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Discussão dos resultados do Grupo Focal e da Análise Documental

No documento CMESMP 4546 (páginas 109-113)

3. ÁREA CLÍNICA

3.1. Estágio Hospitalar – UIPIA

3.1.1. Estudo de Investigação

3.1.1.4. Discussão dos resultados do Grupo Focal e da Análise Documental

bidas algumas semelhanças no conteúdo expresso oralmente, através do GF e, por escrito, nos RE diários, dos enfermeiros da UIPIA.

O traduzido de forma mais evidente na análise dos dados foi o facto da IE na UIPIA estar profundamente centrada na relação que a criança internada estabelece, quer com o enfermeiro, quer com as restantes crianças internadas. Nomeadamente, isto é constatado na análise da documentação dos RE que revelou, para as IE do tipo Atender, o maior número de termos do eixo de ação. Esta questão está intimamente relacionada com o facto do enfermeiro se recorrer, dos vários momentos do dia, para mobilizar a RT como forma de intervir e “tomar conta” (Atender, CIPE®, versão ßeta 2, CIE, 2003, p. 154) da criança. Para além disso, o registo em duplicado da administração de terapêutica em SOS, isto é, no SGICM e no Diário de Enfermagem, justifica-se pelo facto do enfermeiro compreender esta IE interdependente como um momento para também conhecer e intervir sobre a criança internada. Ainda assim, importa não esquecer que na administração de medicamentos em SOS, o enfermeiro é autó- nomo para decidir o momento da administração, o que o pode levar a ter maior necessidade de justificar a sua decisão e intervenção.

Da análise do GF é, por sua vez, concluída a profunda apropriação da teoria das Rela- ções Interpessoais de Hildegard Peplau por parte da equipa de enfermagem da UIPIA. Esta teórica reforça o carácter fundamental das relações interpessoais estabelecidas pela pessoa, para o seu desenvolvimento e crescimento, sejam elas do ponto de vista social ou terapêutico, quando essa relação é estabelecida ou promovida pelo enfermeiro.

Quanto à importância das relações interpessoais, é ainda evidenciada, ao longo da análi- se dos dados do GF, a necessidade da estruturação de atividades em grupo durante o interna- mento, com vista à promoção de vivências reparadoras para a criança, no contacto com as restantes crianças internadas. A análise da documentação dos RE aproxima-se do referido oralmente pelos enfermeiros participantes, ao serem identificadas IE autónomas associadas a AT. Para além de servirem como mediadores para que o enfermeiro estabeleça relação com a criança, a estruturação das AT promove ainda a interação com as restantes crianças internadas.

pessoa internada, da interação com as restantes pessoas internadas, com vista à sua reabilita- ção e desenvolvimento.

A Milieu Terapia contempla ainda alguns pressupostos e condições que parecem apro- ximar-se tanto dos conceitos do metaparadigma, como das práticas desenvolvidas na UIPIA. Segundo Skinner (1979) devem ser consideradas as potencialidades da criança como sendo favorecedoras da sua recuperação e adaptação aos vários aspetos da sua vida (Townsend, 2011), o que parece assemelhar-se ao conceito de pessoa definido ao longo do GF, que traduz que a criança é singular e, consequentemente, imprevisível no seu comportamento, pelo que o enfermeiro deve ter em atenção o seu contributo único para o ambiente de cuidados e na intervenção que desenvolve. O mesmo autor reforça ainda a impossibilidade de não se intera- gir, afirmando que “a aprendizagem ocorre a partir do feedback imediato das percepções pes- soais” (Townsend, 2011, p.202). Na UIPIA, as crianças mantém-se preferencialmente em grupo, em constante interação, o que disponibiliza ao enfermeiro a possibilidade de, ao longo do dia, mobilizar essas interações para a sua intervenção. Conjuntamente, também as IE iden- tificadas do tipo Observar, cuja prevalência é muito superior às restantes IE autónomas (80%), parecem contribuir para este pressuposto. Na UIPIA, o enfermeiro procura estar presente e observar a criança nos variados momentos do dia, recorrendo-se desses mesmos momentos para também intervir. Todos os momentos são bons momentos para estar em interação com a criança, pelo que a disponibilização da presença do enfermeiro é fundamental, nomeadamente na UIPIA, sendo esta a IE autónoma, da dimensão Atender, com o maior n.º UR.

Na Milieu Terapia, a pessoa assume ainda a responsabilidade do seu comportamento e na decisão sobre os aspetos relacionados com a unidade, almejando não só a satisfação das necessidades do grupo, como um todo, mas também o respeito pela sua autonomia (Townsend, 2011). Na UIPIA, estes pressupostos parecem justificar o planeamento das AT de acordo com as necessidades e solicitações do grupo e ainda a realização da IE Executar terapia pela acti-

vidade [de reunião comunitária]. Durante esta AT é promovido ao grupo de crianças interna-

das que se expresse, quanto àquilo que deseja melhorar no ambiente do internamento. No que diz respeito ao ambiente de cuidados preconizado para Milieu Terapia, este parece igualmente ir de encontro à definição do mesmo conceito pela equipa ao longo do GF. Em ambos os con- ceitos, é descrita a importância de se oferecer um ambiente familiar e individualizado à crian- ça, que lhe permita, simultaneamente, conseguir privacidade e promover a interação com os

Durante as AT, o foco de enfermagem poderia, segundo a linguagem CIPE®, ser o de Relação Dinâmica. Contudo, este foco é partilhado por todas as crianças não como uma necessidade a ser satisfeita, mas como um meio para que possa ser promovida a sua saúde. Apesar disso, esta questão não é viabilizada pela plataforma SClínico® cujo modelo, profun- damente centrado na tradução do trabalho autónomo do enfermeiro, está focado nas necessi- dades do cliente. Também as AT são mobilizadas de forma autónoma, contudo a sua finalida- de não passa apenas por colmatar uma necessidade não satisfeita da criança. Pretende-se tam- bém facilitar o seu processo de recuperação, através da interação que estabelece com as res- tantes crianças internadas, sob a mediação e promoção do enfermeiro. As AT visam potenciar e promover o desenvolvimento da criança, estando mais viradas para a saúde, enquanto as outras IE autónomas, em resposta a um fenómeno de enfermagem, parecem estar mais debru- çadas sobre os processos de doença da criança.

Apesar da intensa aproximação com o método de Milieu Terapia, importa não esquecer a dicotomia que emergiu, ao longo do GF, entre este método e o método por enfermeiro de referência. Talvez, no contexto da UIPIA, estes dois métodos se possam complementar. Estando ambos profundamente ligados à RT, o primeiro promove a interação do ponto de vista social e é beneficiada especialmente por crianças que têm dificuldade no recurso à pala- vra, para traduzir o seu sofrimento. Por sua vez, a relação dual oferecida pelo método por enfermeiro de referência, é mais adequada para crianças com maior dificuldade na expressão das emoções pelo corpo, recorrendo com maior facilidade à palavra como expressão do seu sofrimento e apropriação de estratégias a desenvolver. Em relação dual, pela continuidade que é oferecida, é possível a criança se expor sobre assuntos mais privados e beneficiar de uma intervenção totalmente direcionada a si e, provavelmente, mais aprofundada sobre a sua pro- blemática.

Ao longo do GF, os enfermeiros concordam também com o facto de o enfermeiro ser portador de características pessoais e únicas que traz inevitavelmente para a relação, pelo que deve conhecer-se, identificando o impacto que cada um dos fenómenos da RT pode ter sobre a sua intervenção. Segundo Peplau, esta singularidade tanto da criança, como do enfermeiro, é de facto o que oferece riqueza à relação que é estabelecida. A importância conferida à RT pelos enfermeiros participantes torna-se igualmente evidente pela consciência dos mesmos quanto à presença destes fenómenos na RT, sendo esta a categoria que contempla o maior

participantes ou é EESM ou é estudante do CMESMP, o que pressupõe um processo de pro- moção do autoconhecimento e desenvolvimento de competências, nomeadamente, no reco- nhecimento da presença e na gestão destes fenómenos na RT. Para o favorecimento do auto- conhecimento do enfermeiro na RT, foram identificados os momentos de Intervisão e de par- tilha de sentimentos mais informal como as passagens de turno.

Para além dos aspetos relacionados com a RT, a análise de conteúdo dos dados eviden- cia ainda a importância da uniformização e formalização da IE na UIPIA. Isto decorre não só da necessidade identificada pelos enfermeiros durante o GF, mas ainda pelo constatado da análise dos RE. No GF, os enfermeiros participantes referem que os RE não dão visibilidade à prática de enfermagem, o que acaba por ser constatado da análise dos RE, uma vez que a maior parte das IE são descritas de forma implícita, com pouca reflexão do processo de enfermagem. A tradução das IE colhidas do RE, de linguagem natural para linguagem CIPE®, foi determinante para a identificação das IE e dessa forma para a compreensão da conceptua- lização inerente à IE na UIPIA. A partir desta tradução rigorosa da prática de enfermagem foi criado o padrão de documentação em linguagem CIPE® a ser mobilizado pela equipa, e que se deseja que favoreça a consciência dos vários elementos sobre as IE que implementa à criança internada na UIPIA.

Não obstante, ainda é possível destacar a autonomia do enfermeiro no cuidado de enfermagem na UIPIA, não só pelo número elevado de IE dessa natureza que foi identificado, mas também pelas expressões do GF que ajudam a reforçar esta ideia, ao afirmarem que na UIPIA o enfermeiro desenvolve mais intervenções do tipo autónomo do que em outras unida- des de cuidados. Acima de tudo, esta questão parece estar relacionada com o crescente inves- timento da equipa na formação contínua, nomeadamente, na obtenção do grau de EESM.

No documento CMESMP 4546 (páginas 109-113)