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Este estudo teve como objectivo analisar a protecção dos direitos humanos e a sua garantia em Angola, assim como avaliar a capacidade da União Africana em fazer respeitar os princípios definidos na CADHP, colocar hipóteses acerca da forma como a UA poderia fiscalizar e fazer cumprir esses princípios, e enunciar estratégias que poderiam ser adoptadas pela UA, em colaboração com organizações como a UE e a ONU, no sentido de reforçar a sua actuação na promoção e protecção dos direitos humanos.

Pela análise que fizemos, constatámos a existência de denúncias sobre violação dos direitos humanos em Angola, feitas por organizações governamentais, por organizações intergovernamentais e não-governamentais. Essas denúncias referem-se especialmente a violações na área dos direitos civis e políticos, mas também na área dos direitos económicos, sociais e culturais. Também constatámos que existem tipos de denúncias que são transversais a todos os tipos de entidades que as fazem, nomeadamente sobre limitação de liberdades públicas (expressão, imprensa, reunião e associação), violência e abuso das forças de segurança do estado e privadas, expulsão e maus-tratos de imigrantes, desalojamentos forçados de população, falhas do sistema prisional, deficiências do sistema de justiça, e corrupção. Concluímos que podíamos colocar de parte a existência de enviesamentos devidos a meras questões de opinião política, no que se refere ao facto de existirem violações desses tipos de direitos.

No que se refere ao papel da UA e de seus órgãos, em 1999 a (ainda) OUA realizou a “Primeira Conferência Ministerial da sobre os Direitos Humanos em África”, onde aprovou um documento importante, “Grand Bay Declaration”. Este documento manifestou uma profunda preocupação com os actos de genocídio, crimes contra a humanidade e outros crimes de guerra que estavam a acontecer em certas partes da África, além de enumerar uma extensa lista de causas de violação dos direitos humanos em África. Nele foram feitas recomendações sensatas aos participantes, mas não foi tomada nenhuma iniciativa relevante para a resolução dos problemas relatados. A UA continuou mais inclinada a defender uma ideia enviesada de soberania nacional e regional do que em garantir efectivamente os direitos humanos. E essa tendência

continua dominante, conforme indicia a posição tomada pela UA em Outubro de 2013 em relação ao Tribunal Penal Internacional.

A UA tem uma jurisdição muito ténue sobre Angola, por esta não ter ratificado o TADHP, porque a análise que a UA faz aos relatórios de Angola sobre a implementação dos direitos humanos tem a forma de “recomendações” com uma força vinculativa fraca, e porque Angola tem no artigo 28º nº2 da sua Constituição uma redacção acerca dos direitos económicos, sociais e culturais com uma maior densificação do que o estipulado pela CADHP, além de poder invocar o domínio reservado do Estado.

A UE pode desempenhar um papel complementar da UA na defesa dos direitos humanos em Angola. A UE, como principal fornecedora de ajuda ao desenvolvimento de Angola, tem a possibilidade não só de exigir que essa ajuda seja aplicada com rigor, mas também de ela própria executar os instrumentos de verificação dos indicadores de resultados das operações de ajuda. Nos documentos que regulam essas ajudas existem cláusulas referentes à defesa dos direitos humanos. A UE pode vir a reforçar os mecanismos de combate à corrupção no seu relacionamento com os países em desenvolvimento, incluindo Angola, como indicia um documento aprovado recentemente pelo Parlamento Europeu. Mas seria importante fazer acordos internacionais com outros países e com outras instituições de modo a criar maior transparência internacional no combate à corrupção num mundo em globalização. No caso de Angola, a ajuda e apoio da UA, UE, ONU e outras instituições é muito importante, mas consideramos fundamental desenvolver no país uma sociedade civil empreendedora e portadora de valores humanos e sociais relevantes. A população em geral necessita de bens de primeira necessidade e de estruturas básicas, mas também necessita de ser convencida, pelo exemplo, de que faz parte de uma sociedade que se preocupa com o seu bem-estar.

Este trabalho dá uma visão geral sobre os direitos humanos em geral, analisa também de uma forma genérica os direitos humanos em África e mais especialmente em Angola, detectando problemas e abordando questões relacionadas com algumas possíveis soluções, com o intuito de discutir como certos organismos poderiam contribuir para a melhoria dessas soluções. A garantia dos direitos humanos tem relacionamento com múltiplas facetas da actividade humana, pelo que é uma área sempre em aberto, do

ponto de vista teórico e prático. No que se refere a Angola, existem alguns assuntos específicos que não foram desenvolvidos neste trabalho e que porventura poderão ser aprofundados em trabalhos mais especializados no futuro. Um desses assuntos tem a ver com a aplicação do princípio de que “todos os Direitos Humanos são universais, indivisíveis, interdependentes e interrelacionados”, e de que forma isso se relaciona com a implementação dos direitos sociais, económicos e culturais na sociedade angolana. Como um tema importante, consideramos o estudo de modelos de distribuição de rendimento pela população que respondam às expectativas legítimas dos cidadãos no contexto económico e social de Angola, de modo a minimizar a dependência desses cidadãos e a não limitar o desenvolvimento económico, equacionando o próprio conceito de desenvolvimento económico. Outro tema importante seria o estudo da influência da ideologia e da religião na implantação dos direitos humanos em Angola, no contexto da sua recente evolução num mundo globalizado.