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Este estudo investigou a percepção dos professores das escolas públicas de nível médio de Taguatinga-DF sobre as implicações das mudanças do mundo do trabalho na sua prática pedagógica, por meio da utilização de Técnica de Grupo Nominal, de questionário e análise de conteúdo. Com relação a esse tema, além da percepção geral dos professores, foi possível investigar essa percepção, segundo as três modalidades de ensino já explicitadas, e verificar se a mesma se altera ou não, em função dessa variável.

De modo geral, tanto os resultados oriundos da TGN como os do questionário e das proposições livres evidenciaram aspectos apontados em pesquisas anteriores, reforçando seus resultados.

Foram abordadas as seguintes categorias de análise: mudanças do mundo do trabalho, demandas educativas e prática pedagógica.

A pesquisa em questão tinha como diretriz identificar a percepção dos professores acerca do tema em estudo. Trata-se de uma diretriz pertinente e condizente com a realidade atual, pois, conforme evidenciado na literatura estudada, são cada vez mais evidentes as implicações das mudanças tanto do mundo do trabalho como da sociedade em geral, na prática docente.

As representações coletadas e analisadas no âmbito desta pesquisa revelam que, apesar de os professores desconhecerem algumas mudanças importantes que estão acontecendo no mundo do trabalho, eles demonstraram um alto grau de conhecimento em relação às principais mudanças e sobre as demandas educativas. As representações sobre a prática pedagógica evidenciam a fragilidade do professor diante de carências tão urgentes, e muitas vezes impossíveis, de serem atendidas; e revelaram, ainda, descontentamento, desilusão ante as exigências e as possibilidades de respostas.

Os resultados obtidos reforçam o que a literatura expõe sobre as mudanças do mundo do trabalho, pois as mais citadas referem-se à exigência da modificação do perfil do trabalhador e a relação deste com a aquisição de conhecimentos, reiterando dados investigados por Harvey (2005), ao entender que a alteração na estrutura das ocupações gera alteração no nível de exigência de educação e de qualificação do trabalhador; e, por Kuenzer (2002a) e Carvalho (2003), sobre a centralidade do conhecimento para a sociedade e para o setor produtivo, tema que vai ao encontro das resoluções dos PCNEM, BRASIL (1999), que

abordam a forma como as mudanças atuais incorporam o desenvolvimento de competências cognitivas e culturais exigidas para o pleno desenvolvimento humano.

Quanto à investigação sobre as demandas educativas para o Ensino Médio, foram identificadas as mais importantes, não só pelo grupo nominal, mas também pela validação dos demais professores. A identificação dessas demandas possibilitou concluir que os professores percebem, com clareza, o quanto elas são requeridas pelo mercado e pela sociedade.

Os resultados obtidos confirmam dados da literatura em relação a essas demandas educativas, no sentido de se dedicar especial atenção à melhor adequação da escola, à preparação dos professores e à necessidade de mudança na forma de desenvolvimento das atividades.

Esses resultados corroboram, ainda, a afirmação de Delors (2004) quando mostra que as tecnologias, ao modificar o cotidiano das indústrias, modificam também as qualificações exigidas pelos novos processos de produção; e, reforçam as afirmações de Kuenzer (2002a) de que as contínuas mudanças no sistema produtivo exigem uma permanente atualização das qualificações e das habilitações profissionais, ou seja, reclamam uma adequação da mão-de- obra com capacidade para operar nesse novo sistema produtivo. Os resultados confirmam, também, as conclusões de Filmus (2002) de que os empresários, diante da comprovação de que as constantes trocas de padrões tecnológicos e o alto grau de complexidade dos mesmos passam a exercer forte impacto sobre a educação; e, de que as ofertas das empresas já não pareciam mais suficientes ou atrativas, resolveram transferir para os sistemas educacionais a responsabilidade pelo desenvolvimento das habilidades necessárias para atender às novas exigências.

No que se refere à investigação sobre as práticas pedagógicas, o grupo nominal identificou os entraves para o desenvolvimento de uma prática adequada à realidade atual. Os principais foram a falta de preparação dos professores e a insuficiência de recursos e estratégias pedagógicas para melhor atendimento das demandas. No entanto, tal resultado não foi validado pelos demais professores, visto que a maioria deles se considera preparado, que utiliza estratégias metodológicas modernas e eficientes e recursos variados e atuais.

Esse posicionamento dos professores em relação à sua prática mostrou-se bastante surpreendente, reforça as conclusões de Moscovici (2005) quanto às representações sociais e confirma os estudos de Codo e Vasques-Meneses (1999) sobre a desistência do professor. Pode-se inferir que, ante a impossibilidade de responder ao que deles se espera, isto é, cobranças imensas e as responsabilizações de que são vítimas, os professores usaram a fuga

da realidade e trabalharam com o simbólico; evidenciando, talvez, que sua representação tenha se manifestado sobre o que eles gostariam que fosse. Reforçando o que a maior parte da literatura explorada aponta para esse tipo de comportamento do professor e do seu trabalho de docência: o que ele deveria fazer e não o que faz.

Em relação à comparação dos resultados em função da modalidade de ensino em que os respondentes atuam, foram efetuados os percentuais de concordância e discordância nas três escalas de cada uma das modalidades. Isso permitiu verificar que independente da modalidade de ensino em que atuam, os professores percebem, de forma semelhante, as atuais mudanças que estão ocorrendo no mundo do trabalho, as demandas educativas delas resultantes e as implicações dessas na prática pedagógica.

Cabe ressaltar que a identificação de percepções tão semelhantes da prática pedagógica, em públicos tão distintos causou estranheza, suscitou reflexões e apontou a necessidade de aprofundar os estudos com vistas a elucidar o porquê dessa visão.

Essa constatação poderá ser um ponto de partida para reflexões acerca do professor e sua prática, principalmente, sobre a escola pública e o tipo de educação que esta oferece e a que deveria/poderia oferecer.

Ao apontar a necessidade de adequação da escola e preparação dos professores como pontos essenciais para superação das mazelas educacionais, os professores indicam que a problemática é sempre a mesma, sendo necessárias medidas concretas de reformulação dos sistemas educacionais, de melhoria na formação do trabalhador, com vistas a estabelecer novas bases para essa relação educativa, onde a criatividade, a iniciativa, o empreendedorismo, a inovação, a interação representem alguns dos parâmetros fundamentais dessa nova visão.

Sugere-se que é preciso investir em programas que preparem e incentivem o professor a ser, ao mesmo tempo, um agente de mudança, individual e coletivamente, que, além de saber o que fazer e como, saiba também o porquê de fazê-lo.

Retomando o exposto por Niquini (1999), é preciso considerar que é mais importante, ao estabelecer a reflexão sobre a prática docente, centrar a atenção na maneira como os professores elaboram a informação pedagógica de que dispõem e os dados que observam nas situações práticas de sala de aula, para, então, estabelecer um novo conceito de investigação baseado no estudo da vida em sala de aula, no estudo colaborativo como desenvolvimento da instituição educativa, e, ainda, na socialização do professor.

Trata-se, conforme pondera Alarcão (2003), de estabelecer estratégias que contribuam para formar o professor como um profissional prático-reflexivo que, ao se defrontar com situações de incertezas contextualizadas e únicas, seja capaz de recorrer à investigação como forma de decidir e intervir praticamente em tais situações; que seja capaz de individual e/ou coletivamente analisar os interesses subjacentes à educação, à realidade social, com o objetivo concreto de responder aos anseios dos usuários da instituição escolar.

Como conseqüência dessa compreensão, as propostas de melhoria da qualidade da escola e do professor devem ser pensadas levando-se em conta a possibilidade da opção constante de cada educador rever posturas, conceitos e sua própria prática. Esses aspectos estarão acenando para um horizonte educacional mais claro, mais criativo e mais humano, capaz de contribuir para a formação de cidadãos mais críticos, participativos e mais preparados para a realidade atual.