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De acordo com o estudo que realizámos e dos resultados obtidos, tendo presentes as óbvias limitações, estamos em condições de retirar algumas conclusões sobre cada uma das variáveis analisadas.

Sumariando as conclusões do nosso estudo, pode afirmar-se que das hipóteses inicialmente formuladas consideramos:

aceite a H1: Existem diferenças significativas nos efeitos da aplicação das duas práticas instrumentais, na aprendizagem musical;

rejeitada a H2: A Prática Instrumental Convencional revela-se mais favorável à educação musical dos elementos da população-alvo;

rejeitada a H3: A Prática Instrumental Alternativa revela-se mais favorável em relação à agradibilidade dos elementos da população-alvo.

Descriminando, conclui-se que comparando o grupo consigo próprio, por via do desempenho dos participantes registou-se uma evolução positiva, levando a que o grupo experimentasse diferenças. Pelo que a prática instrumental alternativa realizada com os chamados objetos sonoros, nas condições em que foi realizada, se revelou mais proveitosa.

Ao nível de alguns parâmetros do ensino na disciplina de educação musical, avaliados ao fim de 44 sessões correspondendo a 22 semanas através da avaliação sumativa realizada no final dos 1º e 2º períodos escolares, podemos concluir que, pela participação num programa comparativo de duas práticas instrumentais, uma alternativa realizada com objetos sonoros e outra convencional com instrumentos Orff, se verificou (aquando da prática instrumental alternativa realizada com objetos sonoros):

- Uma melhoria da média da avaliação sumativa dos alunos - Uma melhor média dos alunos no domínio das atitudes e valores

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- Uma melhoria da média da aprendizagem dos alunos no parâmetro da Interpretação / Comunicação ,

- Uma melhoria da média da aprendizagem dos alunos no parâmetro da Criação / Experimentação ,

- Uma melhoria da média da aprendizagem dos alunos no parâmetro da Perceção Sonora e Musical ,

- Um ligeiro abaixamento médio da aprendizagem dos alunos no parâmetro de Culturas Musicais no Contexto ;

No presente estudo, os resultados alcançados estavam mais ou menos de acordo com o expectado, traduzidos no facto de a prática instrumental alternativa realizada com objetos sonoros ser mais inovadora e fugindo a uma tradição clássica da educação musical, paradoxalmente não se revelando mais atrativa e com um índice de agradabilidade superior, mas capaz de potenciar e incrementar a aprendizagem musical.

Às mesmas conclusões chegou o estudo: Música na Educação Básica: Uma experiência com sons alternativos, das investigadoras Marcia Rosane Chiqueto e Juciane Araldi, que implementaram uma proposta realizada no Colégio Estadual Campina da Lagoa no primeiro semestre de 2009, com atividades desenvolvidas em 20 aulas para cada turma, na disciplina de Arte, envolvendo as oitavas séries e os primeiros anos do ensino médio, equivalente ao nosso ensino básico, no total de cinco turmas.

O Projeto Sons Alternativos na Educação Musical Escolar foi desenvolvido com o objetivo de trabalhar a música de uma forma mais simplificada e atrativa, inspirado nos grupos e artistas contemporâneos que utilizam objetos e materiais diversos nas suas criações musicais. Neste trabalho, a investigadora entende por sons alternativos , todo e qualquer som produzido ou propagado por objetos do quotidiano, pelo corpo e pela natureza, que ampliam as possibilidades de expressão musical para além dos sons de instrumentos musicais já existentes.

A conclusão a que chegou, foi de que as aulas de música com sons alternativos favoreceram a expressão viva, criativa e a agradabilidade no fazer musical coletivo e individual ao valorizar a música como forma de expressão, desenvolvendo o sentido crítico e contribuindo para a construção de uma política de valorização da arte e do ser humano.

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Ainda sobre as metodologias do ensino da música, o estudo: A educação musical no século XX: estudo comparativo entre duas instituições musicais em São Paulo da autoria de Camila Valiengo, retoma a discussão sobre métodos ativos e criativos, e considera que, na primeira metade do século XX os métodos eram preponderantemente direcionados ao desenvolvimento sensório-motor do educando por meio de aspetos específicos da música. Afirma a autora que algumas propostas da segunda metade do século passado refletem uma preocupação ampla que vai além da música e do âmbito individual, estendendo-se a aspetos mais propriamente filosóficos e a uma nova forma de pensar as relações entre as pessoas e o mundo.

Assim, Valiengo (2006) conclui que as influências dos métodos ativos são mais notáveis em aulas que visam o desenvolvimento da musicalidade dos participantes a par das habilidades essenciais para a aprendizagem de instrumentos musicais. Já nas aulas específicas de instrumentos torna-se mais difícil perceber estas influências, porque a racionalização da aprendizagem musical acaba por excluir a exploração dos potenciais de musicalidade dos alunos, restando pouco espaço para a expressão e a criação musical. As propostas do fim do século passado que tiveram em vista aproximar a música e a educação musical das necessidades mais emergentes, contrapõem-se diretamente aos métodos da primeira metade, numa tentativa de os superar.

Por fim o estudo: A educação musical nas escolas públicas: mapeando a realidade de Salvador de Poliana Carvalho de Almeida, da Universidade Federal da Bahia, conclui, fundamentando-se em autores como Loureiro (2004), que atualmente a educação musical praticada nas escolas brasileiras revela-se muito heterogénea sendo frequente a diversidade e variedade de práticas e discursos.

Almeida (2006), autora do referido estudo, considera que, Infelizmente há uma carência de estudos sobre a prática pedagógica musical nas salas de aula, mesmo assim percebe-se que essas práticas são influenciadas por linhas filosóficas educacionais, muitas vezes não declaradas e nem ao menos percebidas pelos professores, que as seguem sem muitas vezes perceberem seus valores e ideologias. (p. 57)

E conclui, outra característica da educação musical contemporânea tem sido o distanciamento da produção académica (teoria) das realidades escolares (prática). A

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variedade de práticas deveria ser vista como ponto positivo, se fosse traduzida em propostas consistentes, mas atualmente constitui-se num sinal de confusão pedagógica. E é nesse contexto de confusão de práticas, que se encontram as instituições escolares, principalmente as públicas. (p. 57)

Dizemos agora nós, após a realização deste estudo: Avaliação dos Efeitos da Aplicação de Diferentes Práticas Instrumentais nas Aulas de Educação Musical a alunos do 2º ciclo do Ensino Básico , e outros que eventualmente se estarão a desenvolver que continua um imenso campo destinado a futuras investigações no âmbito das práticas instrumentais, de preferência com populações mais alargadas, e especialmente estudadas durante um período mais alargado de tempo, até porque relativamente à música, com a nova estrutura curricular do segundo ciclo do ensino básico, os alunos terão, no futuro e já a partir do próximo ano letivo, menos possibilidades de desenvolverem esta área devido à redução do número de horas consignadas à disciplina. Consideramos que, mesmo com menos tempo, teremos que aplicar as metodologias e as práticas instrumentais que entendermos mais adequadas a cada situação de ensino-aprendizagem de modo a que se alcancem os resultados desejáveis.

Com este e outros estudos, tem a educação musical a possibilidade de continuar a encetar uma renovação, mesmo que lenta e tardia, com a abordagem de novos processos de ensino e aprendizagem musical. A atual conjuntura escolar institucional já não comporta as ideias tradicionais de ensino musical, principalmente em relação ao ensino coletivo de jovens adolescentes nas escolas.

Por outro lado, sabe-se que os interesses dos atuais alunos são diferentes dos alunos do passado, e ao longo do tempo as suas formas de agir e pensar modificam-se de acordo, principalmente, com as mudanças culturais. Portanto, nós educadores musicais, também a partir de experiências como as que estão na base deste trabalho, devemos constantemente descobrir os reais interesses destes novos alunos e as formas mais eficazes de chegar até eles. Devemos sempre experimentar e usar todos os meios e recursos em educação musical tendo presente que cada grupo de alunos, embora tenha elementos em comum em qualquer escola, possui um universo muito próprio, e esse deve ser explorado.

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