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3. ADESÃO TERAPÊUTICA

3.1. Definição de Adesão

Pela sua importância na saúde do indivíduo, especialmente quando esta se encontra ameaçada, a adesão terapêutica tem merecido uma grande atenção por parte de toda a comunidade cientifica, nomeadamente daqueles que sentem mais de perto a problemática inerente à não adesão, como médicos, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, entre outros.

De acordo com Brannon e Feist (1997a), a adesão representa a extensão no qual o comportamento da pessoa coincide com o aconselhamento dado pelo profissional de saúde (p.208). Embora os termos compliance e adesão sejam vulgarmente associados, o termo

compliance denota uma relação em que o médico tem o papel de decidir o que é ou não

apropriado, dando instruções ao utente que apenas tem que seguir as ordens. Se este não as seguir pode ser interpretado como um comportamento desviante ou incompetência. A adesão surge como um termo alternativo, em que o indivíduo tem a liberdade de decidir se adere ou não e caso não o faça, não será necessariamente culpado (Horne; 2000; Turk & Meicheibaum, 1991).

Já anteriormente Kristteller e Rodin (1984) alertaram para a distinção destes dois termos relativamente ao papel do indivíduo no seu tratamento (cit. por Silva & Ribeiro, 2000). Neste contexto, Kristteller e Rodin sugeriram um modelo desenvolvimental de adesão ao tratamento que contempla três estádios no processo de participação dos indivíduos nos seus cuidados (cit. por Ribeiro, 1998, p.297):

I estádio- concordância (compliance). Grau em que o indivíduo inicialmente

concorda com o tratamento, seguindo as recomendações médicas. A característica deste estádio assenta na confiança, por parte deste, relativamente ao diagnóstico e tratamento que o profissional de saúde fez e instituiu. É uma fase em que o indivíduo não tem uma participação passiva, pois toma as decisões em seguir os conselhos médicos. Existe frequentemente uma boa supervisão assim como uma elevada eficácia do tratamento;

II estádio- adesão (adherence). É uma fase de transição entre os cuidados

limitada, o doente continua com o seu tratamento, mesmo quando confrontado com situações conflituosas, o que implica uma grande participação e controlo da sua parte. Apesar desta autonomia do utente, os profissionais têm um importante papel como orientadores, promovendo a integração do tratamento no estilo de vida do sujeito e ajudando-o a antever alguns problemas que possam acontecer, de modo a traçar estratégias de coping alternativas;

III estádio- manutenção (maintenance). Quando já sem vigilância (ou vigilância

limitada), o doente incorpora o tratamento no seu estilo de vida. É um estádio que se caracteriza por competências de auto-regulação, isto é, o indivíduo tem que possuir um determinado nível de autocontrolo sobre os novos comportamentos, tentando que estes se transformem em hábitos.

Ao longo destes estádios, o indivíduo vai desenvolvendo e adquirindo controlo, que lhe permitirá atingir a autonomia total do terceiro estádio. Apesar da vontade do sujeito ser importante para a evolução nestes três estádios, as características do tratamento também são determinantes. O tratamento da diabetes, requer que o indivíduo percorra este caminho e permaneça no estádio de manutenção (Silva & Ribeiro, 2000).

Nesta perspectiva, a adesão implica um papel activo e colaborativo do indivíduo no planeamento e implementação do seu regime de tratamento (Myers & Midence, 1998). Ainda segundo estes autores: “... adherence seeks to empower patients by broadening the choices

they can make about the way they react to and cope with illness, and helping them to obtain information which allows them to decide between the available choices in an informed way.”

(p. 3).

A adesão em saúde pode ser vista sobre duas perspectivas: a adesão comportamental, que reflecte os comportamentos relacionados com a saúde (ex. deixar de fumar, fazer exercício físico, etc.) e a adesão médica que se relaciona especificamente com a medicação. Os benefícios da adesão parecem ser vários, encontrando-se geralmente relacionados com a prevenção de recaídas, com o alívio dos sintomas, melhoria da percepção da condição de saúde, diminuição da morbilidade e mortalidade e redução das hospitalizações (Dunbar-Jacob & Schlenk, 1996).

Embora actualmente sejam vários os estudos que se debruçam sobre a adesão, esta continua a ser um problema , estimando-se um nível aproximado de 50% de não adesão às recomendações dos profissionais de saúde (Brannon & Feist, 1997a; WHO, 2001). A duração

aderentes, em regimes de tratamento de curto prazo e mais de 45% nos de longa duração (DiMatteo, 1994, cit. por Brannon & Feist, 1997a).

Partindo do pressuposto que cada prescrição representa a melhor intervenção para o problema do indivíduo, então a não adesão reflecte-se numa perda de oportunidade de saúde assim como um desperdício potencial de recursos para o sistema de saúde (Horne, 2000; WHO, 2001). Os custos da não adesão, para além dos problemas relacionados com o prolongamento do sofrimento inerente à doença, implica visitas mais frequentes aos serviços de saúde, tempo de recuperação mais prolongado, faltas ao trabalho e hospitalizações evitáveis (Ley, 1997).

A não adesão é definida como o não seguimento, por parte do paciente, aos conselhos dados pelos profissionais de saúde (Ley, 1997). Estes conselhos podem incidir sobre hábitos e estilos de vida (e.g. perder peso, deixar de fumar), sobre o regime medicamentoso ou até sobre medidas preventivas de saúde.

Sarafino (2002, p. 296), menciona estudos mais antigos de Cluss e Epstein (1985) e Sackett e Snow (1979), que já apontavam para as seguintes conclusões:

1- A taxa média de adesão aos medicamentos para tratamento de doenças agudas em regimes de curto prazo é de cerca de 78% e para doenças crónicas com regimes de longo prazo decresce para 54%.

2- A taxa média de adesão para tomar medicamentos para prevenir as doenças é cerca de 60%, para regimes de curto e longo prazo.

3- A adesão dos pacientes a entrevistas marcadas com o médico é muito maior se for o próprio doente a marcar a consulta em vez do médico.

4- A adesão a mudanças recomendadas no estilo de vida, tais como deixar de fumar ou alterar a dieta, é geralmente muito variável e habitualmente lenta.

Porém, para além destas taxas poderem estar sobrestimadas visto as amostras incluírem só pessoas que concordaram em participar, as taxas de adesão mencionadas não reflectem a extensão da não adesão, isto é, alguns pacientes aderem totalmente ao regime médico, outros não aderem de todo e a maioria provavelmente, só adere em algum grau. Este aspecto da extensão da adesão é importante pois, em geral, a maior parte das pessoas não adere plenamente às directivas médicas, isto é, o facto do indivíduo aderir a um tipo de regime não implica a adesão a outros (Marks et al., 2000).

A adesão ao regime de tratamento resulta então de uma interacção subtil entre o indivíduo e as características e exigências do comportamento desejado (Bennett, 2002). A complexidade do tratamento, as crenças do indivíduo, as estratégias de coping adoptadas, o afecto e apoio familiar, são entre outros, factores determinantes no empenhamento da pessoa.