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8.1 CONCLUSÕES

Retomando as hipóteses levantadas no estudo, considera-se importante analisar se elas foram confirmadas ou refutadas.

1) As crianças que apresentam crises de sibilância exibirão problemas de comportamento, principalmente, internalizantes.

De acordo com as avaliações propiciadas pelo CBCL 1½ a 5, as crianças cujos pais foram participantes do estudo apresentaram índices elevados de problemas de comportamento, principalmente do tipo internalizante. Além disso, as crianças avaliadas pelos pais do GT apresentaram escores médios mais altos do que as crianças do GC. Dados de prevalência de problemas de comportamento em crianças com asma indicam que estas crianças apresentam alto risco para problemas de comportamento, principalmente os internalizantes, tais como depressão e ansiedade, pois tais crianças podem experienciar situações aversivas devido à rotina de cuidados para manejar a doença como, por exemplo, uso diário de medicações e idas mais frequentes aos serviços de saúde (McQuaid, Kopel & Nassau, 2001; Otsuki et al., 2009). As crianças avaliadas no estudo apresentaram fatores de risco para o desenvolvimento de asma em idade escolar, tais como as frequentes crises de sibilância, sexo masculino e histórico familiar positivo para problemas respiratórios. Como potenciais asmáticos, as crianças avaliadas já exibem problemas de comportamento com escores médios mais altos para o tipo internalizante. Tais dificuldades são motivo de preocupação, uma vez que estes infantes estão na primeira infância, ainda não tiveram o diagnóstico de asma confirmado pela equipe médica, mas parecem sofrer repercussões deste problema de saúde em seu desenvolvimento.

2) Os cuidadores apresentarão deficit em habilidades sociais educativas parentais.

Com base nas informações obtidas pelo RE HSE-P, os pais do presente estudo em ambos os grupos – GT e GC – na avaliação pré-intervenção, apresentaram um repertório adequado de habilidades sociais educativas no que tange aos aspectos positivos da interação, principalmente nas classes de comportamento HS, CONT e TPOS, mas obtiveram

escores classificados como clínicos por empregarem muitas práticas negativas para impor disciplina e limites a seus filhos. Assim, os pais do presente estudo apresentaram deficit em habilidades sociais educativas parentais e estas dificuldades parentais são consonantes com dados da literatura que indicam que pais de crianças com problemas crônicos de saúde podem apresentar dificuldades em lidar com o filho. Tais complicações podem ser expressas através de extrema preocupação, irresponsividade às reais necessidades da criança, superproteção, monitoria negativa e deficit em impor limites e disciplina (Castro & Piccinini, 2002; McQuaid et al., 2001; Murdock et al., 2009; Otsuki et al., 2009; Santos, 1998; Silver et al., 1998).

3) Os cuidadores que participarem do Programa de Orientação Parental apresentarão melhora de suas habilidades sociais educativas parentais e empregarão mais práticas educativas positivas e promotoras de desenvolvimento psicossocial saudável na educação de seus filhos, em comparação com o Grupo Comparação.

Segundo os resultados obtidos no presente estudo, os pais do GT apresentaram melhora das habilidades educativas nos aspectos positivos da interação (variáveis HSE-P, HS e TPOS), condição que não foi notada no GC e, nos aspectos negativos da interação, o GT apresentou diminuição do uso de práticas negativas, principalmente em termos de frequência em duas variáveis, PR NEG e TNEG, e tais reduções dos escores médios foram estatisticamente significativas quando comparadas com os escores médios do GC. Estes resultados também foram reportados por outros estudos publicados na literatura, tais como o de Silva, Del Prette e Del Prette (2000), Marinho e Silvares (2000), Melo (1999) e Pinheiro et al., 2006. Um resultado não esperado e não previsto pelo estudo foi que o GC também apresentou redução da aplicação de práticas negativas. Ressalta-se que na avaliação efetuada seis meses após o término da intervenção, os pais do GT mantiveram os resultados apresentados na avaliação pós-intervenção nas variáveis problemas de comportamento dos cuidadores e nas habilidades educativas parentais (aspectos positivos e negativos), sendo que se observou uma redução estaticamente significativa dos problemas de comportamento infantis no seguimento. Os pais do GT continuaram identificaram menos problemas de comportamento em seus filhos no seguimento.

8.2 LIMITAÇÕES DESTE ESTUDO

O presente estudo procurou contribuir para o conhecimento de como a psicologia pode atuar na assistência às famílias cujos filhos apresentam problemas crônicos de saúde na infância, especificamente a sibilância. Um programa de intervenção psicológica foi elaborado e aplicado em cuidadores cujas crianças apresentam crises frequentes de sibilância e tal configuração de atendimento parece ter sido pioneira no Brasil, uma vez que não foram localizadas pesquisas similares com esta temática. Contudo, a presente pesquisa apresentou algumas limitações que valem a pena ser destacadas.

Em função do número reduzido de cuidadores participantes (n = 19), não se pode generalizar os dados obtidos neste estudo para outros contextos e para outras clientelas. O recrutamento de participantes foi uma das maiores dificuldades do estudo e, apesar da adoção de diversas estratégias para a obtenção de um contingente maior de cuidadores, não foi possível obter uma amostra mais numerosa devido a uma série de fatores, dentre eles a indisponibilidade dos participantes em comparecer ao atendimento. Em virtude da pequena amostra obtida, não foi possível randomizar os participantes para as duas condições e garantir a uniformidade de algumas características dos grupos.

No que tange às medidas de avaliação, uma vulnerabilidade do estudo é o uso exclusivo de instrumentos de autorrelato, sem o emprego de outros métodos de coleta de informações, tais como observações da interação entre pais e filhos, filmagens ou o envolvimento de outros informantes, por exemplo, o cônjuge que não participou da intervenção, parente mais próximo que convive cotidianamente com a família e professores das crianças.

A intervenção desenvolvida e aplicada pelo estudo junto aos cuidadores cujas crianças apresentavam crises frequentes de sibilância se propôs a ser preventiva, pois se os pais apresentarem habilidades e práticas educativas adequadas, as crianças terão menos risco de desenvolver problemas de comportamento ao longo de seu desenvolvimento. Embora os cuidadores participantes tenham apresentado uma melhora das práticas educativas após a intervenção, este efeito preventivo sobre os problemas de comportamento infantis será possível de ser observado em longo prazo e por meio de acompanhamento e avaliações periódicas destas famílias. Apesar de o estudo descrever os

resultados de uma avalição de seguimento realizada seis meses após a intervenção, não foi possível, com base no procedimento adotado pelo estudo, observar este efeito preventivo com a devida acurácia. Nesse sentido, recomenda-se que pesquisas futuras invistam em desenhos longitudinais.