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INVESTIGAÇÃO EMPIRICA

2 – RESULTADOS DOS TESTES DE HIPÓTESES

F. CONCLUSÕES E IMPLICAÇÕES PRÁTICAS DO ESTUDO

Este trabalho tinha como finalidade investigar a relação entre alguns factores psicossociais e a adesão terapêutica nos diabéticos tipo 2, nomeadamente os conhecimentos acerca da diabetes, a ansiedade e depressão, e as representações de doença. Os resultados apontam para uma associação entre as variáveis psicossociais e os vários componentes da adesão, confirmando-se a importância destas variáveis como preditoras de comportamentos de adesão. Os dados deste estudo mostram uma relação diferencial entre estas variáveis que deve ser tida em consideração nas estratégias de educação para a saúde.

Face aos resultados obtidos, algumas considerações merecem ser tecidas no sentido de sensibilizar a equipa de saúde (educadores para a saúde) para a reflexão sobre possíveis estratégias que possam promover a adopção de comportamentos saudáveis nesta população. Os comportamentos de adesão parecem ser influenciados pelo sexo e idade, sugerindo especial atenção nas abordagens a diferentes grupos, assim com a necessidade de verificar estes achados em trabalhos futuros.

Em geral, este estudo indica que os conhecimentos acerca da doença, o estado emocional do doente e as suas cognições de doença devem ser tidas em consideração no desenho de estratégias de educação para a saúde, visto a nossa amostra apresentar maioritariamente marcadores clínicos (glicemia em jejum e hemoglobina glicosilada) com valores superiores aos aconselhados. Os conhecimentos sobre a diabetes parecem ser particularmente importantes na adesão ao teste de glicose, sugerindo que o educador esteja atento a determinadas áreas (áreas alvo) aquando da transmissão de conhecimentos. As cognições de doença, particularmente a percepção de duração cíclica da doença parece predizer também o teste à glicose, para além do contributo da variável conhecimentos. Esta representação cíclica pode ser utilizada favoravelmente pelo profissional para influenciar mais a adesão terapêutica ao teste à glicose. Outras cognições de doença revelam-se importantes na adesão à dieta, como o controlo pessoal, a coerência e a percepção de duração (aguda/crónica). Mais uma vez, a educação para a saúde que visa influenciar a nutrição do diabético tipo 2, deverá, não só providenciar conhecimentos sobre uma dieta mais saudável, mas também influenciar estas cognições de doença. A importância do controlo percebido tem sido amplamente documentada e poderá ser favorecida por uma estratégia de educação para a saúde focada no empowerment.

A complexidade do tratamento leva frequentemente a sentimentos de frustração e daí ser compreensível uma pobre adesão ao regime (Polonsky, 1993), facto esse que de certo modo está contemplado no nosso estudo. Esta complexidade está espelhada na nossa amostra, quando os diabéticos referem algumas dificuldades em aderir ao regime terapêutico recomendado, especificamente ao exercício e à alimentação. É interessante verificar que as dificuldades expressas relativamente à alimentação se reportam aos hábitos familiares em termos de regime alimentar. Isto destaca a importância do ambiente familiar e do contexto sociocultural na adopção de comportamentos saudáveis, sugerindo que o educador intervenha não só junto do doente, mas também da sua família. Um outro aspecto na dificuldade da adesão ao exercício físico está relacionado com problemas de saúde que dificultam a sua prática. Alguns factores poderão contribuir para esta situação: o desenvolvimento de patologias associadas ao envelhecimento, uma educação até então não direccionada para a prática de exercício nos hábitos de vida, entre outros. Se o papel do educador para a saúde é a implementação de acções dirigidas às necessidades do indivíduo parece pertinente uma intervenção dirigida a estes componentes do tratamento, de forma a que a educação não se baseie só no aconselhamento mas que assente em estratégias que facilitem essa mudança.

Várias fontes literárias enfatizam o papel da comunicação na relação terapêutica. Para tal, é essencial estabelecer um verdadeiro diálogo baseado na empatia, de forma a identificar crenças, motivações, dificuldades e apoios que possam promover determinados comportamentos. Perante estas considerações, algumas educações para a saúde formais, baseadas meramente em métodos expositivos poderão não surtir o efeito desejável. A complementaridade do aproveitamento de espaços informais (domicilio, local de trabalho, associações, entre outros) para a realização das educações para a saúde pode ser vantajoso tanto para o próprio indivíduo, visto se encontrar no seu meio ambiente, como para o profissional de saúde, pois mais facilmente se apercebe das contingências que podem dificultar as mudanças de estilos de vida. De facto, verificamos que a adesão à dieta é superior nos mais idosos. Para além da maior vulnerabilidade sentida por estes, outro aspecto que poderá influenciar a adesão está relacionado com o facto dos diabéticos mais jovens ainda se encontrarem activos, sentindo alguma dificuldade em conjugar o seu trabalho com as exigências do tratamento da diabetes.

Os nossos resultados apontam para a importância do estado emocional, nomeadamente a ansiedade e a depressão, no controlo da diabetes. A depressão foi preditora da adesão ao exercício físico e à medicação. Estes achados remetem para a importância da intervenção junto do diabético, de uma equipa multidisciplinar de modo a identificar o mais precocemente possível distúrbios de índole emocional que dificultam a adaptação do diabético à sua

condição de doente crónico. O suporte familiar e encaminhamento para grupos de apoio podem ajudar o diabético a compreender e partilhar os seus sentimentos, diminuindo o isolamento e o estigma, podendo prevenir as consequências emocionais da doença. As mulheres parecem estar mais vulneráveis que os homens em termos de estado emocional e representações de doença, podendo repercutir-se numa pobre adesão terapêutica. Assim, as estratégias da educação para a saúde deverão ter em consideração este aspecto, atendendo às barreiras à adesão, que podem ser especificas nas mulheres diabéticas.

O educador da diabetes tem um complexo papel; ele não só combina a educação clinica com os componentes psicológicos inerentes a cada indivíduo, como também ajuda o diabético a desenvolver uma boa adaptação psicossocial necessária à eficácia do autocontrolo na diabetes. Essa adaptação passa pelo conhecimento que o doente deve ter acerca da diabetes e seu tratamento, e pela consciência dos próprios valores, necessidades e aspirações face aos cuidados com a diabetes. O educador ajuda o diabético a clarificar as várias componentes emocionais, sociais, intelectuais e espirituais, e o modo como as relacionam, com as decisões que têm de tomar na autogestão da sua diabetes (Anderson et al., 2000). Os profissionais de saúde, como agentes facilitadores de comportamentos saudáveis, deverão planear as acções de educação para a saúde numa parceria com o doente, apoiados nas suas crenças, valores e atitudes.

As nossas propostas vão de encontro ao modelo conceptual proposto por Glasgow (1995) acerca da autogestão e educação na diabetes, que preconiza estratégias de intervenção a nível do contexto social e comunitário (atendendo às características do doente e do seu contacto com os serviços de saúde), das interacções médicas e dos resultados em saúde e qualidade de vida.

Em termos de investigações futuras gostaríamos de ver desenvolvidos trabalhos na população com diabetes tipo 2, onde factores como a motivação, o suporte social e as barreiras à adesão sejam estudadas mais aprofundadamente. Parece-nos importante a implementação de reuniões de formação na área da diabetes, onde os técnicos de saúde possam reflectir e partilhar experiências, no sentido de melhorar os cuidados prestados à população diabética.

Esperamos com este trabalho, contribuir para o conhecimento das variáveis intervenientes no processo de adesão ao tratamento, e sensibilizar os profissionais de saúde para uma abordagem psicossocial do doente com diabetes. Só desta parceria do educador para a saúde com o doente, poderão surgir objectivos comuns e exequíveis, que facilitarão as mudanças necessárias à manutenção da saúde do diabético.

O profissional de saúde, simultaneamente educador e educando, deverá ter presente que, em ultima instância, é sempre a pessoa com diabetes que tem de viver com a sua doença e decidir sobre a sua doença ....