de se preencher as necessidades do cliente; e usam a observação, a comunicação e a documentação dos dados como instrumentos básicos para a prática de enfermagem (Belcher & Fish, 2000).

Na fase de orientação, o cliente e/ou a família apresentam uma «necessidade sentida» e procuram a ajuda de um profissional que colabora com os mesmos na análise da situação, de modo a que juntos possam reconhecer e compreender o problema existente. “Estabelece-se um vínculo entre a enfermeira e o [cliente] que continua a ser fortalecido enquanto as preocu- pações estão sendo identificadas” (Belcher & Fish, 2000, p.47). Esta fase encontra-se relacio- nada com a fase de apreciação inicial, do processo de enfermagem, que se reveste de grande importância como momento fundador da RT com o cliente e sua família (Phaneuf, 2005). Quando o cliente esclarece a sua «necessidade sentida», inicia-se a fase de diagnóstico, do processo de enfermagem que, para Peplau consiste numa “declaração resumida baseada na análise da enfermeira” (Belcher & Fish, 2000, p.52).

Na fase de identificação o cliente identifica-se com a pessoa que considera que o pode ajudar (Howk, 2004), o que implica um relacionamento terapêutico mais consistente. O clien- te começa a ter a sensação de ser capaz de lidar com o seu problema, diminuindo os seus sen- timentos de desesperança em detrimento de uma atitude mais otimista. A fase de identificação relaciona-se com a fase de planeamento das intervenções, do processo de enfermagem, em que as metas são estabelecidas pelo enfermeiro e o cliente. Do GF, entende-se que na UIPIA esta fase possa ser também reforçada pelo contributo dos restantes profissionais que consti- tuem a equipa multidisciplinar.

“Durante a fase de exploração, o [cliente] tenta retirar toda a valia do que lhe é ofereci- do através da relação” (Howk, 2004, p.426). Ele sente-se já parte integrante do processo de ajuda, dando início ao controlo da situação. Através da sua autodeterminação, o cliente desenvolve, progressivamente, a responsabilidade sobre si mesmo, crendo nas suas potencia- lidades e direcionando-se para a sua independência e autocompetência. O cliente pode assu- mir, temporariamente, um papel dependente em relação ao enfermeiro, enquanto tem a neces- sidade simultânea de independência. “A enfermeira deve encorajar o [cliente] a reconhecer e explorar os seus sentimentos, emoções e comportamentos, proporcionando (…) um clima emocional terapêutico” (Belcher & Fish, 2000, p.49), através da mobilização de intervenções, tanto em grupo como individualmente, com o recurso a mediadores, que promovam a vivên- cias de experiências reparadoras e que possibilitem à criança não só aceder à sua problemática mas também melhorar a consciência de si, conforme se conclui da análise do GF. Para Peplau esta fase corresponde à fase de implementação das intervenções do processo de enfermagem, em que o plano de cuidados decorre em direção aos objetivos estabelecidos, entre o enfermei- ro e o cliente e/ou família.

Por último, a fase de resolução constitui “um processo no qual o [cliente] se liberta da identificação com a enfermeira” (Howk, 2004, p.427), sendo as suas necessidades preenchidas. Em certos casos, o enfermeiro e o cliente apresentam dificuldade em dissolver esses laços, sendo que a tensão aumenta se não houver um término da RT bem sucedido. Esta fase encon- tra-se intimamente relacionada com a fase de avaliação, do processo de enfermagem, que se baseia, segundo Peplau, nos comportamentos que são mutuamente esperados pelos interve- nientes da RT.

Para Peplau a enfermagem “é terapêutica por ser uma arte curativa (…) pode ser enca- rada como um processo interpessoal, pois envolve a interação entre dois ou mais indivíduos com uma meta comum” (Belcher & Fish, 2000, p.46). Nesse processo interpessoal, o enfer- meiro mobiliza-se como instrumento terapêutico, o que determina, para além do desenvolvi- mento do cliente, que o enfermeiro também se desenvolva, quer do ponto de vista profissional, quer pessoal. “A enfermagem é um processo interpessoal, e tanto o [cliente] quanto a enfer- meira têm partes igualmente importantes na relação terapêutica” (Belcher & Fish, 2000, p.47). Cada pessoa, durante o processo interpessoal, é influenciada pela sua própria cultura, valores, crenças, sentimentos, ideias pré-concebidas e experiências anteriores, o que determina que os

Peplau salienta que o paciente e a enfermeira amadurecem como resultado da interacção terapêutica. Quando duas pessoas encontram-se em um relacionamento criativo, existe uma sensação permanente de reciprocidade e proximidade ao longo da experiência. Ambos os indivíduos são envolvidos em um pro- cesso de autopreenchimento, que se torna uma experiência de crescimento (Belcher & Fish, 2000, p.56). Neste sentido, é importante que o enfermeiro tenha consciência das suas reações contra- transferenciais quando intervém com o cliente, uma vez que “as pessoas que estão conscientes dos seus próprios sentimentos (…) têm mais probabilidade de estar conscientes das reações individuais dos outros” (Belcher & Fish, 2000, p.46).

Perante a multiplicidade de características pessoais e profissionais dos enfermeiros que constituem a equipa de enfermagem da UIPIA, estes são atribuídos às crianças, consoante o papel que se espera que desempenhem durante esse processo interpessoal. O enfermeiro res- ponsável deverá ser capaz de viver qualquer um dos papéis, assumindo-se adaptável às neces- sidades da criança/família/figura tutelar. Ainda que por vezes, possa ter que viver o papel de estranho14, na relação que estabelece com a criança/ /família/figura tutelar, o enfermeiro res- ponsável deverá viver maioritariamente os restantes papéis de pessoa de recurso, professora, líder, substituta e conselheira. É essencialmente, neste último papel, de conselheiro, que o enfermeiro responsável se deverá destacar na medida em que este é o que assume maior enfâ- se no contexto psiquiátrico (Townsend, 2011; Howk, 2004). Ao assumir esse papel, Peplau (1952) defende que a intenção é de ajudar o cliente “(…) a lembrar e a compreender totalmen- te o que lhe está a acontecer na situação atual, de modo a que a experiência possa ser integra- da em vez de dissociada de outras experiências de vida” (Peplau, 1952, citado por Howk, 2004, p. 428).

3.1.1.3.3. Apresentação e discussão dos resultados da Análise

No documento CMESMP 4546 (páginas 75-80)