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Esta pesquisa teve como objetivo estabelecer uma matriz de competências, por meio de uma leitura das diretrizes do Sistema Único de Saúde e das resoluções do Conselho Nacional de Educação para cada curso da área da saúde, conforme definidos na metodologia, e sua verificação como base de formação profissional pela Universidade, baseada nos seus Projetos Pedagógicos dos Cursos, e o consequente desempenho no mercado de trabalho.

O modelo da Hélice Tríplice foi utilizado para identificar os agentes influenciadores no processo de formação dos profissionais da área da saúde. Portanto os agentes públicos e privados estão presentes neste processo como instituições de saúde públicas e privadas, e demandantes da base de competências mínimas exigidas para os profissionais da área da saúde. Concluiu-se que as competências mínimas para a área da saúde já são definidas nas resoluções do Conselho Nacional de Educação, em consonância com as diretrizes do Sistema Único de Saúde, a partir de uma longa jornada de realização de estudos no país, considerando as estratégias de correção e de prevenção do sistema de saúde nacional, lançando um olhar para a regionalização através das necessidades locais apontadas por seus agentes e também um olhar para o futuro com o Governo Federal incentivando iniciativas individuais e coletivas.

O Ministério da Educação insere estas competências nas estruturas dos cursos de graduação (formação profissional) da área da saúde, chamadas de Diretrizes Curriculares Nacionais formadas por resoluções que, por sua vez, passam a ser exigidas para o reconhecimento dos cursos de graduação. As competências definidas nas resoluções do CNE classificam-se nos três grupos, sendo eles os conhecimentos, as habilidades e as atitudes.

As Universidades formalizam este processo de formação superior por meio dos seus Projetos Pedagógicos dos Cursos, que consideram as competências definidas pelo Ministério da Educação como mínimas necessárias para a formação profissional, complementando-as com outras competências exigidas pelas especificações locais e regionais de interesse de cada universidade.

Esta hierarquia na formação de competências ocorre de forma consistente na área da saúde, devido a sua importância como um dos principais pilares do desenvolvimento do país. Também se percebe um efetivo cumprimento de forma eficiente pelas Universidades e instituições de saúde pesquisadas.

A maioria das 20 (vinte) competências identificadas na matriz que constitui a base de formação dos cursos da área da saúde está presente no processo de formação e é percebida na atuação dos profissionais formados pelos cursos de Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia e Psicologia e são consideradas como relevantes e presentes na visão do mercado de trabalho, representado pelas instituições de saúde públicas e privadas da região pesquisada.

Considerando que os maiores apontamentos são em relação a aspectos que no passado não eram demandados pelo mercado de trabalho, como a capacidade de gerenciamento, a capacidade empreendedora e a necessidade de formar líderes, pois a maior demanda naquela época era a formação humana e técnica, são poucas as melhorias necessárias a fim de

contemplar estas novas necessidades apontadas pelo mercado de trabalho, uma vez que a Universidade já está preocupada com estas novas demandas. As estruturas curriculares estão em sua maioria adequadas às determinações do Conselho Nacional de Educação como também a maioria das vinte competências elencadas na matriz é entregue no processo de formação profissional pela Universidade.

A Universidade deve apropriar-se de multidisciplinaridade para contemplar as necessidades apontadas pelo mercado de trabalho, principalmente as competências relacionadas à área da gestão, que foram bastante enfatizadas e tiveram a menor avaliação, acrescentando-as aos projetos pedagógicos dos cursos de Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia e Psicologia.

As ponderações realizadas para cada uma das competências visam a contribuir para o processo de formação profissional, como elencado nos objetivos desta dissertação. As proposições foram indicadas como forma de estratégias de adequação, a partir da inferência das entrevistas realizadas com as instituições de saúde pública, representadas pelas Secretarias de Saúde e instituições de saúde privadas, que em sua maioria são instituições associativas, representadas pelos Hospitais.

Deve-se considerar que o mercado de trabalho entende o papel do profissional de saúde de forma distinta, em função da natureza da instituição. Se a instituição é pública, tem uma visão mais crítica em relação ao comportamento deste, pois sofre interferência de fatores como a estabilidade empregatícia e limitações impostas pela legislação. Já, se for uma instituição privada/associativa, que oferece uma liberdade profissional maior aos técnicos, cobra mais a disponibilidade, a iniciativa e o envolvimento nas questões sociais.

A pesquisa encontrou dificuldades em relação à disponibilidade dos gestores das instituições de saúde em responder perguntas de pesquisa, porém o conteúdo discutido demonstra que existem novas demandas no mercado de trabalho neste setor em relação ao que eles, os gestores, compreendiam no passado. Percebe-se também uma grande diferenciação em termos de visão profissional entre as gerações no mercado de trabalho na área da saúde, tanto no que concerne aos conhecimentos e habilidades, quanto nas atitudes.

Ao que parece a geração Baby Boomers está preocupada muito mais com o cuidado do ser humano. A geração “X” está preocupada com suas capacidades técnicas e a geração “Y”, última que ingressou no mercado de trabalho, com a ética e a responsabilidade em suas decisões, mas despreparada, ainda, para assumir compromissos que superem as competências apropriadas na formação profissional. Estas diferenças geracionais devem ser melhor trabalhadas em pesquisas que envolvam competências no mercado de trabalho, entendendo que estes resultados possam ser absorvidos pelo processo de formação profissional pela geração “Z”, que certamente dará novos caminhos às profissões de Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia e Psicologia, bem como tantas outras.

A entrega das competências profissionais ao mercado de trabalho também sofre influências de aspectos que extrapolam o processo de formação profissional pela universidade. O ambiente de trabalho inadequado e a falta de recursos dos mais diversos tipos nas instituições de saúde públicas e privadas, são decisivos para o desempenho das atividades de um

profissional de saúde e podem, em alguns casos, representar um fator desmotivador na entrega de seus serviços e, desta forma, anulando suas competências.

Os processos de gestão em uma instituição de saúde, tanto pública quanto privada, e não diferente de qualquer outro segmento, são decisivos para atestar a competência profissional. As instituições de saúde precisam ter claros os seus processos de trabalho, conseguindo dimensionar e gerenciar de forma precisa os recursos disponíveis e os recursos necessários para desempenhar as atividades que estão propostas. Percebeu-se a necessidade de aperfeiçoamentos na área da gestão das instituições de saúde públicas e privadas bem como a construção de processos de trabalho que otimizem os recursos materiais, financeiros e de pessoas.

Algumas questões mais pontuais, mas que não foram objeto de estudo nesta dissertação, surgem também. Uma delas é a ingerência enfrentada nas instituições de saúde públicas face à estabilidade empregatícia de seus servidores, onde o gestor se vê refém de situações que a lei não lhe permite contornar, o que entrava a iniciativa de gestão. Também há dificuldade em relação ao corpo médico das instituições de saúde que, sendo autônomo, na maioria dos casos, coordena atividades e horários conforme suas prioridades que em alguns casos são divergentes das planejadas pela instituição de saúde.

Como limitações do estudo, aponta-se o olhar restrito da pesquisa, que trabalhou com poucas instituições pesquisadas. Sugere-se ampliar a região de pesquisa e a quantidade de instituições de saúde a serem pesquisadas, principalmente Secretarias de Saúde, tentando obter novos olhares e novas experiências. O formato de pesquisa escolhido, que foi a escala Likert, dá uma visão limitada sobre a efetividade das competências identificadas, pois não considera o desnivelamento entre os gestores responsáveis pelas respostas da pesquisa e não traz o aprofundamento necessário para respostas mais assertivas, mas cumpre com os objetivos metodológicos propostos.

Sugere-se, para os próximos estudos, um formato de avaliação 360º, com o qual o profissional é avaliado mas também consegue apontar as dificuldades enfrentadas no mercado de trabalho, considerando o ingresso do profissional da área da saúde após sua formação pela Universidade considerando o tempo de inserção no mercado de trabalho após a conclusão da graduação e as dificuldades enfrentadas no dia a dia nas instituições de Saúde da região, de modo a identificar o que ele consegue entregar efetivamente em suas ações e o que o curso não contemplou na formação profissional, ou seja, que já se perdeu entre o tempo de formação e de aplicação nas instituições de saúde.

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