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PROBLEMAS DE SAÚDE CRÔNICOS NA INFÂNCIA E PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.5 PROBLEMAS DE SAÚDE CRÔNICOS NA INFÂNCIA E PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO

Crianças que apresentam um problema crônico de saúde frequentemente precisam comparecer com mais constância aos serviços de saúde, usar medicações diárias e, eventualmente, têm restrições de atividades ou suas atividades diárias são mais vigiadas e controladas pelos pais. Estas contingências podem prejudicar seu desenvolvimento, uma vez que crianças sadias e crianças com problemas de saúde têm que superar as mesmas etapas evolutivas do desenvolvimento. Tais condições também são consideradas fatores de risco para o desenvolvimento de problemas de comportamento (Castro & Moreno-Jiménez, 2007).

Na perspectiva analítico-comportamental, problemas de comportamento podem ser definidos como deficit ou excessos comportamentais que prejudicam o acesso da criança a novas contingências de reforçamento que poderiam facilitar a aquisição de repertórios relevantes para a aprendizagem e desenvolvimento (Bolsoni-Silva & Del Prette, 2003).

Para classificar os problemas de comportamento, muitos pesquisadores adotam a terminologia que diferencia os problemas em externalizantes e internalizantes. Esta terminologia é amplamente aceita e empregada em estudos brasileiros e internacionais. Problemas de comportamento externalizantes estão relacionados à agressividade, comportamento opositor, desafio a autoridades, abuso de substâncias, hiperatividade, vandalismo. Estes tipos de dificuldades psicológicas produzem consequências aversivas para as pessoas dos ambientes sociais do qual a criança ou adolescente faz parte, contingências estas que motivam os cuidadores a buscar ajuda com maior frequência e rapidez. Por outro lado, problemas internalizantes referem-se à ansiedade, depressão, isolamento social, timidez. Tais problemas de comportamento, geralmente, incomodam menos os adultos cuidadores e podem ser de difícil detecção, pois afetam particularmente o indivíduo e são pouco acessíveis às outras pessoas do ambiente, características que dificultam identificação precoce e procura por tratamento (Achenbach & Rescorla, 2003; Bayer, Hiscock, Morton- Allen, Ukoumunne & Wake, 2007).

Dados da literatura indicam que crianças com asma apresentam alto risco para problemas de comportamento, principalmente os internalizantes, tais como depressão e ansiedade, pois tais crianças podem experienciar situações aversivas devido à rotina de cuidados para manejar a doença, como, por exemplo, uso diário de medicações e idas mais frequentes aos serviços de saúde. Além disso, são mais supervisionadas por seus cuidadores e, em alguns casos, são superprotegidas e podem apresentar mais dificuldades de socialização em função do absenteísmo escolar e restrição de algumas atividades (esportes) (e.g. Otsuki et al., 2009). A meta-análise de McQuaid, Kopel e Nassau (2001) revisou 26 diferentes estudos e demonstrou uma modesta, mas consistente associação entre asma na infância e problemas de comportamento internalizantes. Quando comparado a crianças portadoras de outras doenças crônicas, como, por exemplo, diabetes e câncer, crianças e adolescentes com asma têm risco mais elevado de desenvolver problemas psicológicos (Murdock et al., 2009).

Estas mesmas dificuldades psicológicas foram observadas em pesquisas brasileiras. Miyazaki et al. (2006) avaliaram 16 crianças com asma moderada e grave, com idade entre cinco a 12 anos e verificaram que, comparado ao grupo controle, as crianças asmáticas apresentaram escores significativamente mais altos para depressão. Salomão Júnior et al. (2008), em outra avaliação junto a 62 pacientes asmáticos com sete a 16 anos, observaram associação entre transtornos internalizantes, como ansiedade e depressão, e asma; sendo que as crianças com asma apresentaram prejuízos na competência social relacionada a atividades e escola quando comparadas ao grupo controle.

De acordo com Eiser (1990) e Roberts e Steele (2009), há três variáveis que influenciam significativamente a maneira como as crianças respondem a problemas de saúde crônicos. A primeira está relacionada ao grau em que a doença pode ser fatal e perturbar a rotina da criança. A segunda é o modo como o infante compreende e interpreta a sua doença e o tratamento. No geral, crianças mais velhas, com maturidade mais desenvolvida, são capazes de fazer atribuições realistas para a sua dificuldade, ajustando-se de modo mais positivo à moléstia. A terceira variável é relativa às características da família da criança. O suporte familiar e competências de cada membro da família são fatores importantes para o enfrentamento adequado ou não desta situação estressora. Famílias unidas, com apropriadas habilidades de comunicação e resolução de problemas, favorecem o apoio social que a criança carece para se adaptar a qualquer contingência adversa, inclusive problemas de saúde crônicos.

Geralmente, o padrão de interação da criança doente pode estar mais relacionado com o modo como a família lida com a doença do que com os comportamentos da criança em si. É esperado que os cuidadores apresentem dificuldades em lidar com o filho. Tais complicações podem ser expressas através de extrema preocupação, irresponsividade às reais necessidades da criança, superproteção, deficit em impor limites e disciplina, monitoria negativa, negligência (muitos pais podem evitar envolvimento com receio de que a criança morra precocemente). Estes cuidadores sentem seus papéis parentais muitos mais exigidos do que nas situações em que a criança é saudável (Castro & Piccinini, 2002; Santos, 1998; Silver et al., 1998).

Estudos que destacam que crianças que apresentam crises de sibilância podem apresentar prejuízos em seu desenvolvimento, usam mais os serviços de saúde quando

comparadas a crianças saudáveis e exigem maior supervisão e cuidados de seus responsáveis (Medeiros et al., 2011).

Sabe-se que a família é o ambiente mais importante para a criança ao longo de seu desenvolvimento e tem papel fundamental, tanto na promoção de seu bem-estar e desenvolvimento de habilidades sociais, quanto no desenvolvimento e manutenção de problemas de comportamento (Bolsoni-Silva & Marturano, 2008; Marinho, 2000b; Silvares, 2004). Caso a criança apresente problemas de saúde, a família pode ter dificuldades em administrar tal condição e a criança, como membro deste sistema, também poderá sofrer significativamente neste contexto.

Deste modo, a presença de problemas crônicos de saúde na infância pode representar um importante fator de mediação da qualidade da interação cuidador-criança. Diante deste significativo fator de risco para o desenvolvimento de problemas de comportamento nesta população infantil, a psicologia pode contribuir para a prevenção, avaliação e tratamento das dificuldades decorrentes deste contexto. O psicólogo, enquanto profissional da saúde, pode colaborar junto a estas crianças e suas famílias por meio de avaliações norteadoras no planejamento de intervenções que possam efetivamente auxiliá- los a manejar melhor esta condição e manter um funcionamento próximo do esperado por sua comunidade verbal (Castro & Piccinini, 2002; Ellis et al., 2008).

2.6 INTERVENÇÕES PREVENTIVAS E PROBLEMAS CRÔNICOS DE SAÚDE NA