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Neste trabalho desenvolveu-se uma metodologia integrada com o objetivo de avaliar se as práticas agrícolas decorrentes da designação da área em estudo, pertencente à bacia do Tejo, como Zona Vulnerável aos Nitratos, teve impactos positivos no estado da contaminação dos aquíferos.

A metodologia geral baseou-se: (i) na realização do balanço bruto de azoto ao nível da

freguesia, com base na metodologia da OCDE (Eurostat, 2013); (ii) na realização de uma

análise espácio-temporal às concentrações de nitratos nas águas dos poços da rede nacional de monitorização; e (iii) na definição de índices de risco.

Para a obtenção dos dados necessários à realização do trabalho, procedeu-se à recolha de informação a partir de diversas fontes, incluindo solos, aquíferos, culturas, fertilizações, áreas regadas, origem da água de rega e produção pecuária. Refere-se que, durante a recolha de dados, foi realizada uma fase de pré-processamento, verificação, edição e seleção de dados.

Devido à área abrangida pelo estudo (totalidade da ZVT), à natureza espacialmente

distribuída dos dados, e ao período temporal considerado, foi compilado um grande volume de dados, tendo sido necessário a estruturação de uma base de dados geográfica em QGIS,

que poderá também servir de base a futuros estudos a realizar na ZVT. É de realçar que a

utilização mais exigente do QGIS consistiu na criação do mapa de solos da ZVT com um detalhe adequado à realização do presente estudo.

Os principais resultados apresentam-se seguidamente.

Balanço do azoto

Globalmente, a principal entrada no balanço de azoto corresponde aos fertilizantes minerais.

As exceções correspondem aos concelhos com elevada produção pecuária (ex. Alcochete,

Benavente, Moita e Montijo), onde o efluente pecuário produzido tem que ser distribuído nas áreas agrícolas. Nos concelhos com uma grande área ocupada com culturas regadas, o N contido na água de rega tem um peso significativo no balanço (ex. Alpiarça).

De uma forma geral constata-se que existe uma redução de 46% no N surplus de toda a ZVT entre 1989 e 2009, embora tenha sido a partir de 1999 que a variação foi maior. Esta redução foi devida à designação da Zona Vulnerável em 2004, quando passaram a ser aplicadas as medidas do Programa de Ação, nomeadamente no cálculo dos planos de fertilização, e que resultaram num decréscimo acentuado do N excedente no solo. A variação do N surplus ao longo do período em estudo é negativa em 91 % dos concelhos. São exceção os concelhos de Benavente e Cartaxo, onde o valor aumentou em 14 e 5 % respetivamente. Os concelhos

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que apresentam maiores reduções no N surplus são Montijo, Alcochete, Alpiarça, Constância e Golegã com variações iguais ou superiores a 60 %. Regra geral, os concelhos com maior N surplus apresentaram uma ocupação cultural onde predominam o milho-grão e as hortícolas – horto industriais, enquanto nos concelhos com menor N surplus predominam as leguminosas e os prados permanentes e as forragens. Estes resultados são coerentes, dado que o milho-grão e as hortícolas em geral são aquelas onde o agricultor aplica maior quantidade de N, dado o seu maior retorno económico.

O valor final do BBN resulta da interação entre os seguintes fatores: (i) quantidade de

fertilizantes mineral e efluente pecuário introduzido; (ii) a SAU do concelho; e (iii) os tipos de ocupação cultural. Como exemplos de interações concomitantes pode-se referir o concelho do Montijo onde a SAU aumentou entre 1989 e 1999, verificando-se uma redução ligeira em 2009. Por seu lado, a produção de efluente pecuário decresceu e a área de pastos aumentou significativamente. A conjugação destes três fatores levaram à maior redução de N surplus da

ZVT. Também o concelho de Benavente mostra interação concomitante de fatores, mas no

sentido do aumento do N surplus. Em 1999 é dos concelhos com menores valores de

produção de efluente e em 2009 o com maiores valores, tendo apresentado para as mesmas datas um decréscimo da SAU. Como exemplo de interações antagónicas dos fatores refere- se o caso do concelho da Moita, uma vez que o aumento do N surplus não é explicado pela variação da ocupação cultural.

Águas subterrâneas

Relativamente às concentrações de nitratos nas águas subterrâneas, registaram-se as

maiores concentrações nos Aluviões do Tejo, onde 54,5 % dos poços apresentaram pelo

menos uma medição superior ao VMA de 50 mg L-1. O aquífero semi-confinado da Margem

Esquerda/Direita (ME/MD) apresenta 16,3% dos poços com medições superiores ao VMA.

Para os Aluviões do Tejo observa-se para os poços com as concentrações mais elevadas

uma tendência decrescente dos valores da [NO3-] . No aquífero ME/MD, observa-se nos poços

com [NO3-] elevadas (> 100 mg L-1) uma tendência de diminuição lenta e gradual. No entanto,

nos poços com menores concentrações, estas têm vindo a aumentar ao longo do tempo. O

comportamento anteriormente descrito parece indicar que os nitratos inicialmente existentes no aquífero mais superficial (Aluviões do Tejo), estão ao longo do tempo a ser transportados

pelo fluxo de água que atravessa o Aquitardo, contribuindo para a recarga do aquífero

subjacente (ME/MD). Este facto pode indicar que no futuro estes poços possam estar em risco de atingir o VMA, reforçando a importância da implementação das medidas do plano de ação da ZVT.

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Índice de risco global

De modo a avaliar o risco global de contaminação de águas subterrâneas por nitratos de

origem agrícola quantificaram-se individualmente os riscos associados ao N surplus, à

permeabilidade dos solos e à profundidade da toalha freática. O índice de risco global (IG)

diminuiu em todos os concelhos excetuando o Cartaxo, onde aumentou, e Azambuja, Santarém, Almeirim e Benavente onde se manteve ao longo do período, o que está de acordo com a evolução observada da qualidade da água nos poços. Assim, verifica-se que o índice global de risco de contaminação das águas subterrâneas com nitratos foi um bom estimador

da [NO3-] e da sua evolução temporal no aquífero dos Aluviões do Tejo. No aquífero semi-

confinado Margem Esquerda/Margem Direita foi mais difícil, em alguns casos, relacionar os

resultados do índice de risco global e da sua evolução com o estado da água subterrânea.

Globalmente, tem se assistido a uma melhoria do estado das águas subterrâneas na ZVT

após a implementação do plano de ação. Esta melhoria é notória nas zonas de regadio, onde

o maior input de N no balanço provém dos fertilizantes minerais. Esta evolução resulta

provavelmente da adoção, por parte de uma percentagem considerável de agricultores, das práticas de fertilização impostas no Manual de Campo. No entanto, em grande parte dos

poços as [NO3-] continuam acima do VMA.

Na região a Sul da zona vulnerável, a tendência observada é de um agravamento da situação,

nomeadamente no aquífero mais profundo, onde, apesar de as [NO3-] serem ainda baixas

estão a aumentar. Esta tendência, não é explicada pela evolução do N surplus, estando

provavelmente relacionada com a problemática dos efluentes pecuários, mas também

eventualmente com os esgotos urbanos relacionados com a expansão urbana que tem

ocorrido nos últimos anos na região. Recomenda-se a realização de um estudo mais

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